22.3.04

Eva Cassidy

Todos temos os nossos cultos, aquelas coisas que inexplicavelmente nos arrebatam mais que quaisquer outras. Ouvi Eva Cassidy pela primeira vez por puro acaso. Vivia então em Espanha e, como era hábito se estivesse em casa, ouvia o programa da noite da Rádio 3. Por aqui passava alguma World Music, bom Jazz e improváveis registos. Subitamente uma voz angelical cantava "Fields of Gold" num timbre etéreo e com uma interpretação extraordinária. Esperei calmamente na esperança de ouvir o seu nome. Nada feito, seguiu-se uma música, e outra. Dias depois ouço de novo a mesma música e espero uma vez mais. Consegui saber mais do que o nome, soube, numa breve explicação do locutor, que era uma cantora americana que havia morrido há pouco tempo, ainda nova. Apenas editou um disco em vida e foi descoberta, por alguns eleitos, depois de morta, com a edição de alguns registos de originais. No dia seguinte corri à loja onde se encontravam os melhores discos tentando comprar o que houvesse. Consegui "Songbird" e "Time After Time", ambos colectâneas póstumas.
Descobri um culto, uma obsessão musical. Com estes discos apaixonei-me irremediavelmente por esta senhora loura e de ar cândido, infelizmente já desaparecida. As suas interpretações têm aquele toque indefinível que as faz únicas, que distingue um bom técnico de um grande artista. Basta ouvir a subtileza de "Over the Rainbow" ou "Anniversary Song" para não querer outra coisa.
A sua voz cantou do Jazz aos Blues, passando por "covers" de êxitos Pop adaptadas ao seu estilo sereno e melodioso. Músicas como "Autumn Leaves", "What a Wonderful World", "Tennessee Waltz", "Danny Boy" ou "Fever", dão-nos a conhecer uma voz única e inconfundível.
Recentemente, e motivo porque me lembrei de fazer esta posta, saiu mais um disco de inéditos: "American Tune". Talvez este seja o mais fraco de todos os seus discos, essencialmente pela má qualidade de algumas gravações, mas que ainda assim vale a pena pelas recriações de "True Colors" ou "Yesterday".
Ouçam, por certo não se vão arrepender. E não digam que vão daqui.

Sem comentários: