15.5.08

O fumo do Sousa

O nosso primeiro-ministro já veio ontem falar sobre os seus cigarros, mas o que disse? Pediu desculpas e remeteu a questão para o desconhecimento sobre a legalidade do acto.
Já vi hossanas ao pedido de desculpa, mas, pergunto eu, o que queriam que o homem fizesse? Desmentir a restante comitiva? Dizer que fez muito bem em fumar num espaço fechado depois de proclamar uma lei que o proibia? Sinceramente há desculpas que não são uma acção, são uma obrigação, e esta era uma óbvia obrigação de um primeiro-ministro que propala a saúde fazendo jogging por esse mundo fora e aprovando leis radicais anti-fumo.
Como neste país os valores e a moral são algo de insignificante, a discussão sobre o fumo de Sousa já anda, como não poderia deixar de ser, no campo legal. Jorge Miranda e Vital Moreira já se pronunciaram sobre o assunto e esta vai ser, já se percebeu, a via por onde a comunicação social vai conduzir o problema. Uma vez mais vão atrás do caminho escolhido por Sousa, pois vai ser um caminho complexo, cheio de pareceres e de contraditórios, que vai ignorar a questão mais importante que é moral. Lembra a questão da putativa licenciatura, nunca esclarecida, mas em que a questão foi empurrada para as formalidades legais de mais difícil prova. O grave do acto de Sousa não é saber se infringiu a lei, é simplesmente ter a distinta lata de fazer aprovar uma “moderna” lei fundamentalista que restringe ao máximo o direito dos não fumadores de fumar em espaços públicos e depois achar, e só achar já é muito grave, que pode fumar num avião fretado pelo Estado Português para transportar uma numerosa comitiva de convidados.
Ainda fica aquela frase final sobre o deixar de fumar. Típica do nosso Sousa, esta desprezível tirada de marketing político, para tentar sair por cima de uma situação de onde sai muito mal visto na fotografia, redunda numa canalhice que faz do povo parvo e tenta que o mesmo o veja como um coitadinho.
A postura ética e moral de Sousa volta a estar em causa, mas isso, neste país de imprensa pouco livre – que saudades de “O Independente” que foi a leilão na semana passada – vai passar ao lado da polémica, pois o importante vão ser, como sempre, os legalismos e os formalismos.

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