9.12.03

Cultura

Nota avulsas acerca do Prós e Contras sobre cultura de ontem à noite.

1. Frente a frente o actual e o anterior Ministro da Cultura digladiam argumentos. Não são só duas correntes políticas que estão em causa, são duas formas diferentes de estar na política e na vida. O histriónico Carrilho, sempre tomado pela voracidade dos flashs e das câmaras; o sereno Roseta, sempre discreto e apagado.
Carrilho optou sempre pela demagogia, falando de metas estabelecidas (sobre o que Roseta lembrou a Casa da Música que devia ter estado pronta em 2001), lembrado com soberba tudo o que fez (ou diz que fez). Roseta respondeu objectivamente, sem se enlear em promessas, falando no que vai fazendo, no seu assumido "low profile".
Definitivamente em tudo são diferentes. Prefiro a seriedade de Roseta, não alinhando em festividades efémeras, falando do concreto, assumindo uma postura política absolutamente "fora de moda". Carrilho soa, quase sempre, a uma divagação aborrecida. Roseta não tem obra feita, mas deixemos que trabalhe e falemos daqui a uns anos, quero crer que o balanço será positivo.

2. Irrita-me ver o "Comendador" Berardo a surgir como mecenas florentino à escala portuguesa. Não discuto os méritos da colecção arquitectada por Francisco Capelo, pelo que conheço ela é de facto excelente. Simplesmente não tenho memória curta e recordo a minha dolorosa visita à Quinta da Bacalhoa por si adquirida. Esta Quinta, marca fulcral do Renascimento em Portugal, foi barbaramente assassinada por este senhor. Não o Palácio, mas os maravilhosos jardins. Nestes rebentou todo o extraordinário sistema hidráulico com uma enorme terraplanagem, deitou abaixo o pomar (imprescindível ao desenho do jardim) e uma grande quantidade de árvores centenárias (nomeadamente as que protegiam o palácio da Estrada Nacional). Não esqueço também o restauro de muros com cimento ou betão e os azulejos hispano-árabes que foram partidos sem clemência. O IPPAR assistiu impassível a este crime. O "Comendador" e "patrono das artes" foi devidamente avisado por especialistas do mal que estaria a fazer e continuou com a obra (antes fosse a ignorância a sua desculpa). Parece que a motivação estava ligada com a plantação de mais vinha e com a logística do casamento do seu filho.
Repito, não discuto o mérito das suas colecções, mas definitivamente não gosto da criatura e revolta-me o altar cultural em que o guardam. Cultura não é só o actual, o contemporâneo, é também o respeito pelo que nos foi legado pelos nossos antepassados.

3. No início fico espantado com um dos intervenientes, o que estará lá a fazer Zita Seabra? Há algum tempo que não aparecia e, confesso, quase não me lembrava da sua existência. Passado um pouco do debate compreendo a sua presença, perante a lucidez das suas intervenções, com as quais só consigo concordar. De todos os intervenientes destaca-se claramente, em particular no que diz respeito à fulcral ligação das políticas de Cultura e Educação.

4. O debate perdeu pela excessiva politização, pelo confronto entre este e o anterior governo, entre o fiz e o vou fazer, entre as visões da direita e da esquerda. Valeu mesmo assim a pena.

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