27.2.06

O Insurgente

Parabéns a “O Insurgente” por um ano em que se tornou um dos blog essenciais.

Futebol

Que agradável fim-de-semana futebolístico! Um golaço de Liedson e três a zero em Coimbra, um frango de Baía (mais um) e o Benfica a ganhar na Luz. São só dois pontos e tudo é possível. Quem o diria há dois meses atrás?

Coisas do M(e/a)u Feitio

Tolerar com muita dificuldade que me dirijam a palavra pela manhã.

21.2.06

Imagem e palavras

Dubrovnik, Croácia, 2002
Passou, com a pele queimada pelo sol que contornava rugas e os tristes olhos mostrando a passagem do tempo. Passou, e continuou o seu caminho certo, um pouco ondulado pelo peso das compras e o torcer da idade. Passou, com uma leve corcunda de problemas e a magreza da humildade. Havia algo de pobre e digno, algo que chamava o olhar. Por isso a imagem foi feita à traição, sem querer tocar na dignidade, sem querer dela fazer um objecto perante a lente curiosa. As ruas sinuosas em redor do centro estavam desertas ao fim da tarde. Os turistas concentravam-se nas muralhas vendo o pôr-do-sol ou em esplanadas relaxando da intensidade do dia. No meu deambular sem sentido, por becos estreitos, encontrei-a. O seu passar fez-me olhar de novo e assim a vi partir, por uma ruela empedrada, preparada para atravessar uma sucessão de arcos, com o barulho do saco de plástico a quebrar o silêncio dos seus passos. Caminhando para uma casa, para uma vida, que com alguma arrogância julguei triste.

20.2.06

Estado de espírito

O regresso ao cosmopolitismo desenfreado de Lisboa, hoje batido por um vento cortante que abana janelas e despenteia senhoras de penteados armados por lacas antigas.

17.2.06

Anúncio de imprensa

Troca-se Ministro dos Negócios Estrangeiros. Aceitam-se candidatos de todas as proveniências. Curriculum anexo e fotografia de corpo inteiro. Local de trabalho aprazível em país de clima ameno.

Coisas da Vida Má

Beber café em sítios sem cinzeiro.

Estado de espírito

Este blog estará, durante o fim-de-semana, a praticar a sua faceta mais conservadora e, talvez até, tradicionalista.

16.2.06

Freitas “Chamberlain” do Amaral

Que falta de chá a do nosso caríssimo Ministro dos Negócios Estrangeiros! Então não é que, depois do rasgado elogio que o Embaixador do Irão lhe teceu, tem o desplante de se declarar ofendido com uma simples referência ao holocausto!

15.2.06

Momento Licencioso

Detesto o dia de S. Valentim, acho-o um perfeito disparate e é ridícula a figura das pessoas em carneirada cheias de flores, presentes e corações. Soubesse desenhar e faria seguramente um cartoon demolidor sobre o tema, em que ridicularizaria ao limite da idiotia total os praticantes do culto valentiniano. Espero que esta liberdade de expressão não provoque confrontos de pares de namorados a tentarem apedrejar-me por profanar uma data para eles sagrada. Pelo sim, pelo não, irei estar atento, nada mais perigoso que uma mulher apaixonada enfurecida.

Coisas realmente importantes

Liedson renovou com o Sporting até 2010.

Coisas estranhas que acontecem II

Acabar o dia de S. Valentim a discutir psicologia humana com base num cinzeiro Stelton.

Coisas estranhas que acontecem I

Conseguir ter um jantar divertido no dia de S. Valentim. Isto sem ter de suportar os olhares babados dos casais que nos rodeiam, sufocar com um cor-de-rosa opressivo, ler ementas com menus chamados “Amor aos pedaços” ou “Paixões dos sentidos”, achar que o jardim botânico se transferiu para o nosso lado, cortar ás tirinhas os corações em nosso redor. Claro que só foi possível em casa de uma amiga, com um grupo de amigos, e mesmo assim a sofrer com o atraso de um take-away japonês entupido com demasiados pedidos e que parecia ter ido pescar o peixe antes de o preparar em sushi e sashimi.

14.2.06

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Paris, 2001

Convocatória

Depois de aturado e infindável trabalho, consegui por fim elaborar o relatório de contas e enviá-lo junto à convocatória para a Assembleia de Condomínio. A parte técnica está superada, resta agora a Assembleia. Aguardo receoso esse momento, não porque tenha aproveitado o dinheiro do condomínio para umas férias na praia, justificadas em Assembleia como obras provindas do rebentamento de um cano que me inundou a casa, mas pelo momento em si. Entrarei, de maço de folhas na mão, tentando encontrar nas poucas caras presentes uma das que eu conheço, vislumbrando alguma solidariedade. Sentar-me-ei, procederei ao início dos trabalhos e pronto, entrarei em roda livre procurando capacidade de resposta a perguntas sobre a pintura do prédio, a recolha de lixos, a vizinha que anda de elevador com o gato que por vezes se descuida, o namorado da vizinha que chega tarde num carro de tunning e acorda os andares mais baixos, o casal jovem e dinâmico que é subtilmente acusado de excesso de vigor por referências da vizinha de baixo ao chiar desalmado da cama. No meio de tudo há sempre recalcamentos antigos e prevêem-se trocas de palavras amargas cheias de tentativas de polimento que a pouco e pouco caem. Eu estarei calmo, possivelmente por acção de comprimidos, e susterei quaisquer reacções, com especial cuidado aos saltos efusivos e abraços a quem esteja ao lado no momento em que seja eleita a nova administração.

