31.3.05

Iogurtes

Ontem foi dia de passagem no supermercado. No decorrer do abastecimento corrente resolvo comprar uns iogurtes, algo que durante anos deixei de consumir mas que agora voltei esporadicamente a comprar. Olho em volta e um suave terror me invade, a variedade é tanta que bloqueio. Há uns anos, quando os iogurtes eram banais lá em casa, a escolha quase se resumia aos Yoplait, variando entre morango ou pêssego, os naturais (que sempre achei desenxabidos) ou os exóticos de coco. A mãe, de vez em quando, lá dava uso à iogurteira e tentava que a produção caseira desse vazão para o gasto. Até que eram comestíveis, se lhes juntássemos mel ou algo para dar graça. A chegada do “Pecado dos Anjos” foi acontecimento, e de pronto se tornaram imprescindíveis. Lembro também os Adágio, com compota no fundo do boião e que se misturava à colher. Foi aí que deixei os iogurtes. Ontem, como em outros dias recentes, a escolha ia dos “light” aos com “bifidus activo” (que mais irão inventar), dos líquidos com chá verde e ginseng aos energéticos com guaraná. Parecia um laboratório em que o difícil é encontrar algo normal. Depois de um bloqueio, lá passei calmamente os olhos pelas prateleiras até encontrar uns frascos de iogurte líquido, normal, de morango. No meio do caos lá veio a simplicidade. O mundo de hoje não facilita a tarefa de quem procura coisas simples, tentem comprar iogurtes e logo verão.

30.3.05

Referendos II

Segundo as sondagens, o referendo sobre a Constituição Europeia corre o risco de não passar em França. Para além de uma custosa identificação com o povo francês fica uma dúvida: o que irão os burocrato-ditadores de Bruxelas fazer para “obrigar” à aprovação da Constituição? Referendos consecutivos como na Dinamarca há uns anos atrás? Para Bruxelas a ideia de Europa é algo de inquestionável, e os referendos meros pró-formas para iludir a populaça. Esperarei para ver, agora com alguma esperança num povo que poucos motivos de agrado me costuma dar.

Referendos I

Portugal prepara-se para dar prioridade ao referendo do aborto sobre o referendo à Constituição Europeia. Há medidas que dizem bem do país em que vivemos.

Diálogos Imaginários

– Charles, hoje gostava de lanchar na varanda. Pode trazer chá na mesma, mas queria também água fresca.
– Com certeza menino.

28.3.05

Parabéns

O Fora do Mundo faz um ano. Parabéns a três dos mais interessantes bloggers portugueses.

Páscoa passada

Fim-de-semana na terra. A Páscoa assim o obriga, sempre que possível.
Sexta-feira
Chegada a tempo da tradicional procissão do enterro, cada vez mais humilde mas sempre emocionante. Este ano sem o barulho das matracas que abriam o cortejo, avisando o povo que ia passar, que o enterro de Cristo ia passar. As matracas que em pequeno temia e me deixavam quase em êxtase reverencial perante a passagem da procissão. Os tempos mudam. Permanece a espera silenciosa, respeitosa, acendendo velas ás janelas. A passagem da procissão, com os seus cantos tristes, com a solenidade devida ao momento. Para quem não crê, talvez só as procissões majestáticas de Sevilha possam despertar algo, para quem crê, um momento simples de devoção pode ser suficiente para deixar algo.
Sábado
Acto de insanidade, resolvo arrumar gavetas e armários atulhados. Animadamente vou juntando postais ou selos de colecções esquecidas, encontrando papéis que me remetem para tempos passados. Espanto-me com a quantidade de coisas que podem estar numa gaveta, nas memórias que se guardam sob as mais variadas formas. A meio da tarde grito sozinho, em volta o caos está instalado e começo a recear que afinal vou acabar a atirar tudo para os armários sem ordem nem arrumação. Sustenho o desespero e lá consigo melhorar o estado das coisas. Sou um desarrumado por excelência e só concebo arrumações radicais, do estilo tirar tudo e ser forçado a organizar, custe o que custar.
Domingo
Descanso sereno. A província deixa o tempo ser arrastado com calma, muita calma. O jantar será o habitual caos familiar, a tarde um vagabundear pela casa tranquila.

23.3.05

Televisão

Dou ás vezes por mim a grunhir por causa da má programação da televisão. São demasiadas as vezes em que o furioso “zapping” pelos inúmeros canais de cabo se revela infrutífero. Estrebucho até que começo a sorrir, sim, nada melhor que nos faltar o hipnótico habitual para fazer coisas mais produtivas como ler um livro, ouvir boa música, escolher um DVD ou até, em desespero, arrumar o escritório. A televisão é um Prozac com substitutos, o problema é que nos esquecemos disso vezes demais.

O Tempo

Ando por aqui a falar muito do tempo. Reparo que a uma posta chamada “Sol” se seguiu uma chamada “A chuva”. Falta de assunto? Talvez a modorra momentânea do país nos chame para temas mais comezinhos, ou será a preguiça de escrever sobre coisas que dêem mais trabalho, ou talvez as duas coisas.

Parabéns

Os parabéns – atrasados “comme d’habitude” – ao Contra Corrente pelos dois anos de blogosfera. É obra. Esperemos que continue e que não se farte pois faria falta.

