29.11.09

Postais de Viagem

O apelo da vastidao nao é fácil de explicar, mas por qualquer motivo ele tem em mim muita força, o que me leva a estar em San Pedro de Atacama, no meio do nada, entre algures e nenhures. Gosto desta beleza dura e infinita, em que me sinto mais perto de algo indefinível a que alguns talvez chamem paz. A longura convida a limpar a alma de ruídos acessórios do dia-a-dia, deixando o cérebro como que num banho termal tépido e relaxante. Nem o mal das alturas, capaz de devastar a cabeça com dores bem desagradáveis, consegue fazer esquecer o poder da natureza e de vulcoes, géiseres, vales rasgados em sal ou rocha, de uma paisagem pouco terrena com que o criador brindou Atacama.
P.S. Onde se escondeu o til deste teclado.

Postais de Viagem

A surpresa é, quase sempre, boa numa viagem, foi por isso muito agradável chegar a uma cidade sul-americana em que os condutores param suavemente nas passadeiras sem que tenhamos de nos atirar, qual suicidas, na tentativa de colher alguma boa vontade e atravessar uma rua. Santiago nao tem muitos pontos de interesse para visitar, mas trata-se de uma cidade tao civilizada que é um imenso gosto percorrer as ruas e terminar o dia numa esplanada no Barrio de Bellas Artes bebendo um Pisco Sour.
P.S. Texto com problemas de acentos graças a este diabólico teclado.

24.11.09

Postais de viagem

As nuvens apareceram ao fim do dia, como que facilitando as despedidas. Simpáticas, abraçavam os "dois irmãos" que espreitavam tímidos e a espaços. O Rio não tem mais encanto na hora da despedida, ele permanece perene em quem já deambulou por esta terra encantada. Poucos sítios justificam. como este, ser admirados por uma representação de Cristo, por certo orgulhoso com a a sua obra. A beleza desta cidade ultrapassa pormenores de arquitectura de gosto duvidoso ou de favelas pobres e anárquicas. Está na natureza, nos morros, no recortado da costa, no mar, em qualquer coisa estranha a que não serão estranhos os cariocas, invenção de alegria e boa vida contagiante.

21.11.09

Postais de viagem

Calor e falta de planos. Aproveitar a onda carioca e deixar as horas correr entre choppes e mergulhos. O caminho irá seguir ainda sem destino definido, numa liberdade que em momentos questiono. O melhor é deixar o sol continuar a brilhar despreocupadamente.

20.11.09

Férias

O blogue está de férias e ontem comprovou que há Sushi Leblon para lá do blog. A Madonna já cá não está, mas vislumbravam-se longas e elegantes pernas, bem encimadas por caras frescas e bonitas. Lá fora o calor dissolve e empurra ferozmente para a praia.

10.11.09

O Muro

A história é, por hábito, boa conselheira. Vale a pena por isso lembrar o Muro e o que ele significou. Nestes tempos em que quase tudo se relativiza, é bom ter em conta o que de facto foi o comunismo. Podemos simpatizar com comunistas, mas olhando para a história é cada vez mais intolerável a capacidade para tolerar o comunismo. Está tão na moda tolerar os extremismos da esquerda, que talvez convenha aos modistas lerem um pouco de história, sob pena de passarem amiúde por ignorantes, ou então por colaboracionistas, tudo pervertendo ao gritarem liberdade em nome de regimes como o que caíu, em boa hora, com o Muro.

4.11.09

Os intocáveis

Mário Crespo no JN, cada vez mais uma leitura essencial.

O processo Face Oculta deu-me, finalmente, resposta à pergunta que fiz ao ministro da Presidência Pedro Silva Pereira - se no sector do Estado que lhe estava confiado havia ambiente para trocas de favores por dinheiro. Pedro Silva Pereira respondeu-me na altura que a minha pergunta era insultuosa.
Agora, o despacho judicial que descreve a rede de corrupção que abrange o mundo da sucata, executivos da alta finança e agentes do Estado, responde-me ao que Silva Pereira fugiu: Que sim. Havia esse ambiente. E diz mais. Diz que continua a haver. A brilhante investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro revela um universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça.
O país tem de saber de tudo porque por cada sucateiro que dá um Mercedes topo de gama a um agente do Estado há 50 famílias desempregadas. É dinheiro público que paga concursos viciados, subornos e sinecuras. Com a lentidão da Justiça e a panóplia de artifícios dilatórios à disposição dos advogados, os silêncios dão aos criminosos tempo. Tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de crimes na habituação. Foi para isso que o primeiro-ministro contribuiu quando, questionado sobre a Face Oculta, respondeu: "O Senhor jornalista devia saber que eu não comento processos judiciais em curso (…)". O "Senhor jornalista" provavelmente já sabia, mas se calhar julgava que Sócrates tinha mudado neste mandato. Armando Vara é seu camarada de partido, seu amigo, foi seu colega de governo e seu companheiro de carteira nessa escola de saber que era a Universidade Independente. Licenciaram-se os dois nas ciências lá disponíveis quase na mesma altura. Mas sobretudo, Vara geria (de facto ainda gere) milhões em dinheiros públicos. Por esses, Sócrates tem de responder. Tal como tem de responder pelos valores do património nacional que lhe foram e ainda estão confiados e que à força de milhões de libras esterlinas podem ter sido lesados no Freeport.
Face ao que (felizmente) já se sabe sobre as redes de corrupção em Portugal, um chefe de Governo não se pode refugiar no "no comment" a que a Justiça supostamente o obriga, porque a Justiça não o obriga a nada disso. Pelo contrário. Exige-lhe que fale. Que diga que estas práticas não podem ser toleradas e que dê conta do que está a fazer para lhes pôr um fim. Declarações idênticas de não-comentário têm sido produzidas pelo presidente Cavaco Silva sobre o Freeport, sobre Lopes da Mota, sobre o BPN, sobre a SLN, sobre Dias Loureiro, sobre Oliveira Costa e tudo o mais que tem lançado dúvidas sobre a lisura da nossa vida pública. Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: os agentes do Estado protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial que rendem 147,5% ao ano. Lida cá fora a mensagem traduz-se na simplicidade brutal do mais interiorizado conceito em Portugal: nos grandes ninguém toca.