Pinto de Sousa estará a ponto de se inscrever numa agência de modelos. A avaliar pela omnipresença em actos publicitários, o melhor será mesmo rentabilizar os esforços e encontrar um bom agente.
31.7.08
Ainda haverá esperança?
A oposição da Câmara de Lisboa e o “Zé” chumbaram o mono do Rato. Os vereadores do PSD chegaram mesmo a reconhecer o erro do seu partido ao ter aprovado o projecto nos tempos de Santana. Lisboa livra-se assim de mais uma das múltiplas ameaças do arrogante betão sobre a humilde beleza das suas ruas.
Não sei se a petição já aqui divulgada contribuiu algo para isso. Prefiro achar que deu uma ajudinha e por isso assino hoje todas as petições com as quais concordo, pois acho que nos restam pouco actos de cidadania possível impacto na realidade. Afinal, a maior ameaça a um político é a má publicidade.
Não sei se a petição já aqui divulgada contribuiu algo para isso. Prefiro achar que deu uma ajudinha e por isso assino hoje todas as petições com as quais concordo, pois acho que nos restam pouco actos de cidadania possível impacto na realidade. Afinal, a maior ameaça a um político é a má publicidade.
30.7.08
Batam no anão
O anão dos saltos altos – sim, aquele que conseguiu casar por insondáveis motivos com a grande Bruni – deslocou-se em missão puramente democrática à Irlanda, para tentar convencer os irlandeses a votar o Tratado de Lisboa até que a resposta seja sim. Merecia ser recebido à antiga irlandesa como se de um inglês se tratasse, à paulada.
Coisas de Alvalade
A bem de que continue a olhar o Sporting como o meu clube por razões que extravasam as mais óbvias irracionalidades – os clubes não se escolhem, são as circunstâncias que nos escolhem a nós – espero que Moutinho fique. Não me preocupa muito se ficará contrariado, se irá aquecer o banco, se nem sequer será convocado, se chorará, o que precisa é de compreender que vão sendo muitos os esforços para fazer do Sporting um clube diferente – para mim melhor – para poderem ficar à mercê da chantagem infame de uma criança talentosa. Neste momento nem pelos 25 milhões, é mesmo por uma questão de dignidade que o menino tem de ficar. Queira ou não queira.
29.7.08
11
Onze dias, é o tempo que resta até chegarem as curtas férias. O sol é mesmo necessário como cura para um pessimismo crónico com crises cada vez mais frequentes, desagradáveis e maçadoras.
28.7.08
Palavras d’outros
Um polícia reformado imagina que uma criança inglesa morreu num trágico acidente e que o corpo foi congelado ou conservado no frio pelos pais e amigos. Um político socialista imaginou que era possível combater a corrupção neste sítio cada vez mais mal frequentado, apresentou um pacote de medidas e ficou muito desiludido quando o seu partido o atirou para o lixo e aprovou um conjunto de diplomas que vai deixar tudo como antes, o quartel-general em Abrantes. O mesmo político imagina, agora, que a corrupção está mais elevada do que nunca e fica triste porque ninguém lhe liga nenhuma.
A líder do maior partido da Oposição imagina que é possível chegar ao poder sem andar por aí em festas folclóricas, em espectáculos medíocres e chega ao ponto de dizer que vai tentar falar verdade sobre os problemas do sítio e que não se pronuncia sobre assuntos que não conhece. Um ministro deste Governo socialista imagina-se como director comercial de uma multinacional e salta de contente sempre que assina um contrato com uma empresa qualquer. O mesmo governante imagina um dia que a crise económica, financeira e social já passou e no outro imagina que o que aí vem vai ser bem pior.
Um primeiro-ministro que os indígenas elegeram em 2005 com maioria absoluta imagina que vive num sítio maravilhoso, com uma economia pujante, com um nível de vida extraordinário, com cidadãos altamente qualificados e até imagina que Angola tem um governo fabuloso, digno dos maiores elogios, que a Líbia é dirigida por um ser normal, democrático, que até escreveu em tempos um livro que só por acaso não ganhou o Nobel da Literatura e que a Venezuela tem um presidente civilizado, com os alqueires todos no sítio e que merece ser recebido várias vezes em poucos meses com gestos de grande carinho e amizade.
