27.5.04

Parabéns

Sou especialista em me esquecer dos dias de anos de toda a gente. Uma família grande em muito contribui para isso, já que a profusão de crianças me leva a uma insistente confusão de datas. Ontem esqueci-me de dar os parabéns a um dos meus sobrinhos, felizmente o mais novo que para o qual o meu telefonema seria apenas um interrupção entre uma devastadora corrida pela casa e uma sessão de saltos em cima do sofá.
Serve a ocasião para saudar a sucessão de comemorações por entre os blogues pioneiros que já fazem um ano. Destaco aqueles que mais companhia me fazem e que, por esse motivo, já figuram na coluna do lado. Parabéns atrasados para a Bomba, o Almocreve, o Jaquinzinhos, o Mar Salgado, o Quinto dos Impérios, o Crítico e para todos aqueles de que me continuo a esquecer.

Camisa-de-forças

Por vezes devia sair à rua com uma camisa-de-forças, não por aparentar uma loucura evidente ou uma tendência para a agressividade, o meu problema é entrar numa feira do livro ou em qualquer boa livraria. Ontem dei o meu primeiro passeio - e a minha bolsa espera que último - pelo Parque Eduardo VII, por entre um sol maravilhoso e uma vista soberba sobre Lisboa. Ao meu lado sucediam-se bancas com apetitosos livros e, com descuido evidente, fui vendo, folheando e, com displicência, comprando. A volta até não foi muito grande mas o suficiente para os braços se tornarem dormentes e as costas se queixarem do esforço. Não fiz contas, aliás em dias de loucura consumista prefiro mesmo ignorá-las, mas um peso na consciência abala-me qual ressaca mal curada. Talvez a Camisa-de-Forças seja excessiva, mas devia encontrar algum mecanismo - bloqueio do Multibanco, declaração de incapacidade, proibição de compra - que me impedisse de me exceder, não só em feiras - das quais até não sou grande adepto - mas em qualquer livraria (acrescento também as diabólicas lojas de discos). A minha sanidade mental poderia queixar-se mas a bolsa e o espaço da minha casa agradeceriam aliviados.

Marxismos (dos bons)

"A televisão parece-me muito educativa. Cada vez que alguém a acende, retiro-me para outra sala e leio um livro."
Groucho Marx

F.C.Porto

Um grande F.C.Porto esmagou o Mónaco e ganhou a Liga dos Campeões. Parabéns ao Porto.

25.5.04

Benfica

Não quero passar para um segundo lugar que o meu clube não merece, mas adivinho desde já que o caso da inscrição de Ricardo Rocha não vai dar em nada. É que a memória não é curta e ainda me lembro de ameaças de descida de divisão por dívidas ao fisco que acabaram em beijos e abraços. Temos o país que temos e a ditadura da maioria é cada vez mais marcante, alguém teria coragem de penalizar o Benfica?
Quanto à extraordinária entrada do presidente do Benfica num programa em directo distribuindo ameaças e insultos a toda a gente, apenas um comentário: "É disto que o meu povo gosta".

Globos de Ouro

Ao passar ontem pela SIC ainda pensei ouvir Herman José a anunciar com ar descomprometido: "e o Globo de Ouro para o melhor programa de entretenimento vai para o Caso Casa Pia, recebe o prémio Carlos Cruz".

Fim-de-semana

O congresso do PSD correu de feição a Durão Barroso, um Valium prolongado de que toda a gente se esqueceu perante o casamento real em Espanha. Boa escolha de data, parece que cada vez mais os políticos querem passar desapercebidos, basta confirmar a data das eleições europeias.
Por terras de Espanha o casamento chamou todas as atenções, lembro Natália Correia que dizia ser monárquica por razões estéticas (a confirmar perante o vestido da nossa primeira dama). Eu acrescentaria mais algumas, mas agora sinceramente não me apetece. A ver uma posta imparcial no Blasfémias.

21.5.04

Positivo

Depois de ter escrito a posta anterior, e ao navegar pela rede, descobri que hoje era o dia P, de Positivo, para o movimento Portugal Positivo. Acho muito saudável que haja quem queira levantar a moral do país, levar para cima a nossa alma e criar uma onda de optimismo. Não poderão no entanto contar comigo. O que seria de mim se abdicasse desse gene lusitano que consiste em dizer sempre mal de nós próprios, que sensaboria se tornaria a vida sem a maledicência lusa sobre tudo o que fazemos. Claro que hoje em dia estamos a exagerar um pouco e já nada é bom em Portugal, por isso concordo com esta iniciativa, só não adiro a ela e permaneço no meu pessimismo egoísta. E deixem-me assim, sossegado.

