13.4.05

E que tal se se calasse

O nosso Presidente parece querer, à viva força, que eu perca a estima que apesar de tudo lhe tinha. Depois dos sucessivos episódios decorrentes da fuga de Durão, em que o senhor parecia tentar baralhar toda a gente, eis que aparece agora no seu esplendor. Sobre tudo e nada diz que não deve falar, que não deve dar opinião, que deve permanecer neutro. Falemos de rabanetes ou do aborto, de políticas económicas ou de peixe grelhado, o senhor diz que deve ser o presidente de todos os portugueses, esquivando-se de opiniões que extravasem, ainda que marginalmente, o politicamente correcto. Pois, goste-se ou não até é uma posição coerente…se for coerente.
A propósito do referendo da Europa, o senhor decidiu ir a França (em visita de Estado) dar uma perninha na campanha pelo “sim”, tomando parte activa com as suas convictas opiniões. Reacção em Portugal? Nenhuma. A nação assiste impávida ao nosso neutral presidente a fazer campanha eleitoral à nossa custa – sim, não consta que uma visita de Estado a França seja privada –, num assunto que também irá ser referendado por cá. Será que havia silêncio caso o Presidente fizesse campanha pelo “não”?
A Europa permite tudo e os referendos mais vão parecer eleições do Antigo Regime, só que os “democratas” de outrora estão agora na barricada que tenta, por todos os meios, obrigar a populaça a votar nas suas ideias. A Europa é hoje mais do que uma religião, é uma imposição em que vale tudo, e que se vale de tudo. Os políticos perderam toda a vergonha e usam métodos que há uns anos valeriam a qualquer um ser acusado na praça pública de fascista, a ter as paredes de casa pintadas com impropérios capazes de fazer corar senhoras de má vida. Os “democratas” de ontem são os sub-reptícios ditadores de hoje, e o senhor Sampaio melhor faria em estar calado e ficar a passear nos bonitos jardins de Belém, em vez de se passear em campanha por França. Belém não é Versailles, mas haja decência.