29.7.04

Estreias

Entre Michael Moore e Harry Potter escolho o segundo, sem dúvidas . Num cinema perto de mim em dia próximo.

28.7.04

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Hospederia La Parra, Feria, 2004

Fogos III

Como resolver este problema crónico é algo que ninguém sabe com certeza, até porque enquanto houver floresta vamos ter fogos, o que se pode é conseguir que a sua extensão seja menor, que os estragos sejam minorados, que se extingam em tempo útil e não quando o que resta é deixar arder pois já não há mão neles. Toda esta realidade escapa aos burocratas que nos governam. O principal responsável por tudo isto mais não é do que a política de Desordenamento do Território que Portugal tem seguido em anos e anos seguidos, atravessando governos e presidentes de Câmara mais preocupados em saber onde podem construir mais casas ou estradas, onde vão por a próxima barragem ou o seguinte campo de futebol. Não é possível fazer frente aos fogos com um país retalhado a betão e em que os agricultores ou silvicultores são considerados exóticos, apenas seres alucinados que insistem em viver da terra. Um país onde é sempre possível construir, nem que seja em RAN ou REN (independentemente de estas serem questionáveis são dos poucos instrumentos que dispomos).
Os campos sujos, rastilho de quase todos os fogos, e o errado planeamento florestal, cada vez mais assente no milagroso eucalipto, em muito contribuem para o desastre. Os proprietários são também responsáveis, assim como já se fazem obras coercivas por decisão das câmaras, o mesmo deviam fazer no que à limpeza dos campos e à realização de aceiros diz respeito. Os proprietários choram dizendo que não têm dinheiro para limpar o mato, mas são os primeiros a correr ao subsídio mesmo que com a falta de limpeza tenham ajudado a arruinar os vizinhos. Não conseguem por mesquinhez compreender que a limpeza custa X, mas se um fogo passar terão prejuízos de 100X, continuando numa mentalidade retrógrada que tanto tem ajudado a arruinar a exploração do espaço rural português.
Os bombeiros, os pobres bombeiros que sempre servem de bode expiatório, seja por demorarem a chegar, seja não saberem combater os fogos, seja por estarem descoordenados, seja por falta de meios. Os bombeiros são talvez a profissão que mais admiro, em especial os voluntários que estão ali a dar a vida – sim, quantos morrem a cada ano que passa – não pelo dinheiro, não por uma carreira, não por promoção social, apenas para nos ajudar, para ajudar um país que não os ajuda, que continua a preferir comprar F16 a comprar mais Cannadair, que prefere metralhadoras, apesar de obsoletas, a mangueiras, que prefere carros topo de gama todos os anos para os directores gerais e em que não há dinheiro para auto-tanques (não, não é uma divagação demagoga de esquerda, é a realidade). Todo o dinheiro seria pouco para pagar um corpo de bombeiros a sério em que, mais do que a (enorme) boa vontade dos bombeiros, os meios fossem pelo menos em metade da qualidade das pessoas. Claro que erram, mas quantas vezes por uma desorganização dos comandos que têm nas mãos ás dezenas de corporações. Continua a ser ridículo que os militares não patrulhem as florestas, não digo apagar os fogos pois isso requer conhecimento e excede as suas competências, mas fazer patrulhas por esse país ajudando a detectar prontamente fogos em vez de brincarem aos tiros nos quartéis fingindo que matam inimigos imaginários com G3 ferrugentas e boas para o caixote do lixo.
Portugal enquanto não tomar os incêndios como a sua guerra e se perder em jogos florais de submarinos e ordenamento selvagem será irremediavelmente um país do terceiro mundo. Fogos sempre houve e continuarão a haver, haja calor e criminosos acendedores, o que podemos e devemos por obrigação moral é fazer com que sejam detectados e apagados de pronto, minorando assim a devastação que por vezes se dá por atrasos de minutos.

