27.6.08

Alerta!

Hoje é dia de congresso feminista. Alertem os bombeiros para as queimadas. Os soutiens passaram de moda, ouvi falar de implantes de silicone, sugiro talvez os massajadores faciais, vulgo vibradores, ou cocktails molotov de botox.

Ainda há futebol?

Numa meia-final ganha uma equipa com tantos golos como remates à baliza, depois de um jogo em que se parecia arrastar adormecida e ausente. Ontem, jogava a grande surpresa do europeu, responsável pelos melhores minutos de futebol que vi nos últimos tempos. Do outro lado uma selecção que ganhara nos quartos finais após um jogo de não futebol, em que conseguiu ter a sorte de marcar um penalty a mais. A primeira não esteve lá, provavelmente ausente em passeios imaginários pelas estepes ou pelas ruas aristocráticas de S. Petersburgo. A segunda desenhou uma obra-prima digna de Picasso, Dali ou Goya. Que jogo fez a Espanha!
Ainda vai havendo futebol, mas resta a inquietação de que esse futebol não ganhe no final, dando razão aos anestesiantes treinadores que pretendem mudar, talvez até estatutariamente, o objectivo do futebol, trocando o de “marcar golos” com o de “não sofrer”. Espanha devia ganhar, mas mais importante ainda é que a Alemanha devia perder. E por muitos e vistosos golos, numa humilhação requintada da arte sobre a eficácia, da civilização sobre a força bruta.

Dr. António Sousa Homem

A presença do autor fora garantida na convocatória para a apresentação do livro “Os Males da Existência. Crónicas de um reaccionário minhoto”, anteontem na Livraria “Pó dos Livros”, facto que provocou alguma agitação nos meios cosmopolitas de Lisboa dada a misantropia do Dr. Homem. Eu esperava poder ter o gosto de conhecer o autor e, porque não, encontrar a sobrinha Maria Luísa e talvez, num grande acaso da sorte, chegar às falas com ambos. Malditas coronárias! Foram elas que impediram a presença do Dr. Homem, por recomendação do seu médico de Viana do Castelo. Na sua ausência coube a Francisco José Viegas ler a missiva que enviara e que pode ser lida aqui.
Da apresentação de Maria Filomena Mónica destaco a passagem em que dizia que o Dr. Homem era o tio-avô excêntrico que gostaria de ter tido. Concordo em absoluto, seria aquele tio com quem passaria horas de conversa e longas horas de silêncio afundados nos sofás da biblioteca, por entre pilhas de livros e com um pontual chá a chegar às cinco horas trazido por Dona Eliane.
Apesar da ausência do Dr. Sousa Homem e da sobrinha nesta apresentação, não deixa de ser com algum orgulho que abro a primeira página do meu livro e nela posso ler a dedicatória assinada pelo autor, conseguida por meios que não revelarei. Não o digo com o apreço do valor do objecto dada a sua raridade, mas sim com o gosto da personalização de um livro tão bem escrito e por um tão interessante personagem indiscutivelmente português.

25.6.08

Haja alguém!

Que o urbanismo é um dos maiores e mais alastrados problemas do país, só será surpresa para os mais distraídos, o que não é habitual é ver um ex-político a afirmá-lo com a clareza e conhecimento de causa de Paulo Morais, ex-vereador da Câmara Municipal do Porto.

23.6.08

Ainda há futebol?

Nestes tempos em que se torna coisa rara encontrar futebol digno desse nome – ou seja, futebol em que as equipas queiram ganhar marcando golo e não esperando que o mesmo lhes caia do céu num erro dos adversários – o jogo entre a Rússia e a Holanda foi uma pérola. Afinal ainda há quem jogue ao ataque, com gosto, com inteligência, com estética. Fora a Rússia mais competitiva – o que se calhar até estragava tudo – e concretizadora e teria esmagado a Holanda com uma cabazada histórica, tantas foram as oportunidade de golo.
Ontem vi o Espanha – Itália e a euforia acalmou, assim como a esperança no futebol, pois as duas equipas fizeram o possível, e quase o impossível, para não marcar golos, num jogo muito mais do que chato e a que só faltou que falhassem penáltis sucessivos de modo a obrigar os próprios guarda-redes a marcar. Perdeu a Itália, o que foi um grande felicidade, porque dali não vem qualquer esperança enquanto de Espanha ainda poderemos esperar algum futebol. Agora, esperar mesmo, só espero que a Rússia mantenha o nível e esmague também a selecção espanhola, numa desforra dos 4-1. Sem piedade e com grande arte.

