30.4.07

Ironias

A extrema-esquerda acha intolerável que a liberdade permita que existam cartazes como o do PNR no Marquês. A extrema-esquerda acha intolerável que a liberdade, através da polícia, não permita que os seus jovens representantes invadam e destruam a sede do PNR. A ironia de tudo isto é de uma finesse irresistível. O PNR, que é contra a liberdade de expressão, usa-a para se promover em cartazes racistas. A extrema-esquerda, que se diz a favor da liberdade de expressão, acha que ela tem limites e não devia permitir os cartazes do PNR. Tão longe, contudo tão perto.

Serenidades

Pinto de Sousa continua impávido, Carmona Rodrigues impávido está. E o país segue, numa impávida deriva ética e moral.

República

A comissão para a comemoração dos cem anos da implantação da república quer reconstituir a mitologia republicana. Esperemos que tal não inclua assassinar o Sr. D. Duarte de Bragança ou instaurar uma ditadura de rua sem rei nem roque ás ordens se um Afonso Costa ressuscitado.

26.4.07

Lembrete

Apesar do banho de lixívia branqueadora que inunda o país, convém não esquecer que o caso Pinto de Sousa/UNI ainda não foi de forma alguma esclarecido. Infelizmente, parece que a lixívia é de boa qualidade e as notícias vão desaparecendo, num bom exemplo das conquistas de Abril de que tantos falam. Ao menos a PIDE era mais transparente nas técnicas de silenciamento, mais bruta sim, mas mais transparente.

O 25

O nosso Presidente quer que a comemorações do 25 de Abril sejam diferentes e que os jovens o compreendam. A ideia será louvável, mas enquanto algumas criaturas estiverem vivas será impossível melhorar a visão histórica dos jovens sobre a revolução. Pelo menos de forma séria, já que será difícil de explicar a um jovem lúcido que estimáveis bombistas como Isabel do Carmo ou Otelo tenham sido condecorados pelo Estado e tidos como heróis da revolução. Isto para não puxar muito pela memória de outros admiráveis democratas que por aí andam a defender a liberdade. A deles e dos seus, como é evidente.

Uma vez toureiro, sempre toureiro.

