30.3.06

O Fonógrafo e o Gira-discos

Entusiasmado por em final saber por música no blog, entram hoje em acção mais dois leitores, o Fonógrafo e o Gira-discos, a juntar à Grafonola.
O Fonógrafo estreia-se com Amália a cantar “Vagamundo” – com música de Alain Oulman e letra de Luís de Macedo –, gravado em 1962 no disco que veio a revolucionar toda uma maneira de encarar o fado, o "Sem título" e posteriormente entitulado “Busto”.
O Gira-discos começa de forma cool, com a interpretação de Chet Baker em Flugelhorn de “Baby Breeze” de Richard Carpenter, gravado em Novembro de 1964 no disco com o mesmo nome.

Justiças

No processo Casa Pia parece que já se encontraram vítimas, tanto que o estado terá – e muito bem – que as indemnizar. A questão é que caminhamos a passos largos para não ter culpados, seja por absolvição, falta de provas ou prescrição. Enfim, o costumeiro país da justiça onde dá um enorme gosto viver.

28.3.06

Imagem e palavras


Convento da Arrábida, 2004

E do velho fez novo, dando-lhe alicerces e estrutura – tudo simples, tudo puro –, para erguer uma nova construção, um pouco velha, um pouco nova. Despojada, essencial. Sem ornamentos desnecessários, sem fugir à simplicidade das formas. Recuperando e reaproveitando o bom, o original, o que conduzia a Ele, edifício universal e perfeito.

27.3.06

25.3.06

Na Grafonola

Hoje, mudança na grafonola aqui do lado: “Alguien le dice al Tango”, com letra de Jorge Luís Borges e música de Astor Piazzolla; no bandonéon Daniel Binelli e na voz Jairo.

23.3.06

Hoje

O vento sopra
O barco tem medo
Ás armas, ás armas

O Inventor – Heróis do Mar

Ontem

Por inexplicáveis Benquerenças ao Norte de uma criatura de amarelo vestida, acabei ontem desiludido após fumar mais do que devia. Com menor Benquerença, determinado resultado seria outro e pouparia adeptos ao desnecessário, e neste caso injusto, sofrimento dos penaltys. O Olegário que vá Bem-querer para outra freguesia, que de Benquerenças destas está Alvalade cheio.

Coisas da Vida Boa

Passear no Chiado e ter um súbito e incontrolável ataque de fúria consumista. Chegar a casa com sacos muitos e voltar a provar a roupa ao som de novos discos. Ir para a cama com livros novos na mesa-de-cabeceira.

21.3.06

Poesia

Diz que hoje é o "Dia Mundial da Poesia". Mantendo a coerência deste blog e a sua irritação com Dias Mundiais, hoje não teremos postas com poemas. Manias minhas…

Boas Notícias

O Contra a Corrente fez três anos e ameaça continuar.

Agradecimentos

Ao Abencerragem por ter a amabilidade de linkar este blog.

17.3.06

Coisas (realmente) graves

Estar quase sem stock de compota de chá Marco Pólo (da Mariage Frères).

St. Patrick's Day

Nada melhor do que música para comemorar o santo irlandês, quer dizer, talvez uma dúzia de pints de Guiness pudessem substituir a música, ou uma garrafinha de Tullamore Dew e um balde de gelo. Ou melhor, juntar os três dentro de um pub irlandês - por exemplo o Matt Molloy's em Westport -, com uma autorização excepcional para fumar lá dentro, e ficar noite fora até nos mandarem para casa.

Cores

Há dias que me apetecia ser milionário. Hoje, com a chuva lá fora, daria por bem empregues os milhões dispendidos num Van Gogh que olharia intemporalmente.

16.3.06

Coisas do M(e/a)u Feito

Teimar em usar torradeiras antigas – das que torram um lado de cada vez –, sempre pondo a aquecer em segundo lugar – como é óbvio – a face que levará a manteiga amolecida previamente. Quando assim não é, admito ataques de vigorosa indignação.

14.3.06

Modernices

E pronto, cedi ao progresso e instalei uma grafonola neste blog. Não aguentei a falta de música neste fundo preto e, depois de aturadas e muy custosas pesquisas, lá consegui perceber como musicar a coisa.
Para começar, uma escolha incontornável: o grande Vinicius de Moraes. Podemos ouvir aqui uma interpretação ao vivo – em “La Fusa” de Mar del Plata, em 1971 – com Toquinho, do clássico “Tarde em Itapoã”. A apresentação da música é, como quase sempre nos concertos de Vinicius, uma delícia que nos faz querer lá estar. Lá, onde ele estava a cantar, e lá, onde ele pensou a música entre cachaça e água de coco, pisando areias da praia: ”con la mirada perdida en el encuentro de cielo e mar, bien despacito, parece que sentimos toda la tierra a rolar”.