Um Presidente da República imagina que os seus silêncios são mais importantes do que as suas palavras e imagina que quando discursa alguém o ouve verdadeiramente com atenção. Imagina que quando fala na necessidade de se combater a corrupção ou atacar a sério os problemas da Justiça e da Educação alguém o leva verdadeiramente a sério e vai a correr preparar mais uns diplomas para indígena ver. A alucinação, como se vê, veio para ficar. Está a tornar-se numa pandemia. Em vez de dinheiros da Europa, o sítio precisa urgentemente de uma enorme equipa de psiquiatras que o cure da doença enquanto há tempo e esperança de cura.
A líder do maior partido da Oposição imagina que é possível chegar ao poder sem andar por aí em festas folclóricas, em espectáculos medíocres e chega ao ponto de dizer que vai tentar falar verdade sobre os problemas do sítio e que não se pronuncia sobre assuntos que não conhece. Um ministro deste Governo socialista imagina-se como director comercial de uma multinacional e salta de contente sempre que assina um contrato com uma empresa qualquer. O mesmo governante imagina um dia que a crise económica, financeira e social já passou e no outro imagina que o que aí vem vai ser bem pior.
Um primeiro-ministro que os indígenas elegeram em 2005 com maioria absoluta imagina que vive num sítio maravilhoso, com uma economia pujante, com um nível de vida extraordinário, com cidadãos altamente qualificados e até imagina que Angola tem um governo fabuloso, digno dos maiores elogios, que a Líbia é dirigida por um ser normal, democrático, que até escreveu em tempos um livro que só por acaso não ganhou o Nobel da Literatura e que a Venezuela tem um presidente civilizado, com os alqueires todos no sítio e que merece ser recebido várias vezes em poucos meses com gestos de grande carinho e amizade.
Um Presidente da República imagina que os seus silêncios são mais importantes do que as suas palavras e imagina que quando discursa alguém o ouve verdadeiramente com atenção. Imagina que quando fala na necessidade de se combater a corrupção ou atacar a sério os problemas da Justiça e da Educação alguém o leva verdadeiramente a sério e vai a correr preparar mais uns diplomas para indígena ver. A alucinação, como se vê, veio para ficar. Está a tornar-se numa pandemia. Em vez de dinheiros da Europa, o sítio precisa urgentemente de uma enorme equipa de psiquiatras que o cure da doença enquanto há tempo e esperança de cura.
25.7.08
O estado das coisas
As coisas estão mesmo muito mal quando alguém cordato, e habitualmente demasiado preguiçoso para se maçar muito, se transforma num empenhado militante. Concordo e lembro-me de há um ano atrás ter aderido às manifs aquando do vergonhoso afastamento de Dalila Rodrigues do MNAA. As coisas ficam perigosas quando os conservadores se começam a manifestar e a mexer, mais ainda quando começam a equacionar formas de luta mais próprias das gentes revolucionárias. Pela minha cabeça já passaram, vezes demais, ideias de manifs e até de terrorismo urbano. Assim vai o mundo, triste como este dia imerso em nuvens cinzentas.
23.7.08
There’s something in the air
Um “je ne sais quai”, “un aire raro”. Pois é, Chavéz vem hoje a Portugal e Soares e Pinto de Sousa devem estar com dificuldades em conter a sua inquietação perante a chegada do amigo. Será que vão falar da libertação de Ingrid Bettancourt e das FARC durante o almoço?
Assim vamos.
Ao Movimento Mérito e Sociedade, constituído recentemente como partido político, foi recusada uma audiência com o Presidente da nossa República com o argumento de não ter representação parlamentar. Curiosa esta opção, ou nem tanto, que mostra como o “sistema” se protege de possíveis mudanças. Com estas capelinhas e protecções torna-se mesmo difícil mudar o que quer que seja neste esclerosado sistema partidário.
