27.1.05

Auschwitz

Há 60 anos fechou-se um dos mais negros períodos da nossa história. Alguns homens tinham até então descido à inumanidade, tornando-se criaturas indefiníveis. Darwin não previu que a civilização pudesse regredir tanto quando já tinha chegado tão alto.
Deve ser lembrado que houve no mundo, há tão pouco tempo, gente capaz dos mais soezes massacres. Deve ser lembrado que o homem, animal aparentemente racional e civilizado, pode tornar-se num monstro sem que nada o faça prever. Deve ser lembrada a história, sempre um dos melhores meios para aprender e apreender a sociedade. Deve ser lembrado que naqueles campos foram chacinados homens, como qualquer um de nós, que apenas carregavam consigo estigmas rácicos e religiosos. Deve ser lembrado. Hoje. Sempre.

Ontem a Taça

Grande jogo mostrando que em Portugal o bom futebol pode não ser uma miragem no deserto. Não me lembro de um jogo entre equipas portuguesas tão bem jogado, tão emocionante, tão extraordinário. Os golos foram inesquecíveis, desde os petardos de Simão, Liedson e Viana, à jogada “maradonizante” de Paíto. Quanto ao resultado, BGRRRR! (leia-se: rosnar agressivo e de dentes bem afiados): merda para os penaltys!

P.S. A lamentar apenas a idiotia de João Pereira que merecia um castigo de alguns jogos – ao contrário da óbvia despenalização do Hugo Viana.

26.1.05

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Dubrovnik, Croácia, 2002


Eleições II

Como céptico militante, já lá vão muitos anos em que insisti em não votar nos grandes partidos. Não por uma necessidade de afirmar a diferença, não por uma atitude obstinada em ser do contra, não para ser original. O voto é um direito que temos e o meu não é fácil de “sacar”, até porque simpatizo grandemente com o branco, numa perspectiva pouco virginal mas antes protestativa. Quando ninguém faz por merecer o meu voto recuso a utilidade, esse conceito desprezível de votar apenas em quem pode ganhar. A simples ideia de olhar para a vitória como um fim absoluto revolve-me as entranhas. Talvez seja o meu fair-play olímpico que ainda ache que participar com convicção é melhor muitas vezes que ganhar. Na política, a convicção devia valer qualquer coisa, pelo menos ainda vivo na vã esperança que assim seja.

Eleições I

Entre um Palhaço Triste – sempre com ar de vítima, mas pronto a fazer as maiores alarvidades – e uma réplica do Homem Invisível – que tudo faz para que ninguém dê por ele – teremos de escolher o nosso próximo primeiro-ministro. Eu obviamente já decidi, não escolho.

24.1.05

Debates

A falta de acordo quanto aos debates eleitorais tomou de assalto os jornais. Sócrates continua a cumprir o seu convicto e laico voto de silêncio e Santana, seguindo as teorias de Gomes da Silva, exige desesperadamente um contraditório. A Oeste nada de novo.

Curioso

Segundo Louçã, parece que uma mulher que tenha feito dez abortos, mas que não tenha nenhum filho, não tem legitimidade para ter opinião sobre o aborto.

