2.12.04

Insanidades IV

O primeiro-ministro foge, a meio de um mandato legítimo de quatro anos, para um cargo de prestígio unicamente pessoal, disfarçando a ambição com o suposto interesse para o país de ter um presidente da Comissão Europeia. O Presidente da República ouve metade da população portuguesa e decide manter a Assembleia e a maioria, chamando-a a formar governo. O Presidente da Câmara de Lisboa, que começava a dar sinais de desgaste do cargo, é surpreendentemente chamado a dirigir os destinos da nação. A “inteligentzia” entra em epilepsia e esgota os adjectivos e insultos contra o senhor. O governo toma posse e o líder do segundo partido da coligação não esconde o espanto ao saber no próprio dia que tem de gerir o Mar. Mal toma posse o governo tem de se haver com fogos, mesmo aqueles que nada tem a ver consigo. A Ministra da Educação herda um programa de colocação de professores com o qual nada tem a ver, no entanto consegue gerir a situação crítica com uma subtileza e capacidade política que terão deixado engasgado até o primeiro-ministro. Há uma explosão numa refinaria e o Ministro do Ambiente anuncia as conclusões da investigação sobre o caso com dados comprometedores sobre a empresa – muito bem –, o ancião Ministro da Economia não gosta e o ambiente gela. O Ministro “de qualquer coisa” Gomes da Silva (por acaso amigo pessoal de Santana) exige contraditório a um comentador político, esse comentador por acaso é Marcelo, que apesar de ser do PSD é dos que mais arrasa a desgovernação de Santana. Marcelo sai por alegadas pressões censórias sobre a TVI. Abre-se uma crise sobre a liberdade de expressão que se agrava com a tentativa de criação de uma central informativa do governo. O gabinete do primeiro-ministro resolve desmentir uma notícia sobre uma sesta, dando um relevo interessante ao facto. Chega a hora de apresentar o orçamento e, num dia os impostos descem, no outro não, os salários vão subir, talvez não, Santana e Baião dizem e desdizem durante uns dias, ninguém sabe o que se passa e como vai ser de facto o orçamento. No fim os impostos descem, os salários e as pensões sobem e é um orçamento de contenção? O ministro “de qualquer coisa” Chaves (por acaso amigo pessoal de Santana) diz, aquando de uma remodelação que o abrange, que tinha trabalho a mais que era bom redistribuir tarefas dentro do governo, dias depois (apenas quatro) diz que não gostou da remodelação e da forma como foi conduzida, diz que não o deixaram trabalhar na coordenação do governo e que no fundo nada fazia e faz críticas ferozes quando se demite. Parece que outro Ministro (Arnaud) também estaria de saída e que estaria em confronto com o ancião Ministro da Economia. O primeiro-ministro adia a tomada de posse porque tem de assistir ao casamento da filha da sua chefe de gabinete. Como uma gota que transborda o copo o Presidente resolve dissolver a Assembleia. Parece que o argumento será a instabilidade económica, mas a Assembleia só será dissolvida após aprovar o orçamento...
Apenas passaram quatro meses e tudo isto se passou – e mais algumas coisas que me esqueci –, até com o Verão pelo meio! Alguém que não vivesse em Portugal e lesse estas linhas pensaria tratar-se de um romance político passado numa República de Bananas…

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