13.10.03

Portugal ou EUA

Estou inquieto...
São dias de pessimismo estes em que duvidamos do amor ao nosso país e não percebemos que país é pior, se o nosso querido Portugal se os agora fora de moda Estados Unidos.
Nós temos Ministros dos Negócios Estrangeiros que tentam alterar a lei à medida das filhas e, na impossibilidade de o conseguir, metem discretas cunhas a assessores do Ministro da Educação. Depois dizem sobre palavra de honra e em grande pompa que não falaram com o colega da Educação. Claro que agora se percebe que isso não era necessário, uma vez que o Ministro já tinha convidado o assessor da Educação a mudar para o seu ministério e assim nem precisou de falar com o colega, falou com o assessor. A continuação é ainda mais bizarra pois o primeiro a demitir-se foi o da Educação e, após grande estrondo no país, só depois o dos Negócios Estrangeiros. O mais curioso foi o silêncio ensurdecedor do Primeiro Ministro, quiçá preocupado com alguma pesquisa de receitas de cherne com a nova Ministra.
Ainda nós, temos um ex-deputado que estava em prisão preventiva por abuso de menores que, após recurso na relação aprovado apenas por maioria, saiu em liberdade com termo de identidade e residência. Num qualquer país isto seria um dado normal, noticiado com ponderação uma vez que o julgamento ainda não começou e, apesar da óbvia presunção de inocência, ainda ninguém foi ilibado. Mas não, aqui deu direito a directos desde as seis da tarde em todas as televisões, filmando incessantemente qual Manuel de Oliveira um plano fixo da porta da penitenciária, aguardando a emocionante saída do deputado. A histeria dos jornalistas era grande e á saída perseguiram a pé o carro onde o Sr. deputado saiu, rodeando-o no primeiro semáforo onde parou. O espectáculo prometia terminar, mas eis que num frenético directo do parlamento, dezenas de jornalistas se empurravam à porta. Chegou o carro e parecia a final do Super Bowl americano, as formações correram, sem olhar a meios, atrás da bola (vulgo deputado) por entre portas e escadas deixando vários espojados pelo caminho. Por momentos pensei que era o D. Sebastião a regressar, mas não, não havia nevoeiro. Os colegas do PS choravam, talvez recordando-se do 25 de Abril, e os abraços eram intensos ao herói - que por acaso é ainda arguido dos mesmos 15 crimes de abuso de menores, o que é de somenos importância. A emoção tomava conta de todos, com a honrosa excepção da jornalista da SIC que continuava a frisar que a situação jurídica do Sr. era igual á do dia anterior, com a única diferença de a aguardar em liberdade. Estranho país este em que as vítimas de crimes tão simpáticos como violação enquanto menores são esquecidos e os supostos criminosos tidos como vítimas de uma conspiração e tratados como heróis. Ninguém questiona que houve crimes, parece é que toda a gente quer que não haja criminosos, estes - ainda com presunção de inocência - ou outros quaisquer. O PS parece ter saudades de um sistema feudal em que os poderosos faziam o queriam e tinham tratamento diferente, para as ortigas a igualdade de direitos.
Perante isto, tudo parecia perdido, definitivamente Portugal seria um país do terceiro mundo mas...
Os EUA, grande bastião da nova civilização ocidental, suposto modelo social de virtudes acaba de eleger como governador de um dos seus estados mais importantes e quinta economia do mundo... o Arnold qualquer coisa. Aquele que já foi um Exterminador Implacável, o Conan, o único homem que já engravidou, o ex mister universo, no fundo um grande intelectual e um político de futuro.
Afinal continuo a preferir o nosso Portugal, nós, apesar de alguns Jardins, Loureiros, Avelinos ou Macários, ainda não elegemos o Tarzan Taborda para nenhum cargo público. Benza-nos Deus.

JAC

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