28.12.06

Término

A gélida tranquilidade provinciana é o essencial ponto final de mais um ano.

Noite de Natal

Passado o jantar e o caos habitual do desembrulhar de presentes, lá chegaram as crianças para um teatro. Nesta altura é normal ir buscar gelo ou servir mais um Whiskey, só que este ano o improviso e o curto ensaio geraram um mui inventivo circo com sentido de humor britânico que não lhes conhecia. Uma pura delícia em que os aplausos não foram acompanhados dos habituais sorrisos amarelos de condescendência, mas sim de estridentes e sonoras gargalhadas. A coisa foi tal que, talvez ajudados pelo vinho, alguns adultos se encheram de brios, recuando a uma distante infância e recriando músicas e danças antigas. Foram momentos de ouro, em que circunspectos e reservados senhores, e senhoras, desfilaram em filinha a cantar a música do seu jardim-escola ou a canção das “três maninhas” da qual, surpreendentemente, ainda se lembravam da letra. Esta noite poderia ser banal noutras casas, na minha, feita de gente por norma tímida e discreta, foi surpresa e bem agradável. Afinal, o Natal é isto mesmo, alegria entre amigos e família. Lá fora estava muito frio, cá dentro a temperatura inesperadamente subiu por inteira responsabilidade das crianças que tendemos a desvalorizar, mas que, por vezes, nos demonstram cabalmente o disparate desta atitude.

20.12.06

Música de Natal

Nada me faz mais lembrar o Natal das noites frias e das neves sonhadas do que Sinatra. O Natal passado a ver filmes a preto e branco de outros tempos, mas de todos os tempos, como anual revisitação de “Do céu caiu uma estrela” ou outro Capra que, com o seu optimismo, nos enchia de espírito reconciliador. Por isso fica aqui ao lado para ouvir, tirado do disco “Sinatra Rarities – The CBS Years”, “Nature Boy”, uma eterna canção cuja letra se pode, em muito, aplicar ao período do ano em que estamos.

There was a boy, a very strange enchanted boy
They say he wandered very far, very far, over land and sea
A little shy and sad of eye, but very wise was he
And then one day, a magic day he passed my way
And while we spoke of many things, fools and kings
This he said to me: "The greatest thing you'll ever learn
Is just to love and be loved in return"

Definição do dia

ERC – Censura do século XXI em que o lápis azul é substituído por comunicados imperceptíveis e ofensivos.

18.12.06

Ironias

O concurso para a gestão do Rivoli foi ganho por Filipe La Féria. Não deixa de um enorme gozo imaginar a fúria desesperada dos okupas ao verem o teatro entregue a quem mais tem feito pelo teatro comercial que eles tanto abominam. Não sou particular apreciador do estilo La Féria, agora que tem uma digna qualidade e tem feito mais pelo teatro em Portugal do que muitos obscuros grupos de vão de escada, isto é um facto. Ainda assim o mais importante é que o faz com o seu próprio dinheiro, empenhando muitos milhares em super produções sem esperar e reclamar indignado o habitual subsídio do estado. Pessoas com esta iniciativa e risco próprios, sem a rede do Estado a amparar desvarios, merecem ser reconhecidas, independentemente de gostarmos ou não do seu estilo.

Definição do dia

TLEBS – Masturbação intelectual de linguistas, perpetrada com um total desconhecimento da realidade e encarando as crianças como simples cobaias.

Advento

Porque ás vezes apetece roubar palavras:

“Ainda uma nota mais sobre o dia de Natal que se aproxima: lamento profundamente que a mensagem subjacente ao nascimento do nosso Senhor, do Rei dos reis, Deus feito homem, tão equivocamente tenha vingado em dois mil anos de catequização. Que o Salvador afinal nasce gloriosamente pobre e indefeso numa manjedoura, numa nação ocupada e reprimida... Que a mais fantástica e bela história do mundo indica-nos inequivocamente um caminho de libertação e de felicidade, justamente na entrega, e não na conquista. No dar e não no receber. E que a redenção se conquista em tudo ao contrário do que ensurdecedoramente nos “vendem” por todo os recantos desta civilização decadente. E que é ao libertarmo-nos do nosso sôfrego e deprimente umbigo que podemos alguma vez realizarmo-nos como homens livres. E que o nosso coração frio e egoísta é a imagem das albergarias de Belém quando se fecharam a Maria e José em vésperas do Grande Acontecimento. E que se vivermos o Natal de Jesus, nem que seja por um dia, seremos indubitavelmente melhores pessoas e mais felizes.Assim Deus me ajude a viver este Natal.”

