28.4.05

Artigo

Com algum atraso, uma imprescindível referência ao artigo do Miguel Esteves Cardoso no Diário de Notícias de Domingo. Depois de o ler sinto-me um bicho menos raro, ou talvez raro mas bem acompanhado.

Agradecimentos

Novos links de novos blogs. Obrigado ao Cápsula do Sul, ao It’s Our Pleasure, ao Makejeite, ao Barbara Bela e ao Quietista.

26.4.05

Fim-de-semana

Por terras do Alentejo não vi expropriações, apenas ouvi os malditos morteiros que me acordaram – ainda ressacado – na manhã de ontem. Em momentos como estes tenho de conter a vontade de sair para a rua e gritar a plenos pulmões “Viva Salazar”, apenas para provocar a populaça e ter desculpa para começar a distribuir cacetada pelos energúmenos que me acordaram. Claro que, por debaixo do quentinho dos cobertores, me acobardo e acabo com estas veleidades reaccionárias.

Futebol

Numa Liga em que os jogos estão à venda, hesito entre perder o interesse em ser campeão ou ganhar vontade insana de mandar para a cadeia os delinquentes que mandam no nosso futebol. Fair-play só podia ser uma palavra inglesa, e sem tradução à altura.

CDS

No congresso deste fim-de-semana ganhou Ribeiro e Castro, mas ganhou também a política portuguesa. Telmo Correia foi incensado líder pelo aparelho partidário que o “obrigou”, com o seu óbvio consentimento, a suceder a Paulo Portas. Durante dois meses estendeu um tabu, do qual iria emergir como o Messias do partido em pleno congresso (que mania esta de todos os partidos quererem o seu D. Sebastião). Claro que errou, ao conceber a política de forma tão táctica perdeu, e perdeu bem. Não segui o congresso – afinal era fim-de-semana grande –, mas é bom para Portugal que ganhe um candidato contra a estrutura do partido, contra os “sindicalistas do poder” que cada vez mais dominam os nossos partidos. Não sei se Ribeiro e Castro vai ser bom presidente do partido, não sei se me irá levar a votar ou não. Sei que, pela maneira como ganhou, inspira pelo menos uma palavra cada vez mais rara: seriedade. Talvez as suas ideias não sejam as minhas – aliás desconfio que não são –, mas ser eleito para um partido querendo que o mesmo tenha uma doutrina definida é bom, pelo menos sabemos com o que contamos, no meio do pântano político de um país em que as ideias vão sendo raras.

21.4.05

Semana

Tem sido uma semana de confusão mansa, daquela feita de uma sucessão subtil de situações, de alterações à rotina de não ter rotina. A vida altera-se ao sabor de um tempo forçado pelos acontecimentos ou pelas notícias nem sempre boas.

19.4.05

Celtas

Retomo a ala de música celta da minha prateleira, há uns tempos repousada por pouco uso. Na minha reduzida – sempre assim a acho – discoteca, a sua presença é significativa. Ontem voltei a alguns Chieftains, lembrando os pastos verdes e os “pints” de Guiness. Hoje passo por Mary Black, De Dannan ou Clannad. Volto também à voz magnífica de Sean Keane. Penso em pubs de madeira - perdidos em terras isoladas - com o fumo (foi assim que os conheci) entranhado e famílias em bebidas de fim de tarde. Apetece um tele-transporte para Connemara ou Galway.

Futebol

Na modorra desta primavera indecisa valha-nos o futebol. O Sporting lá segue, finalmente estável, com hipóteses de ganhar duas competições. Ontem mais uma vitória. Haja alegria por algum lado e que assim se mantenha.

15.4.05

Grande Sporting

Não é facil aguentar jogos como de ontem. O estádio, apesar de não estar cheio, estava magnífico de animação. O jogo foi de uma intensidade que tirou anos de vida a quem lá estava. Por estranho que pareça, os adeptos sempre acreditaram na vitória impossível, apesar dos brindes arrepiantes da defesa. Na segunda parte a equipa foi buscar forças não se percebe bem onde. Agora só faltam dois jogos até à final de Alvalade, joguem eles com a mesma garra e tudo parece possível. Haja esperança.

