26.7.04
Fogos I
Chega o verão e o calor desperta o inferno latente que durante meses hibernou em terras de Portugal. O tempo é de notícias de fogos, de devastação, de povoações em perigo, de bombeiros sem meios, de números incríveis de hectares ardidos por esse país fora. Todos lamentamos, mas ano após ano a área ardida aumenta, os danos são mais graves, a floresta continua essa espiral de desaparecimento a que custa pôr fim. De Lisboa vem pena, comiseração por quem tudo perdeu, pelos danos tantas vezes irreversíveis em áreas naturais da maior beleza. Tudo isto num distanciamento que magoa a emoção que se tem de estar ao vivo defronte de uma floresta em altas chamas. Não que não sejam genuínos os sentimentos citadinos, mas é difícil, estando à distância, compreender o que são os fogos para quem vive no interior, por entre vastas e belas florestas das quais depende a sua sobrevivência. Perceber a impotência encolerizante que é ver o fogo avançar pelos campos como se numa corrida se encontrasse, deixando sempre um rasto negro, macabro e devastador.
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