O Rua da Judiaria faz um ano e daqui, com o atraso costumeiro, vão calorosas felicitações e agradecimentos.
28.10.04
Sons
A tranquilidade do final de dia ao som de Bach. O suave ruído da chuva e de alguns carros a caminho de casa. O tempo pára por instantes. Podia estar em Portugal ou noutro qualquer lugar, são momentos em que vago sem saber onde estou. Esqueço a realidade e embalo nas teclas do computador, apenas pretas e sem a melodia de um piano, sem as músicas que fazem a nossa existência mais suportável.
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A estrada segue em torno de um traço contínuo. Ondula abraçando encostas. Os vales. Ao fundo os vales esventram a terra, castanha e imemorial.
27.10.04
Comissão
Barroso retirou na votação no Parlamento Europeu sobre a “sua” Comissão. Não me unem simpatias a Butiglionne nem a Berlusconi, mas parece que no mundo de hoje ser católico não é pecado, mas quase proibido (talvez recusar o senhor por falta competência para o lugar – que parece que tem – seria mais aceitável).
Caminhamos para que alguém católico, heterossexual, que acredite no casamento e no cumprimento da fidelidade do mesmo, que eduque os seus filhos com valores próximos dos seus e baseados nos fundamentos cristãos, seja considerado um alvo a abater, um conservador sem direito a viver e muito menos a ter vida pública numa sociedade moderna.
O que a esquerda não compreende nem aceita é que alguém, conservador na sua vida privada, possa ser tolerante com valores que não sejam os seus. Para quem não conhece a Igreja e os seus fundamentos, para quem não entende o espírito cristão, pode ser difícil acreditar que para os cristãos a tolerância é um valor fundamental. A maior intolerância nem sempre vem dos sectores conservadores, quantas vezes é mais intolerante quem fala em nome das liberdades e das supostas minorias.
Neste mundo em que vivemos vou tendo cada vez mais dificuldade em perceber os critérios de "normalidade". Preparo-me já para que como católico, heterossexual e conservador, venha a ser vítima de actos difamatórios, até de ameaças físicas. Tenho pena, porque acho que liberdade é poder continuar a ser aquilo que sou.
Caminhamos para que alguém católico, heterossexual, que acredite no casamento e no cumprimento da fidelidade do mesmo, que eduque os seus filhos com valores próximos dos seus e baseados nos fundamentos cristãos, seja considerado um alvo a abater, um conservador sem direito a viver e muito menos a ter vida pública numa sociedade moderna.
O que a esquerda não compreende nem aceita é que alguém, conservador na sua vida privada, possa ser tolerante com valores que não sejam os seus. Para quem não conhece a Igreja e os seus fundamentos, para quem não entende o espírito cristão, pode ser difícil acreditar que para os cristãos a tolerância é um valor fundamental. A maior intolerância nem sempre vem dos sectores conservadores, quantas vezes é mais intolerante quem fala em nome das liberdades e das supostas minorias.
Neste mundo em que vivemos vou tendo cada vez mais dificuldade em perceber os critérios de "normalidade". Preparo-me já para que como católico, heterossexual e conservador, venha a ser vítima de actos difamatórios, até de ameaças físicas. Tenho pena, porque acho que liberdade é poder continuar a ser aquilo que sou.
Jantar
Enquanto dava cabo de uns raviolis e de uma salada de rúcula com queijo feta, apressado mas deliciado, surgiu sem aviso prévio a figura de Cavaco na televisão. Nestas alturas tenho pena de não ser censor, de não poder proibir imagens de terror à hora de jantar. Por estas e por outra não posso nunca ficar sem stock de Água das Pedras.
25.10.04
Fim-de-semana
Sobra do fim-de-semana a primeira saída alegre de Alvalade nesta época.
Sobra ainda o excelente concerto de Caetano Veloso ontem no Pavilhão Atlântico. Mais frio do que é costume, quer pelo espaço quer pelo mal amado disco em que se baseava, o concerto esteve ao nível habitual de Caetano, ou seja, a genialidade posta em música. A sua voz refina qual Vintage do Porto e atinge timbres realmente emocionantes. Valeu a pena, como sempre vale, a deslocação, Caetano já conseguiu que me recuse a perder algum concerto seu em Portugal.