A corrida decorria bocejante, perante a falta de força e bravura dos touros, quando chegou o sobrero da ganadaria de Torrestrella, que substituiu o quarto devolvido por invalidez. Sai à praça César Rincón, toureiro colombiano no final de uma brilhante carreira, em tempos em que o fulgor lhe parecia fugir e em que a banalidade tomava conta das suas faenas. O touro prometia algo, pelo menos algo mais do que os anteriores, e Rincón avançou decidido com a muleta para o lidar. Esta era a sua última corrida em Sevilha, praça de gratas memórias e uma das catedrais do toureio. Iniciou a faena com cites largos, dando toda a vantagem ao touro, toureando com tanta seriedade que os pitons corriam em tangentes ao seu peito. O toureio de Rincón sempre foi de coragem e verdade, sem artifícios de suposta valentia, puro. As primeiras séries com a direita foram canónicas, belas e poderosas. Cheirava a triunfo e a praça gritava olés a acompanhar cada passe sobre um respeitoso silêncio ensurdecedor. Começou uma série com a esquerda, com o toureio dito ao natural, onde o touro ainda mais vantagem ganha perante a exiguidade do pano com que é lidado. Uma vez mais a verdade, que foi tanta que o touro o apanhou e o lançou ao ar qual boneco de trapos, caído desamparado de má maneira e temendo-se o pior. A praça silenciou, num momento sepulcral em que se ouviria um alfinete a cair, e revolveu-se de imediato, em pânico pelo acontecido. De pronto o toureiro foi socorrido pelos bandarilheiros e pelos colegas, pondo-se de pé. Mas cambaleava, e coxeava, e estava aparentemente pronto para seguir para a enfermaria. O público ovacionava a coragem, quando começou a protestar ao ver Rincón tentar avançar para o touro enquanto os colegas o procuravam refrear. Nada explica esta valentia quiçá insana, nada explica o sangue que corre nestas gentes que jogam a vida perante bestas cheias de bravura. Rincón lá se libertou e seguiu para o touro, ainda coxeando, ainda cambaleando, talvez um pouco mais desperto pela água que lhe passaram na cara. A praça estava em convulsão, entre o respeito pela coragem e o medo da inconsciência. O toureiro seguiu tranquilo, com se nada se houvera passado, com passos elegantes em direcção ao touro. Parou, citou, e continuou a tourear como antes, como se a faena aí começasse, arrimado, puro, com o touro a passar de novo à mesma distância do seu peito, com a seriedade respeitosa de quem admira o oponente mas se sabe capaz de se opor a ele. Pela direita e pela esquerda, com uns preciosos ayudados para terminar a faena. O público delirava e vergava-se perante um enorme toureiro, à antiga, um artista de valentia, um dos que melhor junta alguns dos mais essenciais adjectivos de um toureiro: corajoso, sério, artista. Chegava a hora da morte, momento de grande perigo para o toureiro – que tem de se expor para tentar colocar a espada no sítio correcto – e onde se joga o triunfo de uma lide. Rincón perfilou-se e, em vez de entrar a matar, citou o touro para o estocar a receber. A sorte é assim ainda mais difícil e arriscada, e a espada não entrou, batendo em algum osso que se interpôs no caminho. O público aplaudiu a tentativa, em especial por hoje ser raro quem escolhe esta sorte para terminar a faena. O toureiro perfilou-se de novo e, na mesma sorte, chamou o touro e deu-lhe uma estocada inteira e letal, magnífica. O touro morreu de pronto e a praça levantou-se em vibrantes aplausos. Sevilha é praça exigente, mas quando se vê perante o grande toureio recompensa como poucas a sua arte. No dia vinte e quatro a Real Maestranza de Sevilha veio abaixo, pois viu-se perante um toureiro grande, daqueles que escasseiam, daqueles que nos fazem tremer, daqueles que fazem da tourada um momento sublime.

23.4.07

Primaveras

Este país está a fazer os possíveis para que a primavera fulgurante que se vê da janela não tome conta de mim. São as sucessivas trapalhadas do Sousa, as inconsequentes palestras do Silva, as delirantes nomeações do Moura, as previsíveis vitórias do Portas, enfim, esta sensaborona política quotidiana, que apesar de chata nos envolve como claras em castelo e nos tenta fazer esquecer que há um mundo, e até um país, para além disso. Antes de entrar neste estado catatónico opto por fugir um pouco até ao Alentejo, fonte inesgotável de tempo e beleza, tentando ainda apanhar o feérico primaveril dos campos pintados por flores impossíveis. Talvez esqueça o resto do país e consiga assim melhorar os humores pensado apenas em paisagens e pessoas, afinal algo infinitamente mais interessante do que a mediocridade que nos governa.

20.4.07

Tudo normal no reino de Portugal

O governo atira para o ar a hipótese de fazer um aeroporto de recurso enquanto a Ota não é concluída, sem no entanto estudar devidamente outras hipóteses que podiam estar prontas antes e serem definitivas. Nada de grave, afinal, mais milhão, menos milhão, sempre é uma forma de combater o desemprego. E o povo que pague os disparates…

Tudo normal no reino de Portugal I

O magnífico Pina Moura continua a sua caminhada rumo a um poder cada vez mais absoluto. Para além da presidência da Iberdrola, foi agora nomeado administrador da Prisa. Já roça o descaro o percurso profissional deste “socialista”, o que não surpreende numa espécie perigosíssima que é um comunista convertido ao capitalismo. Big brother is watching you…

19.4.07

Boa companhia para jantar


Lauren Bacall

Ainda a Páscoa da cidadania

A montanha Independente pariu um rato silencioso, sem rasto da bomba anunciada. Um dia de adiamento e parece que o fogo se apagou do rastilho, uma vez mais de forma normal, como tudo o resto. Esperemos uns tempos, até que a poeira assente, e veremos um Fénix Independente a renascer das cinzas com um subtil beneplácito do governo. Com tanto silenciamento, qualquer dia o Sousa não pode sair à rua sem que alguém lhe venha cobrar algo. Sim, porque estas coisas pagam-se, mais dia, menos dia.

