9.12.09

De volta a casa

No regresso a casa tudo parece igual, um país cinzento e triste como este dia outonal. Do sol nem vislumbre, escondido por densas nuvens brancas que retiram toda a possibilidade de luz. Tal qual o deixei há umas três semanas. O meu lado conservador até aprecia esta constância, o meu lado pessimista quase se regozija por ter razão, o meu optimismo anda cada vez mais tímido. Esta condição portuguesa obriga a uma certa habituação e conformismo, quanto mais não seja pela preguiça de tomar uma qualquer atitude mais drástica. Sair deste local mal frequentado sempre areja ideias e abre novas perspectivas, mas é importante não cair na tentação de, na volta, olhar o país com "novos" olhos. Pelo menos se nos queremos poupar a uma imensa depressão.

2.12.09

Postais de Viagem

Os Andes esmagam na imensidao e diversidade, na maneira simples como tornam o Homem pequenino e insignificante. Ao seguir por estradas desertas de carros e cheias de uma beleza rude, em que a janela se torna a tela de um excelente documentário, deixamos, como Jacinto, que o apelo forte da natureza nos faça esquecer a sociedade do conhecimento e da Civilizaçao.

29.11.09

Postais de Viagem

O apelo da vastidao nao é fácil de explicar, mas por qualquer motivo ele tem em mim muita força, o que me leva a estar em San Pedro de Atacama, no meio do nada, entre algures e nenhures. Gosto desta beleza dura e infinita, em que me sinto mais perto de algo indefinível a que alguns talvez chamem paz. A longura convida a limpar a alma de ruídos acessórios do dia-a-dia, deixando o cérebro como que num banho termal tépido e relaxante. Nem o mal das alturas, capaz de devastar a cabeça com dores bem desagradáveis, consegue fazer esquecer o poder da natureza e de vulcoes, géiseres, vales rasgados em sal ou rocha, de uma paisagem pouco terrena com que o criador brindou Atacama.
P.S. Onde se escondeu o til deste teclado.

Postais de Viagem

A surpresa é, quase sempre, boa numa viagem, foi por isso muito agradável chegar a uma cidade sul-americana em que os condutores param suavemente nas passadeiras sem que tenhamos de nos atirar, qual suicidas, na tentativa de colher alguma boa vontade e atravessar uma rua. Santiago nao tem muitos pontos de interesse para visitar, mas trata-se de uma cidade tao civilizada que é um imenso gosto percorrer as ruas e terminar o dia numa esplanada no Barrio de Bellas Artes bebendo um Pisco Sour.
P.S. Texto com problemas de acentos graças a este diabólico teclado.

24.11.09

Postais de viagem

As nuvens apareceram ao fim do dia, como que facilitando as despedidas. Simpáticas, abraçavam os "dois irmãos" que espreitavam tímidos e a espaços. O Rio não tem mais encanto na hora da despedida, ele permanece perene em quem já deambulou por esta terra encantada. Poucos sítios justificam. como este, ser admirados por uma representação de Cristo, por certo orgulhoso com a a sua obra. A beleza desta cidade ultrapassa pormenores de arquitectura de gosto duvidoso ou de favelas pobres e anárquicas. Está na natureza, nos morros, no recortado da costa, no mar, em qualquer coisa estranha a que não serão estranhos os cariocas, invenção de alegria e boa vida contagiante.

21.11.09

Postais de viagem

Calor e falta de planos. Aproveitar a onda carioca e deixar as horas correr entre choppes e mergulhos. O caminho irá seguir ainda sem destino definido, numa liberdade que em momentos questiono. O melhor é deixar o sol continuar a brilhar despreocupadamente.

20.11.09

Férias

O blogue está de férias e ontem comprovou que há Sushi Leblon para lá do blog. A Madonna já cá não está, mas vislumbravam-se longas e elegantes pernas, bem encimadas por caras frescas e bonitas. Lá fora o calor dissolve e empurra ferozmente para a praia.

10.11.09

O Muro

A história é, por hábito, boa conselheira. Vale a pena por isso lembrar o Muro e o que ele significou. Nestes tempos em que quase tudo se relativiza, é bom ter em conta o que de facto foi o comunismo. Podemos simpatizar com comunistas, mas olhando para a história é cada vez mais intolerável a capacidade para tolerar o comunismo. Está tão na moda tolerar os extremismos da esquerda, que talvez convenha aos modistas lerem um pouco de história, sob pena de passarem amiúde por ignorantes, ou então por colaboracionistas, tudo pervertendo ao gritarem liberdade em nome de regimes como o que caíu, em boa hora, com o Muro.

4.11.09

Os intocáveis

Mário Crespo no JN, cada vez mais uma leitura essencial.

O processo Face Oculta deu-me, finalmente, resposta à pergunta que fiz ao ministro da Presidência Pedro Silva Pereira - se no sector do Estado que lhe estava confiado havia ambiente para trocas de favores por dinheiro. Pedro Silva Pereira respondeu-me na altura que a minha pergunta era insultuosa.
Agora, o despacho judicial que descreve a rede de corrupção que abrange o mundo da sucata, executivos da alta finança e agentes do Estado, responde-me ao que Silva Pereira fugiu: Que sim. Havia esse ambiente. E diz mais. Diz que continua a haver. A brilhante investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro revela um universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça.
O país tem de saber de tudo porque por cada sucateiro que dá um Mercedes topo de gama a um agente do Estado há 50 famílias desempregadas. É dinheiro público que paga concursos viciados, subornos e sinecuras. Com a lentidão da Justiça e a panóplia de artifícios dilatórios à disposição dos advogados, os silêncios dão aos criminosos tempo. Tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de crimes na habituação. Foi para isso que o primeiro-ministro contribuiu quando, questionado sobre a Face Oculta, respondeu: "O Senhor jornalista devia saber que eu não comento processos judiciais em curso (…)". O "Senhor jornalista" provavelmente já sabia, mas se calhar julgava que Sócrates tinha mudado neste mandato. Armando Vara é seu camarada de partido, seu amigo, foi seu colega de governo e seu companheiro de carteira nessa escola de saber que era a Universidade Independente. Licenciaram-se os dois nas ciências lá disponíveis quase na mesma altura. Mas sobretudo, Vara geria (de facto ainda gere) milhões em dinheiros públicos. Por esses, Sócrates tem de responder. Tal como tem de responder pelos valores do património nacional que lhe foram e ainda estão confiados e que à força de milhões de libras esterlinas podem ter sido lesados no Freeport.
Face ao que (felizmente) já se sabe sobre as redes de corrupção em Portugal, um chefe de Governo não se pode refugiar no "no comment" a que a Justiça supostamente o obriga, porque a Justiça não o obriga a nada disso. Pelo contrário. Exige-lhe que fale. Que diga que estas práticas não podem ser toleradas e que dê conta do que está a fazer para lhes pôr um fim. Declarações idênticas de não-comentário têm sido produzidas pelo presidente Cavaco Silva sobre o Freeport, sobre Lopes da Mota, sobre o BPN, sobre a SLN, sobre Dias Loureiro, sobre Oliveira Costa e tudo o mais que tem lançado dúvidas sobre a lisura da nossa vida pública. Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: os agentes do Estado protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial que rendem 147,5% ao ano. Lida cá fora a mensagem traduz-se na simplicidade brutal do mais interiorizado conceito em Portugal: nos grandes ninguém toca.

23.10.09

Assino e subscrevo

Uma Farsa
Por Vasco Pulido Valente

O problema com o furor que provocaram os comentários de Saramago sobre a Bíblia (mais precisamente sobre o Antigo Testamento) é que não devia ter existido furor algum. Saramago não disse mais do que se dizia nas folhas anticlericais do século XIX ou nas tabernas republicanas no tempo de Afonso Costa. São ideias de trolha ou de tipógrafo semianalfabeto, zangado com os padres por razões de política e de inveja. Já não vêm a propósito. Claro que Saramago tem 80 e tal anos, coisa que não costuma acompanhar uma cabeça clara, e que, ainda por cima, não estudou o que devia estudar, muito provavelmente contra a vontade dele. Mas, se há desculpa para Saramago, não há desculpa para o país, que se resolveu escandalizar inutilmente com meia dúzia de patetices.

Claro que Saramago ganhou o Prémio Nobel, como vários "camaradas" que não valiam nada, e vendeu milhões de livros, como muita gente acéfala e feliz que não sabia, ou sabe, distinguir a mão esquerda da mão direita. E claro que o saloiice portuguesa delirou com a façanha. Só que daí não se segue que seja obrigatório levar a criatura a sério. Não assiste a Saramago a mais remota autoridade para dar a sua opinião sobre a Bíblia ou sobre qualquer outro assunto, excepto sobre os produtos que ele fabrica, à maneira latino-americana, de acordo com o tradição epigonal indígena. Depois do que fez no PREC, Saramago está mesmo entre as pessoas que nenhum indivíduo inteligente em princípio ouve.

Oregime de liberdade, aliás relativa, em que vivemos permite ao primeiro transeunte evacuar o espírito de toda a espécie de tralha. É um privilégio que devemos intransigentemente defender. O Estado autoriza Saramago a contribuir para o dislate nacional, mas não encomendou a ninguém? principalmente a dignatários da Igreja como o bispo do Porto - a tarefa de honrar o dislate com a sua preocupação e a sua crítica. Nem por caridade cristã. D. Manuel Clemente conhece com certeza a dificuldade de explicar a mediocridade a um medíocre e a impossibilidade prática de suprir, sobre o tarde, certos dotes de nascença e de educação. O que, finalmente, espanta neste ridículo episódio não é Saramago, de quem - suponho - não se esperava melhor. É a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e a escolaridade obrigatória.