20.1.05

A Praça

A magnífica Plaza Mayor, cruzamento de todos os caminhos pelas ruas e ruelas de Salamanca, o coração real de uma cidade que parece não dormir, o local sobre o qual se diz nunca estar vazio, seja a que horas e a que dia for.
Aqui tudo se pode passar e tudo se passa. O amanhecer com a chegada dos jornais aos quiosques e a preparação dos cafés e esplanadas para o pequeno-almoço. Os primeiros transeuntes que passam apressados em direcção ao trabalho ou ao pão. Um pouco mais tarde os estudante que fazem o caminho típico, cruzando a Praça na diagonal. A esta hora o bulício já é intenso, espectáculo para a plateia de esplanadas que, seja em que época for, sempre tem turistas ou locais como espectadores. A manhã passa e as pessoas também, uma certa acalmia vai tranquilizando as arcadas, quebrada inapelavelmente aquando da saída para almoço antecedida por uma tapa. O Cervantes atrai como íman gente para o seu primeiro andar com vista sobre a Praça, do Real sai, sempre que alguém abre a porta, um cheiro apetitoso que nos desafia a um “pincho-moruno”, a Praça torna-se frenética e no centro grupos de jovens sentam-se nos bancos ou no chão, desafiando o tempo em conversas intermináveis sempre observados pelas pedras brilhantes e camaleónicas que os rodeiam. A pouco e pouco todos vão almoçar e - durante a larga hora de pausa que inclui sesta - a Praça é quase abandonada aos turistas, que se espantam com o facto de a cidade inteira fechar para sesta, lojas incluídas. São eles que tomam conta do terreno, com as suas máquinas, as suas exclamações extasiadas, a sua rendição incondicional a uma beleza tão harmoniosa como esmagadora, tão serena como excitante. De repente, quase como se algum despertador tocasse, almas apressadas entram por todos os arcos e cruzam determinadas a Praça. A tarde de trabalho vai começar, ou as aulas como se vê por jovens de mochilas ou capas na mão. A partir daqui é um gradual crescendo em que senhoras de casaco de peles passam em direcção ás lojas ou ao café de meio da tarde e os estudantes vão a pouco e pouco reaparecendo. Tudo se encaminha para que por volta das oito horas a Praça seja um enorme concerto de almas andantes, quase todas em busca de um vinho e da tapa de fim de tarde, outros optando por um chá ou uma infusão mesmo ali ao lado no “La Regenta”. Os bares enchem-se e o barulho torna-se ensurdecedor. Cá fora, por entre os bancos, passa gente sem fim no carrossel do anoitecer da cidade. Após as tapas começa o regresso a casa generalizado, contrastado pelos que insistem em que o tempo não passe, alongando bebidas e conversas. Depois do jantar o ponto mais importante da Praça é o relógio, essa sentinela que durante o dia apenas guia o tempo, passa a ser o ponto de encontro de todos. Em Salamanca não se combina um sítio, combina-se uma hora, porque já se sabe que é por baixo do relógio. Tanto assim é que por vezes é difícil encontrar quem buscamos no meio de tanta gente. Daqui sai toda a gente para a noite, essa parte enorme da vida desta cidade. Aqui se cruzam pares de namorados, bêbados eufóricos cantando, aqui se sentam os desamparados. Aqui se dão românticos beijos e quentes abraços. Por aqui se regressa a casa, divertido, acompanhado, triste e deprimido, sóbrio ou cambaleante. Cedo ou tarde, cruzando já os olhares com quem limpa o chão ou traz os jornais com as notícias de um novo dia.
A Praça é mais que tudo uma vida, uma vida que são várias vidas, vários momentos. Alegrias, tristezas e euforias. Para além disso é bela, belíssima, e a sua pedra acompanha os movimentos das gentes mudando de cor conforme está sol ou uma neblina gelada de Inverno. Aqui a arte é o espaço, uma obra-prima que cruza a escultura com o urbanismo real e vivido, aqui a arte é vivida, é vida.


Inauguração de Salamanca 2002-Capital Europeia da Cultura
Els Comediants
Plaza Mayor, Salamanca, 2002

19.1.05

Campanha

Santana tenta dar a volta ao país em inaugurações. Sócrates diz três palavras e foge rapidamente dos jornalistas como se estes tivessem sarna. Portas prepara-se para engordar furiosamente a avaliar pela sucessão de jantares. Jerónimo de Sousa tem sido Jerónimo de Sousa. Enfim, à excepção da estranha calma do Bloco e de Manuel Monteiro, tudo segue segundo o previsto.