Lamento
O “Afinidades Efectivas” acabou. Por estas bandas sentir-se-à a falta dos escritos do Réprobo. Talvez volte. Na dúvida o link ficará aqui ao lado mais algum tempo. Pode ser que se arrependa.
22.7.08
O verão
O sol, o calor e a época de caça têm ajudado à alienação tão necessária nos tempos que correm. Esquecer a infame promulgação do “aborto” ortográfico em nome de uma discussão sobre as virtudes do coro da missa do casamento de Domingo, deixar para o lado as previsões em alta do FMI por troca com dissertações sobre o folhado de caça ou a mesa de queijos, passar por cima da Quinta da Fonte pensando apenas num mergulho de fim de tarde em praias próximas, pensar que o Irão e Israel pertencem a outra galáxia enquanto bebemos gin tónico como se o mundo fosse acabar.
O problema é que ainda temos Maddie, ainda Maddie, e os abraços do Sousa aos amigos Kadhafi, Eduardo dos Santos e Chavéz. Com o mundo assim, nem os mergulhos de fim de tarde, os casamentos, os baptizados e as perspectivas de umas curtas férias chegam para me manter na desejada total ignorância e abstracção.
O problema é que ainda temos Maddie, ainda Maddie, e os abraços do Sousa aos amigos Kadhafi, Eduardo dos Santos e Chavéz. Com o mundo assim, nem os mergulhos de fim de tarde, os casamentos, os baptizados e as perspectivas de umas curtas férias chegam para me manter na desejada total ignorância e abstracção.
18.7.08
Coisas do tempo
Nestes dias de canícula torna-se recorrente um pensamento, um delírio ou um sonho: chama-se gin-tónico.
O preto e o branco
Hoje em dia, quando se quer impor uma ideia, a maneira mais fácil é utilizar a técnica do preto e branco. Chamemos à ideia o “branco”, precisamos de definir um oposto, o “preto”, que tenha tantos defeitos que o “branco” pareça a única saída e seja assim aceite. Claro que é necessário empregar uma subtileza para que a técnica resulte: eliminar todas as hipóteses que não sejam pretas ou brancas. Ocultando, mentindo, deformando, desprezando, todos os métodos são válidos, o importante é reduzir as hipóteses ao preto e ao branco, sendo o “preto”, de facto, absolutamente inviável. Assim de repente lembro-me do aeroporto (no final ou era Ota ou Alcochete, o Portela +1 ou a não construção eram impossíveis), TGV (sem a nossa contribuição a rede europeia não faz sentido pois pára em Badajoz), e agora, com muita subtileza, o nuclear, apontado como a “única” alternativa para combater o aumento do petróleo. Energias alternativas, alteração de hábitos, adaptações energéticas, tudo isto é uma óbvia impossibilidade, ou pagamos caro a crise do petróleo ou embarcamos no nuclear. Cá está uma vez mais o preto e branco e o resultado será o habitual, esperemos poucos anos para ter uma centralzinha nuclear para fortuna do senhor Monteiro de Barros e grande felicidade do “mais bem pago Administrador de banco central” Constâncio.
17.7.08
Bicos do prego
O plebeu ressabiado Saramago vai tomar de assalto a aristocrática e hoje decadente Casa dos Bicos para lá estabelecer a sua fundação. O meu lado esteta despreza indignado esta ocupação, não vislumbrando compatibilidade entre o grotesco personagem de Lanzarote e um dos mais belos edifícios renascentistas do país. O meu lado mais cínico descobre com regozijo o fascínio do comunista ortodoxo pelos encantos do vetusto património da nobreza de antanho.
Coisas da vida boa
Isto de viver em Lisboa e poder dar um mergulho na praia após um dia de trabalho, com imediata amnésia sobre as horas mais recentes, é coisa de um luxo tal que a inveja é sentimento mais fácil de despertar nos outros.
Palavras d'outros
“Mesmo que custe admitir, estamos a pagar a factura de alguns anos de entusiasmo e optimismo histórico – os anos 80.