Afinal Sócrates tem sentido de humor

Só isso justifica a escolha de Santos Silva para o Ministério da Defesa. Fica agora a divertida dúvida se o ministro vai malhar nos generais ou se os generais vão malhar no ministro. No fundo, um jogo da malha militar com potencial de levar a levantamentos de rancho.

20.10.09

Much ado about nothing

Saramago vem sendo notícia por declarações insultuosas à igreja católica. Nenhuma novidade, pois parece que a criatura vive com uma estranha obsessão religiosa, talvez devido a conflitos internos mal resolvidos. O que continuo a não perceber é a importância que lhe é dada. O senhor lançou um livro novo e precisava de publicidade, vai daí criou uma polémica para que se fale dele. Uma vez mais, nenhuma novidade. O que os católicos ainda não perceberam é que a melhor forma de lidar com gente como Saramago é a indiferença. Ele tem direito às suas opiniões, assim como eu tenho direito em o detestar e me recusar a perder tempo com os seus livros. São insultuosas? É claro que são, mas a melhor arma contra o insulto, à falta de um bom par de estaladas, é mesmo a indiferença. Aliás, fosse Saramago tratado com indiferença de há uns anos para cá, e teria por certo vendido muito menos livros em consequência das barbaridades que já disse. Não discuto a sua qualidade como escritor, pois recuso-me a ler os seus livros, agora dar importância às opiniões de alguém com seu curriculum cívico e político é um desmedido acto de estupidez.

1.10.09

Património Imaterial da Humanidade


Astor Piazzola, "Milonga del Angel"

Património Imaterial da Humanidade


Roberto Goyeneche, "La ultima curda"

Ainda há boas notícias

A UNESCO declarou ontem o Tango como Património Imaterial da Humanidade.

Carlos Gardel, "Cuesta abajo"

Um nojo

Fiquei incrédulo ao ouvir António Costa declarar, no “Esmiuça os sufrágios”, que Santana Lopes queria tirar o Instituto Português de Oncologia para o substituir por um parque de diversões. Dito assim, “tout court”, como se fosse uma troca por troca de alguém que achava a diversão mais importante do que o cancro. Esta não é uma interpretação pessoal, ele disse mesmo isto e com esta intenção clara. A coisa não foi sequer uma gaffe, pois pode ler-se num post do blog da candidatura de António Costa: “Enfim, para quê cuidados de saúde quando podemos ter farturas e algodão-doce?” assinado por um tal Tiago Antunes.

É evidente que ontem Santana explicou e respondeu e o mínimo de decência que pode restar a António Costa, depois deste intolerável insulto, devia-o obrigar a um pedido público de desculpas. Há gente que tem de perceber que a política não é um combate de “vale tudo”, nem de boxe tailandês, há um mínimo de civismo e educação. A canalhice é tal que é por estas e por outras que, contra toda a inteligentzia, Santana ainda vale muitos votos. Costa até pode ser melhor candidato do que Santana, mas a continuar assim é bom que se lembre como é que João Soares perdeu as eleições para a Câmara de Lisboa.

30.9.09

Coincidências

O CDS conseguiu no Domingo quase dez por cento de votos. Na terça-feira são feitas buscas a escritórios de advogados por causa das aquisições submarinos nos tempo de Portas como Ministro da Defesa.

29.9.09

Promete

Os próximos tempos vão ser bem divertidos, a ver pelo discurso de Pedro Silva Pereira. Anda tudo acossado. Para quem sentia a falta de Santana temos agora um manancial de possibilidades de casos na convivência Belém, S.Bento.

Aposta

Não ganhei primeira parte da aposta, que ninguém comigo quis fazer. A múmia falou hoje. Já a segunda parte, completamente certa, declarações baças e inconclusivas como é hábito.

28.9.09

Pastel de Belém

O cavaquismo está em exéquias e não devemos deixar a múmia de Belém terminar o seu mandato com dignidade, apenas porque a não merece. Se a direita quer voltar a ser o poder deve começar por procurar de um candidato presidencial.

P.S. Post baseado numa ideia dada por uma amigo ao telefone, enquanto constatávamos que o senhor que está em Belém nunca nos enganou.

Apostas

Acho que um amigo meu me deve uma garrafa de vinho pela aposta em que o CDS ficaria à frente do Bloco. Ofereço-me já para outra aposta, a de que Cavaco só irá falar depois das autárquicas, dificilmente antes do Natal, e que as suas declarações serão baças e inconclusivas como é hábito.

Fair-play

Sócrates outra vez primeiro-ministro é uma visão do horror, mas já me delicio com o fim do “animal feroz” e com a obrigação de diálogo e de humildade que, estou certo, custará a Sócrates mais do que se tivesse perdido as eleições.

25.9.09

A múmia

As declarações são sempre dúbias, para supostamente ler nas entrelinhas da densidade. As aparições distantes e esfíngicas. Cavaco criou uma aura de suposto Deus grego que do Olimpo contempla o povo. As duas maiorias absolutas a isto levaram. O seu partido, pelo qual foi dez anos primeiro-ministro de Portugal, sempre foi tratado como uma companhia desagradável com que tinha de conviver. O egocentrismo sempre regeu a sua postura política, os seus interesses acima dos do partido, os seus interesses acima dos do país, os seus timmings como algo sagrado a pairar sobre tudo. Por isso sacrificou Fernando Nogueira e o levou a perder umas eleições. Por isso toda a sua inacreditável postura no caso das escutas que muito contribuiu para influenciar o resultado destas eleições. À volta anda tudo muito cauteloso em dizer o óbvio, que Cavaco mostrou uma total falta de postura de Estado ao deixar arrastar o caso das escutas sem uma declaração clara e definitiva.
A muitos poderá surpreender, enleados no nevoeiro que emana de Belém, no denso nevoeiro que esconde o vazio, a falta de coragem e de decisão. Talvez o vento leve este nevoeiro e, no final, se descubra a face ocultada de Cavaco, a face escondida por entre as ligaduras que envolvem a múmia, que insiste em não falar e em enviar enigmas crípticos que mais não são, afinal, que a ausência de algo para dizer ou falta coragem para dizer o que deve.

Coincidências

Sócrates elegeu como tema do congresso do PS a perseguição que era vítima com origem no Jornal da Noite da TVI e no Público. Moniz saiu. Moura Guedes foi corrida. O Público foi descredibilizado por um mail que oportunamente surgiu em 3 jornais. A conclusão óbvia é que tudo isto foi uma campanha negra do PSD, aliás, seguindo a máxima de que o normal culpado é o que do "crime" tira proveito.

16.9.09

In memoriam

A carreira de Patrick Swayze passou por um número gigante de xaropes cinematográficos, de interesse mais do que duvidoso, mas bastaria este filme para a sua morte ser sentida.

A fabulosa música de fundo é a versão de Eva Cassidy para "Fields of Gold".

Esmiuçando

Pergunta desconcertante. Graçola estudada de introdução, mudança de postura e resposta séria, convencional e politicamente correcta. Foi com este guião, bem preparado por assessores, que Sócrates se sentou frente a Ricardo Araújo Pereira (RAP). Bom actor, com a bonomia estudada e sorriso complacente. A espontaneidade foi estando ausente e as graçolas foram oscilando entre o estilo Camilo de Oliveira e o “Euro Nico”.

Pergunta desconcertante. Pausa e resposta espontânea, inteligente e irónica. Manuela Ferreira Leite replicou a RAP na mesma linguagem e sem guião. Prestou-se ao improviso e este saiu bem. Conforme os momentos lembrei-me de Monthy Phyton e de “The Office”.
Tenho para mim que o sentido de humor é uma superior forma de inteligência.

Marialvas Republicanos

Para o pai, Nicole Fontaine “daria uma excelente dona de casa”, para o filho, Ferreira Leite é “a outra senhora”. Pobre Maria Barroso, o melhor é fazer queixa à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.

11.9.09

11 de Setembro

Convém não esquecer.

O génio

Depois de partilhar connosco o seu problema com os caroços de cereja e a sua propensão assumida para a batota, Carolina Patrocínio brindou-nos com uma questão porventura mais esotérica, ao revelar que sempre votou PS nas legislativas. Parece normal, mas a para-anormalidade vem do facto de nas últimas legislativas a menina ainda não ter 18 anos. Terá votado numa encarnação anterior ou em urnas da Disney? Será caso para aplaudir a coerência do espelho jovem do timoneiro Sousa e grande exemplo da juventude moderna tão querida deste PS.

Informação via "Complexidade e Contradição".

8.9.09

Coisas que se escrevem

Mário Crespo no Jornal de Notícias, imprescindível como se vem tornando hábito.

"Não se pode dizer que de Espanha nem boa brisa nem boa Prisa, porque o clima para este monumental acto censório é da exclusiva responsabilidade de José Sócrates.

35 anos depois da ditadura, digam lá o que disserem, não volta a haver o Jornal de Sexta da TVI e os seus responsáveis foram afastados à força.

No fim da legislatura, em plena campanha eleitoral, conseguiram acabar com um bloco noticioso que divulgou peças fundamentais do processo Freeport.

Sem o jornalismo da TVI não se tinha sabido do DVD de Charles Smith, nem do papel de "O Gordo" que é (também) primo de José Sócrates e que a Judiciária fotografou a sair de um balcão do BES com uma mala, depois de uma avultada verba ter sido disponibilizada pelos homens de Londres.

Sem a pressão pública criada pela TVI o DVD não teria sido incluído na investigação da Procuradoria-geral da República porque Cândida Almeida, que coordena o processo, "não quer saber" do seu conteúdo e o Procurador-geral "está farto do Freeport até aos olhos".