14.4.05

Coisas da Vida Boa

Olhar pecaminosamente para um recém-chegado boião de Dulce de Leche, abrir cuidadosamente e atacar, com volúpia, o seu conteúdo à colherada.

Casa da Música

Com algum atraso – pronto, foram só uns anitos – e depois de um pequena derrapagem orçamental – afinal, o que é exceder um orçamento em seis vezes – parece que hoje é inaugurada a Casa da Música. O edifício é realmente uma boa peça de arquitectura, mas será normal que, com tanto dinheiro gasto, ele não possa ser palco de óperas ou bailados por falta de fosso e de teia? Será justificável que o nosso dinheiro pague este buraco orçamental sem que sejam apuradas responsabilidades sobre tamanho disparate? O que está em causa não é a construção do edifício, o problema foi a interminável sucessão de incompetentes que geriram o processo e que permitiram que este quase se transformasse numa Santa Engrácia do século XXI. Como sempre em Portugal tudo é possível, sejam os dinheiros públicos.

E não se calou

Afinal o Sr. Jorge Sampaio abriu as torneiras das suas opiniões e nem a seca lhe dá a prudência de não abusar. Parece que não lhe chega a campanha para o “sim” à Constituição europeia, agora resolveu opinar sobre quase tudo. Segundo as suas sábias palavras, Portugal falhou o referendo sobre a regionalização. Gostaria de perceber o que é falhar um referendo. Será que é não ir de encontro ás suas luminosas ideias? O referendo chumbou e se algo falha na descentralização é a falta de competência dos políticos para a fazerem sem ter de recorrer a uma fórmula democraticamente vetada. Os conceitos básicos da democracia parecem estar arredados da visita de Estado a França, talvez sejam os ares franceses que fazem mal ao nosso anglófilo Presidente. Marquemos de imediato uma visita a Inglaterra para que Jorge Sampaio volte à sua postura fleumática e prudente.

13.4.05

Artigo

Na continuação do post anterior não resisto a duas frases de um artigo “jornalístico” do DN de ontem, da autoria de Fernando Madaíl.

«O "non" das sondagens gaulesas, que está a assustar a Europa, vai marcar as intervenções da visita de Estado de Jorge Sampaio a França, que não hesitou em sublinhar, mesmo no banquete ontem oferecido por Jacques Chirac no Eliseu, que, "no processo de ratificação da Constituição, joga-se o nosso futuro colectivo".»
A assustar a Europa? Eu sou europeu – logo faço parte da Europa – e não estou assustado, estou antes esperançado. Que critérios jornalísticos seguiu esta criatura para achar que, num assunto que em tantos países nunca foi referendado (Portugal por exemplo), a opinião da maioria da população pode ser de susto!

«Afinal, o "cartel" do "non" não se limita apenas aos comunistas e trotsquistas, à extrema-direita e aos soberanistas, mas divide de tal forma o próprio PS que, ontem, o Libération levantava a hipótese da polémica entre os socialistas franceses que são "pró" e "anti" Constituição estar a fazer nascer o "espectro de uma implosão" daquele partido centenário.»
O cartel? Vale mesmo tudo. Agora quem é contra a Europa pertence a uma estrutura organizada de supostos malfeitores. Que pérola do jornalismo. Percebo que num artigo de opinião se possam ter opiniões extremas (basta lembrar Luís Delgado), mas numa peça jornalística não me parece adequado que quase se insultem pessoas. Aliás, até sobre o PS francês – que, goste-se ou não dele, é um partido democrático – se fala como se de um bando de loucos perigosos se tratasse. Com jornalismo assim…

