Tal como se previa o famoso túnel do Marquês começou a afundar. Ainda não no sentido mais real da palavra, para já apenas figurativamente. A suspensão das obras demonstra que Santana está, de facto, obcecado em fazer obras rápidas. O túnel do Marquês é um disparate mas, uma vez tendo sido decidido construí-lo, o mínimo é que a construção seguisse os trâmites legais e as básicas regras da prudência. Não estamos a falar de uma qualquer zona do país, falamos duma das mais emblemáticas zonas de Lisboa. Agora a obra está suspensa mas duvido que seja cancelada. O que espera os lisboetas são mais dias de caos no centro da cidade, tudo por culpa da incúria de quem os governa.
Quando os políticos começam a brincar com os Elementos teme-se o pior. Maus exemplos não faltam, quem se esqueceu de um metro que já devia estar pronto e continua a meter água. Construir uma cidade passa antes por compreendê-la e também para isso servem os Estudos de Impacte Ambiental. Perante tudo isto estou cada vez com mais medo de Monsanto. Será que o Hipódromo, a Feira Popular, e todas as outras diversões de Santana também vão ser feitas sem os devidos estudos?
29.4.04
27.4.04
Condecorações e a Liberdade
No nosso Portugal muita gente é condecorada por tudo e por nada. As consequências não serão graves para além da desvalorização de algo que poderia ser importante. Ontem o Presidente da República voltou ao ataque e enfaixou mais alguns. O assunto foi falado pela recusa do PP em permanecer à cerimónia em protesto com a condecoração da Dra. Isabel do Carmo. Realmente Portugal tem a característica de considerar que a liberdade é um exclusivo da esquerda, sendo a única luta válida pela liberdade a que levou à queda do Antigo Regime. Curiosa amnésia a que faz esquecer o que senhoras como esta fizeram em nome da liberdade, da sua liberdade. A grande lutadora da liberdade pertenceu a uma organização que bombeou o país já em regime democrático, por isso foi condecorada com a Ordem da Liberdade.
Após alguma reflexão percebi estarmos perante um delírio MonthyPhythoniano do senhor Presidente, afinal o seu sentido de humor inglês já é famoso. Só assim se explica esta extraordinária ideia, que foi aplaudida na plateia por outro grande defensor da Liberdade, Otelo. Assim vai esta democracia da Liberdade.
Após alguma reflexão percebi estarmos perante um delírio MonthyPhythoniano do senhor Presidente, afinal o seu sentido de humor inglês já é famoso. Só assim se explica esta extraordinária ideia, que foi aplaudida na plateia por outro grande defensor da Liberdade, Otelo. Assim vai esta democracia da Liberdade.
26.4.04
O meu 25 de Abril
Hoje muitas histórias são contadas sobre 25 de Abril de cada um. Sobre o de 1974 pouco tenho a acrescentar de experiência pessoal. A minha mente divagaria entre a preocupação esfomeada da premência de mais um biberão, ou sobre questões ambientais íntimas da troca de fraldas sujas. Nada disto impede que possa falar sobre o assunto, pelo menos terei a vantagem do distanciamento.
"Vivam os 25 e abaixo o 26 de Abril."
Esta frase poderia sintetizar o que penso sobre a revolução e o PREC. Portugal vivia em 1974 numa ditadura cinzenta e decadente, a revolução terminou com este suplício. No dia seguinte tudo se começou a coordenar para que uma nova ditadura fosse imposta, agora sob a cobertura de uma falsa liberdade marxista. Por isso não posso exultar com o PREC e com alguns dos denominados ideais de Abril. A liberdade, palavra que tanto se usa ao falar da revolução, apenas foi assegurada a 25 de Novembro. No meio fica um caminho que quase nos conduziu à desgraça, para além de ter conseguido atrasar mais - o que pareceria impossível - o país. Descolonização (inevitável mas irresponsável), Nacionalizações, Saneamentos, Intimidação. Não consigo ver nada de bom em tudo isto.
Comemoremos a revolução, mas não com gente pouco recomendável a ser louvada em público. Nada devo como português a Otelos e camaradas Vascos. Nada devo a quem nos quis levar para o fundo do poço. Acredito que a Europa e os EUA não nos deixassem cair no comunismo, mas assim a luta não se teria resumido a esta revolução de bananas que foi Abril. Comemoremos a liberdade, a evolução do país e a revolução, mas apenas ela, sem o que veio depois.
"Vivam os 25 e abaixo o 26 de Abril."
Esta frase poderia sintetizar o que penso sobre a revolução e o PREC. Portugal vivia em 1974 numa ditadura cinzenta e decadente, a revolução terminou com este suplício. No dia seguinte tudo se começou a coordenar para que uma nova ditadura fosse imposta, agora sob a cobertura de uma falsa liberdade marxista. Por isso não posso exultar com o PREC e com alguns dos denominados ideais de Abril. A liberdade, palavra que tanto se usa ao falar da revolução, apenas foi assegurada a 25 de Novembro. No meio fica um caminho que quase nos conduziu à desgraça, para além de ter conseguido atrasar mais - o que pareceria impossível - o país. Descolonização (inevitável mas irresponsável), Nacionalizações, Saneamentos, Intimidação. Não consigo ver nada de bom em tudo isto.
