12.2.08

Timor

Nestes trágicos tempos que vive Timor é uma mais vez essencial o apoio de Portugal. Durante anos, esta foi terra abandonada e esquecida, assunto tabu para demasiadas consciências pesadas. Longe, muito longe para que as feridas se avivassem, para que parecessem reais. Os indonésios ocuparam o território e Portugal, com a timidez de uma virgem pudica, balbuciava débeis protestos à comunidade internacional. Os políticos portugueses só podem querer evitar falar sobre Timor, aliás, durante anos foi exactamente aquilo que fizeram, tentando que o povo português ignorasse o que se passava com os seus irmãos do outro lado do mundo. Uma voz sempre destoou, ao ponto de por isso ser ridicularizado, insistindo em dar apoio aos refugiados timorenses e em não deixar que o assunto caísse no tão desejado esquecimento: D. Duarte de Bragança, que a “inteligentzia” sempre insiste em fazer passar como um inútil, foi a única voz que nunca se calou. Depois veio o povo português, que após perceber, finalmente, o que se passava em Timor, essencialmente depois de ver as imagens do massacre de Santa Cruz, mas também, é preciso não esquecer, graças às denúncias da então Embaixadora na Indonésia, Ana Gomes. A inédita, e magnífica, onda de solidariedade que percorreu o país terá sido uma bofetada aos políticos da situação que, de repente, se viram na necessidade de ter de fazer algo por Timor. Aí, e só aí, houve uma acção oficial de Portugal em relação a Timor. Foi tarde, tal como o vai ser agora, mas foi essencial, tal como o terá de ser agora.

Relembrem-se as palavras de Pedro Ayres de Magalhães, escritas para a canção "Timor" dos Resistência:

“Andam lá sem descansar, Nas montanhas a lutar,
Iluminam todo o mar de Timor.
Nas montanhas sem dormir, uma luz a resistir
Arde sem se apagar em Timor.

Andorinha de asa negra,Se o teu voo lá passar,
Faz chegar um grande abraço, Dá saudades a Timor.

Eles não podem escrever, Porque vão a combater,
Vão de manhã defender, a Timor.
As crianças a chorar, não as posso consolar
Que eu nunca cheguei a ver, a Timor.

Andorinha de asa negra
Vem ouvir o meu cantar.
Faz chegar um grande abraço,
Sem noticias de Timor.
Nunca mais hei-de voltar ,
Já não posso lá voltar,
À idade de lembrar a Timor.
Andam lá sem descansar, Nas montanhas a lutar
Iluminam todo o mar de Timor.”

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