26.11.04

Insanidades III

O presidente da Câmara de Lisboa, apesar da figura cinzenta que ostenta, trazia consigo uma certa imagem de competência. Não obstante ser amigo de Santana, as suas passagens por Câmara e Governo deixaram um rasto do mínimo de sensatez. Mero engano!
Foi anunciada a transferência da Feira Popular para o Jardim do Tabaco. Pobre Jardim do Tabaco, já o ameaçaram com um Casino, já deitaram armazéns abaixo, e agora querem lá pôr o antro do barulho e do néon.
Eu sei muito bem onde é que mandava o Presidente meter a Feira Popular, era até no mesmo sítio onde o mandava meter o túnel do Marquês, claro que se completaria isto com um açoitamento na praça pública e imediato exílio compulsivo.
Primeiro foi Monsanto, essa réstia verde sobre a qual pairam ameaças constantes e para onde os gulosos olhares de Santana e desta criatura não param de se virar. Até lá porem qualquer coisa não vão descansar, se não for a feira vai ser o Jockey, se não for o Jockey hão-de arranjar uma Torre do Siza, se não for a Torre…se calhar ainda propõem uma gigantesca estátua do Timoneiro Santana, erguida pela cidade em agradecimento à iluminada criatura.
Voltando ao Jardim – que para o tabaco haverá outra posta – é melhor o presidente não me aparecer à frente. Outrora um pacifista, dia a dia a minha furiosa esquizofrenia leva-me a instintos agressivos – conquanto ainda não homicidas. Pois bem, a Feira Popular mesmo junto ao rio, os belíssimos néons reflectidos na água, as magníficas músicas dos carrosséis, uma noite feérica em versão de qualidade – segundo a criatura, queira isso dizer o que queira. Será que ele não conhece Alfama, será que o animal nunca foi ao Miradouro de Santa Luzia, ou a Santo Estêvão, será que animal não percebe que Alfama é, na sua genuinidade, a Lisboa mais pura que temos e que as suas vistas sobre o rio são dos melhores cartões de visita que a cidade pode apresentar. Será que o animal não vê que quase todos os turistas passam e adoram Alfama, será que o animal ainda não percebeu o que vai ser a vista de S. Vicente de Fora com “Rodas Gigantes e o Poço da Morte”, será que o animal não percebe a vista nocturna de luzes roxas e verdes reflectidas por entre o fumo das castanhas, será que o animal não percebe que uma estrutura como a feira popular tem que estar numa zona fora do centro histórico e de preferência moderna, será que o animal acha possível aproveitar o Champ-du-Mars (junto à Torre Eiffel em Paris) para roullotes de minis e diversões ruidosas. Que país é este em que inconscientes e idiotas conseguem ser presidentes da Câmara da capital.
Aproveito até para lhe dar mais uma ideia de aproveitamento, vejo o Terreiro do Paço tão desocupado que até se podia aproveitar para lá instalar a pista de carrinhos de choque, com uma ligação ao Jardim do Tabaco em passadeira rolante sobrelevada junto ao rio! E nem me apetece falar do túnel do Marqués, o que até é bom para não partir directamente para o insulto.


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