Foi uma triste noite. Aquele sentimento de vergonha alheia. Sócrates a tentar a humildade e a serenidade na entrevista à SIC. Embaraçoso. Tudo soou a falso, a encenado, a uma cena estragada por um mau actor. Lembrei-me de Diogo Morgado, dos actores dos “Morangos com Açúcar”, de grande parte dos actores portugueses quando fazem cinema. Erros de casting, erros na profissão, gente deslocada, “Lost in Translation”. Pode-se gostar, ou não, de Sócrates, mas a sua versão genuína é coerente. Eu não gosto, já não suporto mesmo, mas admito que faz sentido, ele é assim.
A sua versão delicodoce e calma foi penosa, mas ainda assim a sua genuinidade estava lá, ao manter o conteúdo apesar de camuflar a forma. Tudo assim foi ainda mais falso, pois ver alguém que quer passar por humilde dizer que está muito satisfeito consigo mesmo e que os únicos erros que se lembra, talvez por problemas de memória, são a falta de verbas para a cultura e uns pequenos erros de explicação de algumas reformas, diz tudo sobre a sua humildade.
O pior estava, ainda assim, reservado para o fim, quando escolheu um golpe baixo para dizer o que o distingue de Manuela Ferreira Leite, referindo duas “boutades” da líder do PSD para escarnecer dela e mostrar a sua genuína agressividade e arrogância. Talvez com isto se engane outra vez na forma, porque o povo português parece não gostar de faltas de respeito e Ferreira Leite é, pelo menos, uma senhora vetusta e que se dá ao respeito. Fico curioso de ver um debate entre os dois e de ver se Sócrates, perante Manuela, voltará a comportar-se como uma menino mimado, arrogante, impertinente e mal-educado. É que estas coisas são intrínsecas e só um grande actor pode conseguir superá-las, coisa que ontem se provou que Sócrates não consegue ser.