João Távora in Corta-fitas

17.12.06

Natal em Lisboa

Que agradável pode ser Lisboa. A tarde ontem passada por entre o Chiado e a Baixa foi disso exemplo. Ainda que faltem comprar alguns presentes, que bom foi passear sem destino pelo real centro de Lisboa, no meio do bulício das gentes em compras de Natal. Percorrer a Baixa – onde o povo circula e compra – à conversa, divagando sobre a decadência da nossa capital, discutindo o que é, ou não, patine, parando em locais emblemáticos, como o Hospital das Bonecas ou a Tendinha, ou em lojas extraídas de filmes neo-realistas dos anos sessenta. Subir ao Chiado, como que trepando na pirâmide social, onde gentes de porte aristocrático deambulam pela Rua Garret. Acabar com um lanche no Chá do Carmo, com um sempre delicioso “Thé de Noël” da Mariage Frères acompanhado de uma torradinha e de um scone com manteiga e compota de chá Marco Pólo (também da Mariage Frères). Que coisa boa, assim como a conversa longa, ao abrigo do frio que chegou com o por do sol.

Essencial

A entrevista de Miguel Esteves Cardoso no Diário de Notícias de sexta-feira (suplemento 6ª).

Petição

Nos links aqui do lado, na secção “e agora…”, pode o leitor aproveitar para assinar a petição contra a irresponsável e idiota TLEBS. A bem deste país e da sanidade mental dos portugueses.

15.12.06

Corrupções

Parece-me bem a nomeação de Maria José Morgado para dirigir a investigação do processo “Apito Dourado”. Não simpatizo, de todo, com a senhora enquanto figura pública, acho-a mesmo bastante desagradável, mas transmite um certa ideia de fibra e incorruptibilidade que é essencial para o processo em causa. Apenas quem acredita no Pai Natal acredita que não há corrupção no futebol português, vamos ver se é desta que “essa gente” é punida pela lei.

12.12.06

Lisboa

O debate de ontem fez-me ter vontade de ser mosca e assistir ás sessões da Câmara de Lisboa. De um lado, Carmona Rodrigues, do outro, quais tias à mesa de chá, Maria José Nogueira Pinto, José Sá Fernandes e Ruben Carvalho. Tudo muito animado, mas cordial, como deve ser, sem insultos nem tontarias. Ganha Lisboa? Talvez não, porque quem manda é Carmona que na prática não tem mostrado o bom senso que aparenta quando fala. Também não será grave, pelo menos não foram ouvidas propostas estonteantes “à la Santana”. Estava mais um senhor na mesa que parecia estar fora de tudo, quer dos assuntos em discussão, quer da familiaridade divertida dos restantes. A política não tem de ser terra de insultos, pode haver discordância firme sem roçar o insulto e a provocação barata. O senhor do canto ainda não percebeu isto, aliás, nunca o irá perceber e ainda bem, assim não correremos o risco de o ver eleito para qualquer cargo de poder.

Ditaduras

A morte de Pinochet trouxe de novo à baila a idiota discussão entre ditadores de direita e de esquerda. Caso para voltar a dizer que um ditador é um ditador, é um ditador, é um ditador.

11.12.06

5.12.06

Açoites

Açoitar será pouco, talvez umas chicotadas polvilhadas com sal sejam mais adequadas para os energúmenos que teimam em deseducar as nossas crianças, criando um ensino absurdo e monstruoso. A propósito da TELBS, como é óbvio.

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“Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te vem ajudar”

Jorge Palma, “Portugal, Portugal”

4.12.06

Delírios

O PS parece querer lançar Jorge Coelho como próximo candidato à Câmara Municipal de Lisboa. Só faltava acrescentar a recandidatura de Santana Lopes para ficarmos com a certeza de que o caos se iria instalar. Coelho augura tudo de mau, pelo menos para quem se lembre das suas excelentes relações com os construtores civis, típicas de quem se arrastou durante anos nas funções de angariação de dinheiro para o partido. Adivinho já o slogan “Lisboa não pode esperar”, revelando a enorme necessidade de construir e de “fazer obra” na cidade. Teme-se o pior, mas esperemos que não se concretize e que a direita acorde e deixe de se comportar como uma criança mimada e irresponsável.

1.12.06

Comemoração e Pessimismo


Corria o ano de 1640 quando um grupo de conjurados se juntou para expulsar os espanhóis do território português. Era a independência, a soberana e livre independência que hoje se comemora. Passados tantos anos será que somos dignos dela? Será que somos ainda um país livre, soberano e independente?