27.7.04

Fogos II

Por várias vezes estive junto a fogos, sentindo de perto a ângustia e o pânico que rodeiam estas situações. Lembro-me de apagar de balde um pequeno fogo com origem numa fagulha proveniente de uma frente a uns 200 metros da casa, casa essa que, sem o esforço de quem estava, por certo seria devorada por essa pequena fagulha que logo tomou conta do prado e do Olival procurando crescer à custa deles.
No ano passado estava numa quinta cercada por três frentes, que os caprichos dos ventos afastaram, mas que vistas do alto de uma encosta faziam o inferno de Dante parecer uma canção para embalar crianças. Tudo isto enquanto impotentes apenas podíamos retirar as botijas de gás, regar a envolvente da casa e esperar, esperar numa angústia de quem pode de um momento para o outro perder o que uma vida construiu. E aqui todos os valores se misturam, o económico mas também o afectivo das pequenas coisas cercadas pela fome voraz de um fogo com origem sabe-se lá onde.
Foram muitas as histórias de amigos que, no malfadado incêndio na Chamusca que no verão passado em escassas horas cercou a vila, tudo perderam. Também me lembro de quem apenas salvou a casa destruindo um anexo com um tractor – impedindo assim o fogo de alastrar – ajudado por ter uma piscina, mas que viu a casa ficar como que suspensa no campo negro, todo ele consumido, desde as hortas aos arbustos junto à casa.
Chorar de nada vale quando no dia seguinte o que há é que reconstruir, procurar as ajudas que sempre surgem, mobilizar a família e os amigos e olhar de frente, quando um peso nos puxa a cabeça para baixo querendo desanimar e entregar tudo ao inferno que venceu, como quase sempre vence quando usa destes argumentos.

26.7.04

Fogos I

Chega o verão e o calor desperta o inferno latente que durante meses hibernou em terras de Portugal. O tempo é de notícias de fogos, de devastação, de povoações em perigo, de bombeiros sem meios, de números incríveis de hectares ardidos por esse país fora. Todos lamentamos, mas ano após ano a área ardida aumenta, os danos são mais graves, a floresta continua essa espiral de desaparecimento a que custa pôr fim. De Lisboa vem pena, comiseração por quem tudo perdeu, pelos danos tantas vezes irreversíveis em áreas naturais da maior beleza. Tudo isto num distanciamento que magoa a emoção que se tem de estar ao vivo defronte de uma floresta em altas chamas. Não que não sejam genuínos os sentimentos citadinos, mas é difícil, estando à distância, compreender o que são os fogos para quem vive no interior, por entre vastas e belas florestas das quais depende a sua sobrevivência. Perceber a impotência encolerizante que é ver o fogo avançar pelos campos como se numa corrida se encontrasse, deixando sempre um rasto negro, macabro e devastador.

Conversa entre bloggers

- Então vai tirar férias do blog?
- Vou, tem de ser, ainda por cima não tenho portátil para levar comigo.
Uns segundos depois desatámos a rir em simultâneo com o ridículo da pergunta.

Fresco

Ontem senti um prazer maldoso, quase pecaminoso. O país derretia sob este céu opaco e abrasivo e chegavam notícias de uma Lisboa acima dos 40 graus. Placidamente estava na praia, uma forte brisa soprava tirando a vontade de entrar na água. O calor parecia algo de distante e vago. O país queixava-se e eu, refrescado, passeava no areal ou abancava em frente de um fresquinho vinho branco. As praias do Norte não são para todos, não são em definitivo para quem gosta de se sentir um lagarto e suar em cima da toalha. Ontem a velha Figueira era um paraíso nas nossas terras. Aqui foi possível estar na praia e duvidar da credibilidade das notícias do calor. Acredito que nem todos gostem, a mim o dia de ontem soube-me a pato, a um belo e suculento “magret” de pato com molho agridoce. O resto será conversa, mas o que me custou mesmo foi ter de voltar a esta gigantesca estufa em que se transformou Lisboa. O que vale é que só faltam uns dias para voltar, e agora para ficar para umas calmas férias.

