28.7.05

Diploma

O claustro estava vazio, contudo sons rodeavam a minha cabeça, conversas, suspiros, músicas. Não havia vivalma e atravessei até ao bar para um café; tudo igual, as paredes, o balcão, o Paulo. Há uns tempos que não voltava à minha escola, à minha Universidade. Cinco anos, mais ou menos, desde que o curso se deu, com grande pena, por terminado. Já tinha voltado, várias vezes mesmo, mas hoje a tranquilidade das paredes e falta de burburinho, de gente, de caras conhecidas, tornava o ar estranho, carregado de nostalgia. O diploma, o almejado diploma, estava finalmente pronto, com a rapidez que caracteriza o nosso país demorou quase tanto tempo a ser escrito como demorou a ser acabado. Talvez seja essa a ideia. A secretaria estava diferente, sem os guichets de madeira e os buracos para falar, agora com a entrada toda em vidro e uma cara nova no atendimento. Modernices. Felizmente o edifício é difícil de estragar e o claustro, com o imutável Quercus a meio, esperava tranquilamente, à impiedosa luz do sol, por um Setembro mais animado com praxes e “carne fresca”.
As romagens ao passado marcam sempre. Ao contrário de muitos, para mim a faculdade foi um lugar feliz e de boas (óptimas) recordações. Ganhei vida, mundo e muitos amigos que até hoje perduram. Por isso o diploma foi como que um corte umbilical com a minha escola, um ponto (aparentemente) final numa ligação. Hoje estou nostálgico e tive de ir ás compras. Enfim, há maneiras diferentes de “curtir” a nostalgia, hoje estava fútil e apeteceu-me ir ao Chiado comprar. Podia ter sido pior.

Pré-Época

A Gamebox já cá canta. Este ano seremos cinco a seguir as pisadas do Sporting em Alvalade. Espera-se algo de bom, afinal a esperança sempre foi muito verde. A ver vamos quando for a doer (pré eliminatória da Liga dos Campeões), para já a coisa não vai mal.

27.7.05

Investimentos

Fala-se agora muito dos grandes investimentos e discute-se a sua necessidade e rentabilidade. Soares surge como candidato a Presidente da República e ainda ninguém olhou para este facto como um investimento do país. O facto é que Soares pontuou os seus mandatos anteriores por viagens à volta do mundo, hoje, com a provecta idade a que chegou, não me parece que repita a graça. Isto é tão mais importante quanto será de esperar que agora retribua a hospitalidade dos países que visitou, distribuindo convites para que venham ao seu país. O Palácio de Belém será uma estalagem sempre cheia e contribuirá – imaginando o bem que Soares recebe – mais para a imagem do país do que cem acções do ICEP. Nos tempos de promoção do turismo, nada melhor que um bom cicerone a representar-nos. Falta contudo falar na melhor rentabilidade que poderemos tirar de Soares e da sua obsessão em dialogar com os terroristas. Cedo perceberemos – caso seja eleito – que Portugal será transformado numa zona franca onde os senhores da Al Qaeda virão para tranquilos chás com torradas com o presidente Soares, arrastando negociações enquanto olham o pôr-do-sol no Tejo. Pensando nas enormes quantidades de dinheiro do senhor Bin Laden é líquido que a entrada de divisas no país crescerá exponencialmente.
Muito se tem falado de presidenciais, mas em tempos de défice é bom olhar lucidamente a questão como mais um ponto a discutir da economia e tirar os melhores dividendos disso.

26.7.05

Insónia

Ontem resolvi deitar-me cedo, resolução rara só justificada pela neura e por algum sono. Apetrechado do meu Harry Potter lá fui, esperando apenas durar um capítulo. Enfim, eram três e meia quando, alguns capítulos depois e muitas deduções sobre Horcruxes, em esforço lá me veio uma réstia de sono. Que chatice é gostar de ler, lá terei de voltar à técnica Tv-Shop, essa não falha.

