27.12.07

Coisas de amigos

Casa de Santa Vitória Reserva, Guru, Passadouro, Pintas e Pintas Vintage. Magnífico ramalhete de vinhos que por si só faria uma noite de longo prazer. Ontem, foram apenas pano de fundo para um jantar de Natal de amigos que iam chegando das proveniências mais diversas, desde o Douro profundo a Londres, desde o seminário até à Comissão Europeia. Este jantar anual é o fio que nos vai juntando por entre as distâncias da vida e o que é espantoso é que, depois de dois minutos de conversa, regressamos sem esforço aos gloriosos tempos de faculdade e esquecemos as marcas do tempo em nome de laços que, ainda que por vezes já pareçam ténues, permanecem com inesperada firmeza.

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Passado o Natal, ficam os sempre agradáveis dias que restam até o ano findar. Acolhedores e diletantes, vividos por entre telefonemas e cafés com amigos. Até há quem trabalhe, mas o ar que se respira é de umas familiares férias de Inverno.

22.12.07

Santo Natal

El Greco - Sagrada Família


Que o espírito da paz domine por sobre esta época e torne o vosso Natal feliz.
(a todos os leitores e visitantes deste blogue)

A caminho

Este blogue segue dentro de momentos “para a terra”.

Coisas da época

Este blogue está-se a comportar como um menino mimado e anda amuado com o seu blogger dada a falta de atenção. Não consegue compreender que o tempo não estica e que é mais importante comprar os presentes em falta, enviar os cartões e escolher os vinhos para o jantar de Natal. Excesso de mimo, o melhor é não ligar e deixá-lo até ao fim do ano em velocidade de cruzeiro.

Coisas das lojas

Alguém será capaz de me explicar o motivo para todas as lojas de Lisboa terem uma temperatura ambiente aproximada a uma sauna finlandesa? Nos centro comerciais ainda se pode compreender, até porque podemos deixar os casacos no carro que fica na garagem, agora expliquem-me qual é a possibilidade de conforto ao andar no Chiado num sucessivo strip-tease? É que torna-se impossível de estar numa loja sem tirar mais de metade da roupa, sob pena de nos sentirmos a cozer em lume mais que brando, mas depois saímos para a rua e lá temos de voltar a vestir tudo outra vez. Um inferno, com a FNAC a liderar no ranking das mais fogosas lojas. Acrescenta ao nosso desconforto o facto de ser impossível aos empregados suportarem um dia de trabalho sem suarem como porcos, o problema é que alguns desconhecem a técnica da recarga de desodorizante e ao meio-dia já levam um odor do mais intolerável que imaginar se possa. Passar nestes fornos comerciais ao fim do dia é uma provação tão desagradável como desnecessária.

18.12.07

Contra a censura

A partir deste post, do “Cachimbo de Magritte”, soube que a música “Fairytale in New York”, dos Pogues, foi censurada pela BBC. Ouçam para perceber porquê.



Esta tirada: "You scumbag, you maggot you cheap lousy faggot, Happy Christmas your arse I pray God It's our last.”, nomeadamente o “faggot”, foi considerada muito forte, demasiado para as consciências politicamente correctas, afinal a liberdade de expressão vai tendo limites cada vez mais estreitos e não podemos permitir canções que ofendam, ainda que muito vagamente, seja quem for. Qualquer dia até podemos ser perseguidos na rua por dizermos a um amigo, “vá lá, não sejas maricas”, ou por comentarmos uma escolha menos feliz de vestuário dizendo “fica-te péssimo, pareces uma bicha”.

Ódio

Parece que Sarkozy anda com a Carla Bruni. Quando começava até a gostar do homem, para mim difícil tendo em conta que é francês, eis que um súbito e emergente ódio toma conta de mim. Sim, é verdade que a inveja é um sentimento muito feio e estamos no advento, mas afinal somos todos pecadores.

17.12.07

Coisas de Natal

Diz-se que o Natal é época de voltar à infância. Mesmo que o não seja, de facto, é bom ao menos recordar esses tempos. Nada mais adequado para tal do que rever o anúncio que marcou todos os anúncios de Natal da minha geração, penso que bastará dizer “…e o gato te de se esconder…”

14.12.07

A Franjinhas


A fantástica Beatriz Costa faria hoje cem anos. Vale a pena recordá-la aqui, na inesquecível "Canção de Lisboa", com o também extraordinário Vasco Santana.