Com tais responsáveis pela Acção Penal, só resta à sociedade confiar na denúncia pública garantida pela liberdade de expressão que está agora comprometida com o silenciamento da fonte que mais se distinguiu na divulgação de pormenores importantes.

É preciso ter a consciência de que, provavelmente, sem a TVI, não haveria conclusões do caso. Não as houve durante os anos em que simulacros de investigação e delongas judiciais de tacticismo jurídico-formal garantiram prolongada impunidade aos suspeitos.

A carta fora do baralho manipulador foi a TVI, que semanalmente imprimiu um ritmo noticioso seguido por quase toda a comunicação social em Portugal. Argumenta-se agora que o estilo do noticiário era incómodo. O que tem que se ter em conta é que os temas que tratou são críticos para o país e não há maneira suave de os relatar.

O regime que José Sócrates capturou com uma poderosa máquina de relações públicas tentou tudo para silenciar a incómoda fonte de perturbação que semanalmente denunciou a estranha agenda de despachos do seu Ministério do Ambiente, as singularidades do seu curriculum académico e as peculiaridades dos seus invulgares negócios imobiliários.

Fragilizado pelas denúncias, Sócrates levou o tema ao Congresso do seu partido desferindo um despropositado ataque público aos órgãos de comunicação que o investigam, causando, pelos termos e tom usados, forte embaraço a muitos dos seus camaradas.

Os impropérios de Sócrates lançados frente a convidados estrangeiros no Congresso internacionalizaram a imagem do desrespeito que o Chefe do Governo português tem pela liberdade de expressão.

O caso, pela sua mão, passou de nacional a Ibérico. Em pleno período eleitoral, a Ibérica Prisa, ignorante do significado que para este país independente tem a liberdade de expressão, decidiu eliminar o foco de desconforto e transtorno estratégico do candidato socialista.

É indiferente se agiu por conta própria ou se foi sensível às muitas mensagens de vociferado desagrado que Sócrates foi enviando. Não interessa nada que de Espanha não venha nem boa brisa nem boa Prisa porque a criação do clima para este monumental acto censório é da exclusiva responsabilidade do próprio Sócrates.

É indiferente se a censura o favorece ou prejudica. O importante é ter em mente que, quem actua assim, não pode estar à frente de um país livre. Para Angola, Chile ou Líbia está bem. Para Portugal não serve."

4.9.09

Coisas normais

1,2 milhões de espectadores em prime-time é algo que uma empresa comercial deve, obviamente, desprezar em nome da uniformidade da informação à hora de jantar. Faz todo o sentido, especialmente ao falarmos de uma estação de televisão que vem primando por um grande cuidado na qualidade dos seus programas. “Much ado about nothing” tudo o que se vem dito sobre o assunto, evidente maledicência já que tudo isto foi normal. Normal também seria que o primeiro-ministro pusesse uma acção por danos morais à Administração da Media Capital, agora que já sabemos que a ordem de saneamento não veio de Espanha.

3.9.09

Negro dias de tirania neo-salazarista

Confirma-se, a negociata que levou à saída de Moniz teve a conclusão esperada: o Jornal Nacional de sexta-feira da TVI acabou. Remove-se assim uma jornalista incómoda em vésperas de eleições. A inspiração de antigas ditaduras parece cegar este governo, que com todo o desplante recorre despudoradamente a métodos de onde a democracia está ausente. Liberdade é palavra vã e só os ingenuamente crédulos podem acreditar na seriedade de intenções das gentes que nos governam. Moura Guedes era do contra e como tal foi silenciada: bravo Manuela.

6.8.09

Estado do blog

Ausente. Primeiro excesso de trabalho, depois curtos dias de férias, agora uma pausa de dois dias para trabalho, depois virá mais uma semana de férias. O blog que se vá aguentando sem mim, só, triste e abandonado. Como o país.

29.7.09

Estado do blog

Este blog anda abandonado como um cão com donos em férias. O pior é que o dono nem sequer começou as férias, simplesmente anda assoberbado de trabalho e encostou o blog como se encosta um livro que não nos apetece ler no momento. Acho que não conseguirei não voltar aqui, ou talvez mude de direcção, ou talvez. Para já irei vindo e finalmente vou de férias no final desta semana. Talvez nas férias me apeteça mais voltar aqui.

17.7.09

Cidadania contra a barbárie

O blog Cidadãos por Abrantes.

A (des)graça da (des)ilusão

A notícia da criação de um Museu Ibérico de Arqueologia e Arte em Abrantes deixou-me com enorme expectativa. Não é todos os dias que um museu é criado, ainda mais na nossa terra e com as interessantes colecções que para este se prevêem: Colecção de Arqueologia da Fundação Estrada e doações das colecções pessoais de Maria Lucília Moita e Charters de Almeida. A expectativa aumentou ao saber que havia sido escolhido o Arquitecto Carrilho da Graça para desenhar o edifício. Fiquei a esperar o melhor. E esperei até desesperar perante a maquete apresentada, na qual pensei que havia alguém com muito sentido de humor a querer fazer um qualquer ensaio académico sobre como não implantar um edifício na malha urbana. Infelizmente tratava-se, de facto, do projecto do novo museu abrantino.

Quando discuto arquitectura e o seu diálogo com as cidades, insisto em dizer que mais do que o traço, o que me importa é a volumetria e o enquadramento. Para a harmonia de uma cidade é muito mais lesivo um grande volume bem desenhado, mas mal enquadrado, do que um pequeno edifício feio, mas bem enquadrado. No fundo é também isto que distingue a arquitectura da escultura. Entre as zonas mais sensíveis a estes enquadramentos estão, obviamente, as linhas de festo ou cumeada, ou, em linguagem mais popular, os cimos dos montes. Abrantes é uma cidade que se desenvolveu a partir do topo da colina e em que o relevo é decisivo na sua definição urbanística. Tomam assim importância acrescida as zonas do Castelo e do Convento de São Domingos, quer pelos edifícios, quer pela privilegiada vista que daí se pode usufruir, quer pelo seu impacto em quase todas as vistas para a cidade. Estes edifícios, sábia e humildemente construídos há muitos anos, souberam adaptar-se ao local, mostrando-se bem, mas com bastante pudor, não se impondo à cidade e à paisagem que encontraram.

Tendo em conta o curriculum do Arquitecto Carrilho da Graça, era isto que esperava, um bom traço de arquitectura, elegante e vistoso, que respeitasse o local para o qual era desenhado. Daí a surpresa ao descobrir um paralelepípedo com uma colossal volumetria, que tanto poderia ter sido desenhado para o deserto do Sahara como para uma megacidade como Tóquio. Seguramente não foi desenhado a pensar neste local, fico até com a dúvida se o senhor arquitecto se dignou a visitar Abrantes para além do dia em que veio assinar o contrato. Acho esta dúvida legítima em respeito ao curriculum do Arquitecto Carrilho da Graça e às obras que já nos deixou, além de uma justificação para o tamanho disparate com que quer brindar Abrantes.

No mundo de hoje, os arquitectos estrelas adquiriram uma força sobre os autarcas sedentos de afirmações de poder, cujos paralelos remontam a regimes antigos e de má memória. Basta a sua assinatura para tudo ser tolerado e aplaudido com uma reverência provinciana, de quem se vê perante a possibilidade de ter na sua cidade um edifício “de autor”, a exemplo de Ghery em Bilbau que criou invejas e desejos de réplicas que ainda mais aguçaram o novo-riquismo. Felizmente ainda há quem consiga por os grandes egos na ordem, caso da Baronesa Thyssen que “obrigou” Siza Vieira a alterar o seu projecto para o Passeio do Prado, evitando assim o abate de árvores centenárias para darem lugar a betão, com a ameaça de retirar o museu do edifício em que se encontra. O problema é que “armas” destas não são fáceis de encontrar para travar os projectos.

A cidadania, ainda imberbe em Portugal, vai no entanto crescendo, sendo reconfortante verificar a justa indignação abrantina na adesão à petição que circula na internet – “Petição por uma decisão democrática sobre o Museu Ibérico de Abrantes”, – e agora também em papel, a favor de um adequado debate sobre este projecto.

Que isto faça pensar quem de direito.


in "Cidadãos por Abrantes"

10.7.09

Coisas Geniais

Com a chancela de Martin Scorsese, existe um novo paraíso na web: o site The Auteurs. Cinemateca online com filmes clássicos e actuais fora do circuito mais comercial e rede social à volta do cinema. Já aderi, apesar de agora o tempo escassear para explorar devidamente. Parece-me uma coisa magnífica.

Vale a pena ler

A entrevista, publicada no jornal i, de Maria João Avillez a Manuel Villaverde Cabral.

9.7.09

Estado do blog

Quase abandonado. Muito trabalho, pouco tempo, falta de paciência. A precisar de férias.

3.7.09

.

Ontem os toiros do Campo Pequeno saíram mansos e pouco apresentáveis, contudo parece que foram superados por aquele que surpreendentemente surgiu em São Bento. Sentiu-se por lá a falta dos vinte ou trinta persistentes manifestantes com panelas e buzinas que animam as toiradas em Lisboa, assim como sentiremos a falta do ministro Pinho para animar os nossos dias mais cinzentos e macambúzios.

26.6.09

Tirar palavras da boca

"Quem saiba alguma coisa do que é o país percebe a farsa que é a governação em Portugal."

"Gente que mente a toda a hora."

"Esta gente é um nojo."

Medina Carreira em entrevista a Mário Crespo na SIC Notícias.