Sobra também a revelação da saída de Vasco Pulido Valente do DN. Tenho pena pois tinha nas suas crónicas uma perene referência. Parece que continuará no Público, algo não me alegra particularmente dada a minha pequena embirração com este jornal, assim sendo lá o terei de comprar ou consultar a partir de agora com mais regularidade.
Sobra ainda o excelente concerto de Caetano Veloso ontem no Pavilhão Atlântico. Mais frio do que é costume, quer pelo espaço quer pelo mal amado disco em que se baseava, o concerto esteve ao nível habitual de Caetano, ou seja, a genialidade posta em música. A sua voz refina qual Vintage do Porto e atinge timbres realmente emocionantes. Valeu a pena, como sempre vale, a deslocação, Caetano já conseguiu que me recuse a perder algum concerto seu em Portugal.
Sobra também a revelação da saída de Vasco Pulido Valente do DN. Tenho pena pois tinha nas suas crónicas uma perene referência. Parece que continuará no Público, algo não me alegra particularmente dada a minha pequena embirração com este jornal, assim sendo lá o terei de comprar ou consultar a partir de agora com mais regularidade.
21.10.04
Estudantes
“Ontem Coimbra foi palco de mais uma coordenada e intencional ofensa ás liberdades e garantias. Um grupo de estudantes manifestava-se com elevação contra a política estudantil da universidade – vulgo propinas -, quando um enorme batalhão de agressivos polícias apareceu, desafiando a liberdade de expressão dos jovens. Os estudantes - tranquilamente e em passo de bailado coreografado - tentaram deslocar-se para a sala do Senado onde decorria uma reunião. Nada de novo, já na semana passada tinham entrado na sala onde decorria a abertura solene do ano lectivo sem que com isso houvesse qualquer problema. As autoridades, com a sua habitual postura herdada dos tempos negros do fascismo, tentaram impedir a deslocação utilizando de todos os meios. A carga policial deu-se então com bastões na mão e gás-mostarda no ar, numa barbárie digna dos vikings mais primitivos. Os estudantes adoptaram a postura passiva, nunca tentando agredir nem insultar a polícia, sendo ainda assim, e talvez por isso, agredidos barbaramente. Portugal está em choque.”
Qualquer jornal de esquerda poderia, e se calhar até o fez, descrever os acontecimentos de ontem desta maneira. A Brigada do Politicamente Correcto cada vez mais está contra toda e qualquer forma de autoridade, mesmo que a mesma sirva para manter a mínima ordem em vias de ser quebrada por estudantes em fúria. Todos temos o direito à manifestação, à indignação, mas a lei existe e há formas de intervenção que não são permitidas. Os estudantes quiseram invadir de forma massiva uma reunião do Senado, entre eles e o Senado estava uma brigada policial para os impedir, o que esperavam que os polícias fizessem. Talvez correrem para buscar uma passadeira vermelha, ajudando e acompanhando as senhoras, anunciando os senhores à medida que interrompiam a reunião, do tipo: “este é o Sr. Matias, eminente dirigente estudantil na sua 12ª matrícula em Direito, membro da tuna”. Podiam, e se calhar deviam, ter umas camilhas à entrada em que serviam chás e cafés antes dos estudantes entrarem. Ou então, perante a carga estudantil – que essa de facto existiu que eu vi na televisão –, deixarem-se espezinhar alegremente ao mesmo tempo que pediam desculpa aos estudantes que iam tropeçando neles.
