25.2.04

Comboio

Há algo de fascinante num comboio com a noite a entrar pelas janelas. As presenças fugazes que povoam a atmosfera de conversas vagas e vazias, num significado nunca profundo. São conversas reveladoras na sua insignificância, são caracteres escondidos que se antevêem entre palavras.
O exercício fantástico de olhar em volta e pensar como são as nossas companhias de viagem. Olhar a roupa, a cara, os modos, detectar cicatrizes - físicas ou da vida. Imaginar as suas casas e famílias, deixarmo-nos enredar pelo seu olhar com o tempo a passar. Não se pode conhecer ninguém só pelo olhar, é no entanto curioso tentar.
E tudo passa, o tempo, a paisagem, a viagem. Viagem e paisagem, a rima não é ocasional, é embrionária e fatal, complementar.

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