Conversas Imaginárias

– Charles, não se esqueça que no fim-de-semana vamos de férias. Vá preparando a roupa e tudo o resto, já sabe que eu detesto esses números.
– Claro que sim menino, não se preocupe.

Férias

Quase de férias, quase. Este quase é uma última semana que saltita entre o deprimente, a chusma de coisinhas para tratar, os projectos a fechar, as compras que não houve tempo de fazer. Uma canseira! Deviam acabar com esta mania de toda a gente tirar férias ao mesmo tempo. Tudo seria mais fácil e a nossa retirada mais calma, suave, discreta.

Gente

Todos os dias – ao fim da tarde – grita por Inês sem resposta da pobre criança. Ao longo do dia pousa numa esquina, vendo quem passa, entoando de quando em quando um fado desafinado. O seu ar oscila entre uma demência aparente e uma senilidade precoce.

21.7.05

Elefante Branco

A demissão de Campos e Cunha deveu-se, segundo o próprio, a motivos pessoais. Como sabemos do seu diferendo com Sócrates acerca do “Elefante Branco” da Ota será que podemos deduzir que a demissão se deveu a razões morais? Realmente os sítios de má fama sempre estiveram ligados à política - embora de forma muito discreta -, agora que eles sejam responsáveis pela demissão de um ministro, isso sim é uma novidade!

20.7.05

Coisas da Vida Boa

Chá Marco Polo (Mariage Frères) gelado com umas torradinhas de pão de centeio com manteiga do Açores.

Diálogos Imaginários

– Charles, por favor esqueça as minhas manias contra o ar condicionado e arranje um logo que possível. Antes uns ataques de rinite do que sufocar neste inferno.
– Com certeza menino, ainda hoje estará a funcionar.

Coisas da Vida Boa

O Verão, apesar do calor. Aliás, se não fosse o calor contra o que é que podíamos resmungar, e sem resmungar como suportar uma existência calma e sem razões de queixa.

Livros

Chegou pelo correio o novo Harry Potter, agora o “Bartleby y compañia” do Enrique Vila-Matas terá de seguir a ritmo mais lento.

19.7.05

Quase Famosos

Sexta-feira tive o meu primeiro contacto com um ambiente “blogger”. A festa dos “Quase Famosos” no D&D em Lisboa foi o pretexto. Entrei discreto com um grupo de amigos e discreto permaneci. Algumas caras conhecidas, poucas, e muita gente que se calhar já conheço pela escrita, mas que não imagino de todo quem sejam. Estava calor, estava mesmo muito calor e o bar foi pequeno para tanta gente. Cheguei já tarde mas a música esteve irrepreensível. Quanto ao resto, apenas a curiosidade de poder estar entre gente que conheço mas que não faço de facto ideia quem é.

Rugby

A nossa selecção de Rugby (versão Sevens) foi campeã da Europa pela quarta vez consecutiva, nos jornais a notícia apareceu em tímida e magra coluna ao lado de considerações sobre um amigável entre o Benfica e o Chelsea e a chegada de Pinilla do Chile. Gosto muito de futebol, mas seria bom que o mérito do trabalho feito pelas gentes do Rugby fosse reconhecido. São amadores e todos têm outras profissões como advogados ou veterinários; chegam a pagar do seu bolso deslocações que a Federação não pode custear; ficaram no ano passado em primeiro lugar do Torneio das Seis Nações B, sendo que só se pode chegar ao A por convite; são um exemplo do que o desporto ainda pode ser num século XXI subordinado ao dinheiro. Tudo isto e quem é que sabe, onde é que aparece divulgado? Estivéssemos nós num país civilizado e talvez deixássemos de classificar pessoas que se destacam como o “Mourinho” do Fado ou da Bioética e usássemos também os “Tomaz Morais” do Atletismo ou da Geologia Aplicada; estivéssemos nós num país civilizado e os portugueses já deveriam ter ouvido falar do Sebastião Cunha ou do Frederico Sousa, ou do Uva, ou do Pissarra, ou do Malheiro. Ainda há desporto para além do futebol!