Qualquer jornal de esquerda poderia, e se calhar até o fez, descrever os acontecimentos de ontem desta maneira. A Brigada do Politicamente Correcto cada vez mais está contra toda e qualquer forma de autoridade, mesmo que a mesma sirva para manter a mínima ordem em vias de ser quebrada por estudantes em fúria. Todos temos o direito à manifestação, à indignação, mas a lei existe e há formas de intervenção que não são permitidas. Os estudantes quiseram invadir de forma massiva uma reunião do Senado, entre eles e o Senado estava uma brigada policial para os impedir, o que esperavam que os polícias fizessem. Talvez correrem para buscar uma passadeira vermelha, ajudando e acompanhando as senhoras, anunciando os senhores à medida que interrompiam a reunião, do tipo: “este é o Sr. Matias, eminente dirigente estudantil na sua 12ª matrícula em Direito, membro da tuna”. Podiam, e se calhar deviam, ter umas camilhas à entrada em que serviam chás e cafés antes dos estudantes entrarem. Ou então, perante a carga estudantil – que essa de facto existiu que eu vi na televisão –, deixarem-se espezinhar alegremente ao mesmo tempo que pediam desculpa aos estudantes que iam tropeçando neles.
18.10.04
Sad Mondays
Segunda-feira, lá fora o céu escuro e impenetrável anuncia chuva, Alberto João conseguiu a oitava maioria absoluta na Madeira. Nada neste dia traz animação, do fim-de-semana a reter o primeiro bom jogo do Sporting nesta época, na Luz o nível desceu, até ás masmorras.
Apetece uma deslocação ao novo Ritz, no bar pedir um sempre favorito Tullamore Dew, copo baixo e três gelos. Atenciosamente ouvir a música ambiente, o melancólico jazz a envolver a mente distraindo-a da obscura realidade.
14.10.04
Um ano
Francis Bacon - Unfinished Self-Portrait, 1992
Fez ontem um ano que este blog publicou a primeira posta. Tal como em relação aos outros, só hoje me lembrei da data, num atraso costumeiro de quem persiste em esquecer estas coisas. Há um ano atrás resolvi começar com a brincadeira de criar um blog, ir escrevendo umas postas, desabafando comigo próprio e com quem me quisesse ler. Nada esperava que não fosse o pretexto de poder escrever, divagar.
Nunca procurei homogeneizar o blog, criar uma linha de continuidade entre as postas. Persisti, e continuarei a persistir, em escrever sobre o que me dava na real gana: postas políticas ou textos pessoais, notas de viagem ou fotografias avulsas do meu arquivo.
Passado um ano espanto-me por ter mantido alguma continuidade nesta aventura, ainda me custa acreditar que tenha vencido o braço forte da preguiça e que hoje o blog ainda exista. Durante um ano fui controlando as audiências, não com um vontade feroz de as aumentar, mas sim avaliando se alguém me dava atenção e lia, gostando ou não, este blog. Até hoje sempre houve quem por aqui passasse e nem que fosse apenas um leitor, aliado ao prazer que me vai dando escrever aqui, procuraria continuar com este blog. Um dia virá em que a preguiça ou a real falta de tempo me poderão levar a acabar com este blog, ou a alargar - ainda mais – a periodicidade do mesmo. Esse dia ainda não chegou, e para quem ainda encontra neste canto algo que valha a pena – o que sem falsa humildade ás vezes me surpreende –, o blog continuará. O conteúdo permanecerá anárquico - numa clara correspondência com o seu autor - e falarei do que tenho falado, talvez alargando para outros interesses ainda não implicitamente referidos.
A todos os que por aqui passam e que tem levado este blog a continuar, um sincero obrigado.
Fumadores
Parece que o governo quer alargar a perseguição aos fumadores. A postura é a de repressão, começando por proibir a compra de tabaco por menores. Discordo em absoluto de repressões, vejo nelas sempre o mais directo caminho para a marginalização dos consumos, com consequências muito mais graves para a sociedade. Tal como com as drogas – porque não sejamos hipócritas e comparemos de uma vez por todas o haxixe ao tabaco e ao álcool – não aceito que o Estado se ingira na liberdade individual de cada um de nós.