17.1.05

Paula Rego

O eminente fim da exposição de Paula Rego na Fundação de Serralves foi o pretexto necessário para uma escapadela de fim-de-semana ao Porto. Não que sejam precisos motivos para passear, mas ás vezes só mesmo por um motivo que agite a imobilidade invernal aceitamos o movimento.
A melhor forma de seriamente ver uma exposição é com mais uma ou duas pessoas, preferencialmente com os mesmos interesses. Não foi o caso, mas também é divertido dessacralizar os museus e ir acompanhado por um grupo improvável. Vale a pena ouvir “bocas” de quem não entende, não se esforça por entender e faz ainda gala disso. Talvez espicace um pouco as nossas análises, nos obrigue a ir mais além na abordagem ao que vimos, apesar de que com isso se calhar perdemos alguns quadros ou nos envolvemos em estéreis discussões. Divirto-me então em exagerar os meus comentários e estabelecer teorias e análises que extravasam qualquer realidade. A exposição torna-se um divertido duelo de elaboradas expressões assumidamente pretensiosas e alarvidades inenarráveis ditas em voz alta, gerando uma enorme discussão entre amigos. Quem melhor que Paula Rego com a sua arte forte e incomodativa, incapaz de consensos, para se passar uma óptima tarde sempre a oscilar entre a séria visita a uma exposição e uma desconcertante desconversa com um grupo que se conhece bem. Lembro expressões como “não abordas a temática de uma forma construtiva”, em resposta a um “mas o que é isto, nuns quadros a cegonha tem o bico dentro da cabeça e noutros trespassa e saem miolos”, ou a um “é doentio, a velha (avó) está a dar beijos na boca à neta” entre outras pérolas que acabaram num definitivo “tens a sensibilidade de um rinoceronte”. Pode não ter sido brilhante para uma visão mais séria, mas foi infinitamente mais divertido.
Já agora a exposição era muito boa quanto aos conteúdos mas estava arrumada de forma um pouco…desarrumada e com um critério – se é que o houve – pouco compreensível. Valeu pela qualidade dos quadros e da obra de uma artista que não deixa indiferença por onde passa.

14.1.05

Before

Aqui ouve-se Julie Delpy, talvez procurando manter o espírito sonhador de “Before Sunrise”- “Antes do Amanhecer”, revisto após “Before Sunset”-“Até ao anoitecer”. Dois filmes simples, mas simplesmente deliciosos. Porque se procura tanta vez o bizarro e o elaborado quando um excelente argumento, dois bons actores e um realizador inspirado são suficientes para nos deixar a sonhar acordados.

P.S: Estes filmes deviam ser de visão obrigatória nas nossas escolas de cinema, talvez ajudassem a que o nosso cinema não fosse simples, mas de uma forma geral simplesmente detestável por pretensioso.

Odisseias

Continuo a insistir em manter uma má relação com os serviços públicos. Manias minhas, certamente em nada devidas ao seu mau funcionamento. Insisto assim em que prepare cada necessária deslocação ás Finanças ou Segurança Social com tal antecedência que, invariavelmente, acabo a pagar as mais absurdas multas (aliás coimas) ou juros de mora. São expressões muito aqui de casa estas duas, e o trauma vai a tal ponto que até quando não me tenho de deslocar aos locais, mas simplesmente preencher um papel e enviar por correio, a passagem de prazo é uma constante. Vem ao caso que há umas semanas enviei – fora de prazo, como é evidente – uma declaração de IVA. Ora, ao tentar o seu pagamento via Multibanco o mesmo foi recusado pois a declaração fora enviada fora de prazo. Pânico, tinha então de me deslocar à própria repartição de Finanças. A proximidade do Natal obrigou-me a não estragar a felicidade da época com uma viagem tão traumática, foi assim já este ano que, resoluto, rumei a meio da manhã – pequeno-almoço forte, café forte – com a decisão de resolver o problema, nem que para tal fosse necessário insultar, bater ou espezinhar alguém. (A decisão empenhada deve-se em parte a já ter recebido em casa - aquando de um outro atraso semelhante - um carta em tom de tal forma ameaçador – falando em execuções fiscais e processos – que julguei ter por destino as grades ou a penhora do meu humilde Polo.)
Antes da deslocação consegui – após quase hora e meia de tentativas, e vários números errados – falar com o serviço informativo que me disse ter simplesmente de preencher o Modelo 2, pagando em seguida o valor. Entrei assim directo no R/C, onde se situa a tesouraria, que estranhamente estava vazia. Expliquei a minha situação à senhora e ela, ao ver que não era a minha repartição e estava fora de prazo, logo me disse simpaticamente: “Tem de ir ao primeiro andar”. Pronto, lá teria de ser. Subi as escadas e comecei a entrar na neura típica – uma fila que se previa para meia hora. Esperei, estoicamente e sem fumar, e chegando a minha vez expus, outra vez, a minha situação. Resposta pronta: “Se o senhor não é esta repartição não está aqui a fazer nada”. Explosão sustida, respirar fundo: “Tem a certeza?”. Ao ver que não me ia embora com facilidade: “Vou ali perguntar a uma colega”. E foi, e também deve ter perguntado como estava a família e se tinha dormido bem. Ao chegar: “Tem de ir ao andar de cima ás execuções fiscais, aí consegue resolver o assunto”. Respirar fundo, e aí vou para mais um lance de escadas e… uma outra fila de mais de meia hora. Aqui penso: fumo ou não fumo. Opto pela segunda, afinal ainda era de manhã. Quando chego ao balcão um funcionário novo e simpático – sem ironias – ouve a minha explicação – sempre podia ter gravado uma cassete –, vai ao telefone falar com a minha repartição, e chega com a sentença final: “Só tem de ir à tesouraria pagar, depois a sua repartição vai ter acesso ao pagamento e envia-lhe a coima.” Agradeci, apesar de que enquanto descia as escadas não ter a certeza de o dever ter feito. Afinal sempre paguei, rapidamente, só com uma pessoa à minha frente. Algo que poderia ter feito quase duas horas atrás, sem ter que conhecer todos os departamentos da repartição, sem perder quase uma manhã inteira no Portugal real. Bom seria que a esquerda percebesse que isto é terceiro mundo, muito mais do que as viagens do Ministro Sarmento a São Tomé. Podemos fazer o que quisermos, mas enquanto o serviço público não funcionar neste país, tudo o resto não vai melhorar o suficiente. Afinal era só mudar um funcionário para fazer triagem à entrada, agora o que diriam os sindicatos de mudar um Técnico de Atendimento Personalizado e Específico para o cargo de Técnico Atendimento e Triagem. Um ultraje, um cercear dos direitos dos trabalhadores, um abuso da entidade patronal, um desrespeito pelas atribuições técnicas do lugar.