15.7.05

Lisboa

Releio o post anterior (Votar Bloco?) e assusto-me um pouco com o tom panfletário e inflamado. Acho que entusiasmei e procuro uma justificação. Olho pela janela o sol brilhante sobre as colinas de Lisboa, as calçadas brancas a irradiar luz. É fácil gostar desta cidade e deixarmo-nos tolher pela utopia de achar que ela pode sobreviver muito tempo à voragem dos irresponsáveis. E tentar lutar por isso.

13.7.05

Imprescindível

A propósito dos 25 anos sobre a morte de Vinicius de Moraes, o Ivan – d’a Praia – está a fazer uma série de posts. Imprescindível, quer pela qualidade dos posts, quer pelo tema. Vinicius é um daqueles personagens maiores que a vida, que as vidas. Por aqui tenho esquecido muitas vezes de escrever sobre ele, sobre a minha pequena obsessão pela sua obra, mas também pela sua vida. Concordo com a sua escolha do disco preferido, a gravação em casa de Amália é a que mais aproxima a sua obra com a sua vida, com a sua maneira de estar na vida. Aproveito para recomendar – se é que não conhece – uma gravação em DVD de um concerto gravado para televisão com Tom Jobim e Miucha. A performance e a gravação não são grande coisa, mas ver Vinicius cantar, sentado a uma mesa – sobre a qual está um balde de gelo e uma garrafa de whisky que vai esvaziando drasticamente – com um ar de gentleman britânico de microfone na mão, é uma imagem inesquecível.

Votar Bloco?

A pergunta poderia ser completamente descabida neste blog, infelizmente não é. Nas eleições para a Câmara de Lisboa, o mais interessante candidato vem mesmo dai, ou melhor, com o seu apoio. José Sá Fernandes apresentou uma candidatura que muitos desejavam. Ele tem sido o chato que todas as Câmaras deviam ter, aquele que acompanha as sessões e deliberações da Câmara, que anda em cima de todas as medidas e obras. Nos pequenos municípios há sempre alguém assim, a maior parte das vezes – quase sempre – apartidário, batendo-se apenas por amor à terra, publicando artigos em jornais locais, promovendo acesas discussões de café. Nas terras pequenas é mais fácil ter este papel, acompanhar toda a actividade camarária, saber das necessidades da população. Em Lisboa é muito mais difícil, não só por questões de escala, mas também pela maior visibilidade ao nível nacional, o que leva também a uma maior manipulação por parte dos partidos. Durante anos foi Gonçalo Ribeiro Telles o paladino da luta por uma Lisboa melhor, porfiou, pensou, escreveu, falou. Tentou por quase todos os meios que Lisboa não caminhasse para ser uma capital terceiro-mundista, sem a qualidade de vida que podia, e devia, ter. Muitas asneiras foram ainda impedidas por ele, por ele e por um grupo de pessoas que sempre o seguiu nesta missão – a memória é grata ao pensar no Movimento Alfacinha. O que sempre faltou a Ribeiro Telles foi a agressividade e acutilância que a idade e a sua postura de Gentleman não lhe permitia. Muitas vezes foi, é, acusado de ser um velho sonhador. Pena é que os seus sonhos se revelem necessidades anos depois de ele os ter revelado, pois é sempre complicado ter razão antes de tempo.
As dúvidas que ainda tivesse dispersaram-se com a entrevista de Maria João Avillez a José Sá Fernandes. A começar pela forma como surgiu a candidatura, não com uma personalidade a avançar e um séquito de apoiantes que nem sabem o que apoiam, mas sim com um conjunto de ideias que colheu contributos de um conjunto de personalidades como Gonçalo Ribeiro Telles, António Barreto e Miguel Esteves Cardoso e que se tornou num programa concreto para a cidade de Lisboa. Depois porque esse programa – vivamente questionado no debate – se baseia numa postura perante a Cidade que não poderia ser mais do agrado de um empedernido conservador inglês, ou seja, uma visão do urbanismo e da vida na cidade mais baseada na “conservação” do que está bem e na óptica do cidadão, do que em obras de fachada dominadas pelo betão.
Não consigo encarar as autárquicas como eleições partidárias, muito antes pelo contrário (tema que desenvolverei noutro post), daí que em Lisboa, tendo em conta os dados conhecidos, votaria – sem olhar para o símbolo se ele aparecer no boletim de voto – na candidatura de Sá Fernandes. Não por mim, não por ele, mas por Lisboa. Como conservador não vejo outra alternativa.

