27.12.05

Coisas da Vida Boa

O Natal em família. Para além das birras das crianças, das discussões idiotas dos adultos, das provas de vinhos, dos doces, dos presentes.

23.12.05

Natal

Hans Baldung Grien (1484 – 1545)

O Anarcoconservador deseja um Santo Natal a todos os seus leitores.

Luzes de Natal II

Rua Garret
Uma confusão e excesso de iluminação tão grande que nos faz lembrar Las Vegas. Salva-se por ser, apesar de tudo, o coração do Chiado, ainda o sítio mais civilizado para fazer compras no Natal.

Av. João XXI
O simples aproveitamento dos postes de electricidade para umas árvores de Natal estilizadas funciona muitíssimo bem. Bom efeito.

22.12.05

Surpresa

Com o Bilhete de Identidade caducado vai para quatro meses, lá me resolvi a suportar o inferno da função pública e a via-sacra das senhas e dos impressos e do atendimento mal-humorado. Cheguei ao Areeiro a fazer exercícios respiratórios e a tentar manter-me em zen para não abalar o espírito natalício e começar a descompor as meninas dos “guichets”. Entrei e, sem dar por isso, estava a trocar sorrisos com a simpática senhora dos impressos, estava – sem ter tempo de pensar – a andar eficientemente de um lado para o outro sem esperas. Cheguei num ápice ao “guichet” final onde mais uma simpática senhora me despachou rapidamente e saí atónito. Para rematar vou agora lá buscar o meu renovado BI, três horas depois da minha primeira visita a esse oásis da função pública que é, ou pelo menos foi hoje, o serviço do Arquivo de Identificação de Lisboa no Areeiro.

Presentes

Ao se ler a posta anterior pode-se ficar com ideia de mim como um espartano com horror ao dinheiro e ás compras. Errado, gosto muito de compras. E gosto muito de dar presentes, e de receber. Dá-me um imenso gozo procurar um presente a pensar em determinada pessoa, tentando encontrar “aquela coisa” que a vai surpreender e agradar. Gosto de rasgar papéis em busca de uma surpresa. Tudo isto é óptimo, mas quando o tempo escasseia e nos tornamos escravos de ter de dar qualquer coisa, e que essa coisa não pode ser uma hilariante brincadeira comprada numa loja de trezentos mas algo que valha 5, ou 15, ou 50 Euros, que foi o que custou o presente da outra irmã. Aí, algo está errado. O dar por obrigação e com obrigação de preço é terrível, e angustiante. Este ano, lá em casa optámos por não dar nada entre os que já trabalham. Não concordei, acho que o que se deve estabelecer é a anarquia nas escolhas que permita por exemplo dar palavras, ou uma fotografia, ou outra coisa que façamos ou que até compremos sem a obsessão do preço e da a aparência aos olhos dos outros. Não é assim tão difícil dar qualquer coisa barata que as pessoas gostem, por exemplo uma colectânea de música feita no computador com uma capa feita e impressa no mesmo – custo: um Euro do Cd e, quanto muito, 1 Euro de folha e de tinta da impressora. Falo por mim, mas preferiria isto a um par de meias de uma cor que não goste, mas que possa custar 15 Euros. Hoje, falta imaginação ás pessoas, criatividade que permita que as coisas não custem fortunas absurdas, que sejam, de facto, indicadas para quem recebe, que sejam mesmo um símbolo de que estávamos a pesar naquela pessoa quando comprámos determinado presente.

19.12.05

Advento

O Natal aproxima-se e só se fala de compras, de presentes. Neste mundo parece que o Natal é unicamente consumo, o clímax de uma época de desenfreado gastar de dinheiro, um hino à superficialidade materialista. Contra as compras nada tenho – até antes pelo contrário –, mas o Natal de hoje é, para a maioria, só e só isso. Que é bom para a economia, pelo dinheiro que circula, não tenho dúvidas, mas que significado atribuirão as pessoas ao Natal? Que é uma simples troca de presentes com dinheiros estabelecidos para cada pessoa como se estivéssemos a passar um cheque de amizade? O mundo que nos rodeia parece esquecer o que é, de facto, o Natal, uma festa religiosa que celebra o nascimento de Jesus Cristo, uma data fundadora do cristianismo. O resto é acessório perante algo de tão essencial, mas o mundo anda enganado em tanta coisa que já não espanta que, também nisto, esqueça o essencial por troca com o acessório dominante.

