29.10.03

Angola

Faz-me mal ver o nosso primeiro ministro a visitar um assassino. José Eduardo dos Santos há anos que o é. Promoveu e manteve uma guerra em proveito próprio. Devastou com isso um país, por entre mortos e estropiados. Toda uma geração de angolanos viverá no estigma de ter visto irmãos a matarem-se. Conseguiu uma fortuna colossal construindo um regime absolutamente corrupto e déspota. Enquanto isto o povo continua a viver na maior miséria.
Haverá solução para Angola sem ele? Não tenho resposta. Se calhar não há. Acredito também que o povo angolano precise de nós independentemente do seu líder. Nada disto invalida que me custe que Portugal se dê com gente tão pouco recomendável.

27.10.03

Prémios do dia

Prémio Lili Caneças - José Miguel Júdice. Parece que anda em todo o lado. Sugere-se que passe uns dias na Quinta das Lágrimas.

Prémio Vasco Granja - Ana Gomes. Desapareceu de circulação. Sugere-se que assim continue a bem da nossa sanidade mental.

Prémio Tom & Jerry - Manuela Moura Guedes e Miguel Sousa Tavares. Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos, com câmaras do Big Brother nas salas de maquilhagem.

Prémio Marilyn Monroe - Herman José. Por este andar acaba louro platinado a cantar "Diamonds are the girls best friends".

A nova hora

Odeio este novo horário. Não sei, não quero saber, nem me interessa a quem o devemos. Quero lá saber se as pobres criancinhas não devem entrar de noite na escola. E que as indústrias gastam assim menos energia. E que assim mantemos a diferença horária com Espanha e acompanhamos a Europa. Mas eu não quero acompanhar a Europa. O que de facto detesto, e me incomoda profundamente, é que as cinco da tarde passam a ser cinco da noite. É tão desagradável tomar chá sem luz natural.
Muito sinceramente, e ironias à parte, não será melhor entrar de noite no trabalho ou na escola, podendo sair com alguma luz de um dia que ainda não findou. Os dias assim parecem mais curtos e menos produtivos. Com o frio a chegar, ao cair da luz já só pensamos num sofá, numa lareira e num bom livro. Quem pode produzir assim.

Racionalidade

A racionalidade não é, claramente, uma estupidez. Pode é ser, transformada em modo de encarar a vida, uma forma castradora da criatividade e de uma postura mais hedonista.
O que levamos desta vida que não sejam os pequenos prazeres e os humildes momentos, não será por certo a frieza dos números e do raciocínio que na campa não entrarão.

Voxx à chuva

Sexta feira. Chuva inclemente sobre Lisboa. As ruas parecem um gigantesco stand de automóveis parados. Farto dos CD passo para a telefonia. Na TSF nada de novo. Passo à Voxx em busca de boa música. Escuto os acordes de "Por quem não esqueci" da Sétima Legião. Chega o refrão: "Procuro o cigano; para me dar o pó...", terei enlouquecido? A música prossegue com uma letra no mínimo invulgar. Espero a próxima. O acordeão debita algo semelhante a uma caninha verde minhota. Confirmo no RDS, é mesmo a VOXX. Sai uma ao estilo de Marco Paulo e uma sucessão improvável e, no mínimo, surrealista. As nuvens negras do trânsito imóvel dissipam-se com uma boa disposição incontrolável. Continuo parado mas agora divertido.
A tarde tornou-se menos penosa, ainda assim preocupo-me com a Voxx. Será que terei de reduzir em mais uma o restrito leque das rádio audíveis?
Sábado à tarde. Entro no carro para uma viagem longa. Ligo a telefonia, aparece Voxx no RDS, a boa música voltou. Alguém me poderá explicar o que se passou na Voxx nessa molhada tarde de sexta feira?

22.10.03

Adeus Lenine

Ontem fui, finalmente, ver o "Adeus Lenine". Consta que perdi um discurso do nosso Presidente e uma discussão acalorada no Jornal da Noite da TVI. Confesso que preferi o meu jantar de tapas seguido do filme.
Divirto-me mas penso o quanto sofreram os povos de Leste com a experiência soviética. A cena da manifestação é o cabal exemplo de como o poder do povo era apenas uma aparência nestes regimes. As propaladas igualdade e liberdade nunca foram tão falsas como na prática comunista. Uma elite educava o povo e este era suposto deixar-se educar sem nada perguntar ou por em causa. Um mimo. O filme vale a pena pelo seu sentido de humor, por vezes delirante, e por um argumento no mínimo imaginativo.

