30.10.07

Link

Entrada para a coluna do lado do Hotel Mandovi. Para outra oportunidade ficam alguns comentários a propósito. Até lá, vai um Cold-coffee ao fim da tarde no bar do hotel, após passeio errante pelas ruas de Pangim.

Para lembrar um momento de génio



Dos tempos em que Herman era grande, o meu sketch preferido. À atenção de quem, justamente, acha que o Herman de hoje não tem graça, mas que, injustamente, se esquece dos muitos grandes momentos que lhe devemos.

26.10.07

Pudim por Pudim

O senhor Pudim tem andado a transtornar a vida dos pobres lisboetas que, em desespero com a prolificação de sirenes a apitar e de carros a dispararem no meio do trânsito, ameaçam esgotar os stocks de comprimidos para a dor de cabeça. A agravar a situação, o tuga-lisboeta desconhece que deve facilitar a passagem de ambulâncias e carros de polícia com pirilampos acesos, com resultado que, ontem, um energúmeno quase me abalroou quando eu simpática e civilizadamente procurava dar passagem a uma carrinha da polícia com as luzes azuis a piscar freneticamente.
Como tudo isto é uma grande maçada, eu cá mandava o senhor Pudim para a sua terra, onde todos se parecem habituar ao circo que o envolve e, caso não se habituem, podem sempre esperar receber um presentinho do senhor Pudim, talvez um radiante Polónio. Pudim por Pudim ficava antes com o nosso, o “à Abade de Priscos”, que sempre vai sendo mais doce, português e, essencialmente, muito menos maçador.

Europa

“Enquanto os Estados Unidos tentavam assumir a liderança com os resultados conhecidos, a Europa na sua versão jurídica e burocrática discutia em circuito fechado e procedia à sua tarefa preferida, de tudo regulamentar, desde a proibição das colheres de pau até à extinção dos "jaquinzinhos". “

Excerto de “A arte do possível” de Maria José Nogueira Pinto no DN de ontem.

24.10.07

Fiesta

Para comemorar nada melhor que os Pogues e a sua saudável loucura.

Quatro

Descubro, por puro acaso, que me passaram os quatro anos do blog. Esta coisa de as datas serem algo de difícil memorização – acabo de descobrir que o meu primo fez anos ontem e que, portanto, terei de lhe ligar de imediato – leva a isto, até me esqueço dos dias que directamente me dizem respeito. Nada de especial, só lamento a falta de um champagne para brindar com os leitores que persistem em aturar os meus desvarios e as inutilidades que por aqui se escrevem, afinal, nem mesmo eu sei porque persisto nesta teimosa tarefa de manter um blog e durante tanto tempo. Há algo de viciante num blog, que combato como aos cigarros mantendo uma dose cobarde e aceitável e evitando os excessos. Ainda assim não me entendo e não percebo como, sendo tão preguiçoso, consigo manter esta chafarica a funcionar. Prefiro pensar que serve a minha ginástica mental e que ajuda a que este cérebro não hiberne ao ritmo dos tempos cinzentos e desinteressantes que são os de hoje. Também ajuda perceber que alguns lunáticos, não levem a mal a franqueza, leiam o blog e, aparentemente, vão gostando do que lêem. Serão motivos para continuar? Talvez sim, ou talvez não, caso um dos meus famosos e proverbiais ataques de mau feitio me levem a ter um auto-zanga que me leve a deixar de escrever. Até lá, obrigado aos que me vão aturando.

.

Agradecimento ao Vide Bula pela referência a este estabelecimento vinda do outro lado do Atlântico. Entrada para a coluna do lado, assim como o Gattopardo, o novo blog de Pedro Mexia e Pedro Lomba, e o Somos Portugueses , um blog monárquico a sério.

23.10.07

Coisas do tempo

Reclamei que me faltou calor aquando do verão do calendário em que estive de férias. Reclamei com o verão veio fora de época e as férias eram já uma miragem. Hoje dou por mim a reclamar com as nuvens que querem lembrar que não estamos em Maio, apesar da temperatura. Lembro-me também que a hora está para mudar e terei de recorrer a muito chá verde da Gorreana para combater a ansiedade e a uns valentes copos para contrariar a neura de ser noite tão cedo durante o dia.
Gosto de reclamar, em especial porque vivo em Portugal e me posso dar a esse luxo, porque o nosso clima é uma delícia mesmo quando nos troca as voltas e piora um pouco. Mesmo quando é mau, é bom, pelo menos a comparar com o resto do mundo. Por isso reclamamos tanto com ele, somos como crianças mal habituadas e mimadas, prontas a guinchar de birra a qualquer contrariedade. Pelo menos eu sou.

19.10.07

Posta em tom de esquerda

O Barroso e o Sousa regozijaram ontem, acabando a brindar com um espumante cá da terra ao qual só faltou o caviar para acompanhar. O povo que se manifestava cá fora, em número quase igual aos votantes das últimas autárquicas em Lisboa, foi olimpicamente ignorado. Assim como o foi e será o restante povo, massa obscura e ignorante que convém manter no desconhecimento e na distância da festa, e mais ainda dos incompreensíveis motivos da festa. Pouco faltou para se ouvir uma tirada como a que é, e mal, atribuída a Maria Antonieta – se o povo tem fome que coma brioches – adaptada à lusa pátria, que poderia ser qualquer coisa como: se o povo não tem nada que fazer, incluindo trabalho e emprego, que se dedique ao Sudoku, que sempre exercita a mente.