Há épocas assim. Longe da crise petrolífera e dos conflitos armados dos anos 70, a década seguinte foi de foguetório e espalhafato. Da ‘movida’ madrilena à literatura light americana, uma onda de ‘eterna juventude’ passou pelas economias globais (que já existiam) e pela cultura.
Perdeu-se a ética do trabalho e do esforço – e uma geração de ‘gestores’ incultos, de líderes elegantes e de pensadores ‘fracturantes’, confiando no estado demencial da sociedade, começou a tomar decisões que cabiam aos políticos, que baixaram de nível. Essa gente não vê longe, acostumada que está a contratos de curta duração e ao lucro imediato. Está à vista o resultado.”
Francisco José Viegas, no Correio da Manhã.
Há épocas assim. Longe da crise petrolífera e dos conflitos armados dos anos 70, a década seguinte foi de foguetório e espalhafato. Da ‘movida’ madrilena à literatura light americana, uma onda de ‘eterna juventude’ passou pelas economias globais (que já existiam) e pela cultura.
Perdeu-se a ética do trabalho e do esforço – e uma geração de ‘gestores’ incultos, de líderes elegantes e de pensadores ‘fracturantes’, confiando no estado demencial da sociedade, começou a tomar decisões que cabiam aos políticos, que baixaram de nível. Essa gente não vê longe, acostumada que está a contratos de curta duração e ao lucro imediato. Está à vista o resultado.”
Francisco José Viegas, no Correio da Manhã.
15.7.08
Nostalgias
Eram três meses. Às vezes longos três meses em que já não sabia o que fazer do tempo que sobrava em fartura desmedida. Trepava paredes em casa, para desespero dos meus pais quando se cruzavam com mais um disparate meu. Começava calmamente em casa, com a minha mãe sempre a dizer que devia aproveitar para arrumar as coisas, arrumar, esse verbo à época maldito e tão indesejável como comer favas. Perante a persistência havia sempre a alternativa de sugerir que devia visitar a minha tia, aproveitando para um lanche à antiga com bolinhos, scones e chá. Resultava sempre, com a grande vantagem de não ser de modo algum um sacrifício, tanto eu gostava da minha tia. E também dos scones. As arrumações lá iam passando pelo tempo, esperando um dia mais mal humorado da minha mãe, felizmente coisa rara, em que os subterfúgios deixavam de funcionar, ou por uma ordem expressa de meu pai, sobre a qual nem me ocorria tentar imaginar o mais remoto subterfúgio.
14.7.08
King of the weekend
Neil Young. Que grande concerto. Usando um trocadilho básico, é caso para dizer que o Neil está mesmo Young. Apesar dos 62 anos. O homem deu um concerto com uma energia fantástica e com uma qualidade musical irrepreensível. Foi o grande concerto do Optimus Alive, o exemplo dado pela geração mais velha aos jovens músicos que por lá andaram. Excelente, memorável. Este mito esteve cá e fez questão de se anunciar com grande estrondo nesta sua passagem arrasadora.
Roísin Murphy
O concerto do Neil Young só me deixou ouvir três músicas deste concerto. Pena, muita pena mesmo, porque o que ouvi foi muito bom e deixou prometido um grande concerto. Problemas destes festivais com concertos simultâneos, a exemplo do que tinha acontecido na 5ª feira com o concerto dos MGMT.
O mito
O concerto de Bob Dylan foi musicalmente belíssimo, mas faltou um “je ne sai quai”, talvez devido à falta de intimismo de um concerto a pedir um espaço mais fechado e contido. Ainda assim mito estava lá, no palco ao piano com chapéu. Dylan, um dos melhores compositores vivos da música popular, um homem que traz em si grande parte do que de mais importante existe na música contemporânea. O Bob esteve ali, mesmo ali à frente, àqueles poucos metros de distância. Não foi alucinação, o Bob esteve mesmo cá, apesar de insistir em passar sóbrio e discreto.
11.7.08
O nome do dia
Dylan. Bob Dylan.