22.7.04

Pré-época

O Porto ganhou a Liga dos Campeões e com isso ganhou muito dinheiro. Depois vendeu, e por bom dinheiro, Deco e Paulo Ferreira. Com isso contratou excelentes jogadores e um treinador italiano para disciplinar o conjunto. Aparentemente é o mais óbvio candidato ao título.
O Benfica comprou, e comprou, e ainda parece que vai comprar. Apenas saiu Tiago e a equipa caminha para a maravilha habitual, até já Luís Filipe Vieira joga à bola. O treinador escolhido foi Trappatoni, um Jackpot com um treinador simpático e vencedor mas que faz equipas chatas, mas chatas. Claro que é candidato a todas as competições em que joga.
O Sporting, até há dois dias era uma pobre equipa, que não comprava jogadores, que deixava fugir os que lhe interessavam para o Porto, que modestamente seria quanto muito candidata ao terceiro lugar. A SAD era já uma cambada de incompetentes que parecia que andavam a dormir. Em dois dias tudo parece ter mudado, a tal SAD adormecida apareceu com três reforços e parece que ainda não acabou. Hugo Viana apareceu a dizer o que Quaresma devia ter sentido: “para Portugal só o Sporting, o resto foi especulação”. Esperemos que continuem a achar esta, uma equipa de coitadinhos, eu por mim vou comprar outra vez o bilhete de época e depois veremos.

Frase do dia

Quem tramou Teresa Caeiro?

21.7.04

Medo

Santana conseguiu deixar, em apenas dois anos, um buraco de 100 milhões de Euros na Câmara de Lisboa. É isto que me faz ter medo de Santana, particularmente quando os gastos foram empregues, na sua maior parte, no buraco (em todos os sentidos) do Marquês e na publicidade em "outdoors".

20.7.04

A/C

Não gosto de ar condicionado, é talvez uma mania e teimosia minha mas, não gosto. Especialmente não gosto de entrar em casas ou carros de pessoas que, pelos vistos, pretendem recriar o habitat natural da Islândia em Janeiro. Isto quando lá fora estão trinta graus e em que, mal entro, o choque térmico acorda a minha rinite adormecida e me leva a convulsivos e intermináveis ataques de desesperados espirros. Assim como não gosto de que o meu nariz seque qual deserto do Sahara, levando a que, para tentar manter os mínimos níveis de educação, me contorça com vontade de “catar macacos secos” como quem colhe laranjas da árvore (mas sem comer, é evidente). Como não gosto de respirar esse ar artificial em que a garganta começa a ficar sensível e a incrementar um mau estar em que nem apetece falar.
Mas ontem, ao fazer uma viagem com um calor insuportável, em que tinha de manter, pelo menos um mínimo, das janelas abertas na auto-estrada e em que o ruído do vento se cruzava com a telefonia em altos berros para que algo fosse audível, aí tive alguma vontade de me auto-martirizar por não ter um carro com ar condicionado. Mas pensei um pouco e imaginei-me com o nariz a pingar, a respirar um ar horroroso, a fumar e deixar o carro numa nuvem espessa. Enfim, se calhar o sofrimento seria igual, mas sinto-me melhor a sofrer sem essa inovação, no meu carro já respeitável de idade (para os padrões actuais, pois para os do meu tempo de criança é ainda uma novidade) do que a utilizar modernices que resolvem uns problemas mas que não nos deixam necessariamente melhores.

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Jardim Botânico da Ajuda


Governo

Claro que teria de falar do novo governo numas curtas notas:
Pontos positivos
ESPERANÇA - No primeiro-ministro pela sua dinâmica e coragem, que me levam a acreditar em algumas reformas importantes.
INDEPENDÊNCIA - O elevado número de pessoas com carreiras feitas na sociedade civil. (que obviamente a oposição usou para atacar a sua falta de prática política, se fosse ao contrário seria obviamente um governo carreirista)
QUALIDADE - A qualidade de boa parte dos nomes (surpreendendo que achava que seria um governo de yes-men).
FINANÇAS - Bagão Félix pela sua seriedade, competência e preocupação social.
CULTURA - Maria João Bustorff que, pelo seu trabalho numa importante fundação, pode dar mais esperança ao património português (e talvez menos a filmes feitos para o umbigo e que ninguém vê)
 
Pontos negativos
MEDO - O primeiro-ministro pela sua inconsequência e irresponsabilidade que me levam a ter algum medo da sua actuação.
PERIGO - A delirante nomeação de Nobre Guedes para o ambiente.
DEPRESSÃO - Com a divisão entre Ordenamento do Território e Planeamento será de esperar o pior para este país já desordenado.
ESCURO - José Luís Arnaud nas Cidades, depois da recolha de fundos nas construtoras para o partido, agora a distribuição de fundos para as Câmaras (onde tanto ganham as construtoras).
CONFUSÃO - A incompreensível mudança de nomes nas pastas, que vai levar meses até que tudo esteja organizado, uma irresponsabilidade de quem apenas tem 2 anos para governar.
CAPITAL - O Trabalho no Ministério da Economia, numa medida de ultra-liberalismo com que não posso concordar.