Coisas Estranhas

Ter dado por mim a torcer freneticamente pela selecção da Rússia. Ainda mais quando jogava contra a Holanda. Saltei com golos, praguejei com falhanços e quase acabava no Marquês até me aperceber que não estava em Lisboa.

20.6.08

Ontem

O desespero deve ter sido muito para as bandas da casa de Pinto de Sousa. O país perdeu o ópio e vai, desgraçadamente, ter de ser confrontado com a sua imagem reflectida a um espelho agora desembaciado. Infelizmente ao invés do que se pode augurar para o nosso futuro.

Coisas da Bola I

Sofrer dois golos de bolas paradas, marcados com a facilidade com que se barra manteiga mole numa torrada quente, mostra que o estudo não foi muito lá pelas bandas da selecção. Seria uma maçada para Scolari ter de estudar o jogo dos alemães, até porque o impediria de devorar o curso de inglês do Planeta Agostini e escolher frases da “Arte da Guerra” para passar por baixo das portas dos quartos dos jogadores. Do tempo dos dentes de alho e das bruxas passámos para um estágio bastante mais elevado com a Nossa Senhora de Caravaggio e Sun Tzu. Melhor, muito melhor, mas bom seria aspirar a um futuro de alguma normalidade, não fora um obstáculo chamado Madaíl.

Coisas da Bola II

A memória dos anos que levo sorri sempre que me lembro da selecção quando tinha à sua frente Humberto Coelho. Nunca jogámos tão bem. Nunca as coisas foram tão agradavelmente normais. E boas. O homem está para ir para a Tunísia. Indemnizem os tunisinos com o que poupam em relação ao ordenado de Scolari e façam o Humberto ficar por cá. A bem de todos nós.

Coisas da Bola III

Defender Ricardo tem sido um desporto que pratiquei amiúde. Tudo tem os seus limites e eles ontem foram ultrapassados. O “meu” Sporting que não se lembre de o ir repescar a Sevilha. Deixem o homem a comer tapas e a desesperar os espanhóis e sosseguem Alvalade.

Coisas da Bola IV

“Há sempre alguém que resiste.” Bravo, Deco!

Palavras roubadas

“Houve o rumor de que estava doente e depois a notícia das melhoras, a cura e a entrevista a Rui Ramos. Depois de mais silêncio, a notícia da operação e a ida para casa. De qualquer modo, é muito pouco e não se falar mais de Miguel Esteves Cardoso não prognostica nada de bom para o país. Nada de bom.”
Ao Impensado.

19.6.08

Coisas Boas da Irlanda IV


A fantástica Sharon Shannon e "Mouth of the Tobique"

Provincianismos

Gosto da província e gosto muito de um certo provincianismo. Não suporto o envergonhado provincianismo de urbanos que renegam origens e falam delas com distanciamento, convertidos a uma certa “modernidade”. Ouvir o argumento de que é muito importante para Portugal a ratificação do Tratado de Lisboa, porque o mesmo leva a nossa capital no nome, leva-me ao desespero. Há gente que se disfarça de cosmopolita, mas que nunca se livrará do mau que a província lhe deu, esquecendo as genuínas qualidades que poderia ter aproveitado.

