29.2.08

Cola

Nos dias que correm dou por mim a olhar com volúpia reprimida para boiões de cola. O motivo nada tem que ver com uma compulsiva vontade de efectuar trabalhos de bricolage, apenas com uma enorme curiosidade sobre os efeitos da inalação de cola, pois consta que é coisa de poderosa alienação. Neste país virtual é cada vez mais necessário recorrer a estímulos artificiais que nos permitam acompanhar o delírio com que somos desgovernados. Enquanto não liberalizam as drogas leves, é difícil encontrar bons cogumelos alucinogénicos e o absinto puro continua proibido, talvez a cola seja uma adequada solução para acompanhar este filme de Terry Gilliam em que se tornou este país da grande modernidade ao nível do norte da Europa, mas onde se continua a morrer de fome e a pobreza alastra.

28.2.08

Música para o fim de tarde



Marisa Monte com Paulinho da Viola. Sem mais, porque palavras não são precisas perante esta mulher. São mesmo desnecessárias. Basta ouvir. E que bom é ouvir.

25.2.08

Das esquerdas

A saída de Fidel deixou muitos, incompreensivelmente muitos, órfãos. Como na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, eis que surge um novo farol para a esquerda com a vitória de Christofias no Chipre. A coisa é tão inédita que deve ser mesmo a primeira vez que um líder comunista chega ao poder através de eleições. Das reais e livres, claro, e não de farsas virtuais tão ao gosto desses democratas.

Real ou virtual

Andam as gentes entusiasmadas a modernidade Socrática apregoada como o caminho da salvação ateia e celebrada há dias na comemoração de três anos de governo “moderno”. Infelizmente vão surgindo demasiadas notícias que desmentem o oásis, tais como saber que Portugal é o segundo país da Europa na exposição das crianças à pobreza. Por este andar, qualquer dia Portugal apenas têm existência no virtual “Real Life” e sob o nome de “West Coast by Nick Knight”.

Sporting perde outra vez

Antes fosse apenas no “Real Life”, na Liga da “West Coast by Nick Knight”, o problema é que não foi, uma vez mais não foi.

21.2.08

Cores de Lisboa

O salmão refulge por detrás de Monsanto, espelhando-se no plúmbeo das nuvens recortadas em fiapos.

19.2.08

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Parece que Pinto de Sousa resolveu despender algum do seu precioso tempo para uma entrevista à SIC. Os portugueses tiveram o privilégio de ouvir as doutas palavras do seu primeiro, respondendo às questões essenciais do país. Disse parece, porque um jantar de amigos me fez ausentar de casa e fiquei assim na ansiedade de não poder enriquecer a minha pessoa com a prédica de Sousa. Li hoje os comentários à entrevista, que me pareceram extremamente facciosos, já que eram quase unânimes a constatar que nada de relevante tinha sido dito e que as questões mais importantes tinham estado ausentes. Não acreditava no que lia, pois depois da exemplar, aberta e corajosa entrevista na RTP, para esclarecer, e cabalmente, o processo da licenciatura, não esperava outra coisa de Pinto de Sousa que não fosse uma clara e frontal entrevista. De facto, ao que chegaram os nossos jornalistas nesta monstruosa cabala urdida contra o PS.

13.2.08

O Bobo da Corte

A grande indignação dos portugueses aquando da remodelação foi a estranha permanência de Mário Lino no governo. Parecia impossível que, depois das trapalhadas em redor da Ota, e da gigantesca desautorização de que foi alvo, o senhor tivesse as mínimas condições para continuar no governo. A resposta a este enigma, que permitirá compreender o bizarro facto de Lino ainda ser ministro, poderá ser encontrada se nos detivermos no processo de decisão sobre a nova travessia sobre o Tejo. Mário Lino já está a adoptar o estilo que usou na decisão sobre o aeroporto: certezas absolutas, dúvidas repentinas, contradições totais, desmentidos de desmentidos. Enfim, uma sucessão de labirínticas declarações perante as quais hesitamos entre rir ou chorar. Com tudo isto eu já tenho para mim a resposta para a perplexidade do senhor ainda ser ministro, aliás, é mesmo a única que consigo conceber: Pinto de Sousa escolheu Mário Lino para, em momento de profunda depressão nacional, encarnar a figura de “Bobo da Corte”, para que com os seus disparates vá entretendo o povo e o mantenha longe dos reais problemas do país.

