29.8.08

Diálogos Imaginários

– Charles, graças ao seu regresso voltámos a ter a despensa ocupada como deve ser e a casa já parece uma casa decente. Até resolvi ficar por cá no fim-de-semana, abdicando de mais uma incursão nas praias do norte.
– Faz bem, menino, até porque parece que não vai fazer vento e o Guincho promete estar agradável.
– Charles, que saudades tinha. Você pensa mesmo em tudo. Claro que aproveitarei para ir amanhã ao Guincho, afinal a raridade de dias sem vento deve ser aproveitada sem reservas.

28.8.08

Diálogos Imaginários

– Charles, enfim voltou. Estava a atingir um desespero quase total com a sua ausência. O regresso de férias é já de si difícil de suportar, mas sem si é uma perfeita tragédia. Quase chorei ao entrar ontem em casa.
– Oh! Menino, também não é caso para tanto, apenas estive fora uma semana.
– Bem sei, mas coincidiu com a chegada de férias e de outro fim-de-semana fora. A vontade abandonou o meu corpo e o simples vislumbre daquela mala abandonada a um canto fez-me sair de casa todos os dias. Esta semana ainda nem por um dia cá jantei.
– Pronto, menino, acalme-se um pouco. Já porei todas as suas roupas em ordem.
– Charles, ficar-lhe-ei eternamente grato. A minha vida sem si seria um calvário longo e doloroso.

26.8.08

Estado do blog

As férias já lá vão mas o corpo parece ainda não acreditar insistindo em pedir mais sol. Sinto-me uma folha à procura de luz para fotossintetizar. Há por agora uma certa necessidade de clorofila por estes lados. Ainda por cima já acabaram os jogos olímpicos.

22.8.08

Coisas do outro mundo II

Como duas medalhas e dois recordes do mundo ainda eram pouco, o “pequeno” Bolt lá se resolveu, com a ajuda de outros três jamaicanos, a recolher a terceira medalha e correspondente recorde mundial. A prova de 4x100m foi mais uma limpeza a parecer fácil, mais um episódio de um domínio incrível da Jamaica, e de Bolt em particular, nas provas mais curtas do atletismo, apenas ensombrado pela desqualificação da estafeta feminina de 4x100m. Bolt parece mesmo de outro mundo e parece que contagia com isso os seus companheiros. As más línguas poderiam intitular estes rapazes de “marijuana boys” e atribuir os seus resultados a substâncias menos legais, eu prefiro acreditar em predestinação e muito trabalho.

.

Sevilha, 1933

Nasceu há cem anos Henri Cartier-Bresson, talvez o mais genial descobridor de imagens por este mundo fora.

Magnífico Évora


Foi preciso esperar pelo fim, por uma das últimas participações portuguesas, para chegar um ouro. Nelson Évora falava, antes da prova, como um futuro campeão, como alguém que ia dar tudo o que tinha. Também falava das coisas com a leveza de quem se está a divertir a fazer o que gosta. Posso parecer insistente, mas quem me marca são os campeões sorridentes, aqueles que se vê que fazem o que gostam e se sacrificam em nome desse gosto. Olho para ginastas chinesas e vejo um vazio de alegria e de sentimento, uma não vida dedicada a tentar encarnar numa máquina de resultados. Nelson Évora não é assim, o seu sorriso ontem era de genuíno orgulho num feito histórico, mas também o de um miúdo que tinha acabado uma brincadeira que lhe tinha corrido incrivelmente bem.

21.8.08

Coisas do outro mundo

Usain “Lightning” Bolt.
Dá gosto ver um campeão competir com a boa disposição de quem gosta mesmo do que está a fazer, para além de obviamente querer, e conseguir, ganhar. A sua presença em Pequim está a ser simplesmente gloriosa marcará para sempre a história do desporto. A aparente facilidade com que ganhou os 100 e os 200 metros não é, definitivamente, deste mundo. Acreditasse eu em OVNIS e diria que este rapaz não é por certo de origem terrestre, como acredito em Deus, acho que foi Ele que resolveu enviar Bolt para mostrar até onde pode ir a capacidade do ser humano.

















100m


200m

19.8.08

Hoje

Ainda a recuperar das férias pensei ficar dormir toda a manhã, porque “de manhã está-se bem é na caminha”, depois lembrei-me que o meu chefe me enviaria por certo a uma consulta de psiquiatria e acabei por, a custo, me levantar.

Estado do blog

Jet lag de curtas férias.

8.8.08

Partida

Parto hoje. Quase me apetecia ficar, mas há o anual chamamento das areias que me viram crescer e o ritual inabalável de rumar ao norte das águas frias. A paz lisboeta é agradável, mas as férias são agora necessárias. Não sei se tirarei férias do blog , acho que não, mas tudo dependerá de muita coisa.

Coisas de malas

As bagagens já estão no carro. Que diferença das malas de outrora, com o suficiente para emigrar para um país distante por tempo indeterminado. Uma semana apenas. Difícil seleccionar a roupa, escolher, não a atirar toda para dentro da mala por achar que quase toda “pode dar jeito”. Ainda assim vai a mais e muita regressará sem uso e um pouco mais amarrotada. Confesso que ontem conclui que tenho roupa a mais. Pronto, já disse e não repito. Quando olhei para o guarda-vestidos cheio e a mala já fechada percebi o óbvio. Ainda assim acho que me faz falta mais uma – seria a sétima – camisa branca. Acho que me faz, mesmo, alguma falta.

