24.11.05

Estranho

Apetecer-me um Tullamore Dew com duas pedras de gelo em copo baixo, ás três da tarde e enquanto trabalho. Culpa do Tom Waits, ninguém me manda estar a ouvi-lo.

23.11.05

Ar Fresco

No blogue Venha o Diabo.

Desmentir

Sócrates desmente Alegre. Alegre desmente Sócrates. Em quem acreditar? Entre os dois acho o nariz de Sócrates mais próximo do de Pinóquio.

Milagre

Parece que os “privados” vão oferecer o Aeroporto da Ota aos portugueses! O acto é de tal forma caridoso e desinteressado que proponho que possam descontar as verbas ao abrigo da lei do mecenato.

22.11.05

Democracia não é só votos

O governo apresentou hoje formalmente o Aeroporto da Ota como um facto consumado. Há pouco tempo foram aprovadas no parlamento verbas para fazer estudos sobre o novo aeroporto para Lisboa. Estudos? Para quê? Afinal a decisão está tomada e os “estudos” serão uma mera formalidade. Tudo cheira muito mal neste processo e começa a ser fácil acreditar nas afirmações que circularam pela Net num texto em nome de Miguel Sousa Tavares (que o mesmo desmentiu veementemente a autoria num artigo no “Público”). A rede de interesses deve ser tanta que justifica que uma obra desta dimensão seja imposta ao país sem a necessária discussão pública. Enfim, tudo na mesma neste país desgovernado insistentemente pelos eleitos da nossa "democracia".

19.11.05

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Jardins das Necessidades, Lisboa, 2003

Rever clássicos

A produção cinematográfica é tanta que, ás vezes, esquecemos que existem clássicos, alguns com setenta anos, que suplantam a grande maioria dos filmes actuais. Nos últimos dias fui vasculhar as cassetes de VHS que já tinham criado pó e desencantei dois filmes essenciais que revi com agrado: “A Corda” – “The Rope” de Alfred Hitchcock e “O Extravagante Sr. Ruggles” – “Mr. Ruggles of Red Gap” de Leo MacCarey.
O primeiro é um prodigioso exercício de cinema, em que dez planos contínuos de oito minutos (tamanho das bobines) se juntam para formar uma obra-prima. O argumento é arrepiante, intercalando o humor negro de Brandon Shaw (John Dall) e as divagações filosóficas de Rupert Cadell (James Stewart) com uma situação no mínimo macabra. Farley Granger compõe Philip Morgan, o elo mais fraco de uma cadeia intelectual que se arroga ao direito de uma superioridade moral sem limites. A realização é de Hitchcock, e mais não será necessário dizer. O filme começa no clímax e arrasta-nos no fio da navalha até à cena final. O desconforto é constante durante a refeição servida no altar sacrificial. Tudo nos inquieta e, inteligentemente, são muitos os temas levantados pelo filme.
Do segundo, recordo a cena inicial de antologia, com o patrão – o Earl of Burnstead – com um levíssimo e “very british” desconforto, ainda em ressaca, a anunciar entre conversas que tinha perdido ao Poker o seu fidelíssimo mordomo que, perante tão estranha notícia, reage com uma naturalidade adquirida por anos de serviço. A “família” americana que espera Ruggles em Red Gap, nos confins das Américas, é um delicioso conjunto de personagens que vão desde a nova-rica que pretende ascender até à velha matrona da família mais preocupada em andar a cavalo ou caçar. Charles Laughton é um Ruggles extraordinário que nos faz sorrir em contínuo, mostrando que o seu talento estava muito para lá dos trágicos e sérios personagens que o celebrizaram. Leo MacCarey é muitas vezes esquecido na memória dos grandes do cinema, mas merecia outras lembranças, por exemplo por este filme.

16.11.05

Resmungo Matinal

Chegaram os acordares ferozes, de olhos brilhantes e espirros convulsivos. A saída do conforto uterino da cama forrada a cobertores é de pronto confrontada com a violência de uma brusca diferença de temperatura, que nem um banho quase turco consegue sanar de imediato. A rinite no Inverno é um inferno, acordar para o mundo torna-se, se possível, ainda mais difícil.

15.11.05

Coisas da Vida Boa

A luz fria do sol da manhã brilhando no prado molhado. As oliveiras serenas observam, como se toda a beleza do mundo se encontrasse a seus pés.

Procissão

Apesar de estar fora, vi pela televisão Lisboa de ruas cheias. Ninguém protestava contra nada, apenas uma pacífica demonstração de Fé.

Entrevista

Cavaco falou, ou pelo menos assim o fez crer. Ontem só resisti a quinze minutos de banalidade, de fugas ás questões, de uma total vacuidade supostamente em nome da substância. Cavaco diz que não quer retórica, que quer resolver os problemas concretos, que quer ser o “Messias” do país. Claro que não pode explicar como concretizará tais propósitos, pois é óbvio que não terá poderes para tal. Fica a dúvida, ou Cavaco mente, ou ainda não percebeu os poderes de Presidente da República, ou acha que se está a candidatar a Primeiro-Ministro. O discurso anti-retórica num candidato a Presidente da República é o mesmo que um Embaixador verberar contra a diplomacia, um total contra-senso.

9.11.05

Cartazes

Ao esfumar-se dos seus cartazes, que são dominados por uma esfera armilar estilizada, Cavaco leva a sua “não campanha” até ao extremo. Elogia-se a atitude, afinal é uma assinalável contribuição para a estética urbana, evitando simultaneamente colisões automóveis devido ao susto e pesadelos tormentosos nas crianças portuguesas.

8.11.05

França

Na exemplar “République Française” – a mais legítima das construções jacobinas – prosseguem os conflitos. Agora até voltamos aos tempos da segunda guerra com o recolher obrigatório. O Estado Social construído pela esquerda tem destas idiossincrasias, torna tudo tão fácil, até os distúrbios e a delinquência.

Coisas da Vida Boa

Os fins de tarde no ginásio com o meu iPod. Até se torna agradável remar para aquecer ao som Morrissey, levantar pesos com Bob Marley ou acabar os alongamentos com Chet Baker. O tempo assim até passa depressa e esquecemos as horas passadas a compensar uma vida sedentária e de horror à prática de qualquer desporto.

Oásis

O programa “Prós e Contras” continua a mostrar que é possível a televisão de ritmo calmo, com qualidade, com sumo. Ontem, os convidados eram, para não variar, excelentes e o Sr. Cardeal Patriarca mostrou mais uma vez, como se tal fora preciso, que a Igreja portuguesa está muitíssimo bem entregue. O seu diálogo sobre a “esperança” com o Professor Barata Moura (não crente) foi tão profundo que pena tive de não o poder ter gravado para rever. Temas difíceis podem, e devem, ser discutidos em televisão.

4.11.05

Emoções

Sem querer parecer uma qualquer Susana Tamaro, reconheço que me sinto mais vivo quando me emociono. No passado fim-de-semana aconteceu-me duas vezes por motivos diferentes. As razões não interessam, mas ainda bem que num mundo tão superficial ainda encontramos dentro de nós resistências de sensibilidade.

Brinquedo II

Há quem diga que as máquinas têm personalidade, que adquirem os defeitos dos donos. Dos iPods já ouvi dizer que eram complicados, que tinham manias. Enfim, nada que me preparasse para o mau feitio do meu brinquedo. Quer dizer, como se não me bastasse o meu mau feitio, tenho agora de aturar um brinquedo com excesso de personalidade.