Optimus Alive – Coisas boas
O cartaz excelente. A sonoridade dos Vampire Weekend, que tive o gosto de ouvir por muito pouco tempo graças à (des)organização. O excelente concerto dos The National, trazendo para o palco a grande qualidade da sua música, apesar decorrer ainda sob a luz do sol. Grande música. A surpresa veio dos Gogol Bordello, com um concerto indescritível que fez com que as minhas costas, que já haviam chegado em mau estado, me massacrassem até me conseguir deitar. Frenéticos e com um ritmo alucinante, os Gogol levaram o público ao delírio com a sua música que, sem grande precisão poderia definir como “punk-cigano”. Memorável, fazendo lembrar os concertos antológicos dos Pogues a que não tive oportunidade de assistir.
Optimus Alive – Coisas más
A organização devia ser açoitada durante um tempo razoavelmente prolongado, no mínimo o tempo que me fez esperar para conseguir trocar o bilhete de 3 dias, comprado atempadamente, por uma pulseira que me permitisse entrar. Com isto perdi boa parte do concerto dos Vampire Weekend, o que me deixou num estado de fúria assinalável e que me está a obrigar a ouvir agora o CD em “repeat”. Ainda quanto à organização, é incrível que se chegue ao recinto e se tenha de procurar a localização do palco Metro, que mais não é do que uma tenda, sem indicações que ajudem. Para além de que não há um único local com o alinhamento e as horas dos concertos, supostamente substituído por uns programas a que apenas uma minoria sortuda teve acesso.
10.7.08
Palavras d’outros III
Como estas coisas estranhas acontecem, estou na mais plena concordância com este artigo de Fernanda Câncio, que transcrevo na íntegra.
"O sequestro dos senhorios
Pode ser que a chave do mistério esteja na palavra. Afinal, “senhorio” tem uma ressonância nobre, uma sugestão medieval de riqueza e posição. Confirma-o o dicionário, equivalendo-lhe ainda “domínio, posse, autoridade”, além de “propriedade” e “proprietário de casa alugada”. O senhorio é pois um senhor, alguém com posses. Alguém que não merece nem precisa de defesa - um privilegiado. Um explorador, em suma.Assim, à falta de melhor e sobretudo de racionalidade e justiça, se explicam, por uma espécie de psicanálise lexical, as leis e os regulamentos que no País regem os arrendamentos. E se o dicionário também define a palavra como “direito sobre alguma coisa”, é só para certificar que o senhorio tem, por exemplo, o direito de solicitar às autarquias e às finanças que avaliem os estragos que foram infligidos à sua propriedade por dezenas de anos de rendas miseráveis que o impediram de fazer quaisquer obras - impedindo-o agora de actualizar convenientemente o valor das rendas. Mais o “direito” de ser obrigado a aceitar que o inquilino que beneficiou durante décadas da sua assistência social forçada discuta com ele o valor correcto da renda actualizada ou lhe exija obras vultuosas.E tudo isto vem a propósito de quê? Não, não saiu nenhuma lei nova esta semana, nem nas semanas anteriores, nem houve parangonas com qualquer notícia sobre a miséria dos senhorios obrigados pelo Estado a fazer de santa casa dos inquilinos com mais de 65 anos (e aos senhorios com mais de 65 anos, quem fará de santa casa deles?). Nada disso. Apenas soube de um caso prático da extraordinária “nova” lei do arrendamento. Um prédio construído nos anos 60 do século passado; inquilinos que o ocupam desde essa altura; rendas de 40 e 50 euros por apartamentos de 6 assoalhadas que na avaliação da câmara (e que custou mil euros - ao senhorio, claro) mereceram a bitola de “bom”; uma actualização calculada em cerca de 300 euros, que no caso, devido ao facto de os arrendatários terem todos mais de 65 anos, terá de ser progressiva, distribuindo–se por dez anos; protestos de todos os inquilinos. Um deles escreveu aos proprietários uma carta em que, entre outras coisas, exige a colocação de um elevador (mora num 2.º andar e, afiança, ele e a mulher têm dificuldade em subir as escadas).