17.4.07

O Homem-Duplicado

Duas notas biográficas, dois certificados de habilitações, dois professores, dois reitores. Será que ainda vamos descobrir que tem dois cursos?

O Estado do Sítio

Nota introdutória:
Esta é uma circular interna dos serviços de manutenção da Estação Florestal Nacional (EFN), organismo pertencente ao Instituto Nacional de Investigação Agrária e das Pescas (INIAP), por sua vez dependente o Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas (MADRP).
Este documento não me chegou via cadeias de e-mails, foi-me enviado por alguém que trabalha nesta instituição e que ficou estupefacto com o seu conteúdo. O nome foi do remetente omitido.

"EDIFÍCIO EFN

De: *****
Para: EFN ‑ Oeiras
Data: 04-04-2007
Assunto: MANUTENÇÃO – SUSPENSÃO do CONTRATO de LIMPEZA


Informação/Solicitação

Conforme Nota interna da Direcção, ficámos a saber que apesar dos esforços e iniciativas efectuadas para o evitar, foi mesmo suspenso no dia 02 de Abril, segunda-feira, o contrato de limpeza do edifício EFN.
Embora continuem as iniciativas para repor a normalidade, dada a relativa gravidade da situação e desconhecendo-se a sua duração, impõem-se algumas alterações relativamente aos hábitos e regras vigentes, que minimizem os efeitos desta alteração nas condições de utilização do edifício:

PROCEDIMENTOS NECESSÁRIOS

-- Assegurar a limpeza do seu próprio gabinete.
-- Assegurar e utilizar o seu próprio “kit” de higiene (ex.: Papel higiénico, sabonete, toalha de rosto).
-- Ser responsável por todo o seu lixo até o depositar nos contentores públicos (ex.: Lixo da papeleira do gabinete, pensos higiénicos, toalhas de papel. etc.).
-- Redobrar os esforços no sentido de manter limpas as casas de banho.

Os melhores cumprimentos de

MANUTENÇÃO "

PS: De notar que antes desta circular foi proposto que cada trabalhador/investigador contribuísse com 5 Euros para efeitos de limpeza.

12.4.07

O aborto da lei

Cavaco cumpriu o que seria de esperar, promulgou a lei do aborto com uns tímidos e irrelevantes comentários. O umbigo continua a ser a sua maior obsessão e o país que dele não espere qualquer coisa de útil e afirmativa.

Trapalhices 7 – Esclarecimento 1

1 – 0: Lançar notas em Agosto e passar diplomas a um Domingo é algo perfeitamente normal no funcionamento de uma universidade.

2 – 0: É indigno pensar que as universidades peçam Certificados de Habilitações para aceitar inscrever um aluno e fazer o seu plano de equivalências.

3 – 0: Qual será o problema de o mesmo professor leccionar quatro cadeiras no mesmo curso, tal fará parte das boas práticas de uma universidade que funcionava de forma excelente.

4 – 0: Guardar duas fichas biográficas semelhantes, das quais uma foi rasurada, é frequente entre políticos, há sempre uma preocupação para que tudo fique devidamente registado, até os enganos.

5 – 0: A Independente funcionava de forma exemplar, facto atestado por toda a óbvia lisura do processo do Sr. Pinto de Sousa.

6 – 0: O título de Eng. é uma designação social sem qualquer importância, ainda menos para quem tirou o curso sem nunca pensar exercer.

7 – 0: As declarações de Pinto de Sousa eram de tal modo importantes e bombásticas que foi preciso esperar vinte dias, e que se decidisse sobre a Independente, para podermos ter o privilégio de as ouvir.