Centralismos

A simples menção de um hipotético Bloco Central escurece este magnífico dia de sol. Ouço aplausos emocionados e veementes dos interesses instalados. Adivinho choros desesperados do povo à custa de quem se terá de sustentar um status quo com o dobro do tamanho.
(À propos das declarações de Marcelo e da moção de Ferreira Leite para o congresso)

18.6.08

Coisas Boas da Irlanda III

“Under bare Ben Bulben's head
In Drumcliff churchyard Yeats is laid.
An ancestor was rector there
Long years ago, a church stands near,
By the road an ancient cross.
No marble, no conventional phrase;
On limestone quarried near the spot
By his command these words are cut:
Cast a cold eye
On life, on death.
Horseman, pass by!

W. B. Yeats
Excerto de "Under Ben Bulben".

Coisas Boas da Irlanda II



The Pogues & The Dubliners
"The Irish Rover"

Coisas a ler

O Yes de Molly Bloom”, de Vasco Graça Moura, hoje no DN.

Coisas da Irlanda

A propósito do mui conveniente “Não” da Irlanda, esta semana dedicarei algumas postas a outras coisas boas de lá vindas.

Coisas Boas da Irlanda



Sinead O’Connor & The Chieftains
"The Foggy Dew"

16.6.08

Descanso

O bom do Santo António deve ter avisado São Pedro que já era demais e que era preciso uma réstia de sol para animar Portugal enquanto a selecção que interessa entrava em descanso. Resultou a demanda em dois épicos dias de praia, num areal em que era possível traçar áreas de influência de mais 50 metros entre as pessoas e a que não faltava um acolhedor bar com música de irrepreensível gosto. Paraíso de sossego em fim-de-semana grande e a pouco mais de uma hora de Lisboa. Para norte, claro, que esse reino dos Algraves não é terra para mim.

Coisas da Europa I

É extraordinário o argumento de que 4 milhões de habitantes, cerca de 1% da União Europeia, estejam a condicionar, de forma desproporcionada, o projecto europeu. Poderia ser por memória curta, mas é mesmo por desonestidade intelectual. Fazem por esquecer qual foi o resultado dos referendos nos outros países? Será que, apesar de prometidos como em Portugal, foram evitados para não permitir à população que se exprimisse? E a nega na Holanda e em França, já foi esquecida? A realidade é que cerca de 53% dos europeus que tiveram o direito democrático a pronunciarem-se votaram “Não”. O resto é o habitual chorrilho de habilidades retóricas que tentam transformar o branco em preto.

Coisas da Europa II

A utopia europeia está a causar uma cegueira que, para quem insiste em querer ver, se torna assustadora.

Sláinte

Brava Irlanda. Uma vez mais. Brava Irlanda.
Brindemos à liberdade com pints de Guiness em barda.

Beautiful day – U2

12.6.08

Crisis? What crisis? – I

Depois de ceder aos pescadores o governo deixou de ter margem de manobra para não negociar com os camionistas. Podia, caso fosse realmente competente, ter negociado mais cedo e poupado aos portugueses o racionamento dos combustíveis ou a ausência de saladas ou frutas. Bolas, afinal estamos no verão e na época das dietas e aposto que os portugueses, em particular as mulheres, não lhe vão perdoar tão cedo a transgressão alimentar a que foram obrigados.

Crisis? What crisis? – II

O protesto é obviamente intolerável, o grave, e preocupante, é que ele seja compreensível.

Crisis? What crisis? – III

Gostei de ouvir falar Rui Moreira, ontem na RTPN, sobre a crise dos combustíveis. Apetecia aplaudir que alguém estava a dizer de forma tão clara algo de evidente: os nossos governos, e não só o actual, apenas governam para grandes empresas (ou agricultores, ou industriais, ou banqueiros, basta acrescentar qualquer actividade). Num país com uma economia muito baseada nas PME’s, não deixa de ser curioso, se não fosse perigoso. Os anos passam e a pequena economia é tratada como algo distante e em vias de extinção, como se a economia de um país – em especial do nosso – pudesse sobreviver apenas com grandes empresas.