Comemoremos a revolução, mas não com gente pouco recomendável a ser louvada em público. Nada devo como português a Otelos e camaradas Vascos. Nada devo a quem nos quis levar para o fundo do poço. Acredito que a Europa e os EUA não nos deixassem cair no comunismo, mas assim a luta não se teria resumido a esta revolução de bananas que foi Abril. Comemoremos a liberdade, a evolução do país e a revolução, mas apenas ela, sem o que veio depois.
23.4.04
22.4.04
Filmes
Anteontem vejo a “Rapariga do Brinco de Pérola”, onde mais do que cinema, entranho-me pela pintura desse gigante que foi Vermeer. O filme é esteticamente deslumbrante, quer pela fotografia quer por Scarlett Johansson. Relembro os quadros já vistos ao vivo e cruzo essas cores poderosas e brilhantes que nos deixam em estado encantatório. Vermeer é dos meus preferidos e por isso gosto do filme. Pode não ser grande cinema, e não é, mas vale pela beleza, e não será suficiente?
Paixão
Ontem chego finalmente à "Paixão", o polémico e já tão falado filme de Mel Gibson. Não vou entrar nas questões religiosas, que guardarei para mim. O filme é no mínimo esmagador e esteticamente poderoso.
Por entre acusações de anti-semitismo e de violência gratuita um ponto importante se pode tirar do filme. O perigo das multidões, em particular quando acicatadas organizadamente. Não foram Os Judeus a entregar Jesus, foram aqueles homens, aquela multidão que, sim, era constituída por judeus. Isto faz toda a diferença, não foi um Povo a entregar Jesus, foi aquele povo naquele local. As multidões são assim, e o preocupante é pensar que ainda poderão ser assim, não para Jesus já sacrificado, mas para qualquer um de nós. Os grandes fenómenos fundamentalistas têm a sua génese neste ponto e é aqui que nasce a intolerância. As multidões são facilmente manipuláveis e, infelizmente, há muita gente a saber isso. Se para mais nada servir, pelo menos para reflectir sobre isto sirva o filme, a crentes e não-crentes.
Por entre acusações de anti-semitismo e de violência gratuita um ponto importante se pode tirar do filme. O perigo das multidões, em particular quando acicatadas organizadamente. Não foram Os Judeus a entregar Jesus, foram aqueles homens, aquela multidão que, sim, era constituída por judeus. Isto faz toda a diferença, não foi um Povo a entregar Jesus, foi aquele povo naquele local. As multidões são assim, e o preocupante é pensar que ainda poderão ser assim, não para Jesus já sacrificado, mas para qualquer um de nós. Os grandes fenómenos fundamentalistas têm a sua génese neste ponto e é aqui que nasce a intolerância. As multidões são facilmente manipuláveis e, infelizmente, há muita gente a saber isso. Se para mais nada servir, pelo menos para reflectir sobre isto sirva o filme, a crentes e não-crentes.
20.4.04
Futebol
Parece que uma série de gente ligada ao futebol, incluindo o inefável Major, está detida para inquérito judicial. Para quem segue - ainda que com um certo distanciamento - o futebol em Portugal, não causará estranheza. Aliás não é estranho que haja corrupção, o que será estranho é que isso esteja de facto a ser investigado. Talvez assim haja alguma vergonha em quem dirige o futebol e não surjam árbitros como o Sr. Paixão a arbitrar jogos importantes. É que errar é humano, mas tanto...
19.4.04
Al Qaeda 3 – Espanha 0
1-0 Atentados em vários comboios em Espanha causam centenas de mortos.
2-0 O PSOE ganha as eleições numa reviravolta inesperada causada pela reacção dúbia do governo PP à autoria dos atentados.
3-0 Zapatero manda retirar o contingente espanhol no Iraque.
Independentemente da justiça na intervenção no Iraque, a mudança da posição espanhola só vem provar uma coisa, o terrorismo pode ganhar. Zapatero terá as motivações mais certas e justas, mas recuar neste momento apenas mostra fraqueza. O terrorismo pode combater-se com guerra mas, mais importante, combate-se mantendo a normalidade, ainda que aparente, nas nossas vidas. Foi assim que o PP conseguiu reduzir a ETA a uma sombra do que já foi.
O PSOE era contra a intervenção no Iraque e estava no seu direito. O PSOE acha que a guerra devia acabar e está no seu direito. O que é tremendamente irresponsável e cobarde é abandonar um processo que ainda está a decorrer e no qual a normalidade está longe de ser estabelecida. O que Espanha mostra aqui é o total desprezo pela população iraquiana, abandonando-a à sua sorte.