12.2.08

Timor

Nestes trágicos tempos que vive Timor é uma mais vez essencial o apoio de Portugal. Durante anos, esta foi terra abandonada e esquecida, assunto tabu para demasiadas consciências pesadas. Longe, muito longe para que as feridas se avivassem, para que parecessem reais. Os indonésios ocuparam o território e Portugal, com a timidez de uma virgem pudica, balbuciava débeis protestos à comunidade internacional. Os políticos portugueses só podem querer evitar falar sobre Timor, aliás, durante anos foi exactamente aquilo que fizeram, tentando que o povo português ignorasse o que se passava com os seus irmãos do outro lado do mundo. Uma voz sempre destoou, ao ponto de por isso ser ridicularizado, insistindo em dar apoio aos refugiados timorenses e em não deixar que o assunto caísse no tão desejado esquecimento: D. Duarte de Bragança, que a “inteligentzia” sempre insiste em fazer passar como um inútil, foi a única voz que nunca se calou. Depois veio o povo português, que após perceber, finalmente, o que se passava em Timor, essencialmente depois de ver as imagens do massacre de Santa Cruz, mas também, é preciso não esquecer, graças às denúncias da então Embaixadora na Indonésia, Ana Gomes. A inédita, e magnífica, onda de solidariedade que percorreu o país terá sido uma bofetada aos políticos da situação que, de repente, se viram na necessidade de ter de fazer algo por Timor. Aí, e só aí, houve uma acção oficial de Portugal em relação a Timor. Foi tarde, tal como o vai ser agora, mas foi essencial, tal como o terá de ser agora.

Relembrem-se as palavras de Pedro Ayres de Magalhães, escritas para a canção "Timor" dos Resistência:

“Andam lá sem descansar, Nas montanhas a lutar,
Iluminam todo o mar de Timor.
Nas montanhas sem dormir, uma luz a resistir
Arde sem se apagar em Timor.

Andorinha de asa negra,Se o teu voo lá passar,
Faz chegar um grande abraço, Dá saudades a Timor.

Eles não podem escrever, Porque vão a combater,
Vão de manhã defender, a Timor.
As crianças a chorar, não as posso consolar
Que eu nunca cheguei a ver, a Timor.

Andorinha de asa negra
Vem ouvir o meu cantar.
Faz chegar um grande abraço,
Sem noticias de Timor.
Nunca mais hei-de voltar ,
Já não posso lá voltar,
À idade de lembrar a Timor.
Andam lá sem descansar, Nas montanhas a lutar
Iluminam todo o mar de Timor.”

8.2.08

Estéticas



O Impensável lembra uma entrevista de Pinto de Sousa em que se diz um esteta, convidando a aferir este estatuto com os edifícios por ele projectados (ver imagem acima). Não penso que haja contradição nos factos, afinal cada um tem a sua estética, o que me preocupa é ter alguém com estes conceitos estéticos a governar o que quer que seja. Pode-se dizer que os gostos não se discutem, ou que o bom gosto é questão subjectiva, no entanto tenho para mim que alguém com tão mau gosto não pode ser bom administrador de Portugal. Afinal, o país é a nossa casa comum, que não quero ver submersa por “psichés” e cães de loiça ou coberta por azulejos industriais de refugo.

Os parabéns

O Corta-Fitas, um dos blogs mais estimados por estes lados, fez dois anos. Obrigado.