13.12.07

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A minha pequena consolação na cerimónia de assinatura do tratado foi a de os convidados terem sido obrigados a ouvir cantar Dulce Pontes, que a cada dia que passa, e nos seus intermináveis gritos, mais se assemelha à lendária Bianca Castafiore dos livros do Tintin.

Tristeza

Os eurocratas assinam hoje o famoso Tratado de Lisboa. A minha falta de entusiasmo é proporcional à falta de democraticidade de uma instituição a que o meu país pertence, curiosamente a mesma instituição que faz poucos dias se queixava da falta de democracia nos países africanos – não estou a comparar os graus de tirania. A forma indigna como este Tratado vai ser aprovado faz com que nem queira saber bem o que ele representa – a primeira versão foi chumbada em França e na Holanda e esta, em quase tudo igual à primeira, vai ser afastada de referendo, excepto na digna Irlanda, por motivos que ninguém sensato compreende. O argumento de que estes tratados são demasiado complexos para irem a referendo apenas mascara o medo da derrota, e isso é a contra essência do que é uma democracia.

Contra o disparate


Este blog está contra, o que vem sendo um hábito, o dito "Acordo Ortográfico".
(Agradecimentos ao velho e saudoso Indy de onde vem este autocolante aqui reproduzido.)

Coisas de 2007

Memórias de 2007 (1) - O rugby.

Do Francisco José Viegas, no "A Origem das Espécies"

"Um jornal americano chamou-lhes Pavarottis. A imagem percorreu o mundo, não sei se nos encheu de orgulho, mas olhámo-la com comoção – a forma como a rapaziada cantava o hino nacional antes de cada jogo chegava-nos de França como uma espécie de reabilitação da pátria, a velha pátria em chuteiras, medricas e faceira, habituada a ver jogadores de futebol a dar cambalhotas mal lhes tocam no cotovelo ou na armação da marrafa.
Tão cedo não os esqueceremos. Nem os seus nomes nem a pequena glória de terem afrontado os All Blacks daquela forma fatal, íntegra, nobre, olhando-os nos olhos, dançando curto (evidentemente) mas sem alguma vez evitar o confronto ou a ousadia. Um ensaio que fosse valia a pena. Uma fuga que ficasse registada seria inscrita no livro das glórias.
O pequeno país que gosta daquele dicionário de indignidades do futebol, tomou-lhe o gosto. No futebol, habituou-se a ouvir coisas como «falta inteligente», «conseguiu um penalty», «brilhante atitude defensiva». Colocado patrioticamente diante da televisão para ver o melhor rugby do mundo, o adepto lusitano encontrou um grupo de almas diabólicas, ou tomadas pelo diabo, com cara de homens, com físico de homens, capazes de correr e de placar, de fugir e de perseguir, de se arrastarem no chão ou de voarem em busca da bola – como há muito tempo não viam no futebol mariquinhas e de efeito fácil, onde toda a gente finge que se lesiona.
Vimo-los todos, jogo a jogo. Jogo a jogo, a pátria pendurava a chuteiras prateadas e sentava-se para ver o jogo da tribo. Jogo a jogo crescia a admiração por aqueles rapazes, desde o primeiro ensaio português em Mundiais, assinado por Pedro Carvalho. Aliás, se o Criador quisesse dar uma prova da sua existência, depois de ter aberto um sulco nas águas do Mar Vermelho – há muito tempo –, teria escolhido o minuto 44 do jogo contra a Escócia, quando um português deixou para trás os escoceses e rasgou pelo estádio fora na direcção de um ensaio fabuloso. Com isso, provaria a sua existência, indicaria que era fã dos Lobos, e mostrar-se-ia justo. Porque nesse primeiro ensaio em Mundiais estava representado todo o esquadrão de batalhadores que se atreveu a enfrentar equipas profissionais. Mas não só: eles enfrentaram também a ignorância dos snobes modernos, a impreparação do cidadão comum e o desprezo dos mariquinhas do futebol.
Foi um gozo puro. Perderam todos os jogos. Nunca uma equipa tão derrotada foi tão comentada no mundo inteiro, com a imprensa neozelandesa, inglesa, americana e sul-africana falando de uma «great story» da «lovely performance of the newcomers». Laurent Bénézech, no L'Équipe, valorizava a coragem e o coração dos portugueses. O mais difícil dos comentadores da ESPN americana não se cansou de distinguir «the great spirit» do bando de portugueses que se atreveu a discutir, metro a metro, o campo que lhe tinha sido entregue.
Há quem ache que isto era pouco. Paciência. Num país de plástico e de vedetas, os Lobos mostraram-nos como, à sua maneira, desvalorizaram os nossos próprios limites e lutaram contra a nossa condição. Eles ultrapassaram o seu destino. Merecem um lugar de destaque nos nossos aplausos."

