O Estado queixa-se que os portugueses não pagam os impostos e que as dívidas à Segurança Social são vastas e incobráveis. Facto. No meu caso numa semana consegui que me acontecesse exactamente o oposto. Enviei a declaração de IVA, por correio porque as declarações electrónicas estavam bloqueadas, e não consegui pagar por Multibanco. Motivos insondáveis levavam a que os pagamentos não estivessem disponíveis. Até aqui tudo mais ou menos normal, um problema de resolução a curto prazo, espero, e que voltará a funcionar como estou habituado.
Mais grave se passou com a Segurança Social, aqui tudo foi, e está a ser, muito pior. Há algum tempo deixei que os pagamentos da minha contribuição mensal fossem efectuados por transferência bancária. Tudo era para mim, e para o Estado, mais simples, evitando esquecimentos e atrasos. Para tal tinha uma conta específica onde coloquei o dinheiro necessário para alguns meses. Um dia resolvi ver quanto dinheiro me restava e constatei admirado que ainda tinha muito, mais do que era suposto. Deixei andar até que, uns meses depois, recebi uma carta da Segurança Social a dizer que tinham deixado de fazer cobrança por transferência bancária. Sugeriam o pagamento por Multibanco, para o qual enviaram instruções. Como precisei do dinheiro que tinha de parte na altura deixei andar sem pagar. Fui deixando de pagar, por atrasos em cobranças, até que quis voluntariamente pagar. Aí tudo se complicou!
Comecei por achar que, tendo alguns meses em atraso, teria de pagar directamente na tesouraria. Cheguei lá e informaram-me que não, que o melhor era ir ao Multibanco que assim não pagava juros de mora. Achei estranho, mas, no dia seguinte, lá fui até ao Multibanco. Depois de algumas tentativas disse que o número de beneficiário, que tinha no cartão na minha mão, era errado. Telefonei então e disseram-me que se calhar eu ainda não estava nos arquivos informáticos e teria de fazer o pagamento manualmente (isto apesar da carta que me enviaram para pagar no Multibanco).
Há dois dias entrei na Loja do Cidadão dos Restauradores pelas 11 horas e tirei uma senha, preparando-me para alguma demora. Olhei o meu número, olhei o número onde ia, e "apenas" faltavam 270 pessoas. Como tinha coisas para fazer, desisti e voltei ontem. Ao chegar consegui o número 411, sendo que ainda ia no 77. Passeei pela Baixa, almocei, subi ao Chiado, voltei, subi a Avenida da Liberdade, voltei, li o jornal e um livro e esperei calmamente a partir do 350 implorando por desistências. Afinal não esperei muito tempo, apenas 7 horas a que me sujeitei pela necessidade real de regularizar a minha situação. A senhora que me atendeu era de grande simpatia, o que me surpreendeu, e ao ouvir o meu caso começou por dizer que ali não aceitavam pagamentos. Ia desmaiando. Ao ver o meu ar assassino de súbito pânico a senhora acalmou-me e tentou resolver a situação. O melhor que conseguiu for dizer-me para ir à Tesouraria do Areeiro onde irei amanhã.
Tudo isto é extraordinário, eu quero pagar, quero realmente e de boa vontade pagar. Não estou a fugir mais dos meus atrasos, não me escondo esperando os 5 anos para ser amnistiado, eu quero pagar. Eu quero mas o Estado não facilita, e até não era preciso facilitar muito, bastava não criar um muro quase intransponível a quem quer pagar. Eu sei que pareço louco neste meu desejo, mas não tivesse mesmo de ter a situação legalmente resolvida e garanto que a Segurança Social não veria de mim nem mais um cêntimo. É que bolas, eu sabia que o Estado era mau pagador, agora que não nos deixava pagar!
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