Quando uma pessoa que paga 50 euros por uma casa onde pagou durante quase 50 anos uma renda ínfima se acha no direito de exigir/sugerir a realização de uma obra que custa pelo menos o equivalente a dez anos de rendas futuras e corresponde a praticamente todo o “bolo” das rendas que pagou desde o início, surge óbvia a conclusão de que, para essa pessoa, o senhorio é um serviçal. Condenado a servi-lo em penitência eterna por ter alguma vez sonhado que um investimento podia ter proveito, que ser proprietário podia ser rentável. O mais grave, porém, é que este delírio não pertence a um excêntrico isolado, mas a uma cultura generalizada e autorizada pela lei. Uma cultura que arruinou os centros das cidades e empobreceu milhares de famílias. Pudessem elas tombar os prédios nas estradas e paralisar o País, outro galo cantaria. Assim, resta-lhes servir a pena - e ter sentido de humor."
Palavras d’outros II
Gostaria de postar partes da entrevista de Medina Carreira à Sic Notícias, fico-me no entanto por aconselhar a sua visualização .
Irão querer fazer passar o homem por louco, a mais fácil das defesas, mas o diagnóstico que faz do país dói de tão frio e verdadeiro. Infelizmente não é loucura, é realidade
Palavras d’outros I
Prometi não escrever sobre política durante uns tempos, o que não quer dizer que não aproveite para mostrar o que outros vão dizendo ou escrevendo.
“É para isso que pagamos impostos. Não é para construir auto-estradas inúteis e estádios de futebol, mas sim para educar e evitar que cheguemos a situações sociais como as que temos hoje."
"Não vejo que se fale de fome na Alemanha ou na Áustria, só aqui é que oiço isso.”
“A dependência alimentar de Portugal do estrangeiro só pode ser limitada com uma revolução completa da política de planificação do território, destinando mais terras à agricultura.”
Estas palavras foram proferidas, ontem, por D. Duarte de Bragança.
“É para isso que pagamos impostos. Não é para construir auto-estradas inúteis e estádios de futebol, mas sim para educar e evitar que cheguemos a situações sociais como as que temos hoje."
"Não vejo que se fale de fome na Alemanha ou na Áustria, só aqui é que oiço isso.”
“A dependência alimentar de Portugal do estrangeiro só pode ser limitada com uma revolução completa da política de planificação do território, destinando mais terras à agricultura.”
Estas palavras foram proferidas, ontem, por D. Duarte de Bragança.
9.7.08
Praia
Tardou este ano o verão e com isso perpetuou-se o preto que tinge este blog. O sol brilha e é tempo de surgir a habitual cor de verão, de areia. Lembrando gelados em cones de bolacha à antiga, Nivea ou Bronzaline, jogos de caricas ou de ciclistas.
8.7.08
Triste País
Passam dias e o país continua a ser destruído de forma paulatina e sistemática, perante um generalizado sentimento de indiferença e de manifesta incapacidade para travar os sucessivos desvarios.
O Largo do Rato não é hoje um exemplo de grande qualidade urbana, atravessado que está por um emaranhado de vias, mas ainda apresenta um conjunto arquitectónico de grande valor. Vale mesmo a pena destacar os elementos que se supõe venham a destruídos – o Chafariz do Rato e a Associação Cultural de São Mamede – com a construção em causa. Perante isto o vereador do urbanismo qualifica o edifício, da autoria dos arquitectos Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus, como uma provocação que lhe agrada. Gostaria de dizer o que o senhor arquitecto poderia fazer com a provocação, seria aliás o mesmo que lhe aconselharia a fazer com o hotel da sua autoria postado entre a Torre de Belém e o Padrão dos Descobrimentos, por certo outra provocação dada a sua volumetria e magnífica integração na envolvente.
Acho que as imagens mostram muito mais do que palavras.
O Largo do Rato não é hoje um exemplo de grande qualidade urbana, atravessado que está por um emaranhado de vias, mas ainda apresenta um conjunto arquitectónico de grande valor. Vale mesmo a pena destacar os elementos que se supõe venham a destruídos – o Chafariz do Rato e a Associação Cultural de São Mamede – com a construção em causa. Perante isto o vereador do urbanismo qualifica o edifício, da autoria dos arquitectos Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus, como uma provocação que lhe agrada. Gostaria de dizer o que o senhor arquitecto poderia fazer com a provocação, seria aliás o mesmo que lhe aconselharia a fazer com o hotel da sua autoria postado entre a Torre de Belém e o Padrão dos Descobrimentos, por certo outra provocação dada a sua volumetria e magnífica integração na envolvente.