Pessimismo
Num tema que por certo irei retomar, devo dizer que temo pelo país, temo ao olhar para quem nos governa e quem nos poderá governar. Dei o meu benefício da dúvida a Santana, fui tomado por um vago optimismo sem grandes motivos, acreditei que ele poderia governar o país com alguma garra e o mínimo de sensatez. Ingenuidade. Hoje poucas dúvidas tenho sobre a incompetência do Homem, a sua falta absoluta de noção da realidade, a sua impreparação para governar, a sua absoluta necessidade de poder e uma cega obsessão de manter o mesmo, a sua feroz perseguição aos críticos (independentemente dos abusos e da sua notória má imprensa).
Do outro lado temos Sócrates e o próximo presidente poderá ser Cavaco. Descontando os exageros começo a dar razão a Sousa Tavares, emigrar pode ser uma opção.
Do outro lado temos Sócrates e o próximo presidente poderá ser Cavaco. Descontando os exageros começo a dar razão a Sousa Tavares, emigrar pode ser uma opção.
12.10.04
Promessas
Consta que o nosso timoneiro emitiu uma solene declaração ao país, eu cá não vi, nem ouvi. Parece que prometeu – o que só por si não augura nada de bom – aumentar ordenados e pensões e baixar impostos e os seus escalões. O povo português decerto agradecerá, ao Governo e ao professor Marcelo pois a sua saída da TVI já começa a dar frutos.
11.10.04
Domingo
Ontem no lugar do reverendo Marcelo apareceu Júlia Pinheiro e as suas celebridades. Programa ideal para uma noite de “giboianço” no sofá, comando da televisão em riste. Odeio Domingos, talvez por isso adore não ter de pensar, ser embalado dolentemente por algo que não exija o dispêndio de energias. A TVI é uma excelente televisão de Domingo, gosto de ceder à sua acefalia e falta de profundidade, à sua programação com momentos de qualidade digna da Albânia. O sermão dominical era por isso um distúrbio nas minhas calmas noites, o professor obrigava a atenção e a um certo exercício de raciocínio, a um desgaste incompatível com uma noite de Domingo. Os meus serões dominicais estão assim melhores, mais calmos, mais agradáveis, preparando sem sobressaltos a semana que aí vem.
7.10.04
PCP
Carlos Carvalhas não se irá recandidatar e fala-se em Jerónimo de Sousa como o eventual sucessor. Cada país tem o Partido Comunista que merece.
Loucura
Cada vez mais Portugal denota indícios de loucura colectiva. Hoje as manchetes dos jornais e as aberturas dos noticiários de televisão e rádio abrem com a cessação de funções de um comentador televisivo. Há que perceber que é fundamental ao desenvolvimento e bem-estar do país que o Professor Marcelo continue com os seus comentários televisivos. As listas dos professores ou a nova lei do arrendamento são de pouca importância quando comparadas com o fim do sermão dominical do reverendo Marcelo.
A atitude de Marcelo surge em reacção a uma deliciosa expressão do Ministro Gomes da Silva sobre as suas intervenções dizendo que, apesar de mediadas por um jornalista, não davam margem ao contraditório, algo que obviamente sucede em todas as intervenções públicas de líderes de opinião. Parece evidente que todos os jornais acompanham artigos de opinião com outros de ideias contrárias, é de facto uma praxis comum em todos os países democráticos que qualquer opinião tem de vir acompanhada de um contraditório. Gomes da Silva mostrou o seu brilhantismo de raciocínio e deixa os portugueses ainda mais confiantes do seu papel preponderante no governo.
A TVI é uma televisão privada e independente, como tal tem todo o direito de escolher os seus comentadores e critérios editoriais. Tudo isto é verdade, mas a provar-se que houve pressões efectivas do governo o problema não está na televisão, mas sim no simples facto de um governo se arrogar do direito de se ingerir nos critérios jornalísticos de uma entidade privada. Saber quais foram as armas de pressão e quais as contrapartidas que o Estado mostrou à TVI é a pergunta que se deve fazer.