Campanhas negras

A urdidura do "Freeport" já chegou ao sexto arguido. Parece que poder de Manuela Moura Guedes foi subestimado e ela consegue mandar na PJ e na Procuradoria. Devem ser super-poderes ocultos.

25.6.09

Petição

Este blog associa-se, uma vez mais, a uma petição. Cada vez mais a cidadania a isso obriga, contra a cegueira de poder de quem nos (des)governa. Desta feita é referente à "minha terra", onde uma interessante ideia de criar um Museu Ibérico de Arqueologia e Arte - com um acervo composto por uma valiosa colecção de arqueologia da Fundação Estrada e por peças doadas das suas colecções pessoais pelos artistas Maria Lucília Moita e Charters de Almeida - é ensombrada pelo edifício projectado para acolher o museu.
Está prevista a construção de um paralelepípedo de trinta metros de altura, cerca de 10 andares, com a assinatura do Arquitecto Carrilho da Graça, que vai causar um impacto irreversível na paisagem da cidade, nomeadamente por se situar no topo de uma colina que domina a cidade, estar inserido no centro histórico e ser implantado dentro da cerca do Convento de S. Domingos, datado do século XVI e classificado como Imóvel Interesse Público.

Maquete do projecto

Simulação do impacto do projecto na cidade

Estas imagens mostram bem a demonstração de poder de um autarca e de ego de um arquitecto.

Por tudo isto este blog assinou a petição e pede aos seus leitores que façam o mesmo.

Delírios

Há histórias de gentes ricas que, ao não gostarem da forma como são tratadas por alguma empresa, optam por a comprar. Novidade é haver um primeiro-ministro que queira, utilizando uma empresa de telecomunicações onde o Estado tem uma golden share, comprar uma grupo de comunicação onde lhe é feita supostamente a maior das oposições. Parece que há quem continue a viver numa redoma e a pensar que o povo é burro e não percebe estas negociatas.
Isto a propósito do delírio da PT querer comprar a Media Capital que é dona da TVI.

Campanhas negras

Há mais um arguido no Caso Freeport. A culpa deve ser de Manuela Moura Guedes.

18.6.09

Confrangedor

Foi uma triste noite. Aquele sentimento de vergonha alheia. Sócrates a tentar a humildade e a serenidade na entrevista à SIC. Embaraçoso. Tudo soou a falso, a encenado, a uma cena estragada por um mau actor. Lembrei-me de Diogo Morgado, dos actores dos “Morangos com Açúcar”, de grande parte dos actores portugueses quando fazem cinema. Erros de casting, erros na profissão, gente deslocada, “Lost in Translation”. Pode-se gostar, ou não, de Sócrates, mas a sua versão genuína é coerente. Eu não gosto, já não suporto mesmo, mas admito que faz sentido, ele é assim.
A sua versão delicodoce e calma foi penosa, mas ainda assim a sua genuinidade estava lá, ao manter o conteúdo apesar de camuflar a forma. Tudo assim foi ainda mais falso, pois ver alguém que quer passar por humilde dizer que está muito satisfeito consigo mesmo e que os únicos erros que se lembra, talvez por problemas de memória, são a falta de verbas para a cultura e uns pequenos erros de explicação de algumas reformas, diz tudo sobre a sua humildade.
O pior estava, ainda assim, reservado para o fim, quando escolheu um golpe baixo para dizer o que o distingue de Manuela Ferreira Leite, referindo duas “boutades” da líder do PSD para escarnecer dela e mostrar a sua genuína agressividade e arrogância. Talvez com isto se engane outra vez na forma, porque o povo português parece não gostar de faltas de respeito e Ferreira Leite é, pelo menos, uma senhora vetusta e que se dá ao respeito. Fico curioso de ver um debate entre os dois e de ver se Sócrates, perante Manuela, voltará a comportar-se como uma menino mimado, arrogante, impertinente e mal-educado. É que estas coisas são intrínsecas e só um grande actor pode conseguir superá-las, coisa que ontem se provou que Sócrates não consegue ser.

17.6.09

Acreditar, ou talvez não

Ver Sócrates em versão humilde é tão credível como se Manuela Ferreira fizesse um peeling, um lifting e um implante mamário, aparecendo de roupa justa e sexy a distribuir frenéticos beijos e a saltar exuberante em comícios, apregoando promessas e mostrando um optimismo ébrio.

16.6.09

Jamais

TGV na gaveta. Pelo menos até ver, o bom senso forçado lá chegou ao governo. Confesso um enorme gozo em ver o ministro Lino das certezas a recuar nas suas decisões inabaláveias e definitivas.

O quereres

Sócrates quer maioria absoluta para governar sozinho.
Eu, cá por mim, quero o primeiro prémio do Euromilhões. E até pode nem ser sozinho.

7.6.09

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Bem organizada esta coisa de já estarem a apresentar sondagens para as Legislativas que ... coisa estranha, dão vitória ao PS, assim como todas as que foram feitas antes destas europeias. Acreditará quem quer, mas a ver na exactidão destas...

Vale a pena pensar nisto

4,65% de votos em branco. Talvez desse para eleger um deputado.

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I de repente tudo mudou.

Copyright de um amigo meu no Facebook.

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Hoje pode ser o princípio do fim.

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Afinal é possível.

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A grande diferença entre Rangel e Vital é definitivamente a humildade. Bem à vista no discurso de vencedor de Rangel.

Intolerável

Para as nossas televisões parece que em Portugal só há cinco partidos. Ainda não vi um único resultado de pequenos partidos, nulos e brancos.

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Estou muito preocupado com a possível extinção dos sapos ao longo desta noite. Andam a ser engolidos por tanta gente do PS e do PSD que temo que desapareçam com demasiada rapidez. 

Ilusionismo

Parece que os espelhos multiplicadores de gente presentes nos comícios do PS afinal eram mais elaborados do que parecia. Fica a dúvida se não eram mesmo imagens virtuais.

Preocupante

No século XXI, BE e a CDU têm juntos mais de 20% dos votos.

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Alguém chamará incompetentes ou manipulados aos institutos que debitaram sondagens absolutamente erradas durante semanas a fio?

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Será que os resultados se devem a uma campanha negra ou a uma urdidura?

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Vital Moreira discursa e parece mais despenteado do que o costume. Além de votos, parece que faltou laca.

Enorme boa disposição

Regozijo com os resultados provisórios das eleições. 

2.6.09

Países tristemente diferentes

Uma música dos Xutos volta a não passar na telefonia. Os sorrisos de Moura Guedes são tidos como uma forma de má jornalismo. A palavra “corrupto” é banida de uma entrevista à RTP.
Em Inglaterra, uma investigação do Daily Telegraph levou ao rebentar de um enorme escândalo político. Não ficou presa por acusações de mau jornalismo, se houve pressões, em nada resultaram, e ninguém saiu à rua, com desplante, a gritar por campanhas negras, urdiduras ou cabalas. Ah! E os visados demitiram-se.

Porque ainda há fado. E cada vez mais.



Carminho, "Escrevi teu nome no vento".

1.6.09

Coisas que valem a pena – Sobre a República

Vasco Pulido Valente em entrevista ao Correio da Manhã (António Ribeiro Ferreira) e ao Rádio Clube Português (Luís Claro).

ARF - Vamos comemorar os 100 anos da República. No livro que lançou, sobre no período de 1910 a 1917, é muito contundente com a I República. Diz que foi um regime terrorista. Vamos andar um ano a chamar heróis a cidadãos que usaram o terrorismo?
- Criaram essa República e que conseguiram a partir de 1913 governar em partido único. Esse partido governou sempre, excepto numas interrupções provocadas por golpes militares, pronunciamentos militares, em que usaram, para se manter, métodos terroristas. E que viveu sempre em guerra com o País, guerra aberta com o País.

ARF - E porque é que se comemoram os 100 anos?
- Eu sei porque é que se vai comemorar isso. Porque a República teve uma reabilitação póstuma, que foi a reabilitação salazarista. Como os republicanos eram contra o Salazar e havia muita gente que era contra o Salazar começou-se a achar que a República era boa porque era antisalazarista. Porque os republicanos, certos republicanos, eram antisalazaristas e começou a criar-se a lenda de que se a ditadura salazarista era má a ditadura republicana, a que ninguém chamava ditadura, era boa. Hoje em dia passa por ter sido um regime muito meritório que não foi. Ainda por cima, o nome oficial da República era República Democrática Portuguesa. Tinha lá aquela coisa, mas aquele democrático estava ali como estava nos países comunistas.

ARF - Coreia do Norte e outros.
- Quase a Coreia do Norte. Não era tanto.

LC - Na sua opinião não devia haver comemorações?
- Não devia haver comemorações nenhumas. É um episódio triste da história portuguesa e não devia haver comemorações nenhumas. Para todos os efeitos foi uma ditadura. A ditadura não nasceu do vácuo, nasceu da República.

Coisas que valem a pena – Sobre o Portugal de hoje

Vasco Pulido Valente em entrevista ao Correio da Manhã (António Ribeiro Ferreira) e ao Rádio Clube Português (Luís Claro).

LC - Disse que se estivesse no lugar de José Sócrates se demitia, que não teria condições para ocupar o cargo. Acha que José Sócrates não tem condições?
- A premissa está errada. Se eu estivesse, eu nunca estaria no lugar de José Sócrates. Isso é uma coisa de imaginação, chamada de imaginação histórica. Mas contando que é um acto de imaginação histórica eu, de facto, se estivesse no lugar de José Sócrates preferia perder as eleições e ir para casa.

LC - Mas porquê?
- Porque ele esgotou as soluções que tinha e ele esgotou o crédito que tinha, sobretudo. Lembra-se do crédito que tinha há quatro anos? O homem inflexível, o reformador, o intransigente, o homem que não parava, o homem que ia mudar tudo e veja o estado em que está o País agora.

