6.8.04

Crónicas da Figueira II

Tudo mudou com o correr dos anos, mas a imutabilidade das pessoas, em que apenas as rugas nos acordam para a realidade, faz destes sítios os nossos sítios.
Faz-me falta o cheiro das bolachas dos cones dos gelados do Tamariz, ali na esplanada junto à praia, onde passava de mão dada com o meu pai, quando ainda concebia e praticava a praia pela manhã. Relembro a máquina de marionetas na Luna, onde passei longos minutos a dançar ao ritmo do Pinóquio - olhando temeroso para a maldosa bruxa que agitava a vassoura -, e que perdurou enquanto o fazia com primos ou sobrinhos, quando a bruxa mais não era que um emaralhado de madeira e tecido e a sua expressão apenas risível. Até ao ano em que desapareceu, como desaparecem tantas coisas da vida, sem aviso nem notícia deixando o lugar vazio e apenas perdurando nas memórias de caturras que teimam em viver de braço dado com o passado.
A nostalgia toma conta destas crónicas ao ritmo que as memórias assaltam o pensamento, olhando o mar calmo e morno, pensando nos tempos de mares temíveis e ondas que transportavam consigo a cólera sempre bela do mar.

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