8.7.05

O Nojo

Ontem, mais uma vez, algumas criaturas tentaram relativizar – embora dizendo que não o faziam – os atentados. Tenho em mim um nojo profundo ao ouvir sempre um “mas” quando falam de terrorismo, acabando sempre a referir o Iraque ou o Afeganistão, a pobreza ou a opressão. Claro que há várias causas, mas para os exterminadores elas não são sequer necessárias, a maior causa é o desprezo e ódio com que olham a sociedade ocidental. Isso é suficiente para que matem indiscriminadamente inocentes e isso, isso não tem nem o mais remoto “mas”.

Combate

O maior combate aos terroristas é não nos deixarmos submeter ao terror. Hoje, vivesse eu em Londres, o Metro era o meu transporte.

Gente

Sexta-feira, à porta do Lux. Uma velha, de ar andrajoso e por quem o tempo passara, destoa de tudo o resto. No meio do bulício da noite faz o seu estranho caminho, passo lento, tranquilo, estranhamente decidido. Enquanto espero alguém sigo-a com o olhar. O lenço na cabeça, colorido, os sapatos antigos como ela. Dirigiu-se à porta. Ao longe, na impossibilidade de me transformar em mosca, imaginava conversas delirantes com o porteiro; Quereria entrar? Pediria para ir à casa de banho? Estaria a perguntar por alguma informação? Seria definitivamente louca? Nada compreendi, apenas a vi voltar a fazer o mesmo caminho em sentido contrário, no mesmo passo tranquilo, pausado mas decidido. Como diria uma amiga minha “Quem seria esta velha que ousou entrar nas brumas da noite?”

7.7.05

Londres

Ia escrever sobre os Jogos Olímpicos e sobre a vitória de Londres sobre Paris, ou melhor, da Inglaterra sobre a França. Ontem a boa arrogância britânica deixou os altivos franceses a chuchar no dedo. A actualidade precipitou-se e agora o motivo passou ao luto, a infame Al Qaeda voltou a atacar. Os assassinos escolheram Londres para um novo round de bombas. O mundo é, cada vez mais, um lugar perigoso.

5.7.05

Investimentos

O governo apresentou o “Grande Pacote” de investimento do Estado. Nada de novo, o betão continua a ser o destino messiânico dos nossos dinheiros e as obras públicas continuam a ser a fuga para a frente para ir resolvendo, provisoriamente, a economia e o desemprego. Teremos o que merecemos, depois das auto-estradas de Cavaco, agora o aeroporto da Ota. Talvez no futuro mais duas pontes em Lisboa e uma grande auto-estrada a ligar Vila Real de Santo António a Bragança. Enquanto isto a economia continua estagnada, a indústria decadente e o choque tecnológico vai sendo uma miragem.

4.7.05

Gente

Entrou com a manhã. Com voz rouca pediu um café, e um bagaço. Cumprimentou as caras familiares em seu redor. Os seus olhos traziam restos de vida, de muitas vidas passadas e queimadas. As mãos eram rugosas, com sulcos de dor. Estaria a começar ou a acabar o dia?

Compras Imaginárias

Sair directo para a FNAC e encher sacos sem fim com livros, discos e DVD. Alucinar publicamente e chegar à caixa num gaguejar nervoso perante a estupefacção da menina que hesita em chamar o segurança ou começar o longo registar das compras.

Coisas que maçam

Ainda não ter saído o segundo volume de DVD’s do “Verano Azul”.