13.2.04

Que dia!

Gosto por norma de sextas-feiras 13. Não ligo muito a superstições - tirando uma ou duas que não vou referir - e divirto-me com a forma com que as pessoas olham estes dias. Hoje, no entanto, vai ser uma excepção, a manhã não promete nada de bom e não sei o que ainda aí virá.
Acordo com a TSF, comme d’habitude, e subitamente quase tenho uma convulsão em plena cama. A voz de Vasco Gonçalves leva-me a duvidar se estou acordado ou num qualquer limbo existencial. Belisco-me, sem muita força, e continuo a ouvir essa voz acusando o actual governo de ser de extrema-direita. Afinal é real, esta múmia está viva e, ao contrário do que eu pensava, não está internada numa qualquer clínica para doentes mentais. Ouço o restante depoimento em que diz que o 25 de Novembro foi culpa dos reaccionários liderados por Mário Soares, senhor que prestou um mau serviço ao país interrompendo o brilhante processo revolucionário.
Divido-me, não sei se deva estar feliz por confirmar que este senhor continua parado num tempo distante (confirmando o que dele pensava), ou se deva temer por um país que deixa alguém neste estado sem um tratamento psiquiátrico adequado. Espero que, nestes tempos em que se fala de mudanças, o PCP não se lembre de reciclar este ex-primeiro ministro para a direcção do partido. Já o imagino em pleno parlamento vociferando, ao mesmo tempo que gesticulava furiosamente quase dando um estalo ao seu vizinho de bancada Francisco Louça: "Não há terceira via, ou se é pela revolução, ou se é contra a revolução."
Como já disse em anterior posta não sou da geração de Abril. A revolução e o PREC são acontecimentos por mim conhecidos através de documentários e comentários, de livros e de pessoas. O companheiro Vasco era alguém que eu quando criança julgava ser um grande actor cómico, senhor de uma mímica prodigiosa e um portento da comédia física. O problema foi quando descobri que ele era um louco furioso que, por motivos estranhos, liderou uns governos provisórios e foi herói de certa esquerda. Só em Portugal alguém que quase arruinou o país continua a ter palavra viva e, imagino eu, a ser ouvido por alguma esquerda que se diz inteligente.
Bolas!!! Acordar assim já era mau mas além disso olho à janela e só vejo branco, branco e o parapeito da varanda. Terá Lisboa desaparecido ou estará o companheiro Vasco a tomar São Bento e esta é a sua muralha de Aço?

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