Maldades

Acordo mal disposto. O dia definitivamente ameaça não correr bem. Um feroz ataque de rinite alérgica ataca-me devastadoramente. Apetece-me descarregar com maldade sobre alguém. Gostava de ter a Dr. Ana Gomes à minha frente numa barraca de tiro ao alvo com tomates. Sim, tomates bem encarnados e bem maduros. Apetece-me trancar o Dr. Louça num Colombo sem FNAC, obrigando-o ao íntimo contacto com os mais puros instintos consumidores e capitalistas do povo. E que tal convidar o Dr. Ferro para o Big Brother, ao menos aí saberia que estava a ser escutado 24 horas por dia. Talvez não fosse má ideia descalçar o Dr. Barroso, percorrendo em seguida os seus pés com uma simples pena até o fazer rir, desalmadamente. Ao Dr. Sampaio talvez sugerisse a ingestão de "speeds" ou ácidos antes dos discursos, continuaríamos a não perceber nada, mas pelo menos a rapidez dos mesmos impediria que adormecêssemos rápida e alegremente. E que tal obrigar a nossa querida Ministra das Finanças a gastar dinheiro, em qualquer coisa que fosse.
A divagação vai longa, mas esta terapia de maldade está-me a fazer bem. As nuvens vão-se dissipando na minha cabeça, lembro-me de fazer um jantar do Dr. Soares com dez clones do Dr. Portas, ou vice-versa. Que tal obrigar o Dr. Cavaco a ler a integral do Independente de outros tempos. Uma terapia de bom humor para o nosso Nobel. Convidar o Dr. Carrilho como representante do partido num concerto da fogosa Ágata.
Que bem me sinto agora, por hoje acho já ter pensado o suficiente em mal, sinto-me próximo de um verdadeiro Demo. Que pena não poder concretizar algumas destas, digamos subtis, maldades...

17.10.03

Açores

A propósito de umas belas fotografias apresentadas no Picuinhices recordo os Açores, um dos poucos locais, a par com algum Alentejo, onde voltamos a ter esperança em Portugal e no mundo. Um sítio que o Homem ainda não conseguiu estragar. Um pedaço do nosso país onde nos sentimos como no último reduto do paraíso. Onde tudo é possível, o tempo tem ritmo próprio e a terra parece comunicar com sinais de fumo. Onde o verde não está sufocado por entre o betão e o ar que se respira cheira a flores ou a mar. Onde as gentes ainda são puras e têm orgulho do que é seu. Onde a comida eleva os sentidos. Onde o mar é cristalino até ao limite e no qual podemos passear por entre golfinhos brincalhões ou plácidas tartarugas. Um sítio onde valorizamos a vida e comprovamos, os crentes, que Deus existe e se demorou por aqui.

A mulher perfeita?

A esta eterna questão julgo encontrar uma resposta afirmativa ouvindo o disco de Carla Bruni, "Quelqu’un m’a dit". Depois de anos a mostrar a sua beleza e charme ao mundo, despertando os mais básicos sentidos masculinos, seduz-nos agora a cantar. Com o tímido sol desta tarde de Outono apenas apetece rumar a Itália ou Paris, com um anel numa mão e um enorme ramo de flores na outra. Que pena as coisas não serem simples assim.

A relação das secções ou as secções da relação

No episódio de hoje da nossa novela da Casa Pia (que por motivos estranhos não é da TVI, e não têm gémeos nem a Sofia Alves), sabemos que um acórdão da relação, efectuado um dia depois do que deu liberdade ao Sr. Pedroso, o contraria na quase totalidade. Parece que para os juizes desta secção o arguido tem sólidas provas incriminatórias contra si, algumas delas novas, e deveria ser mantido em prisão preventiva.
Será que a justiça em Portugal é feita em função das secções? Estarão os juizes a brincar connosco ou teremos princípios de uma epidemia de loucura colectiva nos nossos magistrados? Será necessário fazer exames de controlo anti-dopping? O povo aguarda cada vez menos sereno o fim desta novela. Quais serão os próximos episódios: Rui Teixeira constituído arguido por si próprio, Carlos Cruz a dar-se como vítima de abusos sexuais, Jorge Ritto a confirmar que era um agente infiltrado na rede e Paulo Pedroso a pedir indemnização a Catalina Pestana por assédio sexual? Tudo parece possível e esta novela, ao contrário das outras, promete ter um fim inesperado sem casamentos felizes.

14.10.03

Para as termas, e depressa.