16.7.04

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Palácio dos Marqueses de Fronteira

Curta

Perante a hipótese de ir aos Jogos Olímpicos, Simão Sabrosa disse que primeiro estava o Benfica. Aparentemente as boas lições do Euro não foram compreendidas por todos, ás vezes umas reguadas à antiga...

15.7.04

Curtas

António José Seguro não se vai candidatar a secretário-geral do PS, afinal parece que ainda lhe restou um pouco de bom senso.
A escolha de Bagão Félix para Ministro das Finanças foi veementemente criticada por Carvalho da Silva, óptimo sinal para ter esperança no seu trabalho.

Televisão

Ontem estava decidido a passar a noite a ver tranquilamente televisão. Pura esperança perante o desastroso zapping por entre os canais de cabo. A salvação chegou uma vez mais pelos DVD, ontem com o quarto e quinto episódio de “Reviver o passado em Brideshead”. Cada vez vejo menos televisão, mas há dias em que mais do que um livro, o que apetece é a posição horizontal sobre o sofá e um hipnótico ecran em frente.

14.7.04

PS

Vitorino optou por não avançar e com isso o PS perde o seu D. Sebastião. A opção mais certa será Sócrates, porta-voz do neo-guterrismo com laivos populistas. Os debates da RTP vão então transferir-se para a ribalta da política portuguesa. O PS ganhará argúcia e popularidade, quanto a consistência...o tempo o dirá.

P.S. Terá António José Seguro a distinta lata de se candidatar?

13.7.04

Governo

A formação do governo de Santana ameaça contornos de semelhança com as últimas pré-épocas do Benfica. Explico. O clube da Luz começa todos os anos com uma enorme lista de estrelas que, putativamente, estarão prestes a assinar pelo clube. Com o correr do tempo sobram alguns nomes que, de facto, assinam pelo clube. Os que chegam, a juntar-se ao que permanecem, formam sempre uma equipa maravilha que, seguramente, levará o clube aos tempos idos de Eusébio e Coluna.
Sobre Santana começa por se falar de grandes nomes como Ernâni Lopes, o messiânico António Borges ou António Lobo Xavier. Esperemos que ninguém comece a chamar o futuro governo de "dream-time", é que os resultados dos últimos anos do Benfica estiveram longe de serem bons.

12.7.04

Decisão

Sampaio finalmente decidiu e resolveu chamar o diabólico Santana ao poder. A esquerda radical e populista revolve-se guinchando contra a democraticidade da decisão. Ferro Rodrigues aproveita a boleia e escapa-se ao pântano em que transformou o PS. Ana Gomes - que eu já julgava em Bruxelas - esteve no seu melhor, praticamente ameaçando Sampaio de um par de estalos ou pior. Miguel Veiga – que a generalidade dos portugueses deve perguntar: quem é Miguel Veiga? – voltou a manifestar-se contra a sucessão de Durão. Santana, em entrevista à SIC, aparece com a pose para o futuro, um ar levemente enfadado e um fato “a la” Paulo Portas. A coligação será ao que tudo indica um embrulho de invólucro “Conservative” e acção populista. Espero algo de bom mas temo o pior. Espero por um Santana mais à moda da Figueira do que à moda de Lisboa. Veremos. Nada vai ser igual, o que até poderá ser divertido

9.7.04

Preocupado

Ainda não fui chamado para a audiência com o Sr. Presidente da República. Estou preocupado, como poderá decidir o Sr. Sampaio sem a minha imprescindível opinião?

