Tragédia e farsa

"Com um país endividado e a caminho da falência, a Câmara de Paredes tenciona desfraldar a bandeira.

Para sermos exactos: construir um mastro com cem metros de altura (quase um Cristo-Rei) e encimá-lo com uma bandeira portuguesa de proporções colossais. A ideia, diz o presidente, é festejar a República no ano do seu centenário. E o preço, 1 milhão de euros, não assusta o edil. Assustar? Nas comemorações que se preparam por aí, a Comissão Nacional ameaça gastar dez vez mais para celebrar a instauração de um regime de violência e mendacidade que, em apenas 16 anos, preparou Portugal para os 48 de ditadura e Estado Novo.

A bandeira de Paredes pode ferir o nosso decoro fiscal, para não falar do estético. Mas ela será o símbolo perfeito da nossa aventura republicana: uma história que começou em tragédia para terminar em farsa."

João Pereira Coutinho in "Correio da Manhã"

De volta a casa

No regresso a casa tudo parece igual, um país cinzento e triste como este dia outonal. Do sol nem vislumbre, escondido por densas nuvens brancas que retiram toda a possibilidade de luz. Tal qual o deixei há umas três semanas. O meu lado conservador até aprecia esta constância, o meu lado pessimista quase se regozija por ter razão, o meu optimismo anda cada vez mais tímido. Esta condição portuguesa obriga a uma certa habituação e conformismo, quanto mais não seja pela preguiça de tomar uma qualquer atitude mais drástica. Sair deste local mal frequentado sempre areja ideias e abre novas perspectivas, mas é importante não cair na tentação de, na volta, olhar o país com "novos" olhos. Pelo menos se nos queremos poupar a uma imensa depressão.

Postais de Viagem

Os Andes esmagam na imensidao e diversidade, na maneira simples como tornam o Homem pequenino e insignificante. Ao seguir por estradas desertas de carros e cheias de uma beleza rude, em que a janela se torna a tela de um excelente documentário, deixamos, como Jacinto, que o apelo forte da natureza nos faça esquecer a sociedade do conhecimento e da Civilizaçao.