ARF - Exacto.
- Sem a reforma do Estado, com o défice muito pior do que tinha, a Justiça no estado em que está, não fez nada, não reformou nada, há o Magalhães e há o simplex e há assim umas coisas. Eu disse essa frase porque o crédito que ele tinha há quatro anos esgotou-se, ele esgotou-se como político, o crédito que ele tinha há quatro anos já não o tem e já não o torna a ter. Já ninguém vai reagir ao engenheiro José Sócrates como reagiu há quatro anos, com esperança, mesmo na direita. Em todo o PS e em grande parte do PSD e da direita. E isso acabou.

LC - Considera a maioria absoluta essencial para o País? Prevê um período de instabilidade se o PS não tiver maioria absoluta?
- Eu não prevejo, eu suspeito que o PS não vai ter maioria absoluta.

LC - Isso é um problema?
- Pode ser que seja um problema, mas não considero que seja um drama. A gente não pode estar a voltar ao partido único com duas cabeças, bicéfalo, o PSD e PS, para a necessidade que agora se está a querer fazer passar de que é preciso uma maioria. Ou seja, nós só podemos viver com partido único. No fundo, o que nos estão a dizer é que nós só podemos viver com um partido único.

ARF - Só somos viáveis com um partido único.
- Portugal só é viável com um partido único. Eu recuso-me a aceitar isso.

LC - Encontra alguma possibilidade, ou haja que é desejável, de alianças no próximo mandato?

- Eu não sei, não sou político, falta-me muita informação sobre o estado do País. Também falta aos políticos, é verdade que sim, mas eles têm maneiras de as arranjar mais facilmente do que eu. Falta-me informação sobre o estado do País, falta-me informação sobre o estado dos partidos, que eles com certeza têm. E só com essa informação é que eu poderia dizer que certas alianças são ou não possíveis.

LC - No caso do PS, historicamente, a coisa não tem resultado bem.

- Há tantas soluções possíveis. Falta discutir. Deixar de fazer disto um drama e discutir. Vamos ver como é que a gente resolve este problema. Calmamente. Tranquilamente vamos ver como. Ou então a gente diz assim: nós só podemos ser governados por um partido. De quatro em quatro anos temos de arranjar um partido. Uma ditadura de quatro anos se não o País não funciona. Não. Recuso isso.

28.5.09

Primavera



Parece que enfim a primavera chegou. Isto levou-me, vá-se lá saber porquê, à música barroca. Ando a ouvir Monteverdi e descobri estas imagens de uma encenação fabulosa do Orfeu, com direcção de Jordi Savall. Logo me lembrei do privilégio que foi assistir a uma versão concerto, também dirigida também por Savall, no Teatro Liceo de Salamanca, quando esta cidade foi Capital Europeia da Cultura e eu tive a imensa sorte de por lá viver. Assisti com um grupo de amigos que me visitavam e que não sabiam bem ao que iam. Alguns adormeceram, outros acharam bonito, mas chato, e outros ainda gostaram bastante. Eu gostei muito, mas depois de ver estas imagens fico com uma boa dose de inveja por não ter assistido a uma versão integral, em particular esta.



25.5.09

Coisas de línguas


Depois do inglês técnico apurado, chegou esta coisa de difícil catalogação. Fico na dúvida se é galego com sotaque mirandês ou alentejano com sotaque catalão. Talvez ainda nos espere um franco-argelino com sotaque de Bordéus, ou um alemão com acento vienense da zona do Prater.

21.5.09

In memoriam – João Bénard da Costa (1935 – 2009)

Voz cavernosa, cigarro acesso, discurso sábio e decidido. Assim me foram apresentados alguns dos grandes clássicos da sétima arte. Prosa rica, profunda, culta e apaixonada. Assim se escreveram na nossa língua as mais belas linhas sobre cinema. O tempo verbal passado infelizmente é agora o adequado.
Partiu o Senhor Cinema, partiu para o outro mundo em que acreditava. A imagem afasta-se de uma vasta paisagem em branco e negro e uma sinfonia de Mahler toca ao fundo. No ecrã aparecem vários amigos a receberem-no de braços abertos: James Stewart, John Ford, Vincent Minelli, Grace Kelly, Ingrid Bergman, Farley Granger, Alfred Hitchcock, e muitos e muitos mais. As cores misturam-se com o preto e branco e nenhuma voz se atreve a dizer “corta”. Será uma cena para a eternidade.

14.5.09

Haja decoro

A senhora já tinha tentado explicar, com pouco sucesso, a presença simultânea nas eleições para o parlamento europeu e nas autárquicas no Porto. Tentou, mas acho que só fanáticos do partido podem entender tamanho desrespeito pela democracia e pelos eleitores. Depois, disse que a presença nas listas europeias era apenas “para fazer número”, o que bem mostra o seu respeito pelas instituições. Não contente, veio depois, em acção de campanha, justificar que determinadas obras efectuadas no Porto – consta que umas pinturas nuns bairros – foram feitas com dinheiro do Estado, do PS. Não fora a sério, e dito em público, e poderia ser apenas uma brincadeira, infelizmente foi mesmo a sério.
Esta gente acha mesmo que o Estado é o partido e o partido o Estado, esta mesma gente que diz que precisa da maioria absoluta em nome da estabilidade. Já ouvi chamar muitos nomes a isto, estabilidade não me parece o mais adequado, nem como eufemismo para um assalto ao que é de todos nós, por gente sem escrúpulos e sem a menor noção da coisa pública. O Estado não pode ser uma empresa sujeita a OPA’s por parte do poder político, muito menos feita com este descaramento. A senhora Elisa Ferreira vem demonstrando, sem ajuda de oposições, toda a sua falta de decoro. Os eleitores que pensem bem se é esta a maneira certa de fazer política e se esta triste personagem merece o seu voto. Caso mereça, é bem justo chorar por uma democracia em que o povo se comporta uma criança irresponsável.

Onde estão os modernos

Gostava de saber onde anda a gente moderninha, sempre pronta a disparar impropérios contra o Papa, seja a propósito de preservativo, seja por declarações em Ratisbona, seja por qualquer outra coisa. Onde andará essa “inteligentzia” sempre pronta a atacar a Igreja nem que para isso invente pretextos. Gostava de saber onde anda e qual a sua opinião sobre as declarações do Papa, ontem em Belém. Gostava de saber o que acham da sua posição sobre o muro de Israel e o Estado Palestiniano. Gostava de saber, só para perceber se o seu antagonismo com a Igreja só tem a ver com discordâncias de facto ou se deve a um qualquer problema com a instituição. Gostava de saber se são tão capazes de dizer bem, como de criticar, uma instituição à qual não pertencem e à qual tentam insistentemente impor as suas ideias. Gostava de saber, apenas para registo.

Triste país o nosso

Caso Cavaco Silva não vete a obscena lei de financiamento dos partidos.

Triste país o nosso

Lopes da Mota continua em funções. Sócrates pede calma. Cândida Almeida continua a ser a responsável pelo processo Freeport.

11.5.09

O tamanho interessa?

O magnífico país moderninho deu mais um passo e direcção ao seu ideal com a abertura do maior centro comercial da Europa. Este país do “maior que”, em que a obsessão com o tamanho poderia ter interessantes interpretações do senhor Freud, ao ponto de se especular se esta gente anda, para dizer o mínimo, com má cama. Tudo tem de ser o “maior”, seja a feijoada na ponte, o aeroporto, os quilómetros de auto-estrada, a torre de Alcântara ou o centro comercial. Claro que a grandeza (quantidade) é privilegiada em relação à qualidade, continuando por isso a sermos um país periférico e pobre que vive de com obras faraónicas. Freud ia-se divertir mesmo muito com este país, ia deliciar-se com a análise sobre rapidinhas pouco intensas, sobre tamanhos mal usados, sobre a falta de qualidade. Portugal é cada vez mais um país de machos bem dotados que se julgam muito viris, mas completamente incapazes de oferecerem um orgasmo decente a uma mulher.

A Sesta

Esparramava-me ontem pelo sofá, enquanto ouvia, com som baixo, a repetição de “O Eixo do Mal”, na SIC Notícias. Recuperava de uma noite divertida acabada a horas tardias e deixava o corpo e o cérebro repousar. Ia ouvindo sem muito ouvir as coisas que os comentadores diziam. Até que o tema passou às touradas e às câmaras municipais que se declararam anti.taurinas. Despertei então os sentidos, pois o tema interessa-me bastante como aficionado. Começou Pedro Marques Lopes, que disse que nem gostava de touradas, mas que era intolerável a sua proibição por parte das câmaras e que contrariava as liberdades em relação a um espectáculo que é tradição e património português. Até aqui tudo normal num liberal, mas o seu remate de apoio às corridas de morte despertou-me um pouco. Seguiu-se Luís Pedro Nunes que concordou, o que me começou a surpreender. Seguia-se Clara Ferreira Alves, de quem esperava uma postura condenatória ao estilo esquerda urbana. Surpresa que me acordou, CFA defendeu convictamente as touradas e também os touros de morte. Enalteceu a sua importância cultural para o país e criticou as câmaras. Estava já bem acordado quando tomou a palavra Daniel Oliveira. Esperava aqui a posição típica do bloquista – urbano – intelectual – classe média alta – alter globalizado. Daniel Oliveira começou por dizer que não tinha uma posição igual aos restantes porque…era aficionado. Sentei-me de imediato com uma incredulidade que me fez saltar tipo mola. Prosseguiu, explicando que as câmaras não proibiram a execução de espectáculos, mas sim o apoio aos mesmos, o que está certo e se coaduna com ano eleitoral em municípios sem tradição taurina. Encerrou com o apoio total às touradas e com a veemente condenação a qualquer proibição. Nuno Artur Silva contrariou dizendo que estava em desacordo com todos, ao que logo foi contraposto por Daniel Oliveira dizendo que “da carninha que comes já gostas, aquela que vem de vacas que vivem em cubículos desde que nascem até que morrem.”
O programa foi uma lição sobre o preconceito. Não esperava ser fácil estar de acordo com Daniel Oliveira em qualquer assunto. Encontrei finalmente tema de conversa. Já o posso conhecer sem o embaraço da falta de tema de conversa. Dos restantes esperava uma posição politicamente correcta e asséptica, urbana e distante, intelectualmente arrogante perante a tradição. Enganei-me. Penitencio-me por isso. Não segui os meus princípios cristãos e julguei sem conhecer. Posso, apesar disso, acabar com um “ainda bem”, é que isso se deve a estarmos todos de acordo neste ponto. Ainda bem.

