10.2.06

O Leopardo – Beleza

Três horas num museu a ver pintura. Da boa, da melhor, em Technicolor. “O Leopardo”. Há muito para dizer sobre este filme, mas o essencial depois de o ver pela primeira vez no grande ecrã é a descoberta de um tempo em que o cinema era arte levada ao limite. Visconti compunha imagens como quadros ou fotografias em sucessão. Para além da história, para além das mensagens. Um esteta que fazia cinema de beleza incrível. Se filme há que nos mostra o essencial do grande ecrã e a sua vantagem sobre a nossa casa – mesmo contando com mantas, paragens para comer, poder fumar – é este. Conhecia o filme em formato de televisão e já me tinha fascinado, já o achava um conjunto belíssimo: a história, as interpretações, a música. Tudo isto é superado pela visão em cinema. O teatral terço que abre o filme, o piquenique em referência ao “Dejeuner sur l’herbe” de Manet, o quadro em movimento na subida a caminho de Donnafugata, a chegada com família cheia do pó a entrar em comitiva solene na missa, o fabuloso baile final. Não sei qual quadro compraria, talvez a entrada da beleza selvagem e absurdamente sensual de Angelica Sedara (Claudia Cardinale) no palácio em Donnafugata deixando os personagens e o público a suspirar por uma descida à realidade.

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