Seguindo o exemplo dos ocupantes do Rivoli, estou seriamente a pensar juntar uns amigos e ocupar a Casa dos Bicos em protesto com a falta de políticas de conservação e restauro do património português. Aproveitaremos para denunciar o esbanjamento de dinheiros públicos no sustento de obscuros artistas que, ao abrigo de uma suposta vanguarda, se entretêm a levar à cena peças inqualificáveis e das quais a única lembrança que restará será o trauma de quem a elas assistiu. Defenderemos os músicos e os escritores que não conseguindo caçar subsídios, como os colegas do teatro, vão tendo de criar as suas vanguardas a custas próprias e sem apoios do Estado. Denunciaremos também a frenética construção de novos centros culturais e pavilhões multiusos por parte dos municípios, que leva ao abandono de excelentes salas de espectáculos já existentes, servindo apenas para, com o aval do desenvolvimento da cultura, enriquecer, ainda mais, os empreiteiros da zona. Será também ponto de ordem a indignação com a incompetência óbvia da maioria dos nossos cineastas que, tendo escolhido uma arte cara, acham que o Estado é obrigado a financiar os seus caprichos, nomeadamente fazer filmes que nem sequer estreiam ou que ganham prestigiados prémios em festivais de cinema alternativo no Burundi.
A bem da cultura e na revolta invejosa de quem, com grande pena, não é pago pelo Estado para fazer o que gosta. Seria realmente divertido que o Ministério da Cultura me financiasse uma bolsa criativa para estudar as praias do Mediterrâneo, podendo depois levar à cena uma peça minimalista, sem diálogos, com o meu ar de gozo a olhar as fotografias passadas em slide-show no palco ao som de quartetos de cordas de Haydn.
A bem da cultura e na revolta invejosa de quem, com grande pena, não é pago pelo Estado para fazer o que gosta. Seria realmente divertido que o Ministério da Cultura me financiasse uma bolsa criativa para estudar as praias do Mediterrâneo, podendo depois levar à cena uma peça minimalista, sem diálogos, com o meu ar de gozo a olhar as fotografias passadas em slide-show no palco ao som de quartetos de cordas de Haydn.
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