6.2.08

Marcha da quarta-feira de Cinzas


Do Vinicius, neste início de quaresma.

Primárias em Portugal

Estão oficialmente abertas as primárias para as presidenciais portuguesas. O tiro de partida foi dado pelo omnipresente José Miguel Júdice, que nos últimos tempos se tem desdobrado pelos media num estranho e frenético afã de protagonismo que não lhe era habitual. Este frenesim não poderia ser inocente, assim como não o terão sido a sua saída do PSD e o seu peculiar entusiasmo com Pinto de Sousa. Parecia que o seu objectivo seria concretizar a negociata com António Costa para presidir à entidade que irá gerir a zona ribeirinha de Lisboa. Puro engano. Este poderá ser um passo intermédio, mas ficou claro que o seu objectivo ainda que se situe junto ao rio se concretiza numa zona muito particular denominada Belém. Apenas isto, ou um aparente acesso de insanidade, explicará a sua obsessão com Marinho Pinto e o seu terror perante a possibilidade deste estar a trilhar o caminho para ser candidato da esquerda a Belém. Está aberta a guerra, uma surpreendente e pouco interessante guerra que apenas servirá para desviar as atenções sobre o que Marinho Pinto disse sobre corrupção. Ou será mesmo esse o objectivo?

1.2.08

Luto

Há cem anos atrás, dois assassinos dispararam uma saraivada de tiros provocando a morte do Rei D. Carlos e do Príncipe Luís Filipe.

D. Carlos I, Rei de Portugal
(Fotografia de Amadeu Ferrari, in Arquivo Fotográfico de Lisboa)

D. Luís Filipe, Príncipe Real de Portugal
(Fotografia de Alberto Carlos Lima, in Arquivo Fotográfico de Lisboa)









Assim se vê a força dos aventais.

As forças armadas não poderão estar presentes nas cerimónias em honra do rei D. Carlos, mas os seus assassinos carbonários terão direito ao descerramento de uma lápide.

Vergonha de ser português I

O Estado português recusou a presença das forças armadas nas cerimónias em memória dos cem anos sobre o assassinato do Rei D. Carlos e do Príncipe Luís Filipe. Ao que consta, Fernando Rosas terá feito um requerimento ao ministro Severiano Teixeira que, para além de lhe dar seguimento, com o apoio de todos os partidos, teve a “gentileza” de ligar a Rosas a dar conta da sua decisão. Nem vale a pena comentar o que quer que seja, basta ler com atenção as frases anteriores.
D. Carlos era, goste-se ou não, o chefe de Estado aquando do seu assassinato, como tal era óbvio e evidente que, em cerimónia em memória do seu selvagem assassinato, estivessem presentes as forças armadas. Seria o mesmo que, se viéssemos em monarquia, fosse negada uma parada militar em honra à morte de um presidente da república, ou seja, algo impensável.
Assola-me uma vergonha profunda de que Portugal tenha sucumbido a esta gente infame e cheia de ódio e que o país esteja, com excessiva rapidez, a perder toda a dignidade que lhe ia restando.

Vergonha de ser português II

Fantástico país em que os criminosos Buiça e outro de quem nem me lembro do nome vão ser homenageados. Estes homens foram uns vulgares e bárbaros assassinos, mas ainda há quem os ache uns heróis. Os mesmos que acham que Estalin foi um grande líder e que há terroristas desculpáveis e que a violência, quando parte do lado deles, é justificável. Tenho nojo desta gente, desta gente que em nome da liberdade desculpa tudo, esquecendo que em nome da liberdade a república nos conseguiu trazer 64 anos de ditadura e apenas 33 de democracia. Esquecendo ainda que no tempo de D. Carlos o regime era democrático e que o rei tinha um poder em muito semelhante aos actuais presidentes da República e que talvez por isso mesmo tenha sido morto. Esquecendo a história quando tal é conveniente, aproveitando os relatos ficcionados subordinados à ideologia e sob o capote da história.