Substituição

O Ministro do Ambiente foi substituído, parece que um tal de Amílcar Theias era detentor desta pasta há algum tempo e foi agora substituído por Arlindo Cunha. Entre um economista especialista em finanças e um economista especialista em agricultura talvez o segundo seja mais adequado a este ministério.
Continuam insondáveis os motivos que levam Durão Barroso a surpreender na escolha dos seus ministros, parece que escolhe as pessoas e depois faz um jogo de cadeiras à volta da mesa do Conselho de Ministros, é que são tantas as trocas e os erros de casting.

18.5.04

Comentários

O novo template permite comentários, deixo assim algum do meu autismo blogosférico e sujeito-me à crítica, para o bem e para o mal.

Scolari

Scolari revelou os convocados para o Euro sem nenhuma surpresa de maior. Apenas o regozijo por Rui Jorge poder estar entre eles, realmente no dopping - como na vida - não devemos ser mais papistas que o Papa. A minha solidariedade é ainda maior ao compartir com ele os mesmos problemas respiratórios, para além do mesmo salvador Pulmicort.
Baía obviamente não foi convocado, para quem ainda não tinha percebido – por burrice ou obstinação – a sua ausência não se deve a questões técnicas, claramente os problemas são outros, talvez advindos da "maravilhosa" campanha no último mundial. Scolari foi coerente com as escolhas anteriores e assume a total responsabilidade pelos resultados, um bom exemplo para os portugueses tão habituados a culpas sem culpados.

Rumsfeld

Há dias em que a minha proverbial calma foge para paragens desconhecidas. Hoje penso se não se poderia mandar Rumsfeld para uma qualquer prisão árabe. Continuo sem certezas nesta guerra, continuo a desconfiar das motivações assim como das contraposições. Encontro-me numa rara zona cinzenta, mas cada vez me incomoda mais a postura do senhor Rumsfeld, mas também a do senhor Moore. Talvez um combate de boxe tailandês entre os dois me desse algum ânimo.

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Silêncio atonal, latido de um cão. Tempo e vida a passo.

14.5.04


Panjim, Goa, 2004

Irrita-me profundamente a intolerância, perante manifestações de fé, de supostos arautos da liberdade, e a chacota contra quem conscientemente acredita em algo não necessariamente tangível. A liberdade é não para todos segundo eles, e quem tem o azar de ser católico sofre o estigma de não poder manifestar a sua fé sem que isso seja motivo de gozo e humilhação. Com senhores como estes no poder teríamos um país religiosamente tolerante como o Irão ou o Afeganistão dos talibãs. Aliás, penso que alguns são os mesmos que condenaram a intervenção no Afeganistão. Parece que ainda há quem pense que há religiões mais toleráveis que outras. Eu tenho cada vez menos paciência para a arrogância intelectual e para a falta de respeito. Como diz uma amiga minha: Logo eu que não posso com gente estúpida.

Madredeus

"A poesia da saudade em Portugal concebeu um lugar maior para o sentimento universal da melancolia, da nostalgia, da recordação do outro. Porque a saudade é um prazer – é o prazer de estar triste mediante a aceitação das suas razões. A saudade é algo que o sujeito gosta de viver porque o mantém perto do seu estado amoroso, é uma recordação que mantém o coração vivo. Esta alegria em estar triste é uma ideia extraordinária e terapêutica para a humanidade inteira, mas em Portugal apenas foi vivida nuns cadernos de poesia. Na origem dos Madredeus está o interesse em criar uma música em português com essa mensagem."
Excerto de uma entrevista a Pedro Ayres de Magalhães no DN Música, a propósito do novo disco dos Madredeus. Pelas suas palavras percebemos porque são os Madredeus o projecto mais interessante e consistente da actual música portuguesa. Poucas vezes a alma portuguesa foi expressa com tanta genuinidade como através dos acordes destes senhores e da voz de Teresa Salgueiro. Ainda não ouvi o novo disco - algo que conto fazer em breve - mas agora, depois de escrever estas linhas, vou substituir o "Koln Concert" de Keith Jarrett pelo "Espírito da Paz". Apetece-me alguma alma para enfrentar o resto da tarde.

Petição

Recebo por e-mail uma petição e, para variar, resolvo ver o que é. Ao deparar com a referência a Monsanto e à tentativa de travar os delírios "santanistas" de esventrar este espaço de Lisboa, assino. Para Santana, o Monsanto ideal é o Monsanto sem putas mas cheio de feiras, cavalos e tudo o que lhe cheire a festa. Gosto de diversão, mas deixem Monsanto em paz e arranjem outro sítio para as putas desta vida.
Confiram e assinem aqui.

Panjim, Goa, 2004

Primavera

Finalmente o cheiro e o sol da primavera, o algodão já cai dos choupos e as flores inundam os campos. Sinto este clima bucólico e tento esquecer os céus plúmbeos e os ventos cortantes que nos devastavam o humor.