7 – 1: Pinto de Sousa comprometeu-se a realizar um referendo sobre a Europa, ainda que o iluminado de Belém o não julgue necessário.

10.4.07

Presunções

Enquanto o senhor Pinto de Sousa não reaparece do seu laico retiro pascal, a partir do qual se presume que ressuscite na entrevista de amanhã, as notícias vão chegando sobre as suas pequenas fraudes académicas. Hoje é relembrado (via Rádio Clube Português) que, nas biografias oficiais da Assembleia da República de 1993, Pinto de Sousa já surge como licenciado em Engenharia Civil, isto três anos antes de ter concluído a sua presumível licenciatura na Universidade Independente. Ao ano de 93 parece – porque em tudo isto já só podemos falar de parecer e não de ser – que Pinto de Sousa era bacharel pelo Instituto Superior de Engenharia Civil de Coimbra e parece – uma vez mais parece – que só por esta data terá frequentado o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa e a Universidade Independente, na qual obteve o presumível diploma em Setembro de 1996. Como a Assembleia ás vezes falha, e pode ter feito um erro de (guterrista) simpatia, teremos de recorrer ao Diário da República, um pouco mais credível, para detectar que em Outubro de 1995, um ano antes da presumível conclusão da licenciatura, o Secretário de Estado Adjunto Ministério do Ambiente surge, no decreto de nomeação para o Governo de António Guterres, com o título académico de Engenheiro. Com tanta presunção e tanto parecer, esta história só pode mesmo ser fruto de uma presumível teoria da conspiração, pelo menos assim parece.

4.4.07

(in)verdade

Licenciado, ou talvez não, só espero que não venham falar de inverdades que com essa palavra até posso começar ao estalo a quem me aparecer à frente. Há coisas que ou são ou não são, verdade como é evidente.

Ao Sr. Pinto de Sousa

Mentir, qual é a importância de um governante mentir, afinal fá-lo todos os dias, quer em campanha eleitoral, quer nos cargos que desempenha. Mentir, qual é a importância de mentir, afinal foi eleito pelo povo que lhe paga o ordenado e agora protesta. Mentir, qual é a importância de mentir, afinal é uma figura de Estado que nos representa. Mentir, qual é a importância de mentir, serão preciosismos nossos, a verdade nada importa no mundo de hoje. Mentir, qual é a importância de mentir, carácter, o que é isso e para que serve, qual a utilidade? Mentir, qual é a importância de mentir, o senhor não será Engenheiro e usou o título por anos. Mentir, qual é a importância de mentir, terá feito passar-se por quem não era, por algo que não fez e a que não tinha direito. Mentir, qual é a importância de mentir, afinal só deixou que a coisa se alastrasse ao longo de anos. Mentir, qual é a importância de mentir, exames feitos aos Domingos são normais. Mentir, qual é a importância de mentir, faltam carimbos nas pautas. Mentir, qual é a importância de mentir, foi descoberto e não acha necessário esclarecer o povo? Mentir, qual é a importância de mentir neste país onde tudo começa a ser possível.

Estratégia

Primeiro as escolas, depois os hospitais e agora fala-se nos tribunais, o governo do Sr. Pinto de Sousa põe em prática uma rigorosa política de contenção de custos que leva ao encerramento dos serviços públicos no interior do país. Para quem acusa – como eu – os governos de falta de estratégia, surge a surpresa com a resolução deste de por em prática uma concertada e pensada estratégia para o país, a saber: abandonar o interior que pouco interesse tem e apostar claramente nas cidades onde está a maior parte da população. De falta de estratégia não os podemos acusar.

3.4.07

Heróis do blog


Corto Maltese, por Hugo Pratt

Parabéns

A Bomba Inteligente faz hoje uns incríveis quatro anos de presença indispensável na blogosfera. Para comemorar aqui vai um revival com a “discreta” Cindy Lauper e “Girls Just Want to Have Fun”.