Eu nem sequer sou um adepto incondicional da intervenção no Iraque, tenho até poucas certezas sobre este assunto, agora uma vez começado o processo não se pode sair dele em andamento. A responsabilidade de um governo e de um país vê-se em atitudes como esta e, aqui ao lado, podemos esperar o pior.
2-0 O PSOE ganha as eleições numa reviravolta inesperada causada pela reacção dúbia do governo PP à autoria dos atentados.
3-0 Zapatero manda retirar o contingente espanhol no Iraque.
Independentemente da justiça na intervenção no Iraque, a mudança da posição espanhola só vem provar uma coisa, o terrorismo pode ganhar. Zapatero terá as motivações mais certas e justas, mas recuar neste momento apenas mostra fraqueza. O terrorismo pode combater-se com guerra mas, mais importante, combate-se mantendo a normalidade, ainda que aparente, nas nossas vidas. Foi assim que o PP conseguiu reduzir a ETA a uma sombra do que já foi.
O PSOE era contra a intervenção no Iraque e estava no seu direito. O PSOE acha que a guerra devia acabar e está no seu direito. O que é tremendamente irresponsável e cobarde é abandonar um processo que ainda está a decorrer e no qual a normalidade está longe de ser estabelecida. O que Espanha mostra aqui é o total desprezo pela população iraquiana, abandonando-a à sua sorte.
Eu nem sequer sou um adepto incondicional da intervenção no Iraque, tenho até poucas certezas sobre este assunto, agora uma vez começado o processo não se pode sair dele em andamento. A responsabilidade de um governo e de um país vê-se em atitudes como esta e, aqui ao lado, podemos esperar o pior.
15.4.04
Viagem
Arrumo os papéis da última viagem, revejo o sempre incompleto bloco de notas, organizo as fotografias. Algumas imagens e palavras surgirão aqui no blogue. Não por ostentação, mas por uma vontade de partilhar esses cantos longínquos por onde os nossos antepassados andaram. Goa é uma experiência, um desafio aos nossos lusos sentidos, um encontro emotivo com o passado. Essa terra que foi nossa, essa terra onde deixámos marcas, por muito que estas se encontrem esbatidas pelo correr do tempo.
Panjim, Goa, 2004
Panjim, Goa 2004
Panjim, Goa, 2004
Panjim, Goa 2004
Blogosfera
Aproveito o reencontro com os blogues para actualizar os links, para saudar recém chegados, para dar parabéns. Alguns vão-se tornando realmente indispensáveis nestas viagens pela blogosfera.
13.4.04
Regresso
De volta a Portugal tudo na mesma. Percorro os jornais do costume e as notícias são iguais. Algo se mantem estável nos dias que correm.
O frio impressiona-me, as paragens distantes por onde alegremente passei a Páscoa queimaram-me os sentidos e penso estar numa qualquer Sibéria. A luz é ainda assim igual, a brilhante e pura luz de Lisboa que obsessivamente nos ilumina o espírito.
Navego um pouco pela blogosfera onde felizmente encontro os habitantes usuais. Ameaças de fecho de blogs em dia de mentiras e as habituais polémicas entre direitos e canhotos. O Iraque e Saramago causam no entanto algum enjoo, pode ser do jet-lag ou talvez não.
O trabalho chega, temível e aterrador, destronando a alegria insana que nos deixam as férias. Queixamo-nos, mas sem estes momentos penosos não teríamos o mesmo gozo em tempos de evasão. Pode ser uma grande mentira mas prefiro pensar assim, e pensar no destino da próxima viagem. Gosto de encarar a vida como uma sucessão de viagens entremeada por alguns momentos de trabalho. Gosto de escapar mas sempre de voltar. Portugal é um pequeno e mesquinho país mas - tal como com as mulheres - é impossível viver sem ele. Por isso é bom regressar mesmo pensando já em sair.
O frio impressiona-me, as paragens distantes por onde alegremente passei a Páscoa queimaram-me os sentidos e penso estar numa qualquer Sibéria. A luz é ainda assim igual, a brilhante e pura luz de Lisboa que obsessivamente nos ilumina o espírito.
Navego um pouco pela blogosfera onde felizmente encontro os habitantes usuais. Ameaças de fecho de blogs em dia de mentiras e as habituais polémicas entre direitos e canhotos. O Iraque e Saramago causam no entanto algum enjoo, pode ser do jet-lag ou talvez não.
O trabalho chega, temível e aterrador, destronando a alegria insana que nos deixam as férias. Queixamo-nos, mas sem estes momentos penosos não teríamos o mesmo gozo em tempos de evasão. Pode ser uma grande mentira mas prefiro pensar assim, e pensar no destino da próxima viagem. Gosto de encarar a vida como uma sucessão de viagens entremeada por alguns momentos de trabalho. Gosto de escapar mas sempre de voltar. Portugal é um pequeno e mesquinho país mas - tal como com as mulheres - é impossível viver sem ele. Por isso é bom regressar mesmo pensando já em sair.
Subscrever:
Mensagens (Atom)