13.5.04

Primavera-Verão

Com a chegada do bom tempo (será que é desta?) o anarcoconservador (ou seja eu) resolveu mudar a sua imagem para cores mais de acordo com a época. Esta é a primeira tentativa, a ver se ficará ou não.

11.5.04

Sintra

Ao passar hoje na zona de Sintra fiquei tomado por um impulso artístico, sim, também eu quero fazer instalações, já tenho até uma primeira obra hoje imaginada no dito passeio. Num sítio bem visível do concelho Sintra, uma plataforma com uma trave e várias cordas. Em cada corda, com nó de enforcado, todos os últimos presidentes da Câmara da vila. Na impossibilidade humanitária de recorrer aos intérpretes reais, poderia utilizar réplicas em tamanho natural, sobre as quais a população tinha o direito de exprimir os mais profundos sentimentos. A interactividade da obra permitiria ao povo retribuir tudo o que os seus presidentes fizeram por ele. O problema maior está em encontrar verbas adequadas, já que penso que os manequins teriam de ser substituídos diariamente. Só de me lembrar de Massamá ou Barcarena…

Europeias

Consta que as próximas eleições serão europeias, até há quem diga que serão no dia 13 de Junho. Quem ao passear na rua reparar nos cartazes do PS e do BE terá quase a certeza de estarmos quase em legislativas. Ambos lançam palavras de ordem contra o desemprego e a guerra. Que eu saiba os deputados europeus não têm papel activo nas políticas de combate ao desemprego em cada país. Que eu saiba serão representantes do país na Europa, defendendo logicamente as posições políticas dos seus partidos. O que é que isso tem a ver com o desemprego. São cartazes destes que me abrem dúvidas sobre a minha quase certa abstenção.

10.5.04

Imagem

O Blogger mudou a imagem e deixou-nos com mais funcionalidades, isto merece um tempinho para explorar. Os posts seguem mais tarde.

5.5.04


Panjim, Goa, 2004

FCP

O FCP vai à final da Liga dos Campeões, para além das felicitações um reparo, é de toda a justiça que lá esteja. Ontem o FCP mostrou como se pode dominar uma equipa em teoria superior, dando um banho de bola ao Deportivo. Bravo. Pena não ver o Sporting a jogar assim.

Notas de viagem - Índia

"Ao chegar a Deli conhecemos o cheiro a Índia, essa mistura de calor, humidade e especiarias, tão própria e única. Apanhamos um táxi para o hotel. Somos então tomados por uma vertigem alucinante, o trânsito de Deli dava tema para um ensaio. A condução à esquerda já daria para nos baralhar, mas isto não é nada comparado com o constante slalom por entre camiões e motas. É noite e tudo deveria estar calmo, apenas estranhamos a quantidade de camiões e as buzinadelas. A buzina é o instrumento preferido aqui, os piscas tornam-se acessórios, suplantados por estratégicas buzinadelas. Chega ao ponto de os camiões terem pintado atrás "Horn Please".
O motorista deambula em S's por entre os carros, sempre impávido perante tangentes micrométricas a tudo o que passa. Isto é a Índia, e no dia seguinte iremos perceber isto maximizado por um trânsito intenso e caótico. A segurança do volante só é compreendida após horas em trânsito, de facto a placidez dos motoristas é justificada. Tudo funciona numa anarquia organizada. Como se do caos surgisse uma incompreensível ordem por todos assumida."

3.5.04

Televisão

Ontem entro a meio do programa de Maria João Avillez na Sic Notícias. Como convidados estavam Pedro Burmester, Mário Laginha e Bernardo Sassetti, ou seja três dos melhores pianistas portugueses. O programa foi um exemplo de que a cultura não têm de ser maçadora e restritiva, que pode ser, se não para todos, pelo menos para muitos. A conversa era quebrada quando os convidados se dirigiam ao piano para interpretar pequenos trechos. A harmonia entre tudo isto resultou em momentos televisivos bem agradáveis. Na TVI estava a passar o Fear Factor e na SIC o programa do Herman, a escolha não foi difícil.

Sporting

Última deslocação da época a Alvalade. Vejo o Sporting fazer uma primeira parte a um nível não atingido nesta época, no entanto golos nem vê-los. Na segunda parte a equipa quebra e Fernando Santos parece dormir sobre o assunto. O Benfica recupera e acaba por marcar um grande golo. A vitória moral não chega, o Sporting teve o jogo na mão e, inacreditavelmente, deixou-o fugir. Cá nos vamos habituando a isto, ás derrotas de cabeça erguida. Em tempos de Euro espero que não se contagie à selecção, como espero que não se contagie aos adeptos estrangeiros a inacreditável actuação da Juve Leo.
Para o ano há mais, e espero que melhor.