13.3.06

O Espectro

Uma citação de Vasco Pulido Valente para marcar o fim de O Espectro:
“O dr. Cavaco não desembarcou ontem de Boliqueime e a cabeça dele não é um mistério. Nunca percebeu o país que governava e, hoje como ontem, sempre o quis transformar num "bom aluno" da Europa: sério, cumpridor e "moderno". Como? Aplicando, "com rigor", o "modelo" de Bruxelas: no fundo, o modelo clássico da "social-democracia", corrigido por algum "liberalismo" relutante e forçado. Não lhe ocorreu que esse "modelo" pudesse não servir à nossa velha cultura de isolamento e miséria, e à nossa classe "dirigente" irresponsável, oportunista e crassa. O resultado não se recomenda. Mas Cavaco não aprendeu nada no exílio. Volta disposto a repetir a dose, "em comum" com o governo, se o governo deixar. Ou seja, ponto a ponto, "medida" a "medida" vai tentar refazer o Portugal imaginário do seu tempo de glória. Um exercício inútil, como já se provou.”

Fim-de-semana

Isto de estar um fim-de-semana fora da net traz surpresas por vezes desagradáveis. Dois blogs acabaram – “O Espectro” e “O Sinédrio” – e vão encurtar os meus favoritos aqui do lado. Pena.

Naval

O que eu gosto da minha Figueira, nem a distância me a faz esquecer. Que simpática a sua visita de ontem a Lisboa. Que bons ares marítimos e o sopro da Serra da Boa Viagem.

9.3.06

Sinceridade

Apesar de tudo, vou ter muitas saudades de Sampaio.

Estado do Sítio

Guiava ontem tranquilamente por Lisboa e comecei a sentir a opressiva presença de polícias em quantidades absurdas. A ideia de golpe de estado assaltou-me, mas pensei mais friamente – de quem e contra quem. Loucos insatisfeitos seremos muitos, mas na sua maioria preguiçosos e com pouca vontade de maçadas.

8.3.06

Estado da Arte

Ontem, Paulo Portas foi mais o ex-ministro do que o ex-director de “O Independente”. Pena, entre dois “ex” e algo de novo fez a pior opção.

Coisas do M(e/a)u Feitio

Descobrir ocultos instintos homicidas quando me fazem perguntas no pós acordar.

6.3.06

Como eu a compreendo

“Quero muito ir a Portugal. Mas tenho medo porque ouço dizer que está tudo muito moderno. Estou a reler, pela quinta vez, A Cidade e as Serras e sonho com o Portugal de Eça. Não quero ver auto-estradas!”
Danuza Leão em entrevista à revista Sábado

3.3.06

Anúncio de imprensa II

Oferece-se, a custo zero, ministro dos negócios estrangeiros de país da comunidade europeia. Dado o perfil do proponente, dá-se prioridade a repúblicas sul americanas com regimes de esquerda populista. O curriculum do candidato é vasto e sabe usar a palavra "licenciosidade".

1.3.06

Carnaval II

Alguns amigos resolveram combinar um jantar em que pediam, quase exigiam, disfarce. Estava eu em dia de pouca paciência para a coisa, mas vá, resolvi aderir. Fui ao armário buscar a uma t-shirt do Che Guevara, aproveitei a barba de alguns dias, e saí pronto para uma manifestação anti-globalização ou da protectora dos animais. Tentei, mas não consegui, encarnar na personagem, afinal é mais difícil um disfarce consistente de coisas mais comezinhas, mas que nos são mais próximas, do que uma máscara exótica de personagens de ficção. Ainda ensaiei tratar as pessoas pelo apelido precedido do clássico camarada, mas, apesar de algum esforço, acabei a noite a discutir perspectivas sobre a religião. Podemos nos querer disfarçar, mas no final acabamos invariavelmente por cair nas nossas convicções mais sinceras.

Carnaval

Enquanto do Brasil chegam imagens de loucura colectiva, de calor e diversão, o nosso país lá arrastou mais um deprimente Carnaval. Por aqui ainda há criaturas que teimam na cópia e insistem em desfilar semi-nuas com uma temperatura de gelar. Talvez uma penitência pagã que substitua idas a pé a Fátima, mas, apesar dos seus mistérios, a fé é mais compreensível do que exercícios que aparentam um simples e disparatado masoquismo.

Marcha de Quarta-Feira de Cinzas

Acabou nosso Carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar

Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz

Vinicius de Moraes