13.7.05

Votar Bloco?

A pergunta poderia ser completamente descabida neste blog, infelizmente não é. Nas eleições para a Câmara de Lisboa, o mais interessante candidato vem mesmo dai, ou melhor, com o seu apoio. José Sá Fernandes apresentou uma candidatura que muitos desejavam. Ele tem sido o chato que todas as Câmaras deviam ter, aquele que acompanha as sessões e deliberações da Câmara, que anda em cima de todas as medidas e obras. Nos pequenos municípios há sempre alguém assim, a maior parte das vezes – quase sempre – apartidário, batendo-se apenas por amor à terra, publicando artigos em jornais locais, promovendo acesas discussões de café. Nas terras pequenas é mais fácil ter este papel, acompanhar toda a actividade camarária, saber das necessidades da população. Em Lisboa é muito mais difícil, não só por questões de escala, mas também pela maior visibilidade ao nível nacional, o que leva também a uma maior manipulação por parte dos partidos. Durante anos foi Gonçalo Ribeiro Telles o paladino da luta por uma Lisboa melhor, porfiou, pensou, escreveu, falou. Tentou por quase todos os meios que Lisboa não caminhasse para ser uma capital terceiro-mundista, sem a qualidade de vida que podia, e devia, ter. Muitas asneiras foram ainda impedidas por ele, por ele e por um grupo de pessoas que sempre o seguiu nesta missão – a memória é grata ao pensar no Movimento Alfacinha. O que sempre faltou a Ribeiro Telles foi a agressividade e acutilância que a idade e a sua postura de Gentleman não lhe permitia. Muitas vezes foi, é, acusado de ser um velho sonhador. Pena é que os seus sonhos se revelem necessidades anos depois de ele os ter revelado, pois é sempre complicado ter razão antes de tempo.
As dúvidas que ainda tivesse dispersaram-se com a entrevista de Maria João Avillez a José Sá Fernandes. A começar pela forma como surgiu a candidatura, não com uma personalidade a avançar e um séquito de apoiantes que nem sabem o que apoiam, mas sim com um conjunto de ideias que colheu contributos de um conjunto de personalidades como Gonçalo Ribeiro Telles, António Barreto e Miguel Esteves Cardoso e que se tornou num programa concreto para a cidade de Lisboa. Depois porque esse programa – vivamente questionado no debate – se baseia numa postura perante a Cidade que não poderia ser mais do agrado de um empedernido conservador inglês, ou seja, uma visão do urbanismo e da vida na cidade mais baseada na “conservação” do que está bem e na óptica do cidadão, do que em obras de fachada dominadas pelo betão.
Não consigo encarar as autárquicas como eleições partidárias, muito antes pelo contrário (tema que desenvolverei noutro post), daí que em Lisboa, tendo em conta os dados conhecidos, votaria – sem olhar para o símbolo se ele aparecer no boletim de voto – na candidatura de Sá Fernandes. Não por mim, não por ele, mas por Lisboa. Como conservador não vejo outra alternativa.