Marcelo é brilhante na intriga e o ponto que deu não foi de certo sem um forte nó que mais tarde viremos a descobrir. O Marcelo-Narciso que adora holofotes e câmaras cedeu ao Marcelo-Político, também ele narciso, que por certo acha que o seu futuro de entertainer deverá ceder espaço a um qualquer objectivo político. A bofetada de luva branca que deu ao governo e que, com a inestimável ajuda da comunicação social, gerou uma bomba mediática, vai decerto ter consequências e a amplitude das mesmas estará ainda por medir. Rangel uma vez disse que poderia fabricar um Presidente da República, ao que parece a sua profecia está a ser posta em prática não pela SIC per si, mas por um “sindicato” de jornais e televisão.
Quanto a mim, que com pouca paciência andava para os sermões dominicais do Reverendo Marcelo, a medida do professor nada me afecta, ou por outro lado talvez sim, pode ser que os jantares de Domingo sejam mais calmos sem alguém aos gritos a dizer que quer ouvir o Marcelo.
A atitude de Marcelo surge em reacção a uma deliciosa expressão do Ministro Gomes da Silva sobre as suas intervenções dizendo que, apesar de mediadas por um jornalista, não davam margem ao contraditório, algo que obviamente sucede em todas as intervenções públicas de líderes de opinião. Parece evidente que todos os jornais acompanham artigos de opinião com outros de ideias contrárias, é de facto uma praxis comum em todos os países democráticos que qualquer opinião tem de vir acompanhada de um contraditório. Gomes da Silva mostrou o seu brilhantismo de raciocínio e deixa os portugueses ainda mais confiantes do seu papel preponderante no governo.
A TVI é uma televisão privada e independente, como tal tem todo o direito de escolher os seus comentadores e critérios editoriais. Tudo isto é verdade, mas a provar-se que houve pressões efectivas do governo o problema não está na televisão, mas sim no simples facto de um governo se arrogar do direito de se ingerir nos critérios jornalísticos de uma entidade privada. Saber quais foram as armas de pressão e quais as contrapartidas que o Estado mostrou à TVI é a pergunta que se deve fazer.
Marcelo é brilhante na intriga e o ponto que deu não foi de certo sem um forte nó que mais tarde viremos a descobrir. O Marcelo-Narciso que adora holofotes e câmaras cedeu ao Marcelo-Político, também ele narciso, que por certo acha que o seu futuro de entertainer deverá ceder espaço a um qualquer objectivo político. A bofetada de luva branca que deu ao governo e que, com a inestimável ajuda da comunicação social, gerou uma bomba mediática, vai decerto ter consequências e a amplitude das mesmas estará ainda por medir. Rangel uma vez disse que poderia fabricar um Presidente da República, ao que parece a sua profecia está a ser posta em prática não pela SIC per si, mas por um “sindicato” de jornais e televisão.
Quanto a mim, que com pouca paciência andava para os sermões dominicais do Reverendo Marcelo, a medida do professor nada me afecta, ou por outro lado talvez sim, pode ser que os jantares de Domingo sejam mais calmos sem alguém aos gritos a dizer que quer ouvir o Marcelo.
6.10.04
Luto
O Anarcoconservador esteve ontem, simbolicamente, de luto.
Os anos da 1ª República foram o equivalente moderno das trevas da Idade Média. Por muito que oficialmente se gritem loas aos senhores que acabaram com a Monarquia após terem assassinado – ou mandado assassinar – o Rei a sangue frio, quem com seriedade ler algo sério sobre esta época (que não os panfletos do Prof. Rosas) percebe facilmente o embuste. O que está em causa até nem é Monarquia/República em sensu latu, mas sim o seu exemplo em Portugal, e o estado a que o Jacobinismo posto em prática levou o país.
Muito mal se fala da Monarquia, mas vale a pena pensar no século XX português e ver de que época podemos orgulhar-nos, se das trevas da primeira República, se da ditadura cinzenta que nos parou no tempo, se dos excessos revolucionários e das ocupações. Apenas no final do século conseguimos um regime normal, ou pelo menos civilizado, passados oitenta anos sobre o supostamente magnífico e libertador 5 de Outubro de 1910.