16.12.05

Frio

Está um frio que corta. Lembra-me Salamanca, na Castela do frio seco. As noites longas entre as facas do vento e os fornos onde entrávamos como frangos. Gosto do frio, do frio seco, sério e intenso. Ficar na casa quente ou sair com a minha velha canadiana, cobertor que me isola, cachecol enrolado ao pescoço e o vento que desperta a cara. Sem o frio não podia gostar do calor e sem estações o mundo é uma seca confortável, ou não, mas sempre seca. Gosto quando gosto do Inverno, ou quando gosto e gostando estou a gosto. Estranho em mim tamanho bem-estar, mas até sabe bem, o espírito natalício parece chegar aos poucos, frio e de pantufas.

Quase acidente

Lá ia eu tranquilo no meu carro, a velocidade aceitável e na calma de ouvir Chet Baker, quando olho para o lado e com o sobressalto dou uma guinada, travões e quase me estampo, não fora hora de pouco trânsito e não ter – ainda não sei como – abalroado ninguém. Uns olhos esbugalhados, mas de carneiro mal-morto, num estranho misto que parecia querer sair do outdoor e qual filme de ficção científica série Z me hipnotizar e tele-transportar para o planeta Zorg. Cavaco apareceu finalmente e os meus pesadelos recomeçaram. Depois do anónimo cartaz da bandeira nacional com a esfera estilizada, eis que surge, após óbvias horas de maquilhagem, no seu esplendor. Tudo é normal, eu é que teimo em não me habituar ao regresso da figura e ainda não me preparei com sessões intensas de Ioga para o que me poderá esperar daqui a um mês.

14.12.05

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A luz amarela do Inverno. O falso calor do dia.

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No burburinho que nos trespassa nas ruas, a serenidade de um Natal verdadeiro permanece. Inabalável.

13.12.05

Ainda datas – Chá

Sai um Assam, em bule escaldado, pelos dois anos do Lobi do Chá.

Datas

Como sempre, as datas passam por aqui registadas em atraso. Umas vezes, recupera-se a oportunidade de as referir, outras, envergonhadamente, deixam-se passar como o vento. Até o segundo ano deste blog passou, há uns dois meses, sem que eu desse por isso e só por acaso me apercebi, data passada, da ocorrência. Lembrar datas não é comigo, e só a agenda, a velha manuscrita e gasta, me ajuda a fugir de falhas, ás vezes graves.


D.Pedro V (150 anos sobre a entronização)

Aquele de quem podemos dizer que faltou tempo para poder ser, de facto, o real D. Sebastião. Culto e preparado, monástico e moderno. O rei que Portugal precisava e não teve. Passados 150 anos estamos como estamos, talvez assim não estivéssemos não fora ele morrer tão cedo.

Eça de Queiroz (160 anos sobre o nascimento)

Quanto a Eça, enfim, talvez só para o ano, mas proximamente, uma visita a Tormes. Reler, uma vez mais – e porque não –, a “Cidade e as Serras” e passear lado a lado com Jacinto por entre os bosques em redor da casa. Por agora, mais uma data cumprida sobre a vinda ao mundo daquele que é um dos maiores da escrita e do português.

Pessoa (70 anos sobre a morte)

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem de passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

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Só na simplicidade nos compreendemos.

7.12.05

Luzes de Natal I

A Árvore
A gigantesca árvore do Millenium BCP foi este ano colocada no Terreiro do Paço. A beleza da praça funciona bem como enquadramento à árvore hi-tec, o que é de fugir é a música de Natal em mistura de “carrinhos de choque”, “sala de espera de dentista” e “centro comercial suburbano”. Um massacre auditivo para quem ousar passar a pé, ou de vidros abertos, pelo nosso Terreiro do Paço.

Avenida da Liberdade
Aproveitando, e bem, as árvores existentes – das poucas que resistem em Lisboa – foram colocadas bolas simples em luz amarela, proporcionando um belíssimo efeito de alinhamento rua abaixo, ou acima. Aqui apetece passear, caso a chuva inclemente se resolva a parar um pouco.

Rua Áurea
Sinos e fitas em azul e encarnado dão o suficiente ar hi-tec, sem contudo perder a sensatez. Funciona muito bem em alinhamento e dá cor e alegria a uma rua tão massacrada por carros e cada vez com menos motivos, vulgo lojas, que nos façam percorrê-la a pé. Candidata, até agora, à melhor iluminação no estilo moderno.

Rua da Prata
Uns confusos painéis com bolas em azul repetem-se rua fora. O efeito global não é mau, mas as iluminações são por si muito feias.

Príncipe Real
Apenas lâmpadas amarelas nas árvores. Por vezes na simplicidade está a maior beleza. Bonito, barato e eficaz.

Largo do Camões
Enquanto me aproximava, era ofuscado por um encarnado profuso e intenso. Pensei que este ano as modernices de Natal tinham chegado ao Camões. Ao chegar, percebi que não, era apenas o letreiro luminoso da estação de correio. Agora passa por Natal, mas fora de época…Não se poderá desligar?

Coisas da Vida Boa

O bife ancho do “El Ultimo Tango”. E, já agora, também a música, por entre óptimos tangos e milongas.

5.12.05

As atitudes ficam…

O DN de ontem dedicava grande espaço à morte de Francisco Sá Carneiro, a propósito dos 25 anos volvidos sobre a sua morte, com depoimentos de gente de vários quadrantes – até Soares escreveu umas linhas sobre o assunto. Cavaco? Pois, Cavaco não respondeu ao convite do jornal por “falta de disponibilidade de agenda”. Há atitudes que definem as pessoas, Sá Carneiro foi um líder incontornável e inesquecível do partido de Cavaco e do país, agora ter meia hora para alinhavar vinte linhas de texto, isso seria pedir muito.

25 anos depois



Um tempo em que havia em quem acreditar.

2.12.05

Chanel

Estreou ontem a peça “Mademoiselle Chanel”, um texto sobre a vida de Coco Chanel que mostra a solidão de uma mulher que envelhece e apontamentos sobre a sua vida, ora triste ora frenética. A peça é interessante sem contudo se tornar inesquecível, apesar de Marília Pêra incorporar muito bem a senhora que mudou a moda e de, num belíssimo cenário branco, duas modelos irem passando fantásticos modelos Chanel. Algumas tiradas de Mademoiselle são deliciosas e destaco uma que achei um mimo: “Mulher que não se perfuma não tem futuro”.

1 de Dezembro

Por uma réstia de patriotismo – que por motivos insondáveis ainda mantenho – o dia de ontem foi de festa. Há trezentos e tal anos, um grupo de conjurados restabeleceu a independência deste cantinho separando-nos definitivamente do jugo castelhano. Ganhámos com isso? Na perspectiva mais material e economicista tão em voga a resposta seria claramente não. Melhor estaríamos a acompanhar a desenvolvida democracia espanhola. E então, que motivos para comemorar? Talvez aqueles menos na moda como os de honrar nove séculos de história.

De cabeça baixa

No outro dia, em conversa deitada fora sobre as presidenciais, concluíamos não perceber o frete a que algumas almas, supostamente livres, se estão a prestar nestas eleições. Ao passar por este site arrepio-me de ver tanta gente que há pouco tempo era capaz de verberar contra o Sr. Silva, convertida por um qualquer milagre do sol ao “novo Messias”. Há algo que me desgosta na política: a necessidade que as pessoas têm de tomar partido e de, a partir daí, se envolverem directamente em campanhas. Podemos optar por um mal menor – eu não pratico, mas compreendo –, agora isso não nos obriga a lavar o cérebro com lixívia e passar de crítico a defensor acérrimo e convicto do que quer que seja. O facto de não haver nenhum candidato de direita a estas eleições – sendo possivelmente o Sr. Silva o menos à esquerda – não implica que alguém de direita tenha de se humilhar ao ponto de esquecer o seu passado de opinião e entoar loas insanas ao profeta.