12.12.07

Extraordinário país

As últimas notícias sobre a construção de uma barragem na zona do Almourol levaram-me a olhar atentamente o estudo sobre as suas implicações, perante as quais fiquei siderado. Em causa não está a necessidade de construção da barragem ou a sua utilidade, em causa está, infelizmente e como é hábito, a profunda irresponsabilidade dos que nos (des)governam e a falta de valor que dão ao “nosso” dinheiro. No mundo civilizado existe uma coisa chamada “Ordenamento do Território” e outra chamada “Planeamento”, em Portugal ambas são bizarrias defendidas por seres tomados por alienígenas. Na zona a ser inundada, para além de vastas áreas dos mais férteis terrenos da região, estão povoações e diversas zonas que sofreram nos últimos anos intensas obras de requalificação ribeirinha. Quanto ás povoações é inevitável falar de Constância, uma das mais bonitas e preservadas vilas portuguesas, que seria parcialmente submergida ou teria de ser emparedada entre açudes. A respeito das obras de requalificação de áreas ribeirinhas deve-se referir a mesma Constância, mas também, e mais importante, Abrantes.
No ano de 2001 foi dado início ao projecto Aquapolis, que visava reestruturar as margens norte e sul do Tejo na zona junto à cidade de Abrantes. O projecto foi dividido em várias fases, duas das quais já foram concluídas. A primeira constava do projecto de Arquitectura Paisagista para o parque urbano de 36 ha e dos projectos de infraestruturas e arruamentos. A segunda fase, a mais importante do projecto, consistia na construção de um açude insuflável, o maior do país, que permitiria criar um enorme espelho de água, posteriormente chamado de “Mar de Abrantes”. A primeira fase do projecto custou por volta de 5 milhões de Euros e a segunda orçava em 10 milhões de Euros, valores sem as habituais derrapagens orçamentais. O projecto contou com apoio de programa Valtejo e do Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território, tendo sido aprovado pelo INAG. A inauguração oficial do projecto, apesar da primeira fase ter sido terminada em 2003, decorreu em Junho deste ano com a presença do primeiro-ministro Pinto de Sousa, o mesmo que enquanto ministro do Ambiente apoiou o projecto e o mesmo que agora o quer submergir baseado num plano do INAG, curiosamente o mesmo INAG que aprovou o projecto Aquapolis. No fundo, esta gente toda achou por bem gastar mais do que 15 milhões de Euros (3 milhões de contos) num projecto que tencionam agora submergir e que não temos certeza se não tencionavam já, na altura da aprovação . Todo este processo apenas demonstra o valor que se dá aos dinheiros públicos, ao nosso dinheiro, por quem nos (des)governa, e que apenas traz proveito para uma área de negócio que tem sido responsável pela destruição do nosso país – a construção civil. Só os construtores lucram com estes esbanjamentos, os mesmos construtores que pagam as campanhas dos partidos, os mesmos construtores que sabemos, sem precisarmos de provas, terem relações mais do que obscuras com o poder político, em especial o municipal. No caso de Abrantes importará referir que o Presidente da Câmara, que se tem manifestado com muito pouca veemência contra a barragem, foi constituído arguido por motivos ainda não conhecidos, devido ao segredo de justiça, após uma fiscalização à Câmara, e que o vereador responsável pelas obras públicas, e grande dinamizador deste projecto, é hoje em dia consultor do grupo empresarial que executou esta obra. Claro que tudo pode não passar de uma coincidência, mas enfim, estamos no extraordinário país delas.