Após o abalo governativo no qual caíram dois ministros, foram duas as senhoras escolhidas para os substituir. Talvez por inveja deste súbito protagonismo das mulheres do centro para a direita, eis senão quando surge Ana Gomes em todo o seu esplendor, saindo de dentro das nossas televisões com a infinita delicadeza de um elefante numa loja de cristais. A potência da sua presença foi tal que conseguiu a ubiquidade de estar a ser entrevistada em dois canais ao mesmo tempo.
Num acesso que facilmente se qualificaria de histeria, disparou para todo o lado. Primeiro que um artigo do Le Point (aliás já com alguns meses durante quais permaneceu silenciosa) teria referido dois ministros como sendo clientes habituais do Parque Eduardo VII. Não consta que até hoje tenham sido referidos por abuso de crianças, não consta até hoje que tenham sido investigados no caso Casa Pia, consta apenas que seriam frequentadores de um local de engate e prostituição homossexual. Segundo as palavras desta Passionária inflamada estes senhores deveriam estar a ser investigados (e como saberá ela que não o estão a ser?) , mais, parece que todos deveríamos saber os seus nomes, entrando assim por intimidades que me parece não interessarem a ninguém senão por sórdida curiosidade.
Continuou com a defesa do camarada Pedroso, insistindo que o assunto era político e voltando a falar na famigerada cabala, sob outros nomes, agora que este saiu de moda. Voltou a defender a festança no parlamento e todas as outras manifestações que, na sua sempre brilhante opinião, em nada são pressões sobre a justiça e que, em nenhuma circunstância, são formas de politizar a questão. Parece estranho, afinal o que seria necessário para politizar esta questão para além de tudo o que fez o PS?
Não contente com todos estes pensamentos ainda questionou a nomeação de José Lamego para o Iraque, desvinculando totalmente o partido desta decisão e esclarecendo que a mesma foi tomada apenas a título pessoal. Curioso raciocínio que estabelece um trabalho ao serviço do país como algo do foro pessoal e um crime de pedofilia como um crime político.
Aparentemente o PS apercebeu-se de mais uma salva de tiros no pé e, ainda hoje, António Costa veio a público puxar a orelhas da camarada Ana, pedindo silêncio e prudência sobre este tema. Parece que o Dr. Costa percebeu que a histeria colectiva do PS estaria a entrar em patamares dignos de internamento. Termas meus senhores, termas recomendam-se e para já. O país aguarda ansioso.
JAC

13.10.03

Portugal ou EUA

Estou inquieto...
São dias de pessimismo estes em que duvidamos do amor ao nosso país e não percebemos que país é pior, se o nosso querido Portugal se os agora fora de moda Estados Unidos.
Nós temos Ministros dos Negócios Estrangeiros que tentam alterar a lei à medida das filhas e, na impossibilidade de o conseguir, metem discretas cunhas a assessores do Ministro da Educação. Depois dizem sobre palavra de honra e em grande pompa que não falaram com o colega da Educação. Claro que agora se percebe que isso não era necessário, uma vez que o Ministro já tinha convidado o assessor da Educação a mudar para o seu ministério e assim nem precisou de falar com o colega, falou com o assessor. A continuação é ainda mais bizarra pois o primeiro a demitir-se foi o da Educação e, após grande estrondo no país, só depois o dos Negócios Estrangeiros. O mais curioso foi o silêncio ensurdecedor do Primeiro Ministro, quiçá preocupado com alguma pesquisa de receitas de cherne com a nova Ministra.
Ainda nós, temos um ex-deputado que estava em prisão preventiva por abuso de menores que, após recurso na relação aprovado apenas por maioria, saiu em liberdade com termo de identidade e residência. Num qualquer país isto seria um dado normal, noticiado com ponderação uma vez que o julgamento ainda não começou e, apesar da óbvia presunção de inocência, ainda ninguém foi ilibado. Mas não, aqui deu direito a directos desde as seis da tarde em todas as televisões, filmando incessantemente qual Manuel de Oliveira um plano fixo da porta da penitenciária, aguardando a emocionante saída do deputado. A histeria dos jornalistas era grande e á saída perseguiram a pé o carro onde o Sr. deputado saiu, rodeando-o no primeiro semáforo onde parou. O espectáculo prometia terminar, mas eis que num frenético directo do parlamento, dezenas de jornalistas se empurravam à porta. Chegou o carro e parecia a final do Super Bowl americano, as formações correram, sem olhar a meios, atrás da bola (vulgo deputado) por entre portas e escadas deixando vários espojados pelo caminho. Por momentos pensei que era o D. Sebastião a regressar, mas não, não havia nevoeiro. Os colegas do PS choravam, talvez recordando-se do 25 de Abril, e os abraços eram intensos ao herói - que por acaso é ainda arguido dos mesmos 15 crimes de abuso de menores, o que é de somenos importância. A emoção tomava conta de todos, com a honrosa excepção da jornalista da SIC que continuava a frisar que a situação jurídica do Sr. era igual á do dia anterior, com a única diferença de a aguardar em liberdade. Estranho país este em que as vítimas de crimes tão simpáticos como violação enquanto menores são esquecidos e os supostos criminosos tidos como vítimas de uma conspiração e tratados como heróis. Ninguém questiona que houve crimes, parece é que toda a gente quer que não haja criminosos, estes - ainda com presunção de inocência - ou outros quaisquer. O PS parece ter saudades de um sistema feudal em que os poderosos faziam o queriam e tinham tratamento diferente, para as ortigas a igualdade de direitos.
Perante isto, tudo parecia perdido, definitivamente Portugal seria um país do terceiro mundo mas...
Os EUA, grande bastião da nova civilização ocidental, suposto modelo social de virtudes acaba de eleger como governador de um dos seus estados mais importantes e quinta economia do mundo... o Arnold qualquer coisa. Aquele que já foi um Exterminador Implacável, o Conan, o único homem que já engravidou, o ex mister universo, no fundo um grande intelectual e um político de futuro.
Afinal continuo a preferir o nosso Portugal, nós, apesar de alguns Jardins, Loureiros, Avelinos ou Macários, ainda não elegemos o Tarzan Taborda para nenhum cargo público. Benza-nos Deus.

JAC