Crisis? What crisis? – IV

Quando se diz que na Europa de hoje não há ideias a discutir estamos a tomar atitude da avestruz e a ignorar a realidade. O delírio é mais evidente quando vimos Pinto de Sousa a comparar-nos com a Finlândia ao mesmo tempo que assistimos à “Liga dos Últimos” na RTP. Portugal é cada vez mais um país dividido ao meio, em que o litoral se apresenta com toques cosmopolitas e o interior é cada vez mais um museu antropológico. A culpa é de quem governa porque assumiu, sem a frontalidade de o dizer, que o interior é para abandonar, a agricultura para acabar e o território para desocupar. Nada disto é inevitável ou emana de Bruxelas, é apenas o reflexo do novo-riquismo das gentes que nos governam e que acham mais atractivo inaugurar estradas do que produções de batata e que vêm mais glamour em protocolos com bancos do que em olivais extensivos.
Se discutir isto não é discutir ideias, então eu definitivamente já não sei o que é a política.

Crisis? Why crisis?

“Metro do Terreiro do Paço teve derrapagem superior a 31 milhões de euros”
Depois dizem que crise é inevitável, que não há dinheiro para nada e que o país não tem melhora possível. Aposto que as derrapagens das obras públicas já davam para muita coisa. Façam as contas!

Perguntas da crise – I

No meio do caos que assolou o país, fica uma pergunta: onde anda o PSD? Resposta possível: no mesmo sitio onde andou nos últimos tempos, sentado no sofá à espera que o poder lhe caia no colo.
.
P.S. Será que nasceu mais um neto a Manuela Ferreira Leite?

Perguntas da crise – II

Cavaco Silva ainda é presidente de Portugal? E que tal mandar uma das suas “sagradas” mensagens ao país, e ao governo, nestes momentos de crise. Até para esquecer o lapsus linguae do dia da raça.

Perguntas da crise – III

Não será estranho Mário Lino não ter aparecido nas televisões a falar sobre a crise? Será que no governo já perceberam que o homem não é apresentável e tem uma tendência fatal para o disparate.

Do futebol

Mais um bom jogo. Mais uma vitória. Estranho esta coisa de estar apurado sem confusões, ao segundo jogo, sem sofrimento, sem pensar no resultado dos outros. Não estou habituado a isto, estou mesmo muito preocupado porque algo está diferente neste mundial em que parece que a selecção é uma equipa. Será que quer dizer algo? O meu medo é que queira dizer uma eliminação nos quartos de final. Talvez não, talvez queira dizer que é desta. Talvez seja mesmo desta.

11.6.08

Sobre o referendo

Amanhã, veremos se a Irlanda continua a ser um país de coisas boas e definitivas.







Votando "Não" ao anti-democrático Tratado de Lisboa, dando assim mais uma lição de Democracia e uma bofetada de luva branca aos eurocratas.

Fazer companhia ao sol

Quando o tempo parece querer ajustar-se às estações, achei que as minhas humildes compras na Feira do Livro deviam seguir o mesmo caminho. Optei por livros que tentassem deixar-me bem disposto: Evelyn Waugh, Nancy Mitford, Jerome K. Jerome. Tudo na Cotovia e a bom preço de feira. Os monos ficam para outra oportunidade que o passeio foi curto.

Perplexidade

Estranho bastante que as habituais brigadas das liberdades não tenham aparecido no momento em que uma juíza censurou a transmissão de uma tourada pela RTP. Será que para essa gente há liberdades e liberdades?

6.6.08

Bravo TVI!

No dia em que foi dado provimento à providência cautelar que impedia a transmissão da Corrida TV em horário nobre, a TVI não emitiu as suas três novelas do costume para transmitir em directo uma corrida de touros no Campo Pequeno. Depois não venham dizer que as touradas são coisas de minorias, pois se a TVI, o nosso canal mais comercial, transmite corridas em horário nobre, não o fará sem grande segurança das suas audiências.

Bravo TVI! - II

A TVI não é a “minha” televisão, o que aliás é normal pois não é a mim que a sua programação é dirigida, mas há algo que, para além duma programação no geral miserável, a distingue: a independência e a coragem. Ontem foi exemplo disso.

Pinto de Sousa

200 mil pessoas na rua. Alegre em movimento. Novo presidente do PSD. Moção de censura do CDS/PP. Ambiente geral de contestação. Caso para dizer:
“As notícias da sua vida prolongada foram manifestamente exageradas.”

5.6.08

Coisas dos Trinta

Essa coisa de mulheres submissas e sofredoras está irremediavelmente fora de moda. Pena é que elas continuem a não acreditar nisso.

Isto está bonito!

Após anos de providências cautelares do inefável António Maria Pereira, eis que o Tribunal de Lisboa, numa decisão inédita, resolveu proibir a transmissão em directo da Corrida de Touros da RTP, remetendo-a para o horário entre as 22.30h e as 6.00h, e ainda assim acompanhado por um identificativo visual permanente, por, alegadamente, ser “susceptível de influir negativamente na formação da personalidade de crianças e adolescentes”.
Neste país, proibir é um dos verbos preferidos, pena que se aplique sistematicamente ao que não deve. Insuspeito de tendências revolucionárias, cada vez mais me apetece sair para a rua e gritar: “É proibido proibir!”.

4.6.08

El breve espacio que no esta

Porque às vezes, muitas, é preciso ouvir música nostálgica ou triste. Aqui fica uma canção de Pablo Milanés que conheci da versão de Luís Represas incluída no seu primeiro álbum.

3.6.08

Demagogia

Palavra que serve a tudo, como uma bata larga de hospital de tamanho único que a todos serve. Alguém se insurge contra o status quo e é demagogia, alguém dá uma ideia contra a corrente e é demagogia, alguém diz o óbvio e é demagogia.
Há fome, há gente hipotecada até ao tutano, há uma imensidão de crédito mal parado e irrecuperável, há prestações de casas incomportáveis, há famílias inteiras em risco de pobreza real.
Túnel do Marquês, Aeroporto de Alcochete, TGV, 3ª ponte sobre o Tejo, auto-estradas por todo o país.
Sistema Nacional de Saúde que não funciona, (in)justiça, património a cair, abandono dos campos e da agricultura.
Allgarve, Lei do fumo, ASAE.
As prioridades deveriam dizer tudo.
Posto assim é óbvia demagogia. Claro que é, aliás, a ninguém pode passar pela cabeça que também é a verdade. Mesmo que seja e, infelizmente, a mais real das verdades.

Palavras d’outros

A ler, como sempre, Ferreira Fernandes no DN.
“Gosto do futebol jogado. Ronaldinho, o brasileiro, esperando que a barreira salte para ele enfiar a bola por baixo das infelizes solas do adversário dá-me satisfação pura. A selecção enquanto visitadora do Presidente já me deixa indiferente - quero lá saber do protocolo em geral e de rapazes mal engravatados em particular. Por outro lado, um Presidente amante de futebol que se emocionasse por abraçar aquele rapaz que lançou as luvas para o canto e resolveu um desafio que tinha o Portugal em suspenso, já me deixaria comovido. Como fiquei ao ver a emoção maluca dos portugueses de Neuchâtel. Volto ao futebol de que gosto: gostei de ver Ronaldinho a fazer aquilo porque desejei toda a minha vida fazê-lo e nunca soube. Gosto do futebol por ambição diferida: admiro quem sabe o que eu não sei. Compreendo bem os emigrantes que admiram portugueses que eles sabem que o mundo admira. Só não percebe o orgulho deles quem não sente necessidade de admirar.”