10.12.07

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Este Natal apetece-me dar, mas não me apetece comprar. Dilema para resolver nos próximos dias.

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Os bens recolhidos pela Comunidade Vida e Paz para o jantar de Natal dos Sem Abrigo foram roubados. Ainda entendo que haja cobiça, mas à custa de quem nada tem está para lá da minha compreensão. Caso descubram os culpados sugiro imediato envio para a Somália ou a Etiópia, sem documentos.

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O ar de Lisboa voltou a estar respirável e não corremos riscos de embater em colunas policiais a proteger assassinos.

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Passou o dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira deste país melancólico. Falta espaço para todas as preces que precisamos.

6.12.07

À bomba

Enquanto vai chegando a corja de criminosos para a mui propalada cimeira, tenho tentar a contenção de me amarrar a uma bomba e descer em parapente sobre a reunião. Pouco se perderia, com honrosas excepções lá estará um bando de criminosos, responsáveis pelo persistente arrastar de um continente pela mais profunda miséria e onde o respeito pela vida é um delírio de utópicos. África é em tudo o exemplo do que não deveria ser e uma boa imagem do que é o mundo de hoje, onde os direitos humanos apenas têm significado quando há dólares ao seu lado, e mesmo assim nem sempre.

3.12.07

Yupiiieeee!!!

Y lo han callado. Por fin, e aunque sea por poco tiempo, lo han callado.
Bravos venezuelanos.

Vale mesmo a pena ler

“Se o Portugal do antes do cavaquismo era terceiro-mundista, acendia velas à inveja, à pinderiquice socialistóide e se comprazia em exibir mulheres de buço e o lumpen de mão estendida à caridade do Estado, os dez anos que medeiam entre 1985 e 1995 - mais o cavaquismo piegas de Guterres que se lhe seguiu - diluiram a cultura cívica, dinamitaram a respeitabilidade das forças fáticas, instituíram uma cultura de direitos - direito à riqueza, ao consumo, direito ao canudo - sem exigir trabalho, compeneração, esforço e qualidade. Muito daquilo que hoje se diagnostica teve a sua génese nesses anos de dourada promoção do nada em que Portugal, subitamente bafejado pela cornucópia dos fundos germânicos, preferiu as croissanterias, os jeeps e os aparthotéis à cultura da exigência. O cavaquismo é um velho carnicão. Está lá, ainda, seja em versão socialista, seja em "social-democrática". É um espinho cravado entranhado que nos vai privando, ano a ano, ao direito de sobrevivermos enquanto comunidade.”
Excerto de um post do Combustões que pode ler na totalidade aqui.

Sábado de festa

Apesar dos factos e do tempo insistirem em nos querer fazer pensar outra coisa, o 1º de Dezembro ainda é, e deve ser, dia de festa. Por muitos motivos que nos queiram dar para que queiramos antes alguém que diz “Porque no te callas”, valeu a pena poder manter este país que tem tanto de bom e bonito, como de desprezado e maltratado.

Manifesto masoquismo

A minha insistência em dar uso a uma Gamebox adquirida no início da época futebolística tem provocado insistentes momentos de masoquismo. O jogo de ontem poderia ser cinefilamente catalogado como uma enorme estopada realizada por um qualquer pretensioso realizador português (quase todos, portanto), alternando momentos de irrelevante – porém chatíssima – intriga, com laivos de pretensa comédia “nonsense” – como os falhanços acrobáticos de Purovic – e com um final trágico – porém tão anunciado que só um optimista incorrigível o não esperaria. O argumento é estafado e já visto e os intérpretes conseguem uma cada vez maior credibilidade no seu estilo de under-acting, por certo inspirados no bocejante Russel Crowe. Destoa Moutinho que passeia dignidade perante a restante camarilha, claramente inspirado em James Stewart. O resto parece uma mistura de pseudo actores “Morangos com Açúcar” com o refugo do Teatro Nacional D. Maria. A encenação é esforçada, mas manifestamente sem garra nem brilho. Os filmes que aí vêm não permitem grandes expectativas, será mais do mesmo, no fundo como o cinema português, sempre mais do mesmo e, infelizmente, o mesmo é muito mau.