Os anos da 1ª República foram o equivalente moderno das trevas da Idade Média. Por muito que oficialmente se gritem loas aos senhores que acabaram com a Monarquia após terem assassinado – ou mandado assassinar – o Rei a sangue frio, quem com seriedade ler algo sério sobre esta época (que não os panfletos do Prof. Rosas) percebe facilmente o embuste. O que está em causa até nem é Monarquia/República em sensu latu, mas sim o seu exemplo em Portugal, e o estado a que o Jacobinismo posto em prática levou o país.
Muito mal se fala da Monarquia, mas vale a pena pensar no século XX português e ver de que época podemos orgulhar-nos, se das trevas da primeira República, se da ditadura cinzenta que nos parou no tempo, se dos excessos revolucionários e das ocupações. Apenas no final do século conseguimos um regime normal, ou pelo menos civilizado, passados oitenta anos sobre o supostamente magnífico e libertador 5 de Outubro de 1910.
Perdoem-me o desabafo, mas essa corja que quase acabou connosco e ontem – com grande orgulho dos poucos fósseis que ainda se deslocam ás cerimónias oficiais – foi celebrada, não me merece o meu mais pequeno respeito e admiração, por isso para mim o dia de ontem nada vale, ou por outra, vale por vezes um feriado que me questiono como ainda existe e para que serve.
4.10.04
Ponte
A ponte é uma passagem, para a outra margem...
Lisboa é hoje uma cidade tranquila, para quem trabalha uma calma impera. Os dias poderiam mais vezes ser assim, com o frensim urbano trocado por uma animação fluida e alegre.
Lisboa é hoje uma cidade tranquila, para quem trabalha uma calma impera. Os dias poderiam mais vezes ser assim, com o frensim urbano trocado por uma animação fluida e alegre.
Mau
Masoquismo e voyerismo levaram-me a ver ontem, em terapia de final de semana, o início da Quinta das Celebridades. Há em nós, por muito que o queiramos negar, uma certa dose de gozo ao ver algo de realmente mau. Foi assim ontem, ao ver o Ser Castelo Branco a debitar inanidades com voz e tiques afectados perante um actor porno brasileiro que o olhava incrédulo. Ou ver uma modelo – realmente agradável, se de boca fechada – dizer que o frango era o filho morto da galinha. São estas as celebridades que temos mas será um gozo cruel ver a Cinha a tomar banho de água fria ao relento nas frias noites de Novembro, ou o Ser a correr desalmado para a longínqua casa de banho carregado de bases e cremes anti-rugas, ou aprumadas modelos a ordenhar vacas.
Tudo poderá ser possível num programa que promete ser viciante enquanto divertimento sádico – em relação aos concorrentes, e masoquista – em relação ao uso do nosso tempo. Talvez seja de facto aditivo, na dúvida tentarei fazer o que cada vez mais faço com a televisão em geral, consumir em doses moderadas. Porque sim, confesso que não resistirei a voltar a ver, o meu Eu mais básico por certo o irá exigir. Há coisas que custam confessar, mas aquilo é mau demais e, talvez por isso, terei de voltar a ver.
P.S. Continuo a não perceber o que faz Avelino Ferreira Torres no meio daquela gente. Parece que a Câmara de Amarante não estará assim tão fácil, ou será que a Quinta é zona franca na qual não poderá ser preso?
Tudo poderá ser possível num programa que promete ser viciante enquanto divertimento sádico – em relação aos concorrentes, e masoquista – em relação ao uso do nosso tempo. Talvez seja de facto aditivo, na dúvida tentarei fazer o que cada vez mais faço com a televisão em geral, consumir em doses moderadas. Porque sim, confesso que não resistirei a voltar a ver, o meu Eu mais básico por certo o irá exigir. Há coisas que custam confessar, mas aquilo é mau demais e, talvez por isso, terei de voltar a ver.
P.S. Continuo a não perceber o que faz Avelino Ferreira Torres no meio daquela gente. Parece que a Câmara de Amarante não estará assim tão fácil, ou será que a Quinta é zona franca na qual não poderá ser preso?
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