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Dubrovnik, Croácia, 2002
Passou, com a pele queimada pelo sol que contornava rugas e os tristes olhos mostrando a passagem do tempo. Passou, e continuou o seu caminho certo, um pouco ondulado pelo peso das compras e o torcer da idade. Passou, com uma leve corcunda de problemas e a magreza da humildade. Havia algo de pobre e digno, algo que chamava o olhar. Por isso a imagem foi feita à traição, sem querer tocar na dignidade, sem querer dela fazer um objecto perante a lente curiosa. As ruas sinuosas em redor do centro estavam desertas ao fim da tarde. Os turistas concentravam-se nas muralhas vendo o pôr-do-sol ou em esplanadas relaxando da intensidade do dia. No meu deambular sem sentido, por becos estreitos, encontrei-a. O seu passar fez-me olhar de novo e assim a vi partir, por uma ruela empedrada, preparada para atravessar uma sucessão de arcos, com o barulho do saco de plástico a quebrar o silêncio dos seus passos. Caminhando para uma casa, para uma vida, que com alguma arrogância julguei triste.
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