9.9.08

Coisas de verão

A minha praia da Figueira sempre foi a mesma, nos mesmos metros quadrados definidos pelos banheiros de sempre. Uma praia de caras que se conhecem de uma vida e que teimosamente repetem rituais e locais. Sem barulho da cidade, lá longe ao cimo do areal, o burburinho de conversas e crianças fez sempre desta praia, em Agosto, o prolongamento de um café de bairro ou de um clube, em que se torna difícil ler um livro sem recorrer ao iPod, sob interrupções constantes de gentes vetustas que temos de cumprimentar ou amigos ávidos de conversa e que não entendem os benefícios da leitura ou do sossego.
Há poucos anos cedi ao imobilismo que por lá se instala nos banhistas, mal habituados que estão a não precisar do carro para nada, e rumei a uma praia que me tinha sido muito elogiada pela falta de vento em dias de nortada, pela beleza natural, pelo sossego e pelo simpático bar. Gostei e fui repetindo ainda que timidamente, pois o estado de ressaca não é o mais convidativo para pegar numa carro e fazer um estrada de terra com precipício sobre o mar. O vento insistente foi-me ajudando a esta decisão e aos poucos dei por mim este ano a ir mais vezes para aí do que para a minha praia de sempre. Preocupei-me se estaria a perder as minhas raízes e a vender-me a modernices, problema que me afecta muito, até perceber que estava apenas a atingir um novo estado de banhista, o de banhista independente. Ao fim de anos a aceitar a postura de manada imóvel tão típica daquelas bandas, e em alguns casos agradável, consegui por fim seguir um caminho autónomo. Foi o meu ano de libertação banhista.

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