8.5.09

Grande música para um dia cinzento

Tracey Thorn (Everything but the girl) e Jens Leckman numa versão de "Yeah! Oh Yeah!" dos Magnetic Fiends.

"Are you out of love with me?
Are you longing to be free?
Do I drive you up a tree?
Yeah! Oh, yeah!

Do I drive you up the wall?
Do you dread every phone call?
Can you not stand me at all?
Yeah! Oh, yeah!

Though I need you more than air
is it true you just don't care?
Are you having an affair?
Yeah! Oh, yeah!

When we met I thought
money was everything
so I let you buy the house,
the car, the ring
but I can't take your perpetual whining
and you can't sing

I though if we live apart
we could made a brand-new start
Do you want to break my heart?
Yeah! Oh, yeah!

I've enjoyed making you
miserable for years
found peace of mind in
playing on your fears
How I loved to catch your gold
and silver tears, but now my dear

What a dark and dreary life
Are you reaching for a knife?
Could you really kill your wife?
Yeah! Oh, yeah!

Oh, I die, I die, I die!
So it's over, you and I
Was my whole life just a lie?
Yeah! Oh, yeah!"

5.5.09

Ouvir coisas boas

Havia já alguma nostalgia do tango. Um incessante reouvir de discos com sotaque “porteño” desta e de outras eras. O tango é música que se entranha e nos envolve no seu charme encantatório. Foi assim, ontem, no S. Jorge. Concerto de Daniel Melingo, intérprete do tango “de calle”, porteño, genuíno. Momentos de transporte espacial a um bas-fond de San Telmo, Corrientes ou Arenales. O fumo artificial a substituir o dos cigarros e o silêncio do público em vez do barulho de copos e pedras de gelo. Matar saudades da personalidade única de Buenos Aires, desta música que é coisa de alma, de vida. Melingo é presença melíflua e felina, teatral e cativante, voz de barítono arranhada por tabaco e noite, com cicatrizes de vida. O tango, assim, flui natural, com a voz como extensão do corpo, da alma, de vidas e tempos passados. Histórias de canalhas e malandros, de vidas perdidas ou tortuosas, ironias do destino. O calão “callejero”, por vezes ininteligível, marcando o sotaque inesquecível a quem já teve o gosto imenso de passear pelas ruas “porteñas” com o seu som já ele cantado e doce.

Ouvir coisas boas


O novo disco de “Os Golpes”, “Cruz vermelha sobre fundo branco” anda a tocar em repeat no meu computador. O lançamento na passada sexta-feira, no Santiago Alquimista, mostrou uma banda surpreendentemente madura e profissional, que conseguiu um admirável concerto num ambiente mais do que familiar e que com facilidade se tornaria uma brincadeira entre amigos.
Rock sério, muito anos oitenta, muito num imaginário “Heróis de Mar”, muito lusitano. Letras na nossa língua, guitarras britânicas aguçadas, ritmo por vezes marcial. Grande música bem portuguesa que, caso seja devidamente divulgada, terá de ser caso de sucesso. A “Marcha dos Golpes” concorre para ser das melhores músicas em português dos últimos anos, com potencial de hino para uma geração:



“Gerados por uma pátria ausente,
Buscamos um tempo transparente.

Olhar claro,
Olhar limpo,
A dança começa.

Olhar claro,
Olhar limpo,
A dança começa na estrada vazia.

A vida corre inteira pelas nossas mãos
A morte morre inteira pela força das nossas mãos.”

Palavras curtas e certeiras, afiadas, neste “folclore disfarçado de Roque Ene Role”. Apetece dizer que o rock português, cantado em português, com marca profunda de Portugal, está vivo, e o seu futuro passa, certamente, por aqui.


P.S.: No concerto tocaram também uns ainda verdes “Capitães da Areia”, onde se destacou um poderoso baterista, e uns mais rodados “Os Velhos”, que mostraram música interessante e prometedora.

27.4.09

São Nuno de Santa Maria

NUN'ÁLVARES PEREIRA

Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
faz que o ar alto perca
seu azul negro e brando.


Mas que espada é que, erguida,
faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
que o Rei Artur te deu.


'Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
ergue a luz da tua espada
para a estrada se ver!

Fernando Pessoa in "Mensagem"

25.4.09

Cumprir Abril

Seria de grande interesse que o Estado português aproveitasse o novo acordo ortográfico para definir a expressão "cumprir Abril". As cerimónias comemorativas do 25 de Abril seriam assim mais perceptíveis às novas gerações que em 74 ainda eram crianças ou não tinham nascido. Isto porque, ano após ano, ouvimos gente diferente a usar esta expressão de forma muito diferente.

Será cumprir Abril o estabelecimento de um estado com (real) liberdade?
Será cumprir Abril recuar ao pré 25 de Novembro?
Será cumprir Abril voltar às expropriações?
Será cumprir Abril consolidar um estado (realmente) democrático?
Será cumprir Abril perseguir o socialismo real?
Será cumprir Abril voltar ao poder militar?
Será cumprir Abril a luta por uma classe política decente?
Será cumprir Abril perseguir todo e qualquer "capital"?
Será cumprir Abril conseguir mecanismos de controlo da comunicação social?
Será cumprir Abril ter um sistema judicial justo, independente e igual para todos?
Será cumprir Abril persistir em ter a URSS como modelo a seguir?
Será cumprir Abril viver num Estado governado pela construção civil?
Será cumprir Abril a entrega progressiva de soberania a Bruxelas?
Será cumprir Abril recompensar criminosos em nome do seu papel em Abril?

Afinal, o que será cumprir Abril? A gente mais nova agradece uma resposta.

23.4.09

Submerso em vergonha

Há dias em que a vergonha nos assalta. Há dias em que pedir desculpa pelo país não basta. Há dias em que uma nuvem de nojo oculta os possíveis raios de sol. Há um país que recebe criminosos em nome do dinheiro como uma puta desesperada. Há um país que encobre como pode o assassinato sobre um primeiro-ministro. Há um país que condecora bombistas que para sempre levarão sangue nas mãos e quanto a isso não se arrependem. Há um país que tem por referência criminosos julgados nos tribunais e que roubaram e mataram em tempos de democracia. Há um país que ainda não aprendeu a viver com a democracia, com as memórias da revolução, com a ausência da ditadura sonhada por alguns.

A propósito das seguintes palavras:

"O crime compensa

Otelo Saraiva de Carvalho foi o líder operacional das FP-25 de Abril. Este facto foi julgado e provado em tribunal. Entre os crimes de que foi acusado, estavam o assassinato de 17 pessoas, de uma forma fria, brutal e cobarde. Apesar disso, Otelo foi promovido a Coronel por despacho conjunto do Ministro da Defesa e das Finanças.
Entre as vitimas, estava o meu Pai, Gaspar Castelo-Branco, Director Geral dos Serviços Prisionais, assasinado a sangue frio, de forma cobarde, com dois tiros na nuca. Apesar da sua coragem e sentido de dever, Gaspar Castelo-Branco, foi ostensivamente esquecido pelo poder vigente. No ano da sua morte, foi proposto para uma condecoração, recusada por Mário Soares.
Hoje, Otelo é promovido a Coronel, com uma indemnização superior aquela que receberam as famílias das vítimas que assassinou. Não vale a pena expressar ainda mais a minha vergonha, revolta e incompreensão. Este Ministro que o promoveu, não tem memória nem vergonha, não merece o meu respeito nem dos Portugueses.

PS
Gaspar Castelo-Branco não foi assassinado por se opor ou discordar das FP-25 Abril, mas porque no exercício da sua função, ao serviço do Estado, cumpriu o seu dever, acatou ordens com coragem e sentido de dever. Era o homem certo no lugar errado e por isso foi morto. Foi o mais alto funcionário do estado a ser vitima dos terroristas das FP-25 de Abril."
Manuel Castelo-Branco in 31 da Armada

21.4.09

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Morreu J. G. Ballard. Não conhecia a fundo a sua obra, mas li, e reli, um livro seu de que muito gostei e me marcou. Foi um dos casos em que o filme em nada era inferior ao livro, apesar de ser obra relativamente mal amada. Falo de “O Império do Sol”. Grande livro, ainda mais cru do que um filme. Nas mãos de Spielberg tornou-se, por motivos vários, um dos filmes da minha vida. As interpretações de Christian Bale, como Jim, e de John Malkovich, como Basie, são inesquecíveis e a sua história de sobrevivência é contada de uma forma belíssima. Ficaram na memória muitas e muitas cenas de um filme onde Spielberg mostrou toda a sua genialidade para além dos efeitos especiais e dos filmes fantásticos. Acho que vou aproveitar hoje para procurar a cassete de VHS e rever de novo. Foi a primeira cassete original que comprei, assim como foi o primeiro cartaz de um filme que esteve na parede do meu quarto. Ainda mantenho os dois, como parte importante das minhas memórias de adolescência.