Centrão

Diz muita gente que politicamente se deve dissolver a Assembleia da República porque na prática se vota em pessoas e não em partidos. Mais uma vez se me eriçam os pelos pois se a lei eleitoral que existe não foi mudada de quem é a culpa? Claro que é dos dois irritantes partidos do centrão que sempre se esforçam por parecer querer mudar, mas que no fundo não mudam nada. De facto votamos em partidos, é assim que vem no boletim de voto, não é uma fotografia de Ferro Rodrigues, é mesmo a rosa ou punho do PS. Insistirão que politicamente não é assim, mas se acham que devia ser mudem a lei. O que a realidade diz é que, infelizmente, votamos sempre em partidos excepto nas presidenciais. O resto é conversa usada quando convém e esquecida quando não interessa. Assim funciona o “centrão”, usando os seus erros como virtudes ou omissões conforme as circunstâncias. Por isso voto cada vez menos.

8.7.04

A importância de se chamar Europa

O nosso ex-primeiro-ministro resolveu fugir, achou por bem abandonar o país que governava por um suposto interesse maior, a Europa.
No Euro o país saiu à rua, inundando-se de bandeiras portuguesas entre as quais o único azul descortinável era o de algumas bandeiras monárquicas que surgiram de braço dado com o encarnado e verde. Bandeiras da Europa nem sinal, nem umas fugazes estrelinhas surgiram senão em alinhamentos oficiais de bandeiras.
Durão achou a Europa mais importante, os portugueses não. Talvez o Euro tenha sido padrasto para os europeístas, demonstrando que ainda existimos como país. Assim o foi para Durão, após o fumo inicial que cobriu a sua saída com uma suposta aura de orgulho nacional, agora todos começamos a estar certos do egoísmo da decisão, apenas tomada por vaidades e interesses pessoais.
Ainda há quem argumente com o que Portugal irá ganhar com o novo cargo de Durão, para eles uma pergunta, ganhou algo a Itália nos últimos anos por Romano Prodi ser o Presidente da Comissão Europeia? Que Europa será a nossa em que os cargos de decisão não são neutrais em relação aos países? Durão tem a obrigação de ser o que nós exigimos que sejam os outros comissários: isento. Não acreditar nisto – e eu não digo que acredite – é não acreditar no funcionamento da Europa – que eu de facto não acredito.
Como português, acuso Durão de falta de patriotismo e de não olhar o interesse nacional, apenas desculpável se, atacado por uma crise de humildade, achasse que o seu trabalho estava a ser mau e que o melhor era ser substituído – ou seja remodelado. Claro que não acredito nesta versão até pelos emproados discursos que se seguiram.
Posso até pensar que para o país será melhor que ele vá para Bruxelas, não pelo que poderá fazer lá, mas pelo que não irá fazer cá. Talvez ganhemos um melhor governo, mas, em abstracto, a fuga foi anti-patriótica demonstrando que já há quem ponha a Europa à frente de Portugal e isso é muito, mas muito, perigoso.

7.7.04

De besta a bestial

Falar de Manuela Ferreira Leite era, há uns dias atrás, falar do demónio. Ela era a criatura que empurrava Portugal para a estagnação económica, para a contenção desmedida, para a desigualdade social. O "Monstro do Pântano" seria o mínimo que qualquer opositor do governo lhe chamaria.
Hoje, que Santana como primeiro-ministro é uma possibilidade, o que dizem estas pessoas? Que o presidente não pode chamar um novo governo sem eleições porque se porá em causa a política económica do governo. Com Santana virá o fim da contenção, contra a qual gritaram durante meses a fio, e aumentará o investimento público.
Extraordinário como alguém passa de besta a bestial sem mudar uma linha na postura e pelos mesmos motivos.

P.S. Será que ainda se lembram do famoso choque fiscal que fazia parte do programa de Governo?

De bestial a besta

Os actuais tempos no futebol deixaram de fora bonitos conceitos como o amor à camisola, dando lugar à crua linguagem do dinheiro. Mas ontem, ao ver a apresentação de Quaresma como jogador do Porto, esqueci-me desse facto. Por isso o bestial jogador que era Quaresma passou a ser mais uma besta que, tendo começado no Sporting, ousou voltar para Portugal para outro clube. A racionalidade que vá ás malvas porque depois do jogo com os Greg.. tenho de passar a raiva para alguém.

6.7.04

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Igreja do Bom Jesus, Velha Goa, Goa, 2004

Realidade

Tento a custo voltar à realidade do dia a dia. O Euro, para o bem ou para o mal, mudou o nosso quotidiano deixando aquele sentimento pós-férias de difícil convivência.