10.2.06

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"Amor? Amor é um fogo que arde um ano e cinzas que duram trinta."
Príncipe de Salina in “Il Gattopardo”

O Leopardo – Beleza

Três horas num museu a ver pintura. Da boa, da melhor, em Technicolor. “O Leopardo”. Há muito para dizer sobre este filme, mas o essencial depois de o ver pela primeira vez no grande ecrã é a descoberta de um tempo em que o cinema era arte levada ao limite. Visconti compunha imagens como quadros ou fotografias em sucessão. Para além da história, para além das mensagens. Um esteta que fazia cinema de beleza incrível. Se filme há que nos mostra o essencial do grande ecrã e a sua vantagem sobre a nossa casa – mesmo contando com mantas, paragens para comer, poder fumar – é este. Conhecia o filme em formato de televisão e já me tinha fascinado, já o achava um conjunto belíssimo: a história, as interpretações, a música. Tudo isto é superado pela visão em cinema. O teatral terço que abre o filme, o piquenique em referência ao “Dejeuner sur l’herbe” de Manet, o quadro em movimento na subida a caminho de Donnafugata, a chegada com família cheia do pó a entrar em comitiva solene na missa, o fabuloso baile final. Não sei qual quadro compraria, talvez a entrada da beleza selvagem e absurdamente sensual de Angelica Sedara (Claudia Cardinale) no palácio em Donnafugata deixando os personagens e o público a suspirar por uma descida à realidade.

O Leopardo – Il Gattopardo

8.2.06

27

Aproveitando a sua ausência “roubei” finalmente a desejada caixa. Sim, a caixa que o meu caro cunhado é feliz proprietário e era, faz um tempo, meu objecto de descarado desejo. 27 discos de Vinicius de Moraes. Sim, vinte de sete discos. E na caixa não estão as fundamentais gravações em Mar del Plata – com Toquinho, Maria Creuza e Maria Bethânia – ou a noite em casa de Amália. Estas já eu tinha, assim como mais algumas, mas vinte sete! Claro que, iTunes aberto e CD’s a entrar, assumo a pirataria de quem não tem possibilidade de ter esta caixa sem de facto a roubar (nunca a vi à venda em Portugal e, a existir, teria um preço por certo proibitivo). Ouço o Soneto da Separação, acompanhado pelo subtil piano de Tom Jobim. Esperam-me longas horas de Vinicius. Que bom!

7.2.06

À estalada

Hoje saí decidido a dar um par de estalos a qualquer criatura de extrema esquerda que encontrasse na rua. Sinto-me ofendido com inanidades lidas nos últimos dias (vide por exemplo Daniel Oliveira). Como esta gente acha que o direito à indignação desculpa irracionalidades e assassinatos, parece-me que um simples par de estalos seria louvado como forma quase pacífica para um católico oprimido reagir aos insultos perpetrados. Saí, pena foi não ter encontrado uma dessas criaturas.

Cartoons

Os cartoons de toda a polémica não eram de bom gosto. Como de bom gosto não seria aquele que enfiava um preservativo no nariz do defunto Papa. Não me lembro, no entanto, de haver gente a incendiar a sede do Expresso, ou a esbofetear desalmadamente António, ou a ameaçar de morte o Arq. Saraiva. Na altura, esses cartoons foram defendidos pelos mesmos que agora criticam os dinamarqueses. Alguma coerência seria saudável. Parece que, para alguns energúmenos, há religiões de primeira e outras de segunda. Umas a que se permitem os mais insanos radicalismos e outras que são atacadas por não crentes ao defenderem condutas para os seus crentes com as quais estes não concordam. Recalcamentos de ex-seminaristas ressabiados e de gente que convive mal com a fé alheia, a não ser que a mesma seja anti-americana, aí, em nome do anti-imperialismo, tudo é defensável e compreensível.

2.2.06

Socorro

Ano funesto o que passou. Uma cruz a carregar e eis-me agora no final do calvário. Administração de Condomínio. Três palavras malignas que sugerem, e são, um inferno na terra. Está quase a acabar, mas falta agora a parte pior – preparar o Relatório de Contas para a Assembleia de Condomínio. Logo eu, que tremo com palavras como balanços e balancetes.

Disparates

As duas lésbicas conseguiram o que queriam. Depois do pedido idiota para casarem, eis que todas as televisões as entrevistam e pouco faltará para serem concorrentes ao próximo reality show da TVI. O seu advogado, em pro bono pois então, ganhou umas horas de publicidade de valor inestimável. E a saga promete continuar com recursos sucessivos. Não haveria da nossa justiça continuar bloqueada, com idiotas como estes, que sabem estar a contrariar a lei, a darem trabalho inútil aos juízes.

1.2.06

Regicídio

Passam hoje 98 anos sobre o assassinato do rei D. Carlos e o do príncipe Luís Filipe. Muitos anos e três repúblicas que transformaram este país. Uma primeira república que de tão má nem os republicanos a fazem lembrar. A segunda, marcada por uma ditadura provinciana que nos enclausurou do mundo. A terceira vai correndo, por vezes tentando ser ainda pior do que as anteriores. Dia triste pois então.

Beleza da simplicidade

O alinhamento de pinheiros mansos junto ao Tejo, na Expo, com o brilho do Mar da Palha emoldurado por troncos e copas.