Por uma coincidência de datas acabo por apanhar Atenas em plenos Jogos Olímpicos, este não fora este o objectivo da viagem, mas após grande luta para conciliar as férias de várias pessoas, foi esta a data possível. Ao deparar com este facto decido que vale a pena ver qualquer coisa nas 5 ou 6 horas disponíveis em Atenas a 28 de Agosto. A final de futebol era ainda uma hipótese simpática aquando da compra dos bilhetes, obviamente antes de começarem os Jogos e antes da mais que vergonhosa participação da equipa dos jovens craques. Nuns Jogos em que supostamente interessa participar com desportivismo, a nossa equipa de futebol passeou displicência, agressividade e uma profunda falta de interesse no que fazia. Perderam e bem, e muitos jogadores – quase todos – deviam ser impedidos de jogar nas selecções por algum tempo, eles e o errático Romão que ninguém percebeu se de facto foi informado que era seleccionador e treinador de uma equipa de futebol – e ainda há quem diga mal do Scolari.
A final olímpica de futebol foi então a escolha - relegando hipóteses mais interessantes como um dia de finais de atletismo ou ginástica - saindo na rifa um Argentina-Paraguai. O jogo foi banal, apenas quebrado pelos bons pormenores de alguns argentinos e pela boa vontade Paraguaia. Foi ainda assim agradável assistir a uma cerimónia de medalhas olímpicas, um daqueles eventos a que não imaginaria assistir e que me habituei a ver por televisão. Mais ainda valeu a pena por entrar num belíssimo estádio, com uma beleza que, infelizmente, esmaga a maioria dos que foram executados no nosso país. Pode-se gostar ou não de Calatrava, mas é inegável a harmonia que emprega ás suas formas, a subtileza com que une arquitectura e engenharia, a originalidade dos conjuntos. O Estádio Olímpico é assim, um subtil rasgo de dois anéis de bancadas, em que a de cima é quebrada nos topos – local para os fantástico ecráns gigantes -, com uma cobertura para cada lado que parece apenas se unir em dois pontos – um em cada topo do estádio. A descrição não faz de todo justiça ao monumento branco que Calatrava aqui plantou, como não o faz à “nova Agora”, passeio pedestre com uma cobertura de semi-ensombramento em estrutura metálica branca de uma enorme elegância e profundidade. O OAKA, complexo olímpico central, apenas pecava pela pouca atenção aos pavimentos e a falta de concretização de alguns pormenores, numa clara marca latina do país organizador.
Guardo para o fim a experiência com maior carga de misticismo, estar ao lado da chama olímpica, da chama que liga estes Jogos aos Jogos antigos, este símbolo de um olimpismo cada vez mais caído em desgraça, este vestígio de uma bela ideia que os tempos modernos se encarregam de destruir. Ou talvez não, talvez este espírito esteja vivo agora, nos pouco mediáticos – apesar da surpreendente cobertura das nossas televisões – Paralímpicos, onde participar com honra e dignidade é ainda um valor que se sobrepõe à fúria de vencer a todo o custo e à custa de tudo.
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