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Clonmacnoise, Irlanda, 2000

21.3.05

A chuva

Desejada, qual D. Sebastião. Finalmente a chuva. Lá fora o ruído deslizante das rodas sobre o molhado. As gotas sobre a poças que as anteriores formaram. A chuva cai e a terra grita de alegria tentando-a absorver. A chuva, finalmente.

17.3.05

Sol

De consciência pesada um sol de Primavera. O país está seco – e também um bocadinho seca – e dou por mim a olhar agradado o sol pela janela ao som de Brahms. O que é bom terá necessariamente de fazer mal? Agora até um simples estado de alma é meio caminho para a culpabilização. Apetece dizer que se lixe o país, mas como é que vão ser os campos alentejanos em Abril, onde vão estar as cores que neles brilham sob os sobreiros. No distanciamento da minha janela é fácil ironizar, mas o caso é mais sério do que a socratização do país, essa talvez cause menos danos do que a falta de chuva.

16.3.05

Cuidado

Santana desfez finalmente o tabu, afinal regressa à Câmara de Lisboa. Discute-se agora a legitimidade desta opção: legalmente penso ser incontestada, afinal ele nada teve de fazer para voltar à autarquia, a lei assim o designou; politicamente há um facto – aquele que foi apontado para que a mesma pessoa não tivesse legitimidade para chefiar o governo – indesmentível, o senhor foi eleito para esse cargo e apenas volta para o concluir; eticamente a coisa pia mais fino, afinal o senhor foi a votos – apesar de ser em legislativas que não é, obviamente, a mesma coisa – e levou com uma derrota estrondosa (em particular em Lisboa).
Santana parece envolto numa qualquer loucura, que hesito a atribuir a álcool ou drogas, desde que se tornou Presidente da Câmara de Lisboa. As suas decisões são erráticas, incompreensíveis, disparatadas. Obviamente que se deveria remeter a um silêncio cauteloso e a deixar o tempo passar. Assim não quis. Pagará Lisboa, pois com apenas alguns meses de mandato – até a uma provável recandidatura – vão-se avolumar as medidas em cima do joelho, as tontarias mediáticas, os outdoors a crescerem como cogumelos. Lisboa pagará, pois é a vítima mais fácil para que a Vítima se vingue que quem o vitimizou. O Guerreiro-Menino precisa de guerra e a capital irá ser um belo palco de batalha. Vamos esperar avisados, começando já a estruturar guerrilhas urbanas para impedir torres em Alcântara e mais túneis disparatados, e a criar uma brigada anti-outdoor com o objectivo de dar um prémio a quem mais outdoors conseguir deitar abaixo.

14.3.05

Bom sinal

Segundo o Expresso, Edite Estrela e Ana Gomes criticam o novo governo. O motivo é indiferente, algo que reúna a crítica destas duas senhoras torna-se logo num sinal de esperança.

Regresso

Após umas merecidas férias de quase isolamento do mundo, o regresso.
O nosso país está diferente, com um novo governo PS a tomar posse com Freitas do Amaral como ministro e com o Porto a perder em casa 4-0 (vou alegar amnésia para não falar do jogo de ontem em Alvalade). O sol primaveril continua e a seca ameaça ser longa e catastrófica. Falando em ameaças, parece possível que Santana volte à Câmara de Lisboa e fala-se num referendo sobre o enorme buraco do Marquês.

Diálogos Imaginários

– Olá Charles.
– Como está menino? As férias foram boas?
– Excelentes Charles, excelentes.
– Deixe ver as malas para tratar das suas coisas
– Obrigado Charles, bem sabe que odeio desfazer malas.

Coisas da Vida Boa

Férias.

4.3.05

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Igreja de S. Francisco, Porto, 2002

Férias

A próxima semana é de férias. Talvez por aqui passe ou talvez não. Até lá que todos passem bem, eu pelo menos vou fazer por isso, para que eu passe bem.

Diálogos Imaginários

– Já tenho toda a sua roupa ordenada no quarto de vestir. Quer confirmar se está tudo bem?
– Não é necessário Charles, confio em si. Pode fechar as malas.

2.3.05

Coisas da Vida Boa

Um pequeno-almoço tranquilo, em frente ao computador e em passeio pela blogosfera. Na mesa um Kousmichoff Prince Wladimir bem quente e umas torradinhas de pão saloio com manteiga e queijo da Ilha. A ser assim, o começo de um dia até pode ser uma actividade suportável.

Diálogos imaginários

- Menino, onde ponho os jornais e o dicionário Houaiss que saiu hoje no Diário de Notícias.
- Deixe ai ao lado Charles, quando acabar o pequeno-almoço já os vou ler.

1.3.05

Masoquismo

Acho que todos teremos um pouco saudável de masoquista, pelo menos assim o espero. Ao ver a quantidade de gente que estava ontem em Alvalade, percebo que rapidamente esgotaríamos todos os psiquiatras de Portugal e Espanha se assim não fosse: saudável, apesar de masoquismo. Até a alma se me gelou. Ao menos foram quatro golos e lá voltámos ao primeiro lugar.

Blogosfera

Actualizações aqui ao lado. Boas vindas a novos blogs. Agradecimentos ao Insurgente e ao Lobi do Chá pelos respectivos links. Ao segundo aproveito para invejar o nome, isto enquanto decido entre um Darjeeling (segunda colheita) e um Assam.