Anda tudo muito admirado e chocado com o avanço do mar nas zonas da Caparica, assim como se admiram com as cheias ou com os gigantescos fogos por este país fora. A ninguém ocorre que a culpa não é do pobre mar, que tão agradavelmente nos banha nos dias de verão, mas da cambada de irresponsáveis que nos desgoverna há demasiados anos com uma criminosa política de desordenamento do território. Os mesmos que agora se indignam com os prejuízos – e atiram responsabilidades para outrem – são os mesmos que em nome do desenvolvimento, palavra sagrada que veneram, têm cometido as maiores atrocidades pelas terras deste país. Atirar com empregos para a população, mesmo que normalmente vinda de fora, é quase sempre argumento seguro para infringir as leis e construir, modificar ou destruir. O país por infelicidade não pode falar, gritar ou urrar de dor, e assim se vai arrasando com o que resta, com a displicência de quem espanca a mulher e a seguir se senta a beber um sossegado café. Depois a culpa é do mar, do sol, do vento, das intempéries, de tudo o que não tenha factor humano, pois esse, para estas criaturas, é sempre perfeito.
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