E que tal se se calasse

O nosso Presidente parece querer, à viva força, que eu perca a estima que apesar de tudo lhe tinha. Depois dos sucessivos episódios decorrentes da fuga de Durão, em que o senhor parecia tentar baralhar toda a gente, eis que aparece agora no seu esplendor. Sobre tudo e nada diz que não deve falar, que não deve dar opinião, que deve permanecer neutro. Falemos de rabanetes ou do aborto, de políticas económicas ou de peixe grelhado, o senhor diz que deve ser o presidente de todos os portugueses, esquivando-se de opiniões que extravasem, ainda que marginalmente, o politicamente correcto. Pois, goste-se ou não até é uma posição coerente…se for coerente.
A propósito do referendo da Europa, o senhor decidiu ir a França (em visita de Estado) dar uma perninha na campanha pelo “sim”, tomando parte activa com as suas convictas opiniões. Reacção em Portugal? Nenhuma. A nação assiste impávida ao nosso neutral presidente a fazer campanha eleitoral à nossa custa – sim, não consta que uma visita de Estado a França seja privada –, num assunto que também irá ser referendado por cá. Será que havia silêncio caso o Presidente fizesse campanha pelo “não”?
A Europa permite tudo e os referendos mais vão parecer eleições do Antigo Regime, só que os “democratas” de outrora estão agora na barricada que tenta, por todos os meios, obrigar a populaça a votar nas suas ideias. A Europa é hoje mais do que uma religião, é uma imposição em que vale tudo, e que se vale de tudo. Os políticos perderam toda a vergonha e usam métodos que há uns anos valeriam a qualquer um ser acusado na praça pública de fascista, a ter as paredes de casa pintadas com impropérios capazes de fazer corar senhoras de má vida. Os “democratas” de ontem são os sub-reptícios ditadores de hoje, e o senhor Sampaio melhor faria em estar calado e ficar a passear nos bonitos jardins de Belém, em vez de se passear em campanha por França. Belém não é Versailles, mas haja decência.

11.4.05

PSD

A oposição já tem um novo líder. A avaliar pelo enorme entusiasmo do congresso parece que não vamos precisar de calmantes para adormecer facilmente em Portugal.

Campeonato

Que belo fim-de-semana de futebol, temos campeonato! Ontem em Alvalade o jogo foi miserável, mas ganhar jogando mal até pode ser um bom sinal, numa época em que foram vários os jogos mal perdidos. O que importa é que Sporting já só depende de si, para ser campeão “basta” ganhar todos os jogos que faltam. Haja esperança.

7.4.05

Coisas da Vida Boa

O telefone não toca. Pela janela entra uma brisa com cheiros de primavera. O som de Rodrigo Leão faz esquecer o tempo. Assim, até o trabalho se torna produtivo.

Diálogos Imaginários

(Ao telefone)
– Charles, estou atrasado e vou chegar em cima da hora do jogo. Como vou levar uns amigos, por favor organize os sofás em volta do plasma e prepare uns patês e uns queijos. Confirme também como estamos de vinho branco e de cerveja.
– Não se preocupe menino, vou já tratar disso.

5.4.05

A Noiva

Uma noiva anda pela noite, com um ar vagamente alucinado, ao longo de uma linha de caminho de ferro, o vestido branco é longo e arrasta no chão. Outras personagens, outras cenas. A noiva prossegue o seu caminho, agora vislumbra-se a 24 de Julho em plano de fundo e ela continua no seu passo irregular e cambaleante. Outras personagens, outras cenas. A noiva chega a um edifício – que se percebe ser a estação do Cais do Sodré – e tenta forçar a porta que está fechada, não o conseguindo adormece encostada a um canto. Outras personagens, outras cenas. A madrugada surge e alguém, provavelmente o primeiro passageiro, deixa uma moeda sobre o vestido branco; a noiva acorda e com a moeda paga o bilhete para o cacilheiro; já lá dentro olha o Tejo com olhos vazios.
Podia ser um filme independente, assente na metáfora bíblica do casamento, na fuga ás convenções e aos compromissos. Era apenas um episódio da nova telenovela da TVI. A qualidade está à vista.
Tenho a mania de passar a vista pelos primeiros episódios das telenovelas, fico a par da história e posso assim, em dias de alienação televisiva, ver alguns bocados. O mesmo se passou com esta – “Ninguém como tu” – da qual já sei o que é necessário: há uma família rica que ficou pobre devido a um desfalque na empresa; há a irmã pobre que convenceu a sobrinha a não casar por dinheiro; a irmã rica é má e rancorosa – apesar de bonita, pois é a Alexandra Lencastre; há ainda uma outra irmã. O resto vai andar à volta disto, ou seja, o costume. Não tenciono seguir, mas espero ter o gosto de apanhar mais cenas como a desta noiva, fugida de fresco de um casamento de conveniência, à deriva pelas ruas de Lisboa. Há realmente coisas que vale a pena ver de tão más que são.