20.4.09

Diálogos Imaginários

(Sábado. Na neve.)

– Charles, agora que já bebemos café, vamos subir para as cadeirinhas.
– Com certeza, menino. Tenho tudo combinado com o Anselmo. Eu ficarei cá em baixo para entregar as mantas e ele ficará no cimo para as receber. Assim poderão fazer a travessia mais quentes.
– Magnífico, Charles. Ainda bem que os meus amigos trouxeram o Anselmo, assim sempre podem dividir o trabalho.
– Também já preparei dois termos, um com Oolong e outro com Marco Pólo. Penso que sejam chás adequados para retemperar as temperaturas após as descidas das pistas. O Anselmo trouxe algumas bolachas inglesas e scones com compota de whisky.
– Muito bem, tudo me parece estar bem organizado, Charles. Também gostei do que espreitei na cesta do pic-nic. Boa escolha de champagne, presunto de Guijuelo bem cortado, “caña de lomo” de óptimo aspecto. As tapas parecem deliciosas.
– Era uma surpresa, mas ainda bem que está a seu gosto.

Palavras de outros

"Notícia é só aquilo que alguém quer esconder"

A noite de sexta-feira foi frenética nas redacções por todo o país. Às 20 horas, a TVI mostrou a gravação onde Charles Smith é, pela primeira vez, visto e ouvido a descrever um acto de corrupção no licenciamento do Freeport. Um por um, jornais, rádios e TV tentaram obter comentários do gabinete do primeiro-ministro. Tornou-se clara a linha oficial de controlo de estragos dos operadores de média do Governo: nada havia de novo na transmissão da TVI, o primeiro-ministro considerava falsas as afirmações feitas no DVD e tencionava processar quem o tinha difamado.
Com mais ou menos emotividade e calor, os assistentes do primeiro-ministro contactados mostraram também o seu desagrado pelas intenções da Comunicação Social de considerar o DVD da TVI peça importante na cobertura noticiosa do caso Freeport. É de facto muito importante. O DVD do Freeport é o equivalente às gravações do Watergate que fizeram cair Nixon. Foi na consciência disso que, para desgosto dos conselheiros de São Bento, vários órgãos de Informação optaram por reproduzir excertos do scoop da TVI. Outros não. Todos estão no pleno direito de exercer o seu juízo editoral.
Assim, nos dias seguintes, quem passasse os olhos pelos jornais, ouvisse rádio ou seguisse a TV, inevitavelmente seria informado da notícia que a TVI tinha originado. A liberdade de expressão funciona assim, validando-se nesta diversidade de opções que serve o interesse público. O fundamental é que o continue a fazer em total liberdade porque, com os casos do Freeport e do BPN em roda livre e manifestamente longe de uma conclusão, há incógnitas e suspeitas transversais a todo o Estado, e a democracia tem-se vindo a esboroar. Isto não é uma só questão filosófica. É contabilística também. Os economistas sabem projectar os custos da corrupção no quotidiano das dificuldades dos portugueses. Neste mundo do dinheiro público aplica-se muito bem a lei da química de Lavoisier - nada se cria nem se perde, tudo se transforma. O problema está nessa transformação. Se no Freeport ou no BPN alguém fica com dinheiro subtraído aos lucros dos promotores, ele não entra nos impostos e não se transforma em bem-estar social. Os roubos já conhecidos no BPN (mais de dois mil milhões) e os quatro milhões que a Freeport detectou que tinham desaparecido das contas do seu investimento em Portugal deviam ter passado pelo circuito fiscal e ter sido transformados em bem-estar geral nacional. Foi dinheiro do Estado que foi roubado e, se não fosse a Comunicação Social com os seus exageros e exactidões, a sua pluralidade e o seu sectarismo, a sua independência e o seu clubismo fanático, por vezes tudo manifestado na mesma publicação, nada se saberia e o país empobreceria ainda mais depressa. Claro que é preocupante ter a democracia de um Estado dependente de um só sistema, aparentemente tão frágil e anárquico. Mas neste momento é o que nos resta. Entre segredos de justiça e segredos cúmplices, o Estado tem-se vindo a desrespeitar. O DVD do Freeport foi escondido durante anos, ocultando a verdade ou parte dela. Cinco processos judiciais contra jornalistas depois, é conhecido. Nada pode ficar como dantes. Como Bob Woodward disse, "notícia só é aquilo que alguém quer esconder. Tudo o mais é publicidade".
Há demasiada publicidade em Portugal.

Mário Crespo no Jornal de Notícias.

As imagens da campanha negra.

16.4.09

Fundo do Baú

O Fecebook tem trazido uma divertida corrida ao fundo dos baús e uma disputa de vídeos nostálgicos dos tempos em éramos jovens inconscientes. Coisas entre amigos, mas que não resisto a trazer também para o blog.
Hoje fica Madonna nos seus tempos mais jovens.

15.4.09

Títulos possíveis para um post

Porque ainda há cinema.
O filme do ano.
A complexidade da natureza humana.
Um mundo de homens imperfeitos e complexos.
Walt Kowalski, uma das melhores personagens criadas pelo cinema dos últimos anos.
Uma interpretação para a história do cinema.
Clint Eastwood insiste em querer a perfeição.
Cinema sério. Cinema a sério.
Perder este filme é um erro profundo.
Mais uma obra-prima do maior cineasta clássico vivo.
Um filme mais para a eternidade.
Simplesmente Genial.
O triunfo da simplicidade complexa.
O derradeiro personagem de Eastwood ficará perpetuado na memória.


O post seria sobre o filme “Gran Torino”, de, e com, Clint Eastwood.

Gran Torino



“Youa: You're funny.
Walt Kowalski: I've been called a lot of things, but never funny. “

“Mitch Kowalski: What would I want?
Walt Kowalski: I don't know... Your wife's already gone through all of your mother's jewelry.“

“Walt Kowalski: [to Father Janovich] I think you're an overeducated 27-year-old virgin who likes to hold the hands of superstitious old ladies and promise them everlasting life.”

13.4.09

Ouvir coisas boas

Ando em fase de pop-rock português independente. A ouvir “Os Quais” e os “Pontos Negros”, à espera do primeiro disco de “Os Golpes”.

“Hoje anuncio que me despeço,
À procura de um país de árvores”

Na música “Caído no ringue”, de "Os Quais", sobre um improviso de John Coltrane, declamado por José Tolentino Mendonça.

8.4.09

Páscoa

Este blog irá passar a restante Semana Santa às terras de origem. Procissões antigas e envelhecidas. Cerimónias dolentes. Tempos de recolhimento.

6.4.09

Música boa

Marisa Monte



"Amor I Love You" (Marisa Monte e Carlinhos Brown)

Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu pensar em você
Isso me acalma, me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Hoje contei pras paredes
Coisas do meu coração
Passeei no tempo, caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão

É um espelho sem razão
Quer amor, fique aqui

Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu gostar de você
Isso me acalma, me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Hoje contei pras paredes
Coisas do meu coração
Passeei no tempo, caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão

É o espelho sem razão
Quer amor, fique aqui

Meu peito agora dispara
Vivo em constante alegria
É o amor que está aqui

Amor I Love You

Tinha suspirado

Tinha beijado o papel devotamente.

Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades

E o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas

Como um corpo ressequido que se estira num banho tépido.

Sentia um acréscimo de estima por si mesma,

E parecia-lhe que entrava enfim

Numa existência superiormente interessante

Onde cada hora tinha o seu encanto diferente

Cada passo conduzia a um êxtase

E a alma se cobria de um luxo radioso de sensações*

* Trecho do romance "O Primo Basílio", de Eça de Queiroz, recitado por Arnaldo Antunes.

3.4.09

Hexabomba

Para comemorar os seis anos da Bomba Inteligente, aqui fica uma Milonga Sentimental, em versão dos "Otros Aires".

2.4.09

Postais atrasados



Primeiras horas do ano na Praça de São Marcos em Veneza.
Sob a suave neve que caía, testemunho uma cena romântica. À medida que os anos passam eles parecem empedernir o coração e trazem o cinismo perante as manifestações exteriores de amor. Ainda assim algo no fundo de nós resiste e não contém a candura perante a felicidade alheia. Nestes momentos percebemos que não somos ainda um caso perdido no mar infinito da vida celibatária. Sentimos a possibilidade de nos cruzarmos com uma ilha, talvez nova, talvez conhecida, talvez já explorada, uma ilha que nos mostre um porto de abrigo no qual ainda sejamos capazes de aportar.

Palavras de outros

“A doença do crescimento tomou conta da economia há muitos anos mas só agora se lhe reconhece o carácter de catástrofe. A imprensa espanhola fala de uma crise abominável no sector automóvel – parece que se venderam menos 450 mil carros do que no ano anterior e o alarme soou, gravíssimo. Os economistas de serviço (uma espécie de astrólogos de segunda categoria) choram, temendo desemprego e recomendando subsídios para a indústria automóvel. Recomendo ao leitor que imagine um milhão de carros novos vendidos todos os anos em Espanha e veja se não é um exagero. A doutrina do crescimento infinito, grata aos economistas e políticos, é que nos levou à crise, de bolha em bolha, exigindo mais camas ocupadas nos hotéis, mais livros vendidos nos supermercados, mais máquinas de lavar vendidas nas lojas, com menos população, pedindo mais população para poderem ser cobrados mais impostos. A economia, como a deixaram os anos noventa, em crescimento infinito, precisa de mudar. O mundo precisa de viver de outra maneira. Com menos crescimento infinito.”