Acho que as imagens mostram muito mais do que palavras.
Agora (imagem via "Lesma Morta")
Depois (imagem via "Lesma Morta")
Uma vez mais não está em causa o desenho arquitectónico, mas uma coisa chamada respeito pela envolvente e pelo enquadramento. Na minha escola ensinaram-me isso, pelos vistos na Faculdade de Arquitectura ensinam, em alternativa, técnicas para massajar o ego a arquitectos com pendor narcisista, por certo com problemas de personalidade mal resolvidos em adolescências infelizes.
Para mais informações vale a pena ler os blogs “Lesma Morta” e Cidadania Lx .
Para assinar uma petição contra este projecto vá aqui.
A fogueira das irresponsabilidades
Ardeu um prédio em Lisboa. No centro histórico e nobre da Avenida da Liberdade. Um entre os muitos imóveis abandonados à sua sorte e ao passar do tempo. Propriedade de um fundo de investimento, é bom exemplo para o que se vai passando pela cidade. Apenas esperavam a sua ruína. Assim até é mais barato construir pois não há nada para deitar abaixo.
Uma pornográfica “lei das rendas”, arrastada ao longo dos anos pela cobardia imoral de sucessivos governos, e uma tolerância excessiva para com o abandono dos imóveis trouxe-nos a isto. E infelizmente irá levar-nos a muito mais desgraças, hoje em Lisboa, amanhã no Porto, depois de amanhã em qualquer terrinha de província.
Uma pornográfica “lei das rendas”, arrastada ao longo dos anos pela cobardia imoral de sucessivos governos, e uma tolerância excessiva para com o abandono dos imóveis trouxe-nos a isto. E infelizmente irá levar-nos a muito mais desgraças, hoje em Lisboa, amanhã no Porto, depois de amanhã em qualquer terrinha de província.
7.7.08
Serviço público
O programa “Nos Passos de Magalhães”, apresentado por Gonçalo Cadilhe e exibido na RTP2, é o perfeito exemplo que ainda se pode fazer serviço público de televisão com qualidade e interesse para o grande público. O documentário, apresentado em vários episódios, gira à volta da vida atribulada de Fernão de Magalhães, um dos grandes portugueses de sempre, ainda que tenha terminado a vida ao serviço do reino de Espanha.
Muito bem filmado, e com uma óptima banda sonora, o programa é guiado pelos comentários de Cadilhe, sempre acompanhado por adequadas intervenções de historiadores. A história não tem de ser chata e pode, e deve, ser contada de forma inteligível e agradável, sendo este programa exemplo disso. Ao juntar o interesse lúdico de um programa de viagens com a pedagogia de uma aula de história, Cadilhe consegue um excelente equilíbrio e um programa de televisão despretensioso, mas com uma qualidade que vai sendo raro encontrar.
Muito bem filmado, e com uma óptima banda sonora, o programa é guiado pelos comentários de Cadilhe, sempre acompanhado por adequadas intervenções de historiadores. A história não tem de ser chata e pode, e deve, ser contada de forma inteligível e agradável, sendo este programa exemplo disso. Ao juntar o interesse lúdico de um programa de viagens com a pedagogia de uma aula de história, Cadilhe consegue um excelente equilíbrio e um programa de televisão despretensioso, mas com uma qualidade que vai sendo raro encontrar.
4.7.08
Coisas da vida
Este blog anda chato. Eu acho que também ando chato. Não sei se do sol se das angústias mundanas. Uma verdadeira maçada quando nos achamos maçadores. Detectado o mal segue-se a prescrição de uma posologia. Na dúvida sobre o que hei-de fazer lembro-me de um placebo com possíveis bons resultados, deixarei, por uns tempos, de escrever sobre política.