Palavra d’outros

Francisco José Viegas no "A Origem das Espécies".
“Gosto da Feira do Livro com as barraquinhas. Gosto de ir lá à tarde e de encontrar amigos, gente que não vejo há muito tempo, trocar «notícias» por «notícias». Gosto de ir às barraquinhas de livros velhos, stocks, obras completas de Mao, Escritos Escolhidos de Lenine, A Cozinheira Ideal ou os John Le Carré em hardcover. Gosto de comprar Rex Stouts repetidos. Não gosto de novidades na Feira; prefiro livros de há anos, são esses os que procuro, os que perdi e que quero repor na estante. Gosto de comprar livros por 1€, 3€, 5€. Gosto de encontrar amigos a dar autógrafos e de ir para as filas pedir-lhos. Gosto de churros com chocolate (este ano estão a 2€, o que é um assalto). Gosto das cores das barraquinhas. Gosto dos grupos que se sentam ao sol, na relva do Parque. Gosto de encontrar editores que vão sempre à Feira. Gosto de gente que atravessa a Feira assinalando títulos nos catálogos. Gosto da Feira com ar saudável e relativamente anárquico, com cadeirinhas na calçada onde autores se sentam perto de quem passa, com ar desprotegido (por isso é que se reconhece um editor; é ele que está lá, ao lado, a fazer companhia). Gosto de ir à Assírio & Alvim perguntar se tem o Equador. Gosto da Feira com sol, gosto quando chove. Gosto quando o MJM me telefona a dizer que encontrou um livro meu com uma fotografia que nem vista se acredita. Gosto das sacolas pretas da Tinta-da-China e de ficar por ali. Gosto das cores da Oficina do Livro. Gosto de ir à Guimarães Editores, à Relógio d'Água ou às bancas da Vampiro. Sinto-me um provinciano feliz que está onde quis ir. À Feira.”

Gosto de subscrever e gosto assim de ir à feira. Ainda não fui. Ainda não procurei volumes antigos do Tenente Blueberry encontrando o Martin Milan que me faltava. Ainda não persegui pechinchas descobrindo magníficos monos. Na sexta-feira irei, em busca desta feira que eu gosto e que aqui tão bem foi descrita. Talvez encontre por lá o Dr. Sousa Homem, numa rara saída do seu retiro minhoto, por motivo do lançamento do seu segundo volume de crónicas, que dá pelo nome de “Os Males da Existência”. Gostava de o cumprimentar.

2.6.08

A Senhora Presidente

Tenho feito por aqui algumas ironias sobre Manuela Ferreira Leite, em particular à sua ausência de ideias. A senhora de facto não entusiasmou durante a campanha. Não posso ainda assim deixar de dizer que com esta senhora a coisa política em Portugal irá decerto melhorar, apesar de que não seria difícil. A nova presidente do PSD traz a vantagem de querer falar verdade, o que em alguém sério quer dizer qualquer coisa, e de não querer seguir pela “plastic-politic” tão na moda. Convenhamos que depois de Santana e de Menezes a melhoria é clara. Claro que ainda ficamos com dignos representantes do plástico como Pinto de Sousa, Louçã e Portas, mas pelo menos um dos maiores partidos vai por outro caminho, o que não deixa de ser louvável. Para já pouco estimulante, mas louvável.

Boas notícias

Hélder Postiga é jogador do Sporting.
Gosto de jogadores assim, artistas incompreendidos, irregulares, polémicos.

Laranja e rosa

Caso Ferreira Leite insista em não discutir ideias – e tendo em conta que Pinto de Sousa pouco gosta de as discutir, talvez por as não ter – fica a dúvida sobre o que discutirão nos debates para as próximas legislativas. Talvez futebol?

Grande gozo

Nunca fui à Suíça, mas já li sobre o país, já falei com quem lá viveu, já conheci suíços. Por tudo o que sei, é enorme o gozo de imaginar esse paraíso da tranquilidade e do aborrecimento com as ruas invadidas por hordas de portugueses eufóricos. Uns vindo de propósito, mas a imensa maioria a sair exuberante das casas onde se escondem para sobreviver à maçadora sociedade suíça. Todos pelas ruas a gritar e buzinar e cantar. A invasão do caos luso a terras de ordem ancestral, em tempos de uniformização de europeia e de comportamentos formatados, é um episódio que não pode deixar de me fazer regozijar neste cantinho junto ao mar plantado que tudo tinha para se transformar numa aldeia de gauleses irredutíveis nesta Europa romanizada.