15.7.08

Nostalgias

Eram três meses. Às vezes longos três meses em que já não sabia o que fazer do tempo que sobrava em fartura desmedida. Trepava paredes em casa, para desespero dos meus pais quando se cruzavam com mais um disparate meu. Começava calmamente em casa, com a minha mãe sempre a dizer que devia aproveitar para arrumar as coisas, arrumar, esse verbo à época maldito e tão indesejável como comer favas. Perante a persistência havia sempre a alternativa de sugerir que devia visitar a minha tia, aproveitando para um lanche à antiga com bolinhos, scones e chá. Resultava sempre, com a grande vantagem de não ser de modo algum um sacrifício, tanto eu gostava da minha tia. E também dos scones. As arrumações lá iam passando pelo tempo, esperando um dia mais mal humorado da minha mãe, felizmente coisa rara, em que os subterfúgios deixavam de funcionar, ou por uma ordem expressa de meu pai, sobre a qual nem me ocorria tentar imaginar o mais remoto subterfúgio.

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