5.7.04

Pátria

Numa entrevista de rua:
Está na rua porquê? O que é que ganhámos?
Ganhámos uma pátria.

Passe o exagero, porque pátria já temos há muito tempo, o Euro devolveu aos portugueses esse conceito de patriotismo que parecia estar apenas no país aqui ao lado.
A absurda, e abundante, confusão entre patriotismo e nacionalismo pode ser agora destrinçada, podemos todos dizer de mão no peito que somos patriotas sem que logo venham os guardiões da liberdade de dedo apontado acusando-nos de fascismo.

Obrigado

Aos jogadores por terem feito o seu melhor para que fossemos campeões.
A Scolari por ter feito uma equipa de um conjunto de jogadores.
Aos organizadores do Euro por transformarem um país desorganizado no responsável pelo melhor Euro de sempre com uma impecável festa de quase um mês.
Aos portugueses por me terem feito de novo acreditar que podemos continuar um país apesar da Europa.

Selecção

Por uma vez, apenas um punhado de idiotas persistiu em “clubizar” a selecção, falando apenas dos jogadores do seu clube e verberando Scolari por esta ou outra convocatória. Hoje já li quem falasse de novo da estrutura do Porto, de que o mérito passa por aí, insistindo em que a selecção é do F.C.P. e que a eles devemos o sucesso de chegar à final. A quem interessa isso, para quê esticarem os bicos dos pés para que se fale do seu clube, para quê aproveitar a selecção?
Quem jogou foram os jogadores de Portugal, sejam de que clube forem jogaram por Portugal, não jogaram por Mourinho, Pinto da Costa, Dias da Cunha ou Vieira. Por isso se uniu o país. Por isso apenas uma minoria de fanáticos pensa assim. Por isso foi bom este europeu.

Política

Perdemos a final e o Euro acabou. Teremos de voltar a falar de política. Apetece de facto chorar ao som de um triste fado de Amália.

1.7.04

Democracia relativa

Fosse outro o vice-presidente do PSD e as vozes que clamam por um congresso não estariam caladas?
Os laranjas que se indignam com Santana não farão parte da lista em congresso aprovada na qual ele ficou número 2 de Durão?

Consequências

Uma voz que faz parecer Tom Waits um cantor de voz límpida qual Crystal Gayle.
Uma preguiça desmesurada com um tentáculo gigante que me tenta puxar para a praia.
Uma segura noção de que os portugueses estão possuídos por um vírus de patriotismo inimaginável, e a muitos difícil de engolir.
Uma certeza que Figo é um dos melhores do mundo por muito que haja quem teime em não concordar.
Um agradecimento a Scolari que realmente só pode ter muita sorte ao ganhar tanta vez.
Um enorme gozo em poder entrar na festa louca em que este país se entrou.
Um total esquecimento, até há uns minutos, de que não temos primeiro-ministro e governo.

Alvalade XXI

Entrada civilizada, conversa com holandeses, fila para comer, descobrir o lugar, à frente portugueses, atrás ingleses, à direita uma concentrada mancha de Sun-Quick, à esquerda a central de vermelho e verde, cânticos, entrada das equipas, Portugal! Portugal! Portugal!, hino cantado a uma só voz com a letra completa por muitas mil pessoas – de arrepiar, Frisk apita, mau começo, nervos, cigarros, golo do Ronaldo, festa, Portugal! Portugal! Portugal!, boas jogadas, domínio luso, bom jogo, Frisk apita, saída dos jogadores sob palmas, Portugal! Portugal! Portugal!, intervalo, entram os jogadores, Portugal! Portugal! Portugal!, jogo rápido, Holanda pressiona, cigarros, inacreditável golo de Maniche, saltos, saltos, Portugal! Portugal! Portugal!, saltos, jogo controlado, auto golo de Jorge Andrade, jogo descontrolado, cigarros, pressão holandesa, cigarros, falhanços portugueses, cigarros, o jogo não acaba, cigarros, pressão, sofrimento, Frisk apita, saltos, Portugal! Portugal! Portugal!, saltos gritos, palmas, Figo o melhor do jogo, saltos, Portugal! Portugal! Portugal!, saída rápida a cantar, metro, Portugal! Portugal! Portugal!, comer qualquer coisa e cerveja com álcool, a festa agora é nossa.