Viagem

Ontem estive em Londres. Entrei no Expresso do Oriente rumo a Veneza, mas tive de fazer o troço italiano de autocarro por causa da greve. Apanhei um “ferry” até Atenas, passando pelo canal de Corinto, e depois até Alexandria. Não enlouqueci, apenas comecei a ver a “Volta ao Mundo em 80 Dias” – programa da sempre irrepreensível BBC, com o sempre divertido Michael Palin – que a revista “Volta ao Mundo “, em boa hora, resolveu oferecer (por uns 5 Euros) aos seus leitores.
A nova mania de os jornais e revistas servirem de pretexto para vender DVD’s, enciclopédias e dicionários, coleccionáveis de todo o tipo e até, imagine-se, faqueiros e serviços de pratos, é estranha. Confesso que me irrita um pouco chegar à tabacaria e ficar a hesitar se compro ou não mais um DVD e se começo ou não uma certa colecção, perante as meninas que já me vão conhecendo e tentam impingir tudo o que vai saindo. Hoje é uma praga e, se fizermos contas e comprarmos tudo o que até nos apetece, uma renda ao fim do mês a acrescentar à habitualmente dispendida em jornais e revistas per si. É o novo marketing de imprensa, em que o jornal é o que começa a contar menos. Claro que é chato, mas também é bom conseguir edições difíceis de encontrar e por um preço mais simpático. Ontem foi Londres, daqui a umas semanas será um Houaiss completo e pronto a consultar.

4.4.05

Pergunta estúpida?

Porque será que o Sporting não joga sempre como no Sábado?

Parabéns

A Bomba Inteligente já existe há mais de dois anos. Os parabéns vão daqui com um poema de Borges que, soubera eu como o fazer, deveria ir acompanhado da música de Piazzolla.

Jacinto chiclana(1965)

Me acuerdo. Fue en Balvanera,
en una noche lejana
que alguien dejo caer el nombre
de un tal Jacinto Chiclana.

Algo se dijo también
de una esquina y un cuchillo;
los años no dejan ver
el entrevero y el brillo

Quién sabe por qué razón
me anda buscando ese nombre;
me gustaría saber
cómo habrá sido aquél hombre.

Alto lo veo y cabal,
con el alma comedida,
capaz de no alzar la voz
y de jugarse la vida.

Nadie con paso mas firme
habrá pisado la tierra;
nadie habrá habido como el
en el amor y en la guerra.

Sobre la huerta y el patio
las torres de Balvanera
y aquella muerte casual
en una esquina cualquiera.

Sólo Dios puede saber
la laya fiel de aquel hombre;
señores, yo estoy cantando
lo que se cifra en el nombre.

Siempre el coraje es mejor,
la esperanza nunca es vana;
vaya pues esta milonga
para Jacinto Chiclana.

Luto

Por um Grande Homem.

Caravaggio, Descida da cruz

1.4.05

Coisas da vida boa

Esplanada da Cerca Moura. Lisboa aos pés e o Tejo com vários azuis a brilhar. A Igreja de Santo Estêvão branca e dominante. Um café tranquilo, esquecendo o tempo e os carros que passam.

Coisas da vida boa

Lisboa, ontem. Sol de Primavera. Adamastor ao fim de tarde no meio do caos freak e do cheiro a charros. Assumir o fim do dia tranquilamente, esperando que os sobressaltos das filas de trânsito se diluam. Uma cerveja preta, conversa e o pôr-do-sol.