13.1.05

Realidade

O mundo que nos rodeia está miserável, cheio de dor e tristeza. Olho à volta e tudo me parece uma etapa para o Purgatório, ou para um Juízo Final inclemente. Nos dias em que desço ao realismo mais perturbante, subitamente acordo, e volto para o cínico – apesar de lúcido – autismo do meu casulo. Não o faço por egoísmo, apenas por uma clara noção de impotência perante a realidade. A existência é cada vez mais experiência alienante, marcada por um distanciamento perturbador.

12.1.05

Vá lá

Haja alguém nesta barafunda a ter alguma sensatez. O Ministro da Saúde lá recuou – se bem que diga que não – nas propostas de fascismo higiénico com que nos queria brindar. Afinal poderemos continuar a fumar em restaurantes, bares e discotecas. O Ministro usou até a mesma expressão com que gosto de definir a minha posição em relação ao tabaco, a proibição não deve abranger “locais onde as pessoas escolhem ir”. Parece que já não vou entrar em neura a pensar como me ia tornar um clandestino dos meus prazeres.

Família

"No puede decirse que conozcas a una familia porque conozcas a sus miembros. Es la conjunción de todos ellos, su sociedad, lo que les otorga un sentido"

David Trueba, "Abierto toda la noche"

10.1.05

O Saco de Plástico

Cada vez que tento libertar-me do Expresso algo surge que me mantêm, ainda que contrariado, como seu leitor. Nestes tempos, em que aos Sábados o tento roubar por minutos – poucos, apesar dos quilos de papel – para ler apenas o que me interessa – que vai sendo pouco –, eis que a direcção faz uma contratação relâmpago de uma estrela de Inverno. A Bomba juntou-se ao João Pereira Coutinho, talvez para em pequenas guerrilhas começar a minar a enervante linha editorial do pastelão de referência. Que assim seja, porque vão tendo tão má companhia à sua volta que agora até se lhes juntou o Manuel Serrão – suponho que a escrever de futebol se bem que me recuse a confirmá-lo.

Sábado

Há pouco tempo eram menos oito pontos, agora já são mais dois. O destino é por vezes estranho. Neste Sábado, no Alvalade XXI, o resultado só deixará dúvidas aos cegos. Uma equipa sempre a querer ganhar, mesmo a jogar com menos um, outra numa tranquilidade de quem apenas quer empatar, numa atitude à Gil Vicente ou afins. Se Sábado definisse o resto do campeonato já podíamos ir para a rua comemorar, mas afinal o destino é estranho e o melhor é esperar para ver.