Coisas dos jogos

Consta que essa coisa dos anéis começa hoje. Angustio-me a pensar nos anteriores jogos de Atenas. Estava lá e hoje estou cá. Lembro o calor sufocante quebrado por copos de “frapee” em animadas esplanadas da Plaka, o memorável pisar da história na Acrópole, o “meltemi” a empurrar ferozmente o barco, o mar transparente, as enseadas, Hydra ao por do sol, a Little Venice de Mykonos em noites quentes. Malditos jogos que começam hoje e com isso me fazem lembrar o Mediterrâneo para onde devia seguir de imediato.

7.8.08

Coisas do verão

Pôr-do-sol glorioso Vinho branco com Lisboa aos pés. Os cacilheiros traçam linhas brancas sobre o azul denso e brilhante do rio debaixo do olhar superior e distante do Cristo-Rei. Lisboa em Agosto é paraíso de vida boa.

6.8.08

Coisas do verão

Há uns anos atrás, estaria agora de armas e bagagens instalado na Figueira. Ancinhos e ciclistas, camisolas quentes para fins de tarde e princípios de noite. Eram frios os dias antigos, em que o verão gostava de lembrar o inverno em piscares de olho por vezes demasiado longos.

Coisas do verão

Permaneço ainda nesta agradável Lisboa de dias de sol intermináveis e ruas civilizadamente povoadas por poucos carros. A paz convida a um trabalho tranquilo e produtivo, mas há hábitos que não queremos perder por serem parte do que somos. Sexta-feira lá irei, sem a parafernália de malas e saquinhos tão características das temporadas estivais de outrora, apenas com o necessário a uma semana de isolamento do mundo em geral. Estarei confinado à aldeia formada pelos quarteirões do Bairro Novo e o areal extenso da praia. Abrirei excepções para umas visitas a uma praia para lá da serra, menos familiar, mais tranquila, com um insuperável pôr-do-sol com Bombay tónico sempre ao som de boa música.

Agradecimento com música

A Bomba Inteligente colocou em destaque este blogue. Agradeço enrubescido perante tamanho reconhecimento, dedicando-lhe esta eterna música estival de Vinicius de Moraes e Toquinho.

Tarde em Itapoã

5.8.08

Sobre o acasalamento II

Missa, choro, comidas, danças e copos. Algumas conclusões a reter e a divulgar: devia ser proibido a mulheres comprometidas apresentarem-se com saias menores que 30 cm, em especial sendo espanholas; as mulheres solteiras deviam ter algo que as distinguisse de modo a obstar a confusões com senhoras respeitavelmente casadas; é possível reencontrar alguém quinze anos e dois filhos depois e averiguar que o tempo afinal não deixa marcas; os vestidos pretos estão fora de moda e as mulheres redescobriram, enfim, as cores.

Sobre o acasalamento I

A responsabilidade de apadrinhar quem tem a coragem de remar contra o facilitismo dos dias de hoje e assumir, perante Deus e os homens, que quer viver em conjunto para o resto da vida, não é tarefa fútil. Pelo menos não o é para quem a encara com uns olhos que persistem em acreditar na instituição do casamento. Até agora não praticante, mas é esse mesmo o motivo, por acreditar demasiado na instituição.

4.8.08

Pobre Fernão

Voltas e saltos na tumba, será o mínimo que Fernão de Magalhães andará a dar com o aproveitamento do seu nome para uma obscena campanha digna das piores ditaduras. Quando o poder começa a manipular de forma tão descarada a informação é o sinal de que nos quer levar a andar no caminho inverso ao da liberdade.

1.8.08

Continuação

Continuo este final de semana a minha longa e intensa “época de caça”, ou de “acasalamento” como lhe chamaria o novel tradutor para português de Wodehouse. Amanhã repete a cena da senhora de branco a entrar na igreja, estando desta vez afastado dos habituais últimos bancos por imperativos do meu papel na cena. Não, não serei a nervosa criatura que esperará no centro pela chegada da mancha branca, mas farei parte das privilegiadas testemunhas com responsabilidades acrescidas por um estatuto muito usado no sul de Itália, em zonas onde as pessoas trajam de negro e uma organização eficaz tudo controla. Junto ao altar, magnífico no meu fraque, controlarei a chegada das meninas à igreja, dentro dos limites da decência, efectuando uma primeira triagem sobre o que de mais interessante se poderá encontrar nas horas seguintes e sobre as mais adequadas companhias para deslizar freneticamente pela pista de dança.

Falta uma semana

Este blog – ou seja, eu – não rumará ao sul. Como sempre que o verão chega e o destino é luso, a direcção é norte. São férias, o que além de implicar a ausência do trabalho implica um certo afastamento de hordas de gente – de magotes de criaturas, de praias onde encontrar local para estender a toalha equivale ao nível 13 ou 14 do Tetris, de estradas atulhadas de carros topo de gama – ou seja a negação do Algarve. Além disso no norte não consta que tenham proibido massagens na praia, independentemente onde elas levem, no que acho ser mais um bom indício de civismo.

O Presidente que se decida.

Enquanto a câmara seguia as costas de Cavaco o caminho dos bastidores de Belém pensei em quão bizarras são as coisas. O Presidente convocou os portugueses para lhes explicar uma intrincada questão político-administrativa, cujo conteúdo terá sido entendido na plenitude por um máximo de 10% da população portuguesa (e até acho que estou a ser simpático). Este é o mesmo presidente que acha que os portugueses não devem referendar o Tratado de Lisboa por este ser muito complexo e de difícil compreensão. Talvez convenha que Cavaco decida se acha que os portugueses são brilhantes conhecedores de direito administrativo, ou se pensa que são irreversivelmente incapazes em direito comunitário, ou, resumindo, se são brilhantes ou uns incapazes analfabetos.