Capas boas
O título, “Português Suave”. A fotografia, a linha de Cascais a preto e branco com uma menina em primeiro plano ao estilo anos trinta. Apetece comprar. Autora, Margarida Rebelo Pinto. O ímpeto controla-se. Já experimentei, há uns tempos, ler um livro desta “besta negra” da crítica literária portuguesa. Sobrevivi incólume à experiência. Se gostei? Nem sim, nem não, antes pelo contrário. Não estimula, mas não incomoda. Se vou comprar? Claro que não, os livros andam caros e ainda não cheguei, apesar de algumas tentações, ao ponto de comprar apenas pela capa.
1.7.08
Temos pena!
No dia em que a França começa a presidência europeia depara-se com as declarações bombásticas do presidente da Polónia. Pena de Sarkozy? Absolutamente nenhuma. Veremos agora se sugere que a Polónia também saia, e depois dela talvez a República Checa que também ameaça não ratificar o tratado, e depois quem mais queira parar esta utopia perfeita chamada Europa. Até ficarem sós, eles, os grandes pensadores iluminados, os donos da verdade absoluta e incorruptível.
Aplausos. (De pé)
A brava Polónia mandou às malvas o estalinismo de Bruxelas e decidiu respeitar os irlandeses e a democracia não assinando o “magnífico” Tratado de Lisboa. Ainda há quem tenha respeito pela democracia, talvez por ter vivas na memória coisas como o nazismo que lhe dizimou o país ou o comunismo que o oprimiu anos sem fim. Este é o país de Karol Woytila e Lech Walesa, esta gente respeita, de facto, a liberdade e não está para voltar a estar sob a alçada de mais uma ditadura, desta vez do estilo burocrático, discreto e sibilino.
Ainda há futebol!
Acabou um a zero. Podia, devia, ter acabado com três ou quatro contra zero. Esta Alemanha devia ter sido despachada como merecia, com vários golos sem resposta. Ganhou o futebol, desporto que tinha passado ao lado dos vencedores dos últimos europeus e mundiais.
A França foi limpa na primeira fase, a Grécia passou tão despercebida que quase nem me lembrava dela, a Itália perdeu às mãos de quem soube usar as suas cínicas armas, a Alemanha foi andando e chegou até à final. Bastou, chegar à final já foi prémio excessivo para aquele bando de destruidores da arte alheia e aproveitadores da eficácia. Daqui lhes deito a língua de fora, a eles e ao seu treinador com pretensões “fashion”, arrumados que foram pela equipa do velhinho de fato de treino.
Ganharam os nossos vizinhos o que traz sempre alguma irritação. Será evidente que seremos gozados por algum tempo, agora com o argumento que ganharam, sim, eles ganharam e nós nunca ganhamos nada. Teremos de nos aguentar e pensar que antes eles que os alemães. Até porque mereceram, jogaram bem, não deixaram dúvidas sobre a superioridade e a taça está bem entregue. Tive muita pena por Portugal. Tive pena pela Rússia. Felizmente não tive de ter pena do futebol, pois ele acabou por ganhar.
A França foi limpa na primeira fase, a Grécia passou tão despercebida que quase nem me lembrava dela, a Itália perdeu às mãos de quem soube usar as suas cínicas armas, a Alemanha foi andando e chegou até à final. Bastou, chegar à final já foi prémio excessivo para aquele bando de destruidores da arte alheia e aproveitadores da eficácia. Daqui lhes deito a língua de fora, a eles e ao seu treinador com pretensões “fashion”, arrumados que foram pela equipa do velhinho de fato de treino.
Ganharam os nossos vizinhos o que traz sempre alguma irritação. Será evidente que seremos gozados por algum tempo, agora com o argumento que ganharam, sim, eles ganharam e nós nunca ganhamos nada. Teremos de nos aguentar e pensar que antes eles que os alemães. Até porque mereceram, jogaram bem, não deixaram dúvidas sobre a superioridade e a taça está bem entregue. Tive muita pena por Portugal. Tive pena pela Rússia. Felizmente não tive de ter pena do futebol, pois ele acabou por ganhar.
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