8.3.04

Europa

Uma sondagem apareceu a desestabilizar os comentadores políticos e os jornalistas. Segundo a mesma, os portugueses preparam-se para se abster em 70% ás próximas eleições europeias. Não percebo o espanto.
Entrámos na Europa já faz um tempo e em teoria o povo deveria estar habituado a essa convivência. Nada mais errado, em vários anos de Europa, essa entidade abstracta e indefinível, nunca os políticos portugueses, do alto do seu pedestal, se incomodaram a explicar ás massas no que consistia de facto a Europa. Teria tido muita graça acompanhar esta sondagem com perguntas como: O que é a Europa? Qual o lugar de Portugal na Europa? Para que servem os deputados europeus que vamos eleger? Como é composta a Europa no que toca aos centros de decisão? Quais são os nossos direitos e deveres em relação à Europa? Aposto, singelo contra dobrado, que as respostas correctas não ultrapassariam os 5%. Mais interessante ainda seria repetir estas perguntas aos nossos deputados e políticos, com um ligeiro aumentar da percentagem ela não seria, ainda assim, brilhante.
Como é que esperam que o povo vote e se desloque a dar o seu contributo para algo que nem vagamente compreende. A Europa para o comum dos mortais portugueses não é mais do que uma abstracção que nos manda uma massas e que nos obriga a cumprir algumas normas (a maioria das quais idiotas). Se falarmos de Europa o que nos ocorre são os fundos estruturais, os "girassídios", os Range Rover comprados para modernizar a agricultura portuguesa, as alterações impostas aos nomes genuínos de tabacos (o triste caso do Português, agora não Suave) ou as tentativas de proibir os jaquinzinhos (como sobreviver a esta falta!). Ironias à parte, é claro que também nos trouxe coisas boas, só tenho mais dificuldade em me lembrar delas.
A nossa presença na Europa é inquestionável, agora a nossa posição relativa nunca foi discutida de forma perceptível, de forma que permitisse uma consulta popular efectiva. Mas afinal para que é preciso um referendo sobre a Europa, a taxa de abstenção nas eleições europeias não é mais do que isso, uma clara demonstração do desinteresse popular perante essa utopia federalista que é a Europa.

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