18.10.07

As luzes

Eis que chega a famosa cimeira de Lisboa. Os Eurocratas herdeiros do despotismo iluminado lá se preparam para contornar a, supostamente, legítima vontade do povo, aprovando um Tratado Europeu com conteúdo semelhante ao que foi chumbado em referendo por dois países. Agora, todos chegaram a acordo – sob a liderança do “fugitivo” Durão Barroso, bem habituado às decisões democráticas dos seus tempos maoístas – de nada submeter ao ignorante povo , que não detém a capacidade de perceber as luzes da Europa nem as ideias impolutas e divinas que emanam de Bruxelas. Ouço muita gente que fala com grande ênfase de Democracia e de Liberdade a louvar o tratado com um fervor quase fanático, o que me traz cada vez mais dificuldade em compreender o significado destas duas palavras. Aproveitando o facto, sugiro que, por deliberação da cimeira de Lisboa, se alterem em todos os dicionários da União Europeia as definições de Democracia e Liberdade, é que com estas confusões semânticas as pessoas podem ficar baralhadas e assim já todos saberemos ao que vamos.

16.10.07

Músicas

Santana ocupou o seu tempo, após ter sido despedido, com aulas de piano; Duarte Lima é eminente organista; Mendes Bota já editou um disco como cantor. Música não irá faltar na nova direcção laranja, resta saber se será ao nível da tocada por Lima – erudita, por Santana – Pop, ou por Bota – estilo, enfim, a ter algum estilo é mesmo pimba.

Pesadelo

Ouvir dizer que nomes como Arlindo Carvalho, Mendes Bota ou Couto dos Santos ainda estão politicamente vivos faz-me recuar aos piores pesadelos dos tempos do cavaquismo, o problema é que agora que não temos o velho Indy para por esta gente na ordem.

12.10.07

A Bela Lisboa

Jacarandás
(junto à Sé)
Junho 2007

Censura?

Uma vez mais, um texto de Ferreira Fernandes para o DN: “A Censura que já tarda”.

“O espanhol, homem qualquer, sem dinheiro ou influências que fazem os abusos serem pagos caro, foi abusado pela modernidade. Pela Internet, que trouxe mais liberdades a todos, até aos canalhas. O espanhol tem um filho esquizofrénico, já quarentão, que por vezes faz tristes figuras que provocam risos alarves. Mas a proximidade do bairro e o freio dos homens bons ajudavam a que o insulto se circunscrevesse a alguns irresponsáveis. Agora, não foi assim. Uns energúmenos puseram no YouTube imagens do esquizofrénico a fazer de índio sioux. O pai, que esteve décadas a aguentar risinhos à socapa, desta vez acha que é de mais. O chegar a todo o lado e a irresponsabilidade que o YouTube permite deixam o espanhol impotente. Claro que este caso (e outros e outros que vão repetir-se) irá obrigar a antídotos. Nessa altura vai dizer-se que há censura. E eu digo: que já tarda. Porque me agrada a censura que interdita que me cuspam na rua.”

10.10.07

Delírios de quase Outono

Bárbaras barbaridades barbarizam a nossa já barbarizada existência.
Tornamo-nos selvagens para selvaticamente combater na bárbara selva, ou
aguardamos serenamente apelando à serenidade dos selvagens não serenos.
Serenar a selva bárbara é tarefa à medida de uma epopeia e isso,
isso é coisa de tempos antigos.

9.10.07

Blog de página em preto

Falta motivo, falta assunto, falta vontade. O blog segue preguiçoso e a meio gás. Ainda não chegou o Inverno do frio e das braseiras, justificação para indolências caseiras. O calor que segue não justifica tanto desinteresse, tanta preguiça. O país está chato e eu por arrasto estou chato, e para evitar chatear os outros não escrevo. Poupo-os assim a longas dissertações sobre religião, receitas novas experimentadas, vontade de recuar aos tempos de Nancy Mitford ou análises comparativas entre jardins barrocos e o absolutismo. Poupo-os também a pormenores de casamentos, do último e magnífico “Bourne”, do bem que sabem os Gin Tónicos antes de jantar e da crescente vontade de viajar. Poupo-os às minhas preocupações com os arboricídios e à vontade que tenho de conhecer a nova Catedral de Fátima. Poupo-os, no fundo, a textos comezinhos e provincianos, com origem na provinciana Lisboa onde se consegue provar vinhos no “El Corte Inglés” com um desconhecido e voltar a encontrá-lo no IKEA no dia seguinte. No fundo, poupo-os a ver que estou cada vez mais como o meu país: calmo, chato, ensimesmado e melancólico.

4.10.07

Ai que festa que aí vem!

Diz que amanhã é feriado, um data efusivamente comemorada pelo povo, que acorre em massa às ruas, ano após ano, celebrando em festas ruidosas e intermináveis. Torna-se impossível circular no meio das frenéticas manifestações republicanas, com hordas de jovens de bandeira verde e encarnada em punho, gritando a plenos pulmões a “Portuguesa”, alternada com insultos furiosos a El-Rei D. Carlos. Para lembrar a efeméride, tão grata aos portugueses, deixo um pequeno poema de João Ferreira Rosa, com a promessa de o tentar incluir mais tarde na forma de música.

"Portugal foi-nos roubado"
Portugal foi-nos roubado
há que dize-lo a cantar
para isso nos serve o fado
para isso e para não chorar
.
Cinco de Outubro de treta
o que foi isso afinal?
dona Lisboa de opereta
muito chique e por sinal
.
Sou português e por tal
nunca fui republicano
o que eu quero é Portugal
para desfazer o engano
.
Os heróis republicanos
banqueiros, tropa, doutores
no estado em que ainda estamos
só lhes devemos favores
.
Outubro Maio e Abril
cinco dois oito dois cinco
reina a canalha mais vil
neste branco verde e tinto
.
Sou português e por tal
nunca fui republicano
o que eu quero é Portugal
para desfazer o engano!
.
(João Ferreira Rosa)

2.10.07

Hoje

As brumas sobre o verde lembram um lago irlandês rodeado de tranquilidade e harmonia. A humidade matinal abre o apetite. De dentro da pequena casa de janelas encarnadas sai um fumo que cheira a pinho e a cozinhados. Os pratos chegam com feijão e enchidos, colocados entre chávenas cheias de chá quente. Ouvem-se risos fraternos e a comida vai saindo alegre dos pratos. O calor rivaliza com a humidade ainda fria que entra pelas janelas abertas. Aos pouco vislumbram-se as árvores da pequena ilha do lago. Surge uma imagem turva do campanário lacustre e ouvem-se ao fundo as onze horas.

Supremo gozo

Na posta anterior esqueci-me, imperdoavelmente, de destacar o maior gozo proporcionado na noite de Sábado. Muitos foram os Barões a urrar, mas o mais sonoro agonizar foi da enorme carpideira Paula Teixeira da Cruz. E o que eu gostei de a ouvir magoada, entristecida, revoltada, aviltada, indignada com a maçada que é a democracia e que, pobrezinha, decidiu contra ela. A sua intervenção parecia de um miúdo de doze anos que acaba de perder um jogo de futebol e que nega, veementemente e a pés juntos, o resultado, acusando um amigo de o rasteirar, outro de jogar com a mão e ainda o guarda-redes de tirar a bola de dentro da baliza ocultando um golo.
Teixeira da Cruz representa quase tudo o que me afasta de um político: a suprema arrogância, o desprezo pela opinião contrária, a desonestidade intelectual, a ostensiva falta de educação, a utilização de uma forma tão afirmativa que esconde o conteúdo (logo as ideias). Por isso gostei tanto de a ver perder, o que eu gostei de a ver perder e mostrar que nem isso é capaz de fazer com o mínimo de dignidade, elevação e educação.

1.10.07

Que gozo

A vitória de Menezes encheu a minha noite de Sábado de um enorme gozo e felicidade. Dizia-se que o PSD era um partido dominado por Barões, que tinham de facto o poder de eleger e deitar abaixo líderes. Estes Barões enfatuados davam sempre e em qualquer ocasião a sua opinião, nunca dando o nome para nenhuma eleição que não fosse seguro ganhar. Espalhavam assim a sua magna influência, deixando amiúde líderes a carbonizar em lume brando, até ser a altura certa de avançarem com outro que os substituísse. Tudo, como é evidente, dentro do estrito controlo das suas influências. Mendes tinha esse caminho traçado, aguentar o partido na oposição – fase muito maçadora para os Barões pela falta de poder – até que, com a hipótese da vitória, surgiria um outro “Messias” para colher os louros, o poder, e os importantes lugares na máquina do Estado. As coisas estavam todas encaminhadas pelo “Sistema” e o pobre Mendes, pessoa bem intencionada e de aparente seriedade, preparado para aquecer os motores para o próximo presidente. Eis que surge o persistente Menezes a candidatar-se outra vez, perante o nojo distante dos ditos Barões, olhado com desprezo pela sua falta de linhagem política e inveja pelo excesso de linhagem aristocrática. Os Barões estão em transe e o que poderia ser melhor para o país do que ver os ditos aos saltos como ovos na frigideira, brandindo agora, que elas lhe foram desfavoráveis, contra as directas que ainda tentaram manipular por terras do Paraná.
Menezes será bom, ou mau, o que para o meu gozo actual é indiferente. Mendes podia ser mais credível, mas era inexistente como oposição ao Pinto de Sousa que até já devia andar maçado com a falta de luta. Não imagino Mendes nem Menezes como primeiro-ministro, mas pelo menos imagino Menezes a dar mais trabalho a Pinto de Sousa e a fazer melhor oposição. Agora, o grande gozo mesmo é ver os ditos Barões em fúria. Que delícia! Que delícia!