7.1.05

A Dream of Death

I dreamed that one had died in a stange place
Near no accustomed hand;
And they had nailed the boards above her face
The peasants of that land,
And, wondering, planted by her solitude
A cypress and a yew:
I came, and wrote upon a cross of wood,
Man had no more to do:
She was more beautiful than thy first love,
The lady by the trees:
And gazed upon the mournful stars above,
And heard the mournful breeze.

William Butler Yeats

Os meus livros

Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.

Jorge Luís Borges


4.1.05

Novo Parlamento

Há imagens de sonho que me acorrem ao olhar as listas a deputados para as próximas eleições. Pensar ter na Assembleia da República o mau fadista Nuno da Câmara Pereira, esse asno andante que persiste em dizes inanidades sobre todos os assuntos e a quem Santana deu a mão, é uma visão do inferno. Já agora gostava de poder sugerir a Santana os nomes de Artur Garcia e de Maria José Valério, é que já que estamos em maré de incompetências e disparates, ao menos tornemos o parlamento num local divertido. Assim até se podem fazer teatrinhos tipo Quinta das Alarvidades com a Odete Santos e o cortejo revisteiro do PSD. Aproveitando a onda até Sócrates pode repescar alguns elementos como Roberto Leal, Mónica Sintra ou Ana Gomes. O Bloco para não se ficar atrás, e na onda da protecção das minorias, podia arranjar um travesti para fazer playbacks do género “I Will Survive”. O PP pode continuar a colaboração com a Dina, que já vejo a cantar para Mota Amaral: “Peguei trinquei, meti-te na cesta…”.
Já que vai ser mau, ao menos era original conseguir um parlamento Kitsch à séria.


Timoneiro de quem?

Cavaco recusou aparecer num cartaz eleitoral do PSD em que apareciam todos os primeiros-ministros do partido. Tem todo o direito a isso. O que talvez seja estranho é que foi com este partido, do qual tantas vezes parece manifestamente não gostar, que chegou e se manteve no poder. Os laranjas insistem em admirar cegamente quem mais fez por destruir o seu partido com cenas como o tabu – que ajudou a massacrar Nogueira e entregou o poder de mão beijada a Guterres –, o demolidor artigo no Expresso – que foi mais um motivo para Sampaio dissolver o parlamento –, e esta recusa. Será que o partido ainda venera alguém que o despreza e apenas olha para o próprio umbigo? Merecerá Cavaco o apoio do PSD a uma candidatura presidencial? Eu não sou laranja – excepto no que à Ucrânia concerne –, mas tenho dúvidas. A arrogância moral de Cavaco lembra a postura de uma certa esquerda que se julga dona e senhora da moral, que se sente uma ilha de virtudes no meio de um pântano de defeitos. A verdade é que o nosso país é cada vez mais um bar pouco frequentável e com bebidas maradas, mas não me parece que a arrogância distante seja a melhor forma de o melhorar.


3.1.05

Reviver o Passado em Salamanca

A entrada no novo ano serviu para um regresso, sempre muito querido, a uma das “minhas” cidades. Por ali vivi quase um ano que me traz boas recordações de pessoas, e de uma cidade capaz de apaixonar de forma definitiva quem lá passa. O mundo real passou ao lado destes dias em que entre amigos, tapas e copos, me despedi de 2004 – de poucas gratas recordações – para acolher o novo ano que chegou.
Claustro de Las Dueñas (Vista para a Catedral Nova), Salamanca 2004

Sem Arrependimento

Ano novo igual a alguns quilos a mais, e os culpados são:
Jamón Ibérico, Payo del Lomo, Pinchos morunos, Tapas, Batatas bravas, Palomas con ensalada, Tortillas con calabacín, Pimientos Rellenos, Lechazo, Solomillos de Morucha, Chuletones de Ternera, Pesquera, Emilio Moro, Cacique-Cola, Vodka-Tónico e outros tantos.
Culpados de um crime assumido, o de gostar mesmo de comer e beber. Afinal para que serve a vida senão para os pequenos prazeres e que melhor forma de atravessar a fronteira entre dois anos do que a comer e beber bem.

Ásia

A desgraça causada pelo terramoto na Indonésia passou ao lado das postas deste blogue, não por indiferença, mas porque perante o sucedido todas as palavras são escassas, inconsequentes e inúteis.