29.4.06

Notas de Viagem – Sevilha II

Seis e meia em ponto, Real Maestranza cheia, como sempre em corridas de feira. Hasta la bandera como diriam os locais. Silêncios sepulcrais e emoções incontidas. Os toiros saindo à praça bravos, investindo em burladeros e capotes. Os toureiros provando investidas em vistosos passes de capote, os picadores recebendo as fortes investidas sustidas por decididas varas que ferem o animal e mostram a sua bravura com a insistência com que continuam a investir ao mesmo tempo que são agredidos. O brinde ao público no centro da praça ao som de um coro de aplausos esperançosos de uma lide valente e inspirada. Silêncio e os primeiros passes por baixo, baixando a cabeça ao toiro, comprovando a sua bravura e nobreza. Os primeiros olés, espontâneos, que brindam quites arrimados e passes templados. A lide em crescendo com o público a corresponder com aplausos e olés. A faena que foi redonda, emotiva e bonita – o matador suplantou com inteligência e arte a força bruta e brava do animal. O momento fundamental chega, o epílogo deste jogo de vida, no silêncio ouvir-se-ia um alfinete a cair, o toureiro perfila-se, espada na mão direita, e entra, com todas as ganas necessárias, a matar. Estocada inteira, completa, provavelmente mortal. O toiro contorce-se e fica abalado, mas continua a investir, com bravura, com uma bravura rara e digna. A morte tarda, por forças que chegam do interior da sua ancestralidade, e o toiro arrasta o seu corpo quase inanimado até ao centro da praça, até onde apenas os bravos vão morrer, fora dos seus terrenos das tábuas, onde a protecção não chega. No centro, sob os aplausos emocionados do público, cai, com uma dignidade própria dos grandes.

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