Francisco José Viegas in “A Origem das Espécies”

31.3.09

País estupendo

Recordo o post sobre a Máfia ao saber que Domingos Névoa foi nomeado – repito, nomeado – para presidir à empresa intermunicipal Braval. Conclui-se que para o presidente da Câmara de Braga, assim como para os outros municípios, o pormenor do senhor ter sido condenado – e não apenas arguido, ou réu – por corrupção em nada interfere as suas capacidade para gerir uma empresa de capitais públicos. Estou a ficar repetitivo, mas a falta de lata está a atingir níveis próximos da demência.

30.3.09

Versões

Gosto muito de versões. Manias minhas. Já por aqui deixei várias versões desta música, mas agora descobri uma mais de que gostei muito.
“Ne me quittes pás”, pela brasileira Maysa, cuja voz sofrida traz ainda mais desespero a esta canção.

Coisas preocupantes

Admitir que as melhores críticas ao governo são feitas por Alberto João Jardim.

Notícias boas

O MEC está na blogosfera.

A Máfia que faz falta

Quando olho pela janela o sol a brilhar sobre Monsanto, ao mesmo tempo que vou olhando as notícias no computador, penso na falta que faz uma Máfia séria em Portugal. Não pretendo com isto dizer que seja preciso mais crime, ou violência, mas sim algo que organize subterraneamente o país e que concretize a inutilidade da política. Neste país que é o meu, insistimos em falar de estabilidade governativa, na importância das maiorias, dos governos que cumpram mandatos. Em Itália, alturas há em que os governos mudam mais depressa que os treinadores de futebol das equipas portuguesas. Terá isto impedido Itália de ser uma potência europeia e um país bem mais civilizado do que nós?
A cada dia que passa nos apercebemos que somos governados por uma pseudo-máfia do bloco central que insiste em manipular o país para proveito dos seus membros dos próprios partidos. Houvesse uma Máfia séria e os partidos seriam irrelevantes e ela actuaria apenas para proveito dos próprios, atirando os partidos para a irrelevância que indiscutivelmente merecem. Nós por cá temos o Avelino a ser absolvido, o Isaltino quase, a Felgueiras também e o Domingos Névoa foi declarado culpado de corrupção e teve de pagar uns excessivos 5000 Euros. O primeiro-ministro tem sobre si uma acusação de corrupção e um conselheiro de estado está envolvido em negócios incríveis.
Venha a Máfia, a séria, privada e discreta. Venha alguém que ajude o país por fora do sistema, porque por dentro já percebemos que vai ser impossível.

23.3.09

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Brancos ainda não intensos, alguns pontuados de amarelo, Verde, muito verde. Os encarnados e roxos esperam por mais sol. Falo dos campos do Alentejo, claro.

A lata

Andamos a aprender com este governo que está na moda ter lata. Não pelos melhores motivos, é certo, mas o descaramento tomou conta do país. O que dantes se fazia com discrição é hoje feito sem pudores. Enganar, mentir, manipular, roubar. Ficámos agora a saber que a moda chegou à arbitragem e foi bem assimilada por Lucílio Rodrigues. O roubo de Sábado entra nos anais do descaramento e mostra que este árbitro está, sem dúvidas, na moda. Sugiro convite para desfile no Portugal Fashion.

20.3.09

Fim-de-semana

Faz parte desta altura do ano ser repetitivo. Ano após ano em que me desloque ao Alentejo no início primavera volto a falar do assunto. Inevitável. Nem vagamente sou imune ao esplendor cromático dos campos, à sua beleza bucólica e vasta. A vastidão é hoje menos impressionante depois de ter estado em terra realmente vastas, longínquas e quase infinitas. Ainda assim é a nossa vastidão, pequena, limitada, humilde e simples. Também muito nossas são as cores, aquelas cores indefiníveis e que choram por não terem tido um Van Gogh que as perpetuasse. A serenidade invade os olhos de quem pode admirar esta natureza que sempre insiste em nos surpreender, seja por formas inauditas que empresta a troncos de sobreiros, seja por um novo pantone de roxos que aplica em herbáceas. O Homem prudente não estragou aqui a oferta que Deus em bom dia lhe deu. Preserva, tira partido e também, como se tal fosse possível, melhora em alinhamentos de choupos junto a linhas de água, escultóricos montes de palha ou singelas casa brancas no cimo de montes.

Coisas difíceis

No espaço de dois dias tive de tentar explicar as declarações de Bento XVI sobre o preservativo e de fazer perceber a alguns católicos modernistas que este papa em quase nada ultrapassa o anterior no que ao reaccionarismo concerne. João Paulo II foi um papa marcante e muito querido, mas entusiasmou mais pela forma do que pelo conteúdo, facto que as pessoas não querem assumir, mas que define, e bem, os tempos imediatos em que vivemos. Bento XVI não me entusiasma, mas também não tem sido um arauto dos tempos medievais como muitos querem fazer crer. Custa-me que, cada vez mais, as diferenças de forma se sobreponham ao conteúdo. Trocar o essencial pelo acessório é característica bem humana, mas tenho para mim que este não é o melhor caminho.

18.3.09

A bem do país

Acho ser esta a altura certa para o primeiro-ministro retirar do governo a Ministra da Educação, uma vez que tem à sua disposição a mais adequada substituta. Com Maria de Lurdes Rodrigues com a popularidade nas ruas da amargura, este devia ser o momento da insigne Margarida Moreira ascender a ministra. Depois das últimas notícias vindas de Barcelos, esta senhora seria a pessoa certa no lugar certo: “Margarida Moreira a Ministra da Educação”.

13.3.09

Estado do sítio

Os plátanos rebentam e o alecrim já tem flor. Cheira a primavera. Os sorrisos voltam a aparecer. Ontem, o fim de tarde teve ar cosmopolita num sofá com vinho branco em esplanada no centro de Lisboa. Assim dá gosto viver e esquecem-se as coisas desagradáveis, o que é bastante agradável. O fim-de-semana traz ideias de boa vida entre praia ou esplanada, deixando a casa sossegada no seu canto, também ela a descansar.

Complexos

Tenho pouca paciência para complexos. Acho que devem ser tratados e pronto. Assim, estou constrangido com a cabal expressão de complexo colonial que o meu país está a mostrar. A transmissão em directo do banquete de recepção à comitiva angolana no Palácio da Ajuda foi, além de saloio, mais um reflexo de algumas más consciências da descolonização. Reconhecer erros pode ser bom, mas querer passar, a todo o custo, de colonizador a humilde colonizado, é um insulto para um país com quase nove séculos de história.

Luto

Este blog já cumpriu o luto pelos acontecimentos de Munique, no entanto ainda não garante tranquilidade a Paulo Bento caso o destino se encarregue de nos juntar.

10.3.09

A puta

Anda aí por Lisboa um criminoso. Parece que vai ser recebido com honras de estado, com a excepção do Bloco de Esquerda que se recusa a entrar no circo de medíocre qualidade. Talvez seja a primeira vez que concordo com o Bloco, talvez a primeira que me apetece aplaudi-lo. Compreendo que a real-politik exige habilidades diplomáticas e de valores e que Angola é hoje essencial à nossa economia, mas regozijo-me que ainda haja um partido fora do sistema institucionalizado que se permita a não estar na presença deste déspota assassino. José Eduardo dos Santos tornou-se multimilionário a pilhar o seu país e passeia-se pelo mundo com uma displicência que só muitos milhões permitem. Angola é um regime de nojo onde se morre de fome enquanto as senhoras “dos Santos” se passeiam nas melhores lojas de alta-costura deste mundo e o senhor “dos Santos” compra pedaços de Portugal por atacado, sejam terras seja em empresas.
Portugal assemelha-se a uma puta desesperada que a tudo se presta e tudo suporta de um velho lúbrico e depravado, em troca de uns tostões que lhe permitam comprar, numa loja de bairro, um vestido de lantejoulas démodée que lhe permita adquirir o glamour suburbano que lhe é indispensável.

P.S. Lembro que este texto não poderia se publicado em Angola sem graves consequências para mim ou a minha família.

Primavera

Ontem, enquanto caminhava ao lado de alecrins em flor, realizei que já cheira a primavera. O sol brilhava e as preocupações iam-se tornando etéreas. Depois de jantar um tagliatelle com presunto tudo estava bem, até encontrar Medina Carreira em entrevista a Mário Crespo. Passado meia hora ouvia trovões e relâmpagos entravam pelas frestas das persianas. Ainda pensei agarrar no carro e esperar o senhor à saída da SIC para o raptar e manter cativo até ceder a formar um novo partido. Uma vez mais ganhou a inércia, mas se algo mais precisasse para saber que este país perdeu há muito o rumo, aquela meia hora confirmou-o. Não há rumo, nem haverá enquanto formos (des)governados por esta gente. Difícil é não concordar com Medina Carreira, o triste é que, caso não estejamos alienados por qualquer substância ilegal, é mesmo impossível não concordar. Resta chorar, ou então voltar a olhar o sol, cheirar a primavera e deixar que seja a natureza a alienar-nos. No fundo, precisamos mesmo é de algo que nos aliene e que nos impeça de sair pelas ruas a distribuir bordoadas.

6.3.09

Much ado about nothing

A obra de ampliação do Aeroporto Sá Carneiro demorou mais quatro anos do que o previsto e derrapou em 99 milhões de Euros. As notícias sobre este facto são manifestamente exageradas e nem percebo porque se gastou tanta tinta de jornal, afinal este é o parâmetro de normalidade a que nos habituámos nas nossas obras públicas.