13.11.03

Santana e Lisboa

Os receios vão-se confirmando. Apesar da esperança de novas ideias e dinâmica para Lisboa, Santana tem vindo a optar pelo "show off".
1. Sobre a polémica de Gehry muito tem sido dito. A opção é legítima e estritamente política, Gehry é hoje mais do que um arquitecto e a sua influencia nas cidades onde projectou trespassa as questões estéticas. Não gosto do seu estilo enquanto arquitectura, duvido mesmo que o seja. Encontro-o mais como uma escultura de provocação pós moderna. O exemplo de Bilbau é particularmente feliz, mas o enquadramento urbano é totalmente diferente. Tenho as minha dúvidas quanto ao projecto do Parque Mayer. Não sendo um opositor à partida, espero para ver o projecto concreto.
Acho que esta opção (de construção) é pouco arrojada, seria muito mais estimulante e definitivamente arriscado (politicamente) prever naquela zona uma área pública que passasse por um jardim/praça pública. A ligação ao jardim botânico permitiria uma obra de ruptura com o habitual de hoje em dia, criando, finalmente, uma área verde nova no centro de Lisboa. Oportunidades destas não se vão repetir, na cada vez mais apertada malha urbana de Lisboa.
A muito discutida questão dos honorários nada tem a ver com arquitectura. O montante é estratosférico e injustificável no que à arquitectura diz respeito. Do que aqui se fala é de um enorme investimento em marketing para a cidade de Lisboa e para o seu turismo. Neste prisma a justificação só pode ser encontrada no terreno da economia.
2. A escandalosa poluição dos outdoors que pululam pela cidade ofende a alma. Em tempos em que devíamos tentar acabar com estas formas de poluição, é a própria Câmara que avança em força nesta forma de publicidade. O que me choca já nem é o dinheiro gasto (se não fosse aqui seria noutras formas de publicidade) mas sim o desastroso impacto na cidade.
3. Quanto ás flores na Avenida da Liberdade, o que se pode questionar é a desmedida verba empregue. Esteticamente não gosto da solução, mas subscrevo a ideia base. Hoje esta Avenida é mais apelativa, especialmente para os turistas que nela encontram a veia central da cidade.
4. A face mais negra vem, no entanto, da ideia peregrina de fazer o túnel do Marquês. O grave problema é não se perceber qual é a ideia para a cidade. Não é normal que ao mesmo tempo se tire o trânsito de algumas zonas da cidade, para depois fazer obras que facilitem, e estimulem, a entrada de mais carros na cidade.
Ao mesmo tempo é anunciada a construção de silos em zonas históricas. Nada tenho contra o estacionamento em altura. Parece-me que conceptualmente os projectos até são interessantes, aproveitando o arrojo da Experimenta Design. Mantenho algumas dúvidas sobre o enquadramento nas zonas em questão, mas mais uma vez é esperar para ver.
5. Como conclusão, o que Lisboa precisa não é de uma série de ideias avulsas, umas boas outras nem por isso, mas sim de uma política coerente que consiga promover a qualidade de vida das pessoas. Não temos uma capital caótica como o México, mas podemos melhorar, e muito, a vida dos lisboetas. O centro arrasta-se numa morte lenta da qual parece difícil de sanar. Não chegam as boas intenções, é precisa muita coerência e isso, a meu ver, é o que tem faltado a Santana Lopes.

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