20.5.06

Campo Pequeno IV – Crónica taurina

Praça cheia, como dá gosto ver, com um público a revelar ao longo da corrida uma exigência pouco vista e que muita falta faz à festa dos toiros.
O curro da ganadaria Vinhas cumpriu assim-assim: não brilhou por falta de casta e bravura dos touros, não tendo no entanto estragado a noite aos toureiros. O quarto e sexto eram mais tardos e reservados, não tendo, apesar disso, sido aproveitados da melhor maneira pelos toureiros.
Abriu a corrida João Moura com um touro suave, que foi bem entendido e toureado. Nos compridos o problema costumeiro de Moura: esquecendo não estar em Espanha, insiste em recusar a sorte frontal que estes ferros exigem. Correcto na colocação. Para os curtos Moura teve, apesar da falta de sal, touro para lidar à sua maneira. Brega vistosa, com o touro colado à garupa do cavalo e ferros que conquistaram o público que não recusou ovações sonoras. O touro foi pegado por Diogo Sepúlveda, dos Forcados Amadores de Santarém, que bem citou e pegou o touro.
Recebeu o segundo da noite com um ferro à sorte de gaiola António Ribeiro Telles, mostrando cedo a disposição para triunfar. Lide impecável – aproveitando um touro doce, mas com investida – começada com compridos de praça a praça como mandam os cânones do toureio. Nos curtos esteve excelente, numa lide cheia de pormenores toureiros e ferros bem preparados. Belíssima lide que entusiasmou sobremaneira o público. O touro foi pegado por José Maria Cortes, dos Forcados Amadores de Montemor, que não entendeu a investida do touro, tentando pegá-lo sem recuar o que redundou e duas tentativas falhadas.
Rui Fernandes toureou o terceiro da corrida, granjeando alguns aplausos com o seu toureio irreverente, mas bastas vezes excessivo. Lidou com suavidade e conseguiu ferros de boa nota. A pega foi efectuada pelo Cabo dos Forcados Amadores de Lisboa, José Luís Gomes, que deu uma lição pedagógica sobre a arte de pegar touros. Belíssimo cite, excelente a recuar, magnífico na reunião. A pega da noite efectuada por um veterano das arenas.
O quarto touro saiu para João Moura que não conseguiu encontrar a lide correcta para um exemplar de fraca qualidade. Esteve mal nos curtos e escutou assobios – algo tão raro como necessário em praças portuguesas – apesar de encerrar com um digno ferro de palmo. Como senhor toureiro que é recusou a volta à praça. A pega de António Jesus Grave, dos Forcados Amadores de Santarém, foi vistosa e correcta.
Saiu, embalado pelo triunfo no seu primeiro touro, para o quinto da noite António Ribeiro Telles. Recebeu o touro à saída dos curros, aguentando a sua investida até o colocar para um belíssimo primeiro comprido. Os compridos foram de praça a praça, e só o falhanço na cravagem de um deles foi nota menos boa na sua actuação. Nos curtos esteve mais uma vez em grande plano, com ferros frontais e emotivos e brega magnífica. Rematou uma noite de enorme triunfo com um ferro de palmo brindado à família. A pega foi feita por Pedro Freixo, dos Forcados Amadores de Montemor, que esteve muito bem com o touro.
O último da noite foi lidado, e mal, por Rui Fernandes. Não querendo exagerar, veio neste toiro ao de cima o pior defeito deste toureiro: querer impor aos touros os “números” que cada um dos seus cavalos faz (câmbios, ladear, patas que levatam,…) e todos o fazem. Esteve mal com o touro, cravando compridos em câmbio! Nos curtos quis, com o primeiro cavalo, cravar a câmbio e voltou com outro cavalo que fazia o número de levantar uma das patas dianteiras. Alguma confusão entre toureio e circo, perante um touro manso e parado, que também não ajudou. Pegou Gonçalo Maria Gomes, dos Forcados Amadores de Lisboa, a fechar com chave de ouro esta noite com uma bonita pega.
A corrida terminou com a banda, que esteve excelente ao longo da corrida, a tocar o hino, que foi cantado em pé e com enorme dignidade